Arquivos do Arquivos do Mudi, v. 25, n. 3, ano 2021
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ARTIGO ORIGINAL
Aceito em: 29/09/2021 Publicado em: 15/12/2021
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CARACTERIZAÇÃO DOS FREQUENTADORES DA ASSOCIAÇÃO
NORTE PARANAENSE DE REABILITAÇÃO (ANPR) DE MARINGÁ
SUBMETIDOS À AMPUTAÇÃO
Rafael Gustavo Zenco
Centro Universitário Ingá - UNINGÁ
rafael.zenco@hotmail.com
Resumo
O número de amputados vem crescendo a cada ano em decorrência
da Diabetes Mellitus (DM) e por acidentes automobilísticos,
tornando-se um problema de saúde pública. Após o procedimento
cirúrgico, o paciente deve ser acompanhado por uma equipe
multidisciplinar, sendo o fisioterapeuta essencial nesse processo,
permitindo a redução ou prevenção das possíveis complicações que
podem surgir além de promover uma melhor independência do
amputado. Caracterizar os pacientes amputados atendidos na
Associação Norte Paranaense de Reabilitação (ANPR) localizada
na cidade de Maringá, PR. Foi aplicado a 27 indivíduos um
questionário contendo perguntas referentes à caracterização da
amostra, adaptação à prótese, complicações como dor/sensação
fantasma e retorno as atividades de vida diárias (AVDs) e
atividades laborais. A amostra foi caracterizada por indivíduos
amputados entre 50 - 59 anos, com a prevalência de amputação em
um dos membros inferiores, com etiologia maior para as
amputações relacionadas a DM. Pouco mais de 50% dos indivíduos
conseguiram ter boa adaptação ao uso da prótese e mais de 80%
não conseguiram retornar as atividades laborais. Este estudo
mostra a necessidade de programas de conscientização e orientação
à população, principalmente no que se refere aos pacientes com
DM e na prevenção de acidentes automobilísticos. Esses fatores
são os que mais expressam a exacerbação de causas de morbidade
e mortalidade dos indivíduos, causando sua amputação. Ademais,
é possível observar a importância de um bom programa de
reabilitação e ações que implementem acessibilidade no ambiente
de trabalho e nova qualificação afim de que, esses indivíduos
possam retornar as atividades laborais.
Palavras-chave: Doenças vasculares periféricas; diabetes
mellitus; amputados; reabilitação.
Carlos Alberto Carvalho Júnior
Centro Universitário Ingá - UNINGÁ
junior_carvalhosss@outlook.com
Débora Dei Tos
Centro Universitário Ingá - UNINGÁ
deboradeitos@hotmail.com
Lilian Catarim Fabiano
Centro Universitário Ingá - UNINGÁ
lcatarim@hotmail.com
Caracterização dos frequentadores da ANPR submetidos à amputação
Arquivos do Mudi, v. 25, n. 3, p. 37 - 48, ano 2021
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CHARACTERIZATION OF THE PARTICIPANTS OF THE NORTE PARANAENSE
ASSOCIATION OF REHABILITATION (ANPR) OF MARINGÁ SUBMITTED TO AMUTATION
Abstract
The number of amputees has been growing every year as a result of Diabetes Mellitus (DM) and car accidents,
making it a public health problem. After the surgical procedure, the patient must be monitored by a
multidisciplinary team, with the physiotherapist being essential in this process, allowing for the reduction or
prevention of possible complications that may arise, in addition to promoting better independence for the
amputee. To characterize amputee patients treated at the North Paraná Rehabilitation Association (ANPR)
located in the city of Maringá, PR. A questionnaire was applied to 27 individuals, containing questions
regarding the characterization of the sample, adaptation to the prosthesis, complications such as pain/phantom
sensation and return to ADL's and work activities. The sample was characterized by amputees between 50 - 59
years old, with the prevalence of amputation in one of the lower limbs, with a greater etiology for amputations
related to DM. A little more than 50% of the individuals managed to adapt well to the use of the prosthesis and
more than 80% were unable to return to work activities. This study shows the need for awareness and guidance
programs for the population, especially with regard to patients with DM and the prevention of car accidents.
These factors are the ones that most express the exacerbation of causes of morbidity and mortality in
individuals, causing their amputation. Furthermore, it is possible to observe the importance of a good
rehabilitation program and actions that implement, accessibility in the work environment and new qualification
so that these individuals can return to work activities.
Keywords: Peripheral vascular diseases; diabetes mellitus; amputees; rehabilitation.
1. INTRODUÇÃO
A amputação de um membro é um
procedimento cirúrgico no qual denota atenção
máxima, pois pode acarretar sérias
complicações que irão repercutir na reabilitação
funcional do paciente limitando sua adaptação
quanto ao uso de prótese. A incidência anual
dos casos de amputação no Brasil é de
aproximadamente 13,9 casos a cada 100.000
indivíduos (SPICHLER et. al., 2001), enquanto
mundialmente a amputação atinge de 23 a 43,9
amputados / 100.000 indivíduos ao ano (DO
PLANEJAMENTO, 2008; KRÖGER et al.,
2017). Destes, 80% das amputações se
manifestam em pessoas na faixa etária dos 50 a
70 anos por decorrência das doenças vasculares
periféricas (DVP), acarretada principalmente
pelo Diabetes Mellitus (DM). Não menos
importante, as lesões traumáticas causadas por
acidentes de trânsito ou trabalho é considerada
a segunda maior causa de amputação em
indivíduos de 25 a 44 anos (10,8%)
(SPICHLER et. al., 2001; CARVALHO et. al.,
2005; POOJA; SANGEETA, 2013; BELLO et.
al., 2014).
As DVPs apresentam alto índice de
prevalência a nível mundial, podendo chegar a
202 milhões de casos anualmente. O impacto
deletério das DVP exige que esses pacientes
sejam muito bem monitorados por uma equipe
de saúde, pois quando não tratado
adequadamente pode suscitar em amputação de
membro inferior (JORDAN, 2012;
BENAVENT, 2020). Dentre as causas mais
comuns de DVP que acarretam a amputação
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após os 55 anos de idade destacam-se, DM,
acometendo 80,6% dos pacientes
diagnosticados, seguidos da hipertensão arterial
sistêmica (HAS) (68,2%), trombose e doença
isquêmica coronariana (DIC) (66,2%)
(JORDAN, 2012; BENAVENT, 2020).
Em alguns casos, o paciente consegue
realizar um acompanhamento por uma equipe
multiprofissional antes do procedimento
cirúrgico para amputação de membro, o que
favorece um rápido retorno às atividades de
vida diária (AVDs) e uma melhor
independência do amputado. Com esse foco, o
fisioterapeuta se destaca por contribuir na
melhora de diversas desordens que podem
acompanhar esses pacientes, podendo fazer uso
de técnicas e recursos variados nos diferentes
períodos de tratamento (SUMIYA et. al, 2009).
Esse profissional atua em diversas queixas
relatadas pelos pacientes amputados, como
exemplo, dores no coto do tipo queimação,
pontadas, formigamento, além de sensação de
dor no membro fantasma (NIKOLAJSEN et.
al., 2006). O fisioterapeuta também deve atuar,
caso seja necessário, na redução do edema, nas
ulcerações no coto, restrição cicatricial,
neuromas, espículas ósseas e não menos
importante a dor no membro fantasma
(SUMIYA et. al., 2009).
A dor e a sensação fantasma são
queixas comuns relatadas pelos pacientes
amputados, interferindo inclusive no processo
de protetização e na qualidade de vida, podendo
ser observada em aproximadamente 80% dos
casos (FLOR, 2002). O paciente que sofre de
dor fantasma pode referir sensação dolorosa na
parte do membro que foi amputado, podendo
ser do tipo dormência, pontadas, câimbras,
espasmos e até mesmo semelhante à sensação
de descarga elétrica (DEMIDOFF et. al., 2007).
Vale ressaltar a importância da fisioterapia na
fase da pré-protetização, pois o insucesso no
uso da prótese pode interferir na capacidade
para retornar às suas AVDs, além de
comprometer sua independência funcional,
interferindo de maneira negativa nos fatores
psicossociais (SUMIYA et. al., 2009; CHIN et.
al., 2002). Sendo assim, é evidente de que todos
estes comprometimentos somados as
dificuldades enfrentadas, principalmente na
fase pós-cirúrgica, podem desencadear
transtornos físicos e psicológicos que
comprometem sua QV (MANELLA, 1981;
O’SULLIVAN; SCHMITZ, 2010). Visto que a
amputação impacta negativamente a vida do
indivíduo, este estudo tem por objetivo
caracterizar por meio de um questionário, a
população amputada frequentadora da
Associação Norte Paranaense de Reabilitação.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Este trabalho foi previamente
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do
Centro Universitário Ingá - UNINGÁ, sob o
parecer 4.792.406. Foi realizado um estudo
de caráter quali-quantitativo, por meio da
aplicação presencial de 1 (um) instrumento
impresso para coleta de dados na Associação
Norte Paranaense de Reabilitação (ANPR),
localizada na cidade de Maringá, PR. A
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assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE), foi obrigatória a todos os
participantes a fim de esclarecimento e
demonstração de voluntariedade na
participação do mesmo.
Para a realização deste estudo,
inicialmente os pesquisadores fizeram contato
com o presidente e com a diretoria desta
associação, elucidando os objetivos e a
metodologia a ser adotada para sua realização.
Os mesmos disponibilizaram os prontuários e
os horários de atendimentos dos 41 pacientes
em tratamento fisioterapêutico. Posteriormente,
foi realizado um convite a todos os pacientes
amputados desta associação para participar
voluntariamente do estudo.
Foram inclusos os pacientes
amputados que consentiram voluntariamente
em participar da pesquisa por meio de um
checklist no Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE). Pacientes que
apresentaram déficit cognitivo e visual que
impossibilitasse responder aos questionários
foram exclusos da pesquisa, além daqueles que
não consentiram com a pesquisa, os que
receberam alta ou não compareceram na ANPR
nos dias de coleta dos dados.
Foram aplicados os questionários via
Google Forms durante os atendimentos dos
pacientes amputados, sendo as questões lidas
pelos examinadores de forma a não influenciar
em respostas subjetivas por parte dos
voluntários.
Após a demarcação no TCLE, foi
aplicado um questionário previamente
elaborado pelos autores contendo 17 perguntas
e analisados no programa Excel. Vale ressaltar
que os pacientes não foram caracterizados por
nome, entretanto, a idade, sexo e profissão
tornaram-se importantes de serem coletados,
como também o tempo de amputação, tempo de
reabilitação, nível de amputação, motivos que
ocasionaram a amputação, além de informações
a respeito do período pré-protetização, tipo de
prótese, dores e possível retorno às atividades
laborais.
3. RESULTADOS
Nosso estudo foi composto por uma
amostra de 27 participantes, sendo 77,8% do
sexo masculino e 22,2% do sexo feminino. A
faixa etária predominante foi entre 50 - 59 anos
(37%), seguidos de indivíduos com mais de 70
anos (25,9%), 30-39 e 60-69 anos (11,1%), 40-
49 anos (7,4%) 0-9 e 20-29 anos (3,7%) (Figura
1). Para melhor caracterização da amostra, a
Tabela 1 apresenta as profissões dos
participantes, a Figura 2 apresenta a etiologia da
amputação e a Figura 3 expõe o tempo de
hospitalização após o procedimento cirúrgico.
Todos os indivíduos foram submetidos a
amputação de membro inferior, dos quais
96,3% em um dos membros inferiores e 3,7%
em ambos os membros inferiores.
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Figura 1. Faixa etária dos participantes da ANPR de Maringá-PR.
Fonte: Os autores.
Tabela 1. Profissões dos participantes da ANPR de Maringá-PR.
PROFISSÃO
N
Comerciante
8
Agrônomo
1
Aposentado(a)
9
Autônomo
1
Auxiliar de empilhadeira
1
Mecânico
2
Balconista
1
Outros
1
Desempregado(a)
1
Gerente de TI
2
N = Frequência absoluta; (%) = porcentagem
Fonte: Os autores.
Figura 2. Etiologia dos participantes da ANPR de Maringá-PR.
Fonte: Os autores.
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Figura 3. Tempo de hospitalização dos participantes da ANPR de Maringá-PR.
Fonte: Os autores.
Os participantes também foram
caracterizados em relação à prótese, onde
apenas 59,3% referiram fazer uso do
dispositivo. Destes, apenas 51,9% relataram ter
tido boa adaptação ao uso da prótese, sendo que
na maioria das vezes seu uso se dá em períodos
alternados. Dos participantes do estudo, 45%
referem ainda sentir dor no coto, podendo ser
observado na Figura 4 as formas de dores
relatadas nesse estudo. Além da dor no coto,
74,1% dos participantes referiram sentir dor e
sensação fantasma.
Figura 4. Caracterização da dor dos participantes da ANPR de Maringá-PR.
Fonte: Os autores.
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Por fim, os participantes foram
questionados em relação as AVDs e retorno a
atividade laboral. Na Figura 5 pode ser
observada a necessidade ou não do uso de
prótese para realizar as AVDs. Do total de
participantes, apenas 18,5% conseguiu retornar
as atividades laborais e 81,5% ainda sente
dificuldades para realizar esse retorno. O
motivo pelo qual não foi possível retomar as
atividades laborais foi apresentado na tabela 2.
Figura 5. Necessidade de utilização da prótese dos participantes da ANPR de Maringá-PR.
Fonte: Os autores.
Tabela 2. Motivo por qual não foi possível o retorno as atividades laborais dos participantes da ANPR de
Maringá-PR.
Motivos de não retornar as
atividades laborais
N
%
Aposentado
1
4,5%
Falta de equilíbrio
4
18%
Aguardando protetização
4
18%
Fraqueza muscular
3
14,5%
Desemprego
1
4,5%
Falta de confiança
1
4,5%
Traumatismo cranioencefálico
2
9%
Amputação recente
1
4,5%
Não se adaptou a prótese
1
4,5%
Dificuldade em realizar atividades
4
18%
N = Frequência absoluta; (%) = porcentagem
Fonte: Os autores.
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4. DISCUSSÃO
Este estudo objetivou caracterizar a
população frequentadora da ANPR submetida à
amputação de membro, sendo possível o
melhor entendimento a respeito desse público e
obter uma melhor visão de forma que possa
promover a prevenção desta problemática.
Nossa amostra foi caracterizada por
adultos predominante do sexo masculino, o que
de fato é observado em outros estudos (CHAN
et al., 2009; HELGESON et al., 2010; LEITE et
al., 2019). No Brasil, este fator pode estar
associado ao maior cuidado da saúde pelas
mulheres, inclusive em casos de DM, sendo
esta uma problemática que pode levar a
amputação de membro. Esta constatação é de
fato preocupante, pois os homens tendem a
negligenciar e postergar a realização de exames
rotineiros, além de consumir diversos alimentos
que não condizem com uma alimentação
saudável. A soma desses fatores pode
desencadear consequências graves, levando até
mesmo a amputação de algum membro. As
condições relacionadas a DM devem ser
levadas em consideração, pois a nível nacional,
os diabéticos correspondem aproximadamente
15% da população, sendo que 8% destes estão
situados nas regiões Sul e Sudeste brasileiro.
(VANCINI E LIRA, 2004; VARMA;
STINEMAN E DILLINGHAM, 2014).
As doenças relacionadas ao sistema
vascular são mais evidentes em adultos acima
de 50 anos. Acredita-se, que o envelhecimento
populacional somado a descoberta tardia de
patologias vasculares e associado à negligência
do autocuidado podem desencadear
complicações que culminam com amputações
(CARVALHO et al., 2005; PITTA et al., 2005;
IMAM et al., 2017). Dentre o número de
patologias presentes nas doenças vasculares
periféricas, destaca-se a DM. Nossos achados
deixam clara a alta incidência de amputação
decorrente da DM. Embora saiba-se que a DM
é um fator preocupante, muitos não tomam os
devidos cuidados para evitar suas possíveis
complicações, tornando necessária a atuação
dos profissionais de saúde principalmente no
que se diz respeito a prevenção de amputações
(BRASILEIRO et al., 2005).
Infelizmente, dos indivíduos
portadores de DM, aproximadamente 15%
apresentam alto risco para desenvolvimento de
infecções ou necroses, sendo necessário um
tratamento adequado a fim de prevenir
intervenções cirúrgicas. Outra problemática
apresentada por esses indivíduos que
sofreram amputações devido a DM é o risco de
nova cirurgia de amputação. Isso se por
diversos fatores serem negligenciados pelos
indivíduos, como o autocuidado,
consequentemente, o paciente terá um nível de
amputação mais proximal, além de estar
exposto a um maior tempo de hospitalização, o
que compromete sua reabilitação
(BORTOLLETO et al., 2010).
Além da DM, outros fatores denotam
atenção, como é o caso dos acidentes
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automobilísticos (DOS SANTOS et al., 2010).
Em nossa amostra, nossos resultados
mostraram ser esta a segunda maior causa de
amputação. A frequência de amputações
decorrentes aos acidentes automobilísticos tem
alarmado os profissionais de saúde,
principalmente no Brasil, onde o trânsito é
intenso, mal organizado e pouco fiscalizado.
Em anos anteriores, foi identificado que das
indenizações realizadas pelo Seguro de Danos
Pessoais Causados por Veículos Automotores
de Via Terrestre (DPVAT), 25% delas estavam
relacionadas a indivíduos que tiveram perda
anatômica ou funcional completa de um
membro inferior e aproximadamente 11% nos
casos relacionados aos membros superiores
(SILVA et al., 2014). O alto índice de
amputados decorrentes aos acidentes
automobilísticos pode ser reduzido com
atuações que enfatizem a prevenção e direção
defensiva, pois esses incidentes são na maioria
das vezes, desencadeados pela negligência por
parte do condutor e/ou de terceiros, resultando
em colisões ou atropelamentos (BÔAS E
SILVA, 2015).
Após o processo cirúrgico da
amputação, esses pacientes terão que ser
acompanhados por uma equipe
multiprofissional, visando uma rápida
reabilitação e retorno as AVDs, nesse caso, o
tratamento pré e pós-protetização é de suma
importância para a reabilitação desses
pacientes. À vista disso, diversos profissionais
podem contribuir na reabilitação desses
pacientes, como é o caso do fisioterapeuta, que
é um profissional qualificado para atuar no
processo de pré e pós-protetização. O
tratamento no período de pré-protetização deve
englobar uma equipe multidisciplinar, com
condutas que auxiliem e acelerem o processo de
recebimento da prótese desse paciente. A
prótese é um dispositivo artificial que tem por
objetivo substituir um membro submetido a
amputação e auxiliando no processo de
reintegração na sociedade, além de
proporcionar autonomia, liberdade e confiança
para a realização de suas AVDs (DE
VASCONCELOS, 2011). Para a reabilitação, a
presença do fisioterapeuta é indispensável, pois
dispõe de cnicas capazes de promover a
reeducação de mobilidade, a prevenção de
encurtamentos e contraturas musculares, dentre
outras que tem como foco essencial o retorno
das atividades laborais do paciente.
Tal retorno é dificultado por diversos
fatores, como a exemplo, a falta de intervenção
de uma equipe multidisciplinar, a dor e
sensação fantasma, uma adaptação
protética, a falta de conscientização perante a
sociedade na promoção de empregos para
amputados (PASTRE et al., 2005; BONA;
ALDABE E RIBEIRO, 2008), a não
qualificação profissional e a falta de projetos de
adaptação ao ambiente de trabalho
(DORNELAS, 2010). Vale ressaltar que nossa
amostra apresenta profissões variadas, porém
com baixos índices de retorno às atividades
laborais, devido à escassez de adaptação
ergonômica, além de nova qualificação
profissional para o retorno às atividades
laborais. Outra problemática encontrada em
nosso estudo que pode comprometer o retorno
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as AVDs e laborais é a dor no coto e a dor e
sensação de membro fantasma.
Estudos complementam tais
informações, ressaltando que as dores podem
estar presentes em aproximadamente 50% a
80% dos amputados, podendo perdurar por
anos. Estas complicações são responsáveis pela
não adaptação a prótese, dificultando o
processo de reabilitação, e interferindo
negativamente na vida cotidiana e qualidade de
vida do amputado (ROBBINS et al., 2009;
SUBEDI E GROSSBERG, 2011). Quanto a
acessibilidade, no Brasil ainda existem muitas
adequações a serem feitas para que o indivíduo
retorne ao mercado de trabalho. Em
consequência, esses indivíduos podem
apresentar prejuízos financeiros, físicos e
emocionais, inclusive para sua família. Tendo
em vista essa dificuldade, é necessário não
apenas uma boa reabilitação, mas também
programas de capacitação profissional e a
conscientização por parte das empresas para
promover a acessibilidade em seus ambientes
(DORNELAS, 2010).
5. CONCLUSÃO
De fato, na última década o número de
indivíduos amputados foi exacerbado,
tornando-se notório a necessidade de reabilitá-
los de forma eficiente, no intuito de
proporcionar independência funcional para a
realização de suas atividades de vida diária e
laborais. À vista disso, o acompanhamento
fisioterapêutico pré e pós protetização é
indispensável uma vez que, quanto antes
houver a atuação do profissional especializado
na pré-protetização, melhor será sua
reabilitação.
Não apenas o tratamento, mas o
profissional de saúde deve estar atendo as
principais causas da amputação, além de
auxiliar na promoção de programas de
prevenção, que visem reduzir a incidência dessa
problemática que contribuam para a redução no
número de indivíduos amputados, além de
incitar as empresas a viabilizar projetos de
acessibilidade e qualificação que possibilitem o
retorno as atividades laborais. Frente a
realidade apresentada por esta pesquisa faz
necessário novos estudos que investiguem a
dificuldade quanto ao retorno as atividades
laborais desses indivíduos.
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