Aceito em: 24/05/2021 Publicado em: 15/08/2021
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ARTIGO ORIGINAL
TATIL BIOLOGICAL EXPOSURE IN THE MUSEUM OF SCIENCES: AN EXPERIENCE
REPORT
Abstract
Museums, due to their particularities, often limit access of disabled people, specifically people with visual
impairment, since you can not handle. The science museums seek to facilitate the access of scientific
knowledge, in special, in this paper, the Museu Dinâmico Interdisciplinarda UniversidadeEstadual de Maringá
(MUDI-UEM). This paper introduces a tactile exhibition story “The world at theirfingertips”, this presentation
was developed by the MUDI coordinators and mediators. In view of the purpose of science museums to
facilitate access to scientific knowledge. The aim of this exhibit is to facilitate access to scientific knowledge
especially for the blind people. This exhibition is composed with real pieces and didactic models about biology
field, these pieces can be manipulated without risk of serious physical injuriest the visitant. The exhibit leads
the public to know biological structures through touch, from didactic models of microscope slides to real pieces
like bones of many animals. This exhibition has been in the MUDI temporarily a few times and participated in
itinerant events, being well received by the public
Keywords: blind; accessibility; scientific education.
EXPOSIÇÃO BIOLÓGICA TÁTIL EM MUSEUS DE CIÊNCIAS: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Natália Brita Depieri
Universidade Federal do Rio Grande do
Norte
natalia.depieri@hotmail.com
Resumo
Devido às suas particularidades, os museus frequentemente
limitam o acesso depessoas com deficiência,em especial, aquelas
com deficiência visual, visto que muitas peças não podem ser
manuseadas. Os museus de ciência buscam facilitar o acesso ao
conhecimento científico, como, no caso deste trabalho, o Museu
Dinâmico Interdisciplinar da Universidade Estadual de Maringá
(MUDI-UEM). Este trabalho apresenta um relato sobre a
exposição tátil "O Mundo na Ponta dos Dedos", elaborada no
MUDI por seus coordenadores e mediadores com o objetivo de
facilitar o acesso ao conhecimento científico, em especial, aos
deficientes visuais. Tal exposição é formada por peças originais e
modelos didáticos sobre a área da biologia que podem ser
manipulados sem oferecer riscos físicos ao visitante. A exposição
leva ao público a oportunidade de conhecer estruturas biológicas
através do tato, desde células e microrganismos até ossos de
diversos animais. Tendo sido exibida temporariamente no MUDI
diversas vezes e participado de eventos itinerantes, tendo sido
muito bem recebida pelo público.
Palavras-chave: cegos; acessibilidade; educação científica.
Nathália Cristina Gonzalez Ribeiro
Instituto Geral de Perícias de Santa Catarina
André Luís Schmidt da Silva
Unicesumar
Débora de Mello Gonçales Sant’ana
Universidade Estadual de Maringá
dmgsantana@gmail.com
Exposição biológica tátil em museus de ciências: um relato de experiência
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1. INTRODUÇÃO
Dentre os direitos sociais elencados no
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
ensino, como parques, zoológicos e museus,
existem diversas iniciativas que permitem ao
visuais ao museu.
1990 pela UNESCO, na Tailândia (UNESCO,
diferentes modalidades de ensino trazidas pela
espaços educativos, desde os formais até os não
formais.
De acordo com Gonçalves e Barbosa-
Art. 6º da Constituição Federal de 1988, está o
Lima (2013) “os espaços não formais de
direito à educação e ao lazer (BRASIL, 1988),
educação possuem uma flexibilidade de
cujo usufruto deve ser garantido a todos,
organização e elaboração de atividades que um
independentemente de suas condições físicas
espaço formal não tem, aumentando as
ou financeiras. Nesse contexto, existem as
possibilidades de criação e abordagem.”
Todavia, a maioria dos museus utiliza recursos
Paralelamente, nos ambientes não formais de
visuais em suas atividades, o que dificulta o
(LDB) (BRASIL, 1996), dentre as quais,
acesso das pessoas com deficiência visual.
encontra-se a educação especial, realizada
Portanto, para que se tornem inclusivos,
principalmente por espaços formais de ensino.
precisam ser repensados e adaptados. Esta
especialmente facilitar o acesso de deficientes
preocupação começou especialmente apartir da
década de 1990, quando houve grande estímulo
a programas de inclusão sócio educacionais em
mesmo tempo aprender e se divertir. Como é o
museus e centros de ciência e cultura
caso da exposição tátil “O Mundo na Ponta dos
(RIBEIRO, 2007).
Dedos”, desenvolvida no Museu Dinâmico
Diversos museus no mundo buscam
Interdisciplinar da Universidade Estadual de
tornar seu acervo mais acessível, especialmente
Maringá(MUDI-UEM),quevisa
para deficientes físicos, que é uma adaptação
mais usual e permanente, por geralmente ser
Mundial de Educação Para Todos, realizada em
uma mudança realizada na estrutura física do
A educação inclusiva busca abranger
local. Como por exemplo, o Metropolitan
todas as pessoas que apresentam alguma
Museum, em Nova Iorque, que mesmo tendo
dificuldade no desempenho escolar, como os
uma fachada com uma grande escadaria, possui
alunos que possuem alguma deficiência física
como alternativa para deficientes físicos um
ou intelectual (GONÇALVES, 2013). Tal
estacionamentopróximoaelevadores
metodologia tornou-se mais conhecida a partir
(COHEN; DUARTE; BRASILEIRO, 2012).
da declaração publicada na Conferência
Assim como o Museu Britânico, em Londres,
disponibiliza informações em imagens táteis ou
em Braille, destinadas a cegos e pessoas com
1990), e tem se difundido pelos diversos
baixavisão(COHEN;DUARTE;
BRASILEIRO, 2012). Iniciativas assim vêm
Depieri et al., 2021
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3
dos Dedos", na qual deficientes visuais podem
Apesar dos avanços, a exploração da
deficiência visual, fazendo com que se sinta à
crescendo cada vez mais no Brasil, onde os vontadenesse ambiente, ou seja, queele sesinta
museus estão buscando ser mais interativos e incluído e que possa sentir-se estimulado a
inclusivos (GONÇALVES e BARBOSA- aprender, em um local que geralmente é visual.
LIMA, 2013; LAMY et al., 2019; RAMOS, Por isso o tato foi o sentido escolhido para
2019). Como exemplo, tem-se o caso da maior fruição dessa exposição, sendo que nesse
mediação adaptada para deficientes visuais no caso, o toque não prejudica a conservação das
Museu de Astronomia e Ciências Afins peças, que os modelos didáticos foram
(MAST) (GONÇALVES e BARBOSA-LIMA, elaborados para tal finalidade e em caso de
2013). danos, podem ser facilmente realizados
Um dos públicos que precisam ser consertos, e as peças reais que compõem a
mais incluídos nos museus são os cegos, queexposição possuem alta resistência.
interagem com o mundo baseando-se em outrosEsteartigotemcomoobjetivo
sentidos que não a visão, sendo o tato o apresentar um relato de experiência sobre a
principal sentido utilizado para criar uma exposição biológica tátil realizada pelo MUDI,
representação mental daquilo que é percebido como forma de incluir pessoas com deficiência
por deficientes visuais (AZEVEDO; SANTOS, visual em visitações aexposições
2014). Assim, um meio de proporcionar museológicas.
acessibilidade para estes indivíduos é fazer com
que coisas que normalmente são assimiladas
2. MATERIAIS E MÉTODOS
por meio da visão, possam ser exploradas pelo
elaborou a exposição tátil: "O Mundo na Ponta
tato, audição, olfato, e até mesmo, paladar.
A exposição tátil “O Mundo na Ponta
Pensando nisso, a equipe do MUDI-UEM
dos Dedos” foi desenvolvida no Museu
Dinâmico Interdisciplinar, que é o museu de
modelos didáticos.
ciências da Universidade Estadual de Maringá
manipular objetos que normalmente não teriam
(UEM), localizado no campus sede da
acesso, além de explorar, por meio do tato,
universidade, e busca levar o ensino de ciências
estruturas microscópicas representadas em
para a comunidade externa da universidade.
Esse museu foi fundado em 1985 e atende a
além aproximar mais do museu o visitante com
uma média de 40.000 pessoas ao ano, por meio
exposição por meio do tato não é bem vista em
de ações itinerantes e no próprio museu,
muitos museus, pois pode ser prejudicial à
incluindo visitas espontâneas e principalmente
conservação do acervo (SARRAF, 2008).
gruposagendados:turmasescolaresda
Entretanto, é o sentido que estimula a atenção e
Educação Infantil, Ensino Fundamental, Médio
a memória de trabalho (KASTRUP, 2007),
e Superior, grupos de instituições de educação
especial, como a Associação de Pais e Amigos
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proporcionar uma visita mais organizada e com
maior efetividade na aprendizagem e lazer, o
para a exposição. Essa menor interatividade se
por diferentes fatores como: risco de lesão
peças delicadas e riscos de danos para as peças
e para os visitantes em geral.
Por ser uma exposição adaptada
ARTIGO ORIGINAL
dosExcepcionais(APAE), pacientesdaespecialmente para pessoas cegas e com baixa
Unidade de Psicologia Aplicada (UPA), visão, as legendas contendo a descrição dos
pacientes de casas de reabilitação da região, objetos foram escritas em português e
alunos da Universidade Aberta à Terceira Idade traduzidas para Braille, de acordo com a norma
(UNATI), dentre outros. 5.1.1 da Associação Brasileira de Normas
Por isso, o MUDI busca sempre Técnicas (ABNT -2004), queprevêautilização
adaptar-seaos diferentes tipos devisitantes parado Braille como meio de comunicação e
sinalização tátil. Entendeu-se que a existência
de textos em Braille seria a melhor forma de
geral, por esse motivo foram às áreas escolhidas
que nesse caso, foi elaborado pensandofazer com queo deficientetivesse autonomia ao
especialmente em portadores de deficiênciavisitar a exposição e não precisasse de alguém
visual. Sendo que no MUDI, as peçasque fizesse uma mediação entre ele e as peças.
anatômicas humanas e zoológicas permitem Osobjetosdaexposiçãotátil
menor interatividade direta com o público emapresentam modelos científicos,
principalmenterelacionados àbiologia, visando
à popularização da ciência para pessoas com
deficiência visual. Além das peças originais,
do participante, produtos tóxicos (Exemplo:como ossos e animais taxidermizados, fizeram
formol para conservação de peças anatômicas),partedaexposiçãomodelosdidáticos
produzidos pela equipe do MUDI, conforme
pode ser observado na listagem abaixo (Tabela
1).
Tabela 1: Peças e temas abordados na Exposição Biológica Tátil apresentada no MUDI.
animais, especialmente a comparação dos ossos
responsáveis pela mordida entre os animais herbívoros
(cavalo) e carnívoros (onça)
Peça
Temas abordados
Anatomia comparada
Crânios
1
: humano, cavalo e onça
Diferenças esemelhanças dos ossos em diferentes grupos
Depieri et al., 2021
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5
Vértebras: baleia, cavalo e Principais diferenças entre as vértebras das diferentes
humana (cervical, torácica e regiões da coluna vertebral (torácica, lombar e cervical)
lombar) e semelhanças e diferenças entre as vértebras dos
diferentes animais, especialmente com relação ao
formato e tamanho
Úmero: humano e baleiaPrincipais diferenças e semelhanças entre os ossos de
dois grupos animais distintos, ressaltando que ambos
apresentam basicamente os mesmos ossos, mas com
formatos e tamanhos diferentes
Fêmur humano
Como o fêmur se insere nos ossos da bacia e como se
movimenta quando andamos. Além de doenças ósseas
que podem ser observadas na peça.
Zoologia
Morcegos taxidermizados
Importância ecológica dos morcegos e procedimentos
que precisam ser tomados para lidar com morcegos que
venham a entrar em domicílios
Cascodetartarugae Manipular animais dedifícil acesso esanar dúvidas sobre
endoesqueleto de estrela do maresses animais
Microbiologia
Modelos de célula animal e Verificar as principais diferenças estruturais das células
célula vegetal animais e vegetais, além de suas organelas e envoltório
nuclear característico de células eucariontes
Modelodelâminade Mostrar o que pode ser encontrada na água não tratada
microscópio de água não tratada vista ao microscópio, verificar que nem todos os
com protozoários protozoários são patógenos humanos e verificar os
diferentes tipos de protozoários
Modelos de vírusIdentificar a estrutura básica dos vírus, suas diferentes
formas e os vírus que são mais conhecidos
1
Os ossos foram preparados por osteotécnica que engloba a lavagem, secagem, impermeabilização com resina e retirada da
gordura dos ossos para que eles possam ser manipulados sem ser danificados
Exposição biológica tátil em museus de ciências: um relato de experiência
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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em geral, grande dificuldade em
apresentar a microbiologia aos deficientes
visuaisemdecorrênciadaslimitações
relacionadas ao uso do microscópio. Além
disso, muitas pessoas sem deficiência também
possuem dificuldade para assimilar a forma e a
existência desses organismos devido ao seu
tamanho diminuto(ALBUQUERQUE;
BRAGA; GOMES, 2012). Diante de tal
desafio, além do MUDI, outros museus de
ciências brasileiros também se propuseram a
reduzir esse obstáculo, como por exemplo, o
Museu de Microbiologia do Instituto Butantan,
que com o Programa de Apoio ao Deficiente
Visual Micro Toque, permite que seus
visitantes possam por meio do tato edaaudição,
aprender sobre diferentes microrganismos e
doenças (BIZERRA et al, 2012).
Uma particularidade da exposição é
que pessoas sem deficiência visual puderam
utilizar vendas nos olhos para tatear os objetos,
assim explorando e assimilando a forma e a
textura das estruturas sem utilizar a visão como
Figura 1: A imagem mostra um úmero de baleia
(esquerda) e humano (direita) evidenciando semelhanças
e diferenças entre as duas espécies. Bem como as placas
em braile (seta vermelha) que foram utilizadas para
tornar a exposição mais acessível e permitir maior
autonomia do público com deficiência visual. Além
disso, foram utilizadas também placas com a descrição
do objeto em tinta, para pessoas que não tem deficiência
visual também terem autonomia durante a visita.
Fonte: Natália Brita Depieri, 2014
As vértebras utilizadas na exposição
base, vivenciando assim, outros sentidos tátil
po
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tantes especiais e desenvolvendo maior empatia pelos p
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A peças e autonomia na visita,
especialmente com morfologia
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das placas com descrição dos objetos em
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dos braille (Figura 1). exemplificou
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que apresentam anatomias completamente
diferentes, mas que possuem basicamente os
mesmos ossos (Figura 2).
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ARTIGO ORIGINAL
Figura 2: Vértebra de baleia e de cavalo para serem comparadas.
Fonte: Natália Brita Depieri, 2014
conhecer a forma e textura dessas peças, os
como ocorre seu encaixe nos ossos da pelve,
Os crânios demonstraram algumaspropicia o diálogo acerca de questões que
em relação a herbívoros. Com isso, além de
diferenças e semelhanças entre seres vivos.surgemespontaneamente(MARANDINO,
Ambos apresentam basicamente os mesmos2008).
ossos,porémestespossuemformasOs úmeros de baleia e de humano
diferenciadas de acordo com os hábitos do chamaramgrandementeaatençãona
animal, como por exemplo, a presença de exposição. Eles evidenciaram a diferença na
estruturas mais desenvolvidas em carnívoros forma e no tamanho do mesmo osso em
diferentes espécies. O úmero da baleia localiza-
se em suas nadadeiras peitorais e é mais curto
humano, e com ele, os visitantes aprenderam
visitantes puderam aprender também sobre em proporção ao úmero humano, pois esses
alimentação e outros hábitos dos animais. animais tiveram que se adaptar à habitats e
O fêmur é o maior osso do corpo modos de locomoção diferentes, assim
exemplificando uma homologia evolutiva
(Figura 1).
qual o seu formato e, por meio do diálogo comOs morcegos geralmente são animais
o mediador, sobre algumas doenças quemal vistos pela sociedade devido aos mitos e
comumente acometem os ossos. O mediador,lendas que os cercam. A presença de espécimes
atuando entre o público e a exposição, facilitoutaxidermizados na exposição permitiu ao
a apropriação do conhecimento científico epúblico sanar dúvidas e assim, reduzir
Exposição biológica tátil em museus de ciências: um relato de experiência
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O casco detartarugaeo exoesqueleto de
conhecer um pouco sobre seus hábitos.
preconceitos. Os visitantes puderam manipular objetos de difícil acesso e sanar dúvidas sobre
e ver de perto esses mamíferos, além de esses animais que não fazem parte da realidade
regional do interior do Paraná (Figura 3), já que
o MUDI está localizado há mais de 500 Km do
estrela-do-mar permitiram um contato comoceano.
Figura 3: Endoesqueleto de estrela do mar e casco de tartaruga marinha com placas em braile para descrevê-los.
Fonte: Natália Brita Depieri 2014
diversas ocasiões (Tabela 2). Sua inauguração
com deficiência intelectual, já que possibilitam
uma melhor visualização de detalhes (COHEN;
DUARTE; BRASILEIRO, 2012).
Osmodelosdidáticosdeaconteceu no Museu Dinâmico Interdisciplinar
microrganismos e outras células permitiramda UEM no evento "8ª Primavera dos Museus",
que qualquer visitante, por meio da visão ou doque teve como tema "Museus Criativos". Esse
tato, conhecesse o formato daquilo que éevento ocorreu de 23 a 28 de setembro de 2014
observado apenas por meio dos microscópios.e englobou diversas atividades, dentre elas, a
As maquetes táteis são importantes não só paraexposição tátil do MUDI. Nessa ocasião o
deficientes visuais, mas também para pessoasmuseu recebeu 609 visitantes que puderam
interagir com a exposição por meio do tato,
sendo que entre eles encontraram-se não apenas
pessoas com deficiência, mas outras pessoas
A exposição tátil foi exibida emque também puderam manipular os objetos.
Depieri et al., 2021
Arquivos do Mudi, v. 25, n. 2, p. 1 - 13, ano 2021
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Tabela 2: Exibições da Exposição Tátil e número de visitantes
Evento
Local
Visitantes
8ª Primavera dos Museus
MUDI - Maringá
609
Guarapuava
Encerramento daSemana Nacional de MuseuOscar 200
Ciência e Tecnologia de 2014Niemeyer - Curitiba
IFeiradeCiência,Trabalho, Universidade Estadual 250
Tecnologia e Cultura (FECTTEC)doCentro-Oeste–
Operação Rondon Regional 2017
APAE - Cambará35
Rondon na Praça
Curso Técnico em Agroecologia
Visitas com deficiência visual
TOTAL
Praça do PSF Central – 500
Cambará
Colégio Milton Santos 25
MUDI - Maringá 47
1666
Com a exposição tátil o público pôde manipular
outras ocasiões, o que despertou a curiosidade.
Além disso, todos puderam sanar dúvidas sobre
além de universitários e visitantes espontâneos.
Além disso, houve outras exibições daTecnologia e Cultura (FECTTEC) realizada
exposição, como quando o MUDI representoupela Universidade Estadual do Centro-Oeste
a UEM no encerramento oficial da Semana(UNICENTRO - Campus de Guarapuava)
Nacional de Ciência e Tecnologia de 2014, no(Figura 4). A feira visou aproximar os
Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, Paraná,estudantes da educação básica de publicações e
utilizando a exposição tátil. Essa atividadepesquisas científicas, desenvolvendo projetos
ocorreu no dia 23 de outubro e contou com apara que esses estudantes pudessem fazer
participação de sete mediadores e um professortrabalhoscientíficosantesmesmode
da UEM. Os visitantes do evento eram alunosingressarem no ensino superior. O evento
de escolas municipais, estaduais e particulares,ocorreu no dia 21 de novembro de 2014 e
contou com cerca de 250 visitantes, dentre eles,
alunos e professores da educação básica e do
materiais que dificilmente encontrariam emensinosuperior.Comofomentoda
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (CAPES/UNICENTRO) o
os elementos apresentados na exposição. museu levou 12 mediadores e técnicos para
Outra exibição da exposição tátil apresentar atividades e exposições, dentre as
ocorreu na I Feira de Ciência, Trabalho,quais, estavam a exposição tátil.
Exposição biológica tátil em museus de ciências: um relato de experiência
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10
Figura 4: Disposição das peças da Exposição Tátil na FECTTEC em Guarapuava.
Fonte: Natália Brita Depieri 2014
acadêmicos mais acessíveis paracidades menos
A exposição também foi apresentadaMUDI como exposição temporária e sempre é
que tem por objetivo tornar os conhecimentos
durante a Operação Rondon Regional em 2017,disponibilizada quando agendamento de
na cidade de Cambará, pela delegação dagrupos com portadores de deficiência visual.
UniversidadeEstadual de Maringá. A Operação Devido à importância da acessibilidade
Rondon Regional é um projeto de extensãoaos portadores de necessidades especiais,
realizado por 14 universidades paranaenses,diversos museus desenvolvem exposições
voltadas para esse público, como o Museu de
Arte Moderna de São Paulo com o “Programa
desenvolvidas,ecomissocapacitaraIgual Diferente” o Museu da Pinacoteca de São
exibida no evento “Rondon na Praça”,
juntamente com todos os materiais levados para
a operação. A feira aconteceu das 8 horas da
manhã até as 16 horas, na praça do Programa
Saúde da Família – Central na Vila Rubinho da
cidade de Cambará e foi aberta à toda a
população.
Além das apresentações itinerantes da
exposição tátil, a mesma foi apresentada no
comunidade, além de desenvolver a cidadaniaPaulo com o “Programa Educativo Públicos
dos acadêmicos. As peças foram apresentadasEspeciais - PEPE” (SILVA, 2016). Devido a
para alunos da Associação de Pais e Amigosessa necessidade, o MUDI também busca a
dos Excepcionais (APAE), que puderamacessibilidade e visando os deficientes visuais a
manuseá-las e conhecer um pouco mais sobreexposição tátil foi elaborada. Como coloca
os seres vivos. Além disso, a exposição foiSilva (2016, p. 92):
A integração das pessoas com
necessidadesespeciais,em
particular, dos sujeitos aqui
estudados, é uma parte essencial
no processo de acessibilidade
das edificações de uso coletivo,
uma vez que esses recursos se
tornam elos entre os sujeitos
com deficiência visual e o
ambiente.
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A importância da utilização de modelos
auxiliam na compreensão e aprendizagem do
aluno (MATOS, et al, 2009). Isso não é
diferente no ensino de pessoas com deficiência
visual, principalmente porque utilizam o tato
para a aprendizagem e os modelos didáticos
permitem a manipulação de materiais que não
poderiamsermanipuladosnormalmente.
Portanto, os objetos desenvolvidos para essa
exposição contribuíram para a aprendizagem
dos visitantes. Além disso, como foi possível
observar pelos diferentes contextos em que foi
apresentada a exposição, os modelos didáticos
facilitam a aprendizagem dos mais diferentes
públicos. Além de facilitar essa adaptação da
exposição para outras realidades e outros
grupos de pessoas.
Sendoassim,aestruturaçãoe
apresentação da exposição tátil: "O Mundo na
PontadosDedos"colaboraramcoma
acessibilidade, inclusão e autonomia dos
deficientes visuais no ambiente museal e
facilitou a aprendizagem de conhecimentos
científicos. Além deque, deacordo com Cohen,
Duarte e Brasileiro (2012),
causam um grande prazer
visuais, quando visitam um museu. Esta
exposição é muito importante também para
inspirar outros museus brasileiros a tornar seus
acervos acessíveis a diferentes públicos, que
isso não acontece muito no Brasil (BIZERRA
et al, 2012).
evidenciada em diversos estudos, porque
didáticos para o ensino de biologia foi
4. CONCLUSÃO
Uma das funções dos museus de
ciências é construir o conhecimento científico
por meio da educação não formal de maneira
lúdica e dinâmica, alcançando todos os tipos de
público. Em vista disso, o MUDI busca
divulgar a ciência de forma acessível e
compreensível, tendo proporcionado, nesse
caso em especial, acesso a um público que por
muito esteve distante dos museus: as pessoas
com deficiência visual.
A presença de mediadores, peças
disponíveis ao toque e suas respectivas
legendas em Braille na exposição tátil do
MUDI permitiu uma maior autonomia ao
deficiente visual enquanto visitava a exposição,
fazendo com que se sentisse mais confortável e
confiante no ambiente expositivo.
Tendo em vista que o acesso ao
conhecimento científico é um direito de todos,
portanto,cabeaosespaçoseducativos
adequarem seus espaços e promoverem ações
inclusivas, de forma a facilitar a compreensão
sobre a ciência por parte de todos.
as obras táteis
aos deficientes
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