Arquivos do Mudi, v. 25, n. 3, ano 2021
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ARTIGO ORIGINAL
Aceito em: 29/09/2021 Publicado em: 15/12/2021
Esta revista possui Licença CC BY-NC
http://doi.org/10.4025/arqmudi.v25i3.61055
INCONTINÊNCIA URINÁRIA E QUALIDADE DE VIDA EM
CUIDADORAS DE PACIENTES DA ASSOCIAÇÃO NORTE
PARANAENSE DE REABILITAÇÃO (ANPR)
Andréa Boa Sorte Barbosa
Centro Universitário Ingá - UNINGÁ
andrea.boasorte22@gmail.com
Resumo
A incontinência urinária (IU) é a perda involuntária de urina,
podendo estar relacionada a diversos fatores, como a exemplo, a
idade, trauma do assoalho pélvico, fatores hereditários, raça,
menopausa, obesidade, doenças crônicas, e exercícios intensos na
região abdominal. A IU é um problema de saúde pública, pois além
de ser multifatorial é capaz de desencadear efeitos negativos para
a paciente. O diagnóstico é feito não apenas com base na história
clínica, mas também com a aplicação de questionário de qualidade
de vida, exame físico, diário miccional, teste do absorvente e
estudo urodinâmico. As técnicas empregadas pelo fisioterapeuta
são diversificadas, estando entre elas os exercícios de Kegel,
eletroestimulação, técnica de biofeedback, utilização de cones
vaginais, entre outros. Este estudo teve como objetivo identificar a
prevalência de queixas de perda urinária em cuidadoras de
pacientes que frequentam a Associação Norte Paranaense de
reabilitação (ANPR). O presente estudo de forma qualitativa foi
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro
Universitário Ingá UNINGÁ, sob o parecer n° 4.792.406. Para a
realização deste estudo foi elaborado pelos pesquisadores um
questionário contendo informações com perguntas relacionadas à
incontinência urinária. Nossos dados apontam que 25% das
mulheres entrevistadas apresentaram perda de urina ao esforço e
em relação à IUU, também considerada de grande prejuízo a saúde,
foi constatada estar presente em 32,3% da nossa amostra. Espera-
se que novos profissionais de saúde possam dispor de projetos de
prevenção e conscientização sobre os problemas urinários que
acometem a qualidade de vida das mulheres.
Palavras-chave: Estilo de Vida; epidemiologia; saúde da mulher.
Kamila Liara Gois Feliciano
Centro Universitário Ingá - UNINGÁ
kamilaliarafeliciano@gmail.com
Débora Dei Tos
Centro Universitário Ingá - UNINGÁ
deboradeitos@hotmail.com
Lilian Catarim Fabiano
Centro Universitário Ingá - UNINGÁ
lcatarim@hotmail.com
Incontinência urinária e qualidade de vida em cuidadoras de pacientes da ANPR
Arquivos do Mudi, v. 25, n. 3, p. 25 - 36, ano 2021
URINARY INCONTINENCE AND QUALITY OF LIFE IN PATIENT CAREERS OF THE NORTE
PARANAENSE ASSOCIATION OF REHABILITATION (ANPR)
Abstract
Urinary incontinence (UI) is the involuntary loss of urine and may be related to several factors, such as age,
pelvic floor trauma, hereditary factors, race, menopause, obesity, chronic diseases, and intense exercise in the
abdominal region. UI is a public health problem, as in addition to being multifactorial, it is capable of triggering
negative effects for the patient. Diagnosis is made not only based on clinical history, but also with the
application of a quality of life questionnaire, physical examination, voiding diary, pad test and urodynamic
study. The techniques used by the physiotherapist are diversified, including Kegel exercises, electrostimulation,
biofeedback technique, use of vaginal cones and others. This study aims to identify the prevalence of
complaints of urinary loss in caregivers of patients who attend the Associação Norte Paranaense de
Rehabilitation (ANPR). This qualitative study was approved by the Research Ethics Committee of Centro
Universitário Ingá UNINGÁ, under opinion 4.792.406. To carry out this study, the researchers created a
questionnaire containing information with questions related to urinary incontinence. Our data show that 25%
of the women interviewed present urine loss on exertion and in relation to UIU, also considered to be of great
harm to health, it was found to be present in 32.3% of our sample. It is expected that new health professionals
can have prevention and awareness projects on urinary problems that effect the quality of life of women.
Keywords: Lifestyle; epidemiology; women's health.
1. INTRODUÇÃO
A incontinência urinária (IU) é a perda
involuntária de urina, podendo estar
relacionada a diversos fatores, como por
exemplo, a idade, trauma do assoalho pélvico,
fatores hereditários, raça, menopausa,
obesidade, doenças crônicas, e exercícios
intensos na região abdominal (HIGA et al.,
2008; GOFORTH; LANGAKER, 2016). A IU
é um problema de saúde pública, pois além de
ser multifatorial é capaz de desencadear efeitos
negativos para a paciente, interferindo no seu
estado físico, social, econômico, sexual e
principalmente na saúde psicológica. Por
desencadear consequências relevantes, esse
tema tem sido motivo de grande interesse pelos
pesquisadores da área da saúde, onde buscam
um melhor entendimento para
consequentemente poder proporcionar melhor
qualidade de vida a essas mulheres
(VOLKMER et al., 2012).
De acordo com a Sociedade Brasileira
de Urologia (SBU), a Incontinência Urinária de
Esforço (IUE), Incontinência Urinária por
Urgência (IUU) ou Incontinência Urinária
Mista (IUM) pode estar presente na vida de
aproximadamente 35% das mulheres com mais
de 40 anos (MOURÃO, 2017).
Adicionalmente, estudos tem demonstrado que
cerca de 50% das mulheres vivencia
determinado aspecto de incontinência urinária
na longevidade (GOFORTH; LANGAKER,
2016). Enquanto a IUE pode ser definida pela
perda de urina em consequência de qualquer
esforço físico, como a exemplo, tossir, espirrar,
correr e pular, a IUU está relacionada a perda
involuntária e a urgência quando o indivíduo
não consegue controlar o desejo de urinar. Já a
IUM pode ser caracterizada pela perda
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involuntária de urina correlacionada a urgência
e ao esforço (RÊGO, 2018).
A IU é erroneamente vista pela
sociedade e por alguns profissionais como uma
situação natural do envelhecimento, o que leva
muitos indivíduos a não procurarem ajuda de
um profissional da saúde. Consequentemente,
se privam socialmente pela sensação de
constrangimento, gerando limitações físicas e
psicossociais, que inclui a perda de
autoconfiança, ansiedade, depressão, além de
abster-se da realização de atividades físicas e de
prejudicar a vida sexual. A mulher que
apresenta essas alterações geralmente refere
estar insatisfeita com sua qualidade de vida
(PIZZOL et al., 2020).
O diagnóstico é feito não apenas com
base na história clínica, mas também com a
aplicação de questionário de qualidade de vida,
exame físico, diário miccional, teste do
absorvente e estudo urodinâmico (FELDNER
JR, 2006). Adicionalmente, vale ressaltar que
existem avaliações que contribuem na
compreensão do desconforto que acometem a
qualidade de vida dessas pacientes, como é o
caso do questionário Kings’s Health
Questionnaire (KHQ), capaz de identificar
sintomas urinários retratados pelo gênero
feminino (FARIA et al., 2015).
Depois de realizado os exames e
concluído o diagnóstico, é necessário seguir
com um tratamento direcionado para cada caso
individual. É significativo o avanço da
medicina no decorrer dos anos, e com isso têm
surgido diversos recursos terapêuticos que
podem auxiliar no tratamento desses pacientes.
Dentre os tratamentos encontrados na literatura
estão a Tension Free Vaginal Tape (TVT)
(RODRIGUES et al., 2017), os
medicamentosos, (CHIANG;
VALDEVENITO; MERCADO, 2018) e
recursos aplicados por outros profissionais (DE
MENEZES et al. 2021). O fisioterapeuta pode
contribuir de forma significativa na saúde da
mulher com IU, tendo ganhado espaço e
reconhecimento pela sua atuação na prevenção
e no tratamento, pois este profissional possui o
conhecimento que garante uma abordagem
eficaz. As técnicas empregadas pelo
fisioterapeuta são diversificadas, estando entre
elas os exercícios de Kegel, eletroestimulação,
técnica de biofeedback, utilização de cones
vaginais, entre outros. A fisioterapia no
tratamento da IU é eficiente tanto na
reeducação das perdas urinárias quanto na
qualidade de vida das portadoras (GUERRA et
al., 2014).
Mesmo sendo evidente os diversos
tratamentos para a IU, é fundamental a
identificação precoce dessa disfunção nas
mulheres, pois muitas demoram a procurar
ajuda de um profissional, impactando
diretamenta na qualidade de vida das mesmas.
Com isso, este estudo teve como objetivo
identificar a prevalência de queixas de perda
urinária em cuidadoras de pacientes que
frequentam a Associação Norte Paranaense de
reabilitação (ANPR), bem como a interferência
dessa disfunção na qualidade de vida.
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Incontinência urinária e qualidade de vida em cuidadoras de pacientes da ANPR
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2. METODOLOGIA
O presente estudo de forma qualitativa
foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
do Centro Universitário Ingá UNINGÁ, sob o
parecer 4.792.406. Para a realização deste
estudo foi elaborado pelos pesquisadores um
questionário contendo informações com
perguntas relacionadas à incontinência urinária.
O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
foi obrigatório a todas as participantes a fim de
esclarecimento sobre a pesquisa e da sua
participação de forma voluntária.
Primeiramente as pesquisadoras
estabeleceram contato com a diretoria da
Associação Norte Paranaense de Reabilitação
(ANPR) do município de Maringá, onde foram
elucidados os objetivos e metodologias do
estudo. Após a permissão, as pesquisadoras
convidaram as mulheres que são cuidadoras de
algum paciente frequentador desta associação e
aplicaram o questionário. As que aceitaram
participar voluntariamente receberam a
explicação sobre os objetivos do estudo e a
forma correta para responderem o questionário
de avaliação do incômodo relacionado às
disfunções do assoalho pélvico (pelvic floor
bother questionnaire).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Incontinência Urinária (IU) é
definida pela Sociedade Internacional de
Continência (International Continence Society
- ICS) como a queixa de qualquer perda
involuntária de urina. A IU, mais do que um
problema físico, possui um efeito psicossocial
devastador, comprometendo a qualidade de
vida, sedo uma causa significativa da
morbidade das mulheres acometidas. E mesmo
apesar desse impacto o número de mulheres que
buscam tratamento varia consideravelmente.
(PICCOLI; SEBBEN; GUEDES, 2012).
Nossa amostra foi composta de 34
mulheres com idade entre 18 a 72 anos de idade,
sendo todas cuidadoras de pacientes
frequentadores da ANPR. A faixa etária com
maior prevalência foi de 40 a 50 anos, seguido
de 29 a 39 anos de idade (Figura 1). Mesmo
sendo observado em estudo anterior que grande
parte das mulheres jovens vivenciaram algum
episódio de IU (LASSERE et al., 2009), sabe-
se que a idade pode estar diretamente
relacionada a esta problemática (SILVA;
SOLER; WYSOCKI, 2017). Os pacientes
auxiliados pelas mulheres participantes do
nosso estudo tinham entre 9 meses de vida a 85
anos de idade (Figura 2), com diferentes
diagnósticos clínico (Tabela 1), sendo a maior
incidência as alterações neurológicas que
afetam a marcha e consequentemente limitam
sua independência (Figura 3). Essas alterações
comprometem a marcha independente dos
pacientes, necessitando de auxílio total ou
parcial por parte de seus cuidadores, que
frequentemente precisam realizar atividades de
pegar peso. Mesmo que essas mulheres não
tenham vivenciado algum tipo de IU, precisam
passar por um processo de orientação e
conscientização a respeito do tema, pois estão
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Barbosa et al., 2021
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expostas a fatores que predispõe esta
problemática, como a realização de atividades
que exigem esforço físico (PIVETTA; BRAZ,
2010). Programas de orientação que visam à
prevenção e os tratamentos da IU devem ser
incluídos na rotina dos profissionais de saúde,
pois a população feminina carece de
informação a respeito do tema (CARRARA et
al., 2012).
Figura 1. Faixa etária das cuidadoras dos pacientes que frequentam a ANPR.
Figura 2. Faixa etária dos pacientes que frequentam a ANPR.
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Figura 3. Grau de Independência dos pacientes da ANPR.
Tabela 1 - Diagnóstidos dos pacientes da
ANPR.
Diagnóstico
Anóxia grave
Acidente automobilístico
Acidente vascular encefálico
Cirurgia da medula
Diabetes
Dificuldade de andar
Guillain - Barré
Hérnia
Hidrocefalia
Hidrocefalia congênita
Paralisia cerebral
Parada respiratória
Síndrome de Down
Síndrome de Fournier
Síndrome de West
(%): Porcentagem
Fonte: as autoras.
Em relação aos fatores que predispõe a
IU, é possível encontrar várias correlações.
Mesmo não havendo concordância quando se
relaciona a raça com a IU no que se refere ao
impacto na qualidade de vida (LEROY;
LOPES; SHIMO, 2012), estudos realizados
anteriormente mostram a maior incidência de
IU em mulheres brancas, sendo este um fator
que pode predispor a esta problemática
(SILVA; SOLER; WYSOCKI 2017;
MOURÃO et al., 2017). Em nosso estudo, a
maioria da amostra foi composta por mulheres
da raça branca (67,6%), seguido da raça preta
(20,6%) e amarela (11,8%). Adicionalmente,
foram avaliados em nosso estudo outros fatores
que predispõe a IU como a título de exemplo, a
presença de doenças crônicas, tabagismo e tipo
de parto. Quanto as doenças crônicas, foi
observado que 21,9% das participantes eram
portadoras de algum tipo de doença crônica.
Esse fator pode ser relacionado à presença de
IU, sendo a diabetes mellitus a mais comum.
De acordo com Higa et al. (2008) o
aumento da glicemia é capaz de causar lesões
nas inervações neuropáticas da bexiga. O
tabagismo também considerado um fator de
predisposição, foi encontrado em 11,8% das
participantes do nosso estudo. Quanto ao
tabagismo, pode ser afirmado que o cigarro é
capaz de desencadear efeitos negativos na
bexiga ou na uretra, causando danos no
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mecanismo esfincteriano da uretra, o que
consequentemente desencadeia a IU.
Adicionalmente, a tosse frequentemente
observada nesses indivíduos leva a um aumento
na pressão vesical, além de danos causados
pelos componentes do tabaco, desencadeando
alterações no estrógeno e a antecipando a
menopausa (HIGA et al., 2008).
Complementarmente, podemos observar que a
maioria das mulheres foi submetida a algum
tipo de parto (73,9%), sendo a maioria do tipo
cesário (65,2%), seguido pelos partos vaginal e
cesário (40%) e apenas parto do tipo vaginal
(8,7%).
O parto vaginal e a gestação são um
dos principais fatores que desencadeiam a IU
em mulheres em idade reprodutiva. O parto
vaginal apresenta maior relação com a IU,
quando comparado ao parto cesário, devido aos
danos capazes de provocar na musculatura e
inervação do assoalho pélvico. No entanto, as
alterações fisiológicas sofridas pela gestante,
como a alteração nas relações anatômicas entre
bexiga e útero, redução na força da fáscia que
ancora o colo vesical e os altos níveis de
progesterona somados a instabilidade vesical,
não exclui o risco da IU em mulheres
submetidas ao parto do tipo cesário (ZIZZI et
al., 2017; BORGES et al., 2017). Esses dados
deixam evidente a importância de programas de
conscientização que possam contribuir na
prevenção e na busca de tratamento por esse
público.
Podemos observar em nosso estudo que
57,6% das mulheres avaliadas consideram sua
saúde normal, 21,2% consideram sua saúde
boa, 12,1% muito boa, e 9,1% consideram sua
saúde ruim. Nossos dados apontam que 25%
das mulheres entrevistadas apresentam perda de
urina ao esforço, sendo relatados episódios
durante atividades como tossir, espirrar e
levantar peso. Dados com maior impacto foram
apresentados no estudo de Silva; Soler e
Wynsocki (2017), onde as mesmas atividades
acometiam aproximadamente 50% das
mulheres, principalmente as mais jovens. De
acordo com Beuttenmuller (2011), a IUE
representa aproximadamente 60% dos casos de
IU em mulheres (BEUTTENMÜLLER, 2011).
Nosso estudo mostrou que as mulheres
incontinentes são acometidas não apenas pela
perda de urina, mas também por fatores que
comprometem o psicológico e a qualidade de
vida (Tabela 2 e 3). Das participantes, 6,3%
sentem incomodo na vida sexual, pois
apresentam perda de urina durante a relação
(Tabela 2). A mulher que é acometida com essa
problemática pode ter constrangimento e
desinteresse pela atividade sexual, além de ter
desejo hipoativo, diminuição da excitação e do
orgasmo (CEREJO, 2006). Em nosso estudo
também foi observado que 18,8% das mulheres
precisam fazer uso de absorvente ou forro para
controlar o desconforto gerado pela perda
indesejada de urina durante o dia (Tabela 3).
Esses dados condizem com o estudo de Lopes e
Higa (2006), onde mostraram que de 164
mulheres, entre 25 a 85 anos, diagnosticadas
com incontinência urinária, 53,4% alegaram
que o problema afetava a atividade sexual, e
utilizavam tipos de forros e absorventes,
provocando a baixa autoestima.
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Em relação às implicações geradas na
vida dessas mulheres durante o período
noturno, nosso estudo revelou que
aproximadamente 13% das participantes
apresentaram distúrbio do sono e 64,6%
apresentam noctúria (Tabela 2). De acordo
com Nunes (2019) a noctúria é definida pela
International Continence Society (ICS) como a
necessidade de acordar a noite para urinar,
desencadeando sonolência diurna, cansaço,
alterações do humor e diminuição de atividades
do dia a dia. A IU durante o período noturno
pode comprometer a qualidade do sono
(FONSECA, 2010). Em pessoas idosas, a
qualidade do sono pode levar a sérias
consequências, inclusive nas funções
cognitivas (MORENO et al., 2018).
Em relação à IUU, também
considerada de grande prejuízo a saúde, foi
constatada estar presente em 32,3% da nossa
amostra. Uma das maiores e mais preocupantes
situações nesses casos é que comumente a IU é
considerada normal entre as mulheres, mesmo
estando presente entre adultos jovens e
economicamente ativos, impactando a
qualidade de vida (SANTOS et al., 2017). Vale
ressaltar que muitas vezes, esses fatores podem
ser controlados com tratamentos, tanto os
medicamentosos como os realizados por
fisioterapeutas. A fisioterapia tem mostrado
grande eficácia nesses casos, onde é realizado
um treinamento da musculatura do assoalho
pélvico, promemovendo hipertrofia das fibras
musculares. Durante a realização dos
exercícios, ocorre o recrutamento das fibras
musculares do tipo I e II, estimulando a
contração simultânea do diafragma pélvico
impedindo a perda de urina (GLISOLI;
GIRELLI, 2021).
Tabela 2. Qualidade de vida relacionada a incontinência urinária.
Pergunta
Não se
aplica
Não
Um pouco
Mais ou
menos
Muito
Quanto você acha que seu problema
de bexiga atrapalha sua vida?
-
27 (87,1%)
3 (9,7%)
1 (3,2%)
0
Com que intensidade seu problema
de bexiga atrapalha suas tarefas de
casa (ex., limpar, lavar, cozinhar,
etc.)
-
28 (90,3%)
2 (6,5%)
0
1 (3,2%)
Com que intensidade seu problema
de bexiga atrapalha seu trabalho, ou
suas atividades drias normais fora
de casa como: fazer compra, levar
filho à escola, etc.?
-
27 (87,1%)
3 (9,7%)
0
1 (3,2%)
Seu problema de bexiga atrapalha
suas atividades físicas como: fazer
caminhada, correr, fazer algum
esporte, etc.?
-
23 (86,9%)
3 (9,7%)
1 (3,2%)
1 (3,2%)
Seu problema de bexiga atrapalha
quando você quer fazer uma
viagem?
-
28 (96.6%)
0 (0%)
1 (3,4%)
0 (0%)
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9
Seu problema de bexiga atrapalha
quando vovai a igreja, reunião,
festa?
-
29 (93,5%)
1 (3,2%)
0 (0%)
1 (3,2%)
Você deixa de visitar seus amigos
por causa do problema de bexiga?
-
29 (93,5%)
1 (3,2%)
0 (0%)
1 (3,2%)
Seu problema de bexiga atrapalha
sua vida sexual?
6 (19,4%)
24 (77,4%)
1 (3,2%)
0 (0%)
0 (0%)
Seu problema de bexiga atrapalha
sua vida com seu companheiro?
5 (16,1%)
25 (80,6%)
1 (3,2%)
0 (0%)
0 (0%)
Seu problema de bexiga incomoda
seus familiares?
5 (16,1%)
25 (80.6%)
0 (0%)
1 (3,2%)
0 (0%)
Frequência: Vovai muitas vezes
ao banheiro?
-
14 (43,8%)
5 (15,6%)
8 (25%)
5 (15,6%)
Noctúria: Você levanta a noite para
urinar?
-
11 (35,5%)
10 (32,%)
10 (32%)
0 (0%)
Urgência: Você tem vontade forte de
urinar e muito difícil de controlar?
-
21 (67,7%)
8 (25,8%)
2 (6,5%)
0 (0%)
Bexiga hiperativa: Voperde urina
quando você tem muita vontade de
urinar?
-
23 (74,2%)
7 (22,6%)
1 (3.2%)
0 (0%)
Incontinência urinária de esforço:
Você perde urina com atividades
físicas como: tossir, espirrar, correr?
-
22 (73,3%)
5 (16,7%)
2 (6,7%)
1 (3,3%)
Enurese noturna: Você molha a
cama à noite?
-
30 (93,8%)
0 (0%)
1 (3,1%)
1 (3,1%)
Incontinência no intercurso sexual:
Você perde urina durante a relação
sexual?
-
31 (96,9%)
0 (0%)
1 (3,1%)
0 (0%)
Infeões frequentes: Você tem
muitas infecções urinárias?
-
24 (75%)
5 (15,6%)
2 (6,3%)
1 (3,1%)
Dor na bexiga: Você tem dor na
bexiga?
-
27 (84,4%)
0 (0%)
5 (15,6)
0 (0%)
Outros: Você tem algum outro
problema relacionado a sua bexiga?
-
29 (96,7%)
1 (3,1%)
0 (0%)
0 (0%)
Você fica deprimida com seu
problema de bexiga?
-
28 (96,6%)
1 (3,4%)
0 (0%)
0 (0%)
Você fica ansiosa ou nervosa com
seu problema de bexiga?
-
27 (93,1%)
1 (3,4%)
1 (3,4%)
0 (0%)
Você fica mal com você mesma por
causa do seu problema de bexiga?
-
26 (89,7%)
1 (3,4%)
1 (3,4%)
1 (3,4%)
Tabela 3. Questionário aplicado a mulheres cuidadoras de pacientes da Associação Norte Paranaense de
Reabilitação que apresentam incontinência urinária, referente a higiene pessoal e qualidade de vida.
Pergunta
Não
Às vezes
Várias vezes
Sempre
Seu problema de bexiga atrapalha seu sono?
27 (87,1%)
4 (12,9%)
0 (0%)
0(0%)
Você se sente desgastada ou cansada?
19 (59,4%)
10 (31,3%)
0 (0%)
3 (9,4%)
Você usa algum tipo de protetor higiênico
como: fralda, forro, absorvente tipo modess
para manter-se seca?
26 (81,3%)
4 (12,5%)
0 (0%)
2 (6,3%)
Você controla a quantidade de líquido que
bebe?
24 (75%)
5 (15,6%)
1 (3,1%)
2 (6,3%)
Você precisa fazer troca de roupa íntima
(calcinha)?
24 (75%)
7 (21,9%)
1 (3,1%)
0 (0%)
Você se preocupa em estar cheirando ruina?
5 (80,6%)
2 (6,5%)
0 (0%)
4 (12,9%)
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Incontinência urinária e qualidade de vida em cuidadoras de pacientes da ANPR
Arquivos do Mudi, v. 25, n. 3, p. 25 - 36, ano 2021
Podemos obervar que as mulheres que
apresentam IU e suas disfunções sofrem,
alterando assim a sua qualidade de vida. Pois
elas podem apresentar constrangimento pelo
uso contínuo do absorvente, das trocas
frequentes de roupa intima, e idas frequentes ao
banheiro. Gerando assim insegurança de
realizar atividade física, de se socializar, de
estar em algum ambiente longe de casa, até
mesmo de estar com pessoas do seu convívio.
Os distúrbios psicológicos da IU podem
desencadear sentimentos de vergonha e
constrangimento, visto que a perda inesperada
de urina pode apresentar uma ameaça a sua
autoestima (ROSA et al., 2017). De modo geral,
as mulheres com IU relatam limitações ao
realizar exercícios físicos, carregar objetos,
alterando as atividades sociais, ocupacionais e
domésticas, prejudicando o estado emocional e
vida sexual (ROSA et al., 2017).
A IU é uma circunstância que afeta o
psicológico, social, pessoal, emocional e
econômico prejudicando a qualidade de vida,
diante disso, Rett et al (2007) relatam que a
Organização Mundial da Saúde (OMS)
aconselha o uso de avaliação da qualidade de
vida para não ocorrer erros em iniciar
tratamentos cirúrgicos, conservadores ou
fármacos que não correspondem ao diagnóstico
da paciente para promover um tratamento
relevante.
4. CONCLUSÃO
Com bases nos resultados observamos
que as mulheres entrevistadas mostraram
evidências relevantes de IU, encontradas a IUE
que representa 25% e IUU de 32,3%
apresentando as disfunções que ocorrem nos
tipos de incontinência urinária. A IU é uma
disfunção que acomete mulheres de diferentes
faixas etárias, levando a comprometimentos
físicos, emocionais e na qualidade de vida. A
investigação dessa temática é de extrema
importância, pois muitas vezes pode ser
prevenido com orientações, principalmente em
grupo de mulheres que realizam diariamente
atividades que despende de força muscular ou
que apresentam fatores de risco como o
tabagismo e DM. Espera-se que novos
profissionais de saúde possam dispor de
projetos de prevenção e conscientização sobre
os problemas urinários que acometem a
qualidade de vida das mulheres, principalmente
elucidando a temática para que elas possam
compreender que a perda de urina não é algo
normal e deve ser tratado o quanto antes.
REFERÊNCIAS
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