Aceito em: 23/12/2021 Publicado em: 15/04/2022
Esta revista possui Licença CC BY-NC
Arquivos do Mudi, v. 26, n. 1, p. 190 - 201, ano 2022
www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/ArqMudi
ARTIGO ORIGINAL
UTILIZAÇÃO DE MALHAS CIRÚRGICAS VERSUS OUTRAS
TÉCNICAS NO TRATAMENTO DE HÉRNIAS: UMA REVISÃO
SISTEMÁTICA
Gabriel Aleixo dos santos Cordeiro
Carvalho
Centro Universitário de Patos - UNIFIP
aleixp34@gmail.com
Resumo
Introdução: hérnias são definidas como a distensão não
fisiológica de algum órgão para fora da cavidade ou estrutura que
a contém. A hérnia comum no adulto é a inguinal, enquanto a
hérnia mais comum na faixa etária pediátrica é a umbilical.
Objetivo:Este estudo tem por objetivo avaliar, as bases de dados
para que a partir da literatura verificar em pacientes submetidos
à herniorrafia, a eficácia da malha cirúrgica em relação a outros
materiais ou nenhum material para o reparo das hérnias Método:
trata-se de uma revisão sistemática realizada a partir de buscas
nos seguintes bancos de dados: Biblioteca Virtual em Saúde
(BVS), Medical Publisher (PubMed), EBSCOhost e Scientific
Eletronic Library Online (SciELO). Foram utilizados os
descritores “hérnias” AND “telas cirúrgicas” AND “próteses” e,
em inglês, hernias AND surgical mesh AND prostheses”.
Dos 449 artigos encontrados, 5 foram utilizados para compor a
discussão. Resultados: a maioria dos artigos não apontou
diferenças importantes para o sucesso dos hernioplastias quando
comparado o uso de malhas cirúrgicas à utilização de telas,
nenhum material ou enxerto de pele (n=3), enquanto dois
trabalhos apontaram melhores resultados com a fixação da
malha. Conclusão: os ensaios clínicos utilizados na composição
desse estudo, em sua maioria, tiveram achados pouco relevantes
para compor uma preferência pela utilização de malhas
cirúrgicas, em comparação à utilização de outros materiais, nos
procedimentos de hernioplastia. Além disso, alguns estudos
tiveram um período de acompanhamento dos pacientes
relativamente curtos, o que prejudicou o nível de evidência e,
consequentemente, a confiança nos achados.
Palavras-chave: Hérnia Abdominal; Herniorrafia; Parede
abdominal.
Maria Júlia Maia Guilherme
Centro Universitário de Patos - UNIFIP
mjuliaa2803@gmail.com
Damara Zayane Barros Freitas
Centro Universitário de Patos - UNIFIP
damarafreitas@med.fiponline.edu.br
Lincoln Lyev Bidô Alves
Centro Universitário de Patos - UNIFIP
lincolnalves@med.fiponline.edu.br
Rafael Lopes Nóbrega
Centro Universitário de Patos - UNIFIP
rafaelnobrega@med.fiponline.edu.br
Milena Nunes Alves de Sousa
Centro Universitário de Patos - UNIFIP
milenanunes@fiponline.edu.br
Utilização de malhas cirúrgicas versus outras técnicas no tratamento de hérnias
Arquivos do Mudi, v. 26, n. 1, p. 190 - 201, ano 2022
USE OF SURGICAL MESHES VERSUS OTHER TECHNIQUES IN THE TREATMENT OF
HERNIAS: A SYSTEMATIC REVIEW
Abstract
Introduction:hernias aredefined as the non-physiological distensionof an organ outsidethe cavityor structure
that contains it. The common hernia in adults is theinguinal one, while the most common hernia in thepediatric
age group is the umbilical one. Objective: his study aims to evaluate, the databases so that from the literature
to verify in patients undergoing herniorrhaphy, the effectiveness of surgical mesh in relation to other materials
or no materials at all for the repair of hernias Method: this is a systematic review carried out based on searches
in the following databases: Virtual Health Library (BVS), Medical Publisher (PubMed), EBSCOhost and
Scientific Electronic Library Online (SciELO). The descriptors "hérnias" AND "telas cirúrgicas" AND
"prostheses" and, in English, "hernias" AND "surgical mesh" AND "prostheses" were used. Of the 449 articles
found, 5 were used to compose the discussion. Results: most articles did not show important differences for
the success of hernioplasties when comparing the use of surgical meshes to the use of meshes, no material or
skin graft (n=3), while two studies showed better results with mesh fixation. Conclusion: the clinical trials
used in the composition of this study, mostly, had little relevant findings to compose a preference for the use
of surgical meshes, compared to the use of other materials, in hernioplasty procedures. Furthermore, some
studies had a relatively short follow-up period of patients, which impaired the level of evidence and,
consequently, the confidence in the findings.
Keywords: Abdominal, Hernia; Herniorrhaphy; Abdominal Wall.
fora da cavidade ou estrutura que a contém,
clínica na região abdominal, sobretudo em sua
1. INTRODUÇÃO iniciado na civilização egípcia, certo estudo
está contido no papiro de Ebers (1536 a.c). Até
Hérnias são definidas como a
o momento atual tem se desenvolvido várias
distensão não fisiológica de algum órgão para
técnicas para fortalecimento da parede
abdominal. Uma das revoluções da correção de
hérnias foi a introdução de telas cirúrgicas por
podendo ocorrer em diversas regiões do corpo
como virilha, pelve e coluna lombar, no
Liechtenstein, este que implementou a técnica
entanto, maior incidência dessa condição
cirúrgica sem tensão com a tela de
polipropileno, esta que é a principal tipo tela
utilizada. É importante abordar também que a
porção inguinal. O conteúdo herniário se forma
em segmentos de maior fragilidade das
utilização de telas cirúrgicas diminuíram
estruturas queo rodeiam, podendo ser redutível,
significativamente a ocorrência de hérnias
quando consegue ser realocado em sua região
incisionais, em detrimento da simples rafia dos
de origem, ou encarcerado, quando a redução
planos anatômicos, porém as telas podem
não é
possível (SAB
I
STON, 2014
)
.
causar consequências como, por exemplos ,
O estudo sobre hérnias da parede
aderências intra-abdominais, fistulas êntero-
abdominal é bastante antigo, sendo tal estudo
cutâneas e até mesmo obstrução intestinal.
Carvalho et al., 2022
Nesse contexto a utilização de telas sintéticas
apresenta restrições e indicações que depende
das propriedades da tela e do tipo de herniação
(ARAÚJO et al., 2010).
Sanitária (ANVISA), dentre elas temos a tela
polivinilideno (PVDF) que podem ser mono ou
polifilamentares. Além disso, há a indicação de
se realizar cirurgia ou tratamento conservador,
hérnias inguinocrural em homens sintomáticos
e em mulheres sintomáticas e assintomáticas,
de planos anatômicos, sendo que a principal
técnica de Shouldice (Claus et al., 2019).
Em se tratando das demais técnicas
cirúrgicas que não usam telas, temos que as
recidivantes e a principal indicação para hérnia
fermoral (Sabiston tratado de cirurgia, 2008).
No que se refere à epidemiologia, a
hérnia comum no adulto é a inguinal, enquanto
liberadas pela Agência Nacional de Vigilância
Em se tratando das indicações ea hérnia mais comum na faixa etária pediátrica
recomendações das telas cirúrgicas, temos queéaumbilical (SOCIEDADEBRASILEIRA DE
elas são utilizadas no contexto de reicidiva eHÉRNIAS E PAREDE ABDOMINAL, 2009).
recorrência herniária, como também se utilizaObserva maior incidência no sexo masculino e
quandohérniasencarceradasoucom avançar da idade. Destacando o fato de os
estranguladas, sendo que a ferida operatóriahomens serem o principal componente da
deve estar limpa, caso contrária a correçãopopulação economicamente ativa as hernias
cirúrgica por tela deve ser evitada. É relevantepodem deixa-los incapacitados em algumas
abordar que existe alguns tipos de matériassituações,trazendoprejuízosinclusive
para confecção de telas cirúrgicas que sãoeconômicos (RONQUI et al., 2015).
As hérnias na maioria dos pacientes
resultam em diminuição da qualidade de vida
base de polipropileno (PP), poliéster (PET) edevido à dor, desconforto, dificuldades de
higiene e incapacidade de realizar atividades
diárias. Sendo então a complicação mais séria o
encarceramento do conteúdo abdominal com
sendo a cirurgia recomendada no caso desuprimentosanguíneoprejudicadoe
subsequente necrose intestinal (CLAY et al.,
2018).
técnicas cirúrgicas, estas que envolvem a rafia
pode-se avaliar risco cirúrgico e avaliar oDe acordo com Ponten et al. (2018), o
estado clínico do paciente para se recomendar método baseado em reparo com malha, tornou-ou
não cirurgia, sendo a cirurgia recomendada se padrão ouro para procedimentos de pequenas pode
ser feita peça utilização de telas ou hérnias umbilicais eepigástricas queresultaram
em uma redução no reaparecimento dessas. Na
colocação intraperitoneal da malha as opções a
técnica cirúrgica sem utilização telas, é aserem feitas são a abordagem laparoscópica e
os procedimentos abertos com incisão única.
Segundo Morales-Conde et al. (2020),
o reparo com laparoscopia de hérnia ventral
principais são, de Bassini, Shouldice e Mcvay,vem intensificando devido às suas vantagens se
sendo esta última indicada para correção decomparado com a cirurgia aberta. Somado a
hérnias inguinais diretas, indiretas grandes ,isso, explanou-sequealaparoscopia apresentou
Arquivos do Mudi, v. 26, n. 1, p. 190 - 201, ano 2022
192
Utilização de malhas cirúrgicas versus outras técnicas no tratamento de hérnias
diárias.
(CORDEIRO et al., 2007).
vários pontos positivos, sendo eles a redução deintervention), outros materiais ou nenhum
hospitalar e retorno mais rápido às atividades
amplas incisões cutâneas, grande dissecçãomaterial (C: comparative) reparo das hérnias
parietal e drenagem de colocação, que resultou(O: outcome). Desse modo, formou-se a
em uma menor taxa de incidência da feridaseguinte pergunta norteadora: “Em pacientes
cirúrgica, além da diminuição da dor pós-acometidos por hérnias que utilizaram tela
operatória,menortempodeinternaçãocirúrgica, comparados àqueles que utilizaram
outros materiais ou nenhum material, qual a
diferença no sucesso do reparo das hérnias?”.
Este estudo tem por objetivo avaliar,Após formulação da questão de
as bases de dados para que a partir da literaturapesquisa e antes de partir para pesquisa nas
verificarempacientessubmetidosàbases de dados, foi feita a escolha dos seguintes
herniorrafia, a eficácia da malha cirúrgica emDescritores em Ciências da Saúde (DeCS)
relação a outros materiais ou nenhum materialcombinados por meio do operador booleano
para o reparo das hérnias a partir da questãoAND: “hérnias” AND “telas cirúrgicas” AND
PICO. “próteses” e, em inglês, “hernias” AND
“surgical mesh” AND “prostheses”.
composição, os chamados “estudos primários”
2. MATERIAIS E MÉTODOS Destarte, quanto à seleção dos ensaios
clínicos para composição da revisão, foram
O presente estudo, realizado entreutilizados os seguintes bancos de dados:
agosto e novembro de 2021, se trata de umaBiblioteca Virtual em Saúde (BVS), Medical
revisão sistemática (RS) de intervenção, umPublisher (PubMed), EBSCOhost e Scientific
método de pesquisa que, dentro do campo dasEletronic Library Online (SciELO). Com
ciências da saúde, permite a identificação erelação aos critérios de inclusão, foram aceitos
coletas das melhores evidências científicaspara o estudo ensaios clínicos randomizados,
assim, resulta em estudos com sínteses depublicados a partir de 2011, no idioma inglês e
conteúdos por meio de métodos explícitos eque respondessem à questão de pesquisa, em
sistematizados(DE-LA-TORRE-UGARTE-consonância a isso, foram excluídos aqueles
GUANILO, TAKAHASHI; BERTOLOZZI,trabalhos que não respondiam à questão de
2011). A RS de intervenção utiliza apenaspesquisa, que haviam sido selecionados ou
ensaiosclínicos randomizadosparasuanão haviam concluído seus achados clínicos até
o momento da busca.
Após a seleção parcial dos artigos com
Paraelaboraçãodaquestãodeaplicação dos filtros e leitura de título e resumo
pesquisa, foi utilizada a estratégia PICO:foram feitas por pelos menos duas pessoas,
hérnias (P: population), malhas cirúrgicas (I:sendo umaseleção aos pares,e entre os
Arquivos do Mudi, v. 26, n. 1, p. 190 - 201, ano 2022
193
Carvalho et al., 2022
Ademais, na figura 1, está descrito em
conflitos na seleção aos pares.
leitores, deveria haver um consenso quanto àsistemática, tomando por base a recomendação
inserção definitiva do estudo na RS, casoPRISMA(PrincipaisItensparaRelatar
houvesse uma discordância não passível deRevisões Sistemáticas e Meta-análises), um
resolução, a opinião de um terceiro autor seriaprotocolo quepermite aautores epesquisadores
solicitadaparadesempate.Contudo,nareconhecerem, de forma mais simples, a
presente revisão sistemática nãohouvequalidade das revisões sistemáticas e meta-
análises avaliadas. Desse modo, com o emprego
dos descritores, foram encontrados 449 artigos
formadefluxogramaoprocessodee, destes, cinco compuseram a revisão
identificação, seleção, elegibilidade e inclusãosistemática.
dos estudos para composição da revisão
Figura 1. Processo de coleta dos artigos segundo a recomendação PRISMA.
Comparando os resultados dos ensaiosProgredindo para a análise dos ensaios
clínicosrandomizadosutilizadosparaaclínicos, empregou-se o método Grading of
elaboraçãodestarevisãosistemática deRecomendations Assessment, Developing and
intervenção. Foram selecionados artigos que deEvaluation(GRADE),umaestratégia
acordo com o ano, tipo do estudo, diferenteselaborada recentemente com o intuito de
bases de dados puderam ser utilizadas paraclassificar os trabalhos científicos em quatro
projeção dessa discussão. É importanteníveis de evidência: alta, moderada, baixa e
salientar que, os artigos selecionados, seguirammuito baixa. Pesquisas com alto nível de
a escala GRADE de qualidade de umevidência têm menores chances de terem seus
documento cientifico. achados refutados por estudos posteriores,
Bancos de dados:
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS): 182
Medical Publisher (PubMed): 250
EBSCOhost: 17
Scientific Eletronic Library Online (SciELO): 0
Após aplicação dos filtros: 13 artigos
2 artigos excluídos
Após leitura do título e resumo: 11 artigos
6 artigos excluídos
Após leitura do texto completo: 5 artigos
Inclusão
Elegibilidade
Seleção
Identificação
Arquivos do Mudi, v. 26, n. 1, p. 190 - 201, ano 2022
194
Utilização de malhas cirúrgicas versus outras técnicas no tratamento de hérnias
PEREIRA, 2015).
resultados contestados no futuro (GALVÃO;
enquanto documentos com muito baixonível de3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
evidência têm grandes chances de terem seus No quadro 1, está a descrição dos
artigos selecionados em relação ao título, ano
de publicação, tipo de estudo, base de dados e
país. Dessemodo, o principal ano depublicação
foi 2017 (n=2), com mais indexações na BVS
(n=3) e o país com mais artigos foi a França
(n=2).
Quadro 1. Caracterização dos artigos quanto ao título, ano de publicação, tipo de estudo, base de dados
e país.
TítuloAutor e
Ano
Tipo deBases dePaís
estudo dados
Mesh Versus Patch Repair for Epigastric and UmbilicalJ E H
ECRBVSPaíses
Hernia (MORPHEUS Trial); One-Year Results of aPONTENbaixos
Randomizedn Controlled Trialet al., 2017
(GRECCAR 7 trial)
et al., 2016
Progress Primary prevention of peristomial hernias viaMichelECRPUBMEDFrança
parietalprostheses:Arandomized,multicentricstudyPrudhomm
Full‑thickness skin graft vs. synthetic mesh in the repair of
giant incisional hernia: a randomized controlled multicenter
study
L Clay etECR
al., 2017
PUBMEDSuécia
Preloop trial: studyprotocol for a randomized controlled trial
Elisa M UECR
et al., 2018
BVSFinlândia
Multicenter prospective randomized study comparing the
technique ofusinga bovine pericardiumbiological prosthesis
reinforcementinparietalherniorrhaphy(Tutomeshal., 2016
TUTOGEN) with simple parietal herniorrhaphy, in a
potentially contaminated setting
MariusECR
Nedelcu et
BVSFrança
Oquadro2pormenorizaasimportantes para o sucesso dos hernioplastias
características dos trabalhos no que se refere àquando comparado o uso de malhas cirúrgicas
população do estudo, modo de randomização,à utilização de telas, nenhum material ou
materiais utilizados nos reparos das hérnias eenxerto de pele (n=3), enquanto dois trabalhos
desfechos encontrados. Nesse sentido, aapontaram melhores resultados com a fixação
maioria dos artigos não apontou diferençasda malha.
Arquivos do Mudi, v. 26, n. 1, p. 190 - 201, ano 2022
195
Carvalho et al., 2022
Quadro 2. Caracterização dos ensaios clínicos quanto à população do estudo, modo de randomização,
materiais utilizados e desfechos.
Tela (PVP) com
fixação
absorvível
Nenhum
material
Enxerto de pele
de plena
expessura.
Sem reforço
protético
Autores/ano
População
do estudo
Modo de randomização
Materiais
utilizados
Desfechos
Poten et al. (2017)
348
A geração seu deu por uma
computacionalutilizado
pelos pesquisadores
Malha com
Nenhuma diferença
pacientessequenciaaleatória-1fixação nãosignificativa foi observada
(tela) e 2 (malha)-por meioabsorvívelnas taxas de recidiva.
deumprograma
Prudhomme et al200A randomização acontece
departamentode
bioestatística do hospital
da Universidade de Nimes
Malha deSobre a abordagem, foi
(2016). pacientes por um aplicativo polipropileno encontrado, é um número
desenvolvido pelo menor de recidivas quando
utilizado malhas cirúrgicas
sintéticas para o fechamento
da ferida operatória em
comparação da sua não
utilização.
Clay et al. (2017) 50 50 envelopes contendo o Malha de Os enxertos de pele
pacientes grupo participante sendo polipropileno de possuem uma performance
aleatoriamente dividido.peso pesadobastantesemelhanteno
reparo das hérnias quando
comparadosàmalha
sintética de polipropileno.
(Departamentode
InformaçãoMédicada
CHU Montpellier,
software CLINSIGHT)
Nedelcu et al.134Utilizou-seumaMalha biológica
A taxa de recidiva precoce
(2016)pacientesorganizaçãoreconhecida(1°mês)nãofoi
significativamente diferente
entre os dois grupos.
No quadro 3, estão contidos os fatoresprocedimento. Em relação à inconsistência dos
que diminuem o nível de evidência de umresultados e viés de publicação, um dos estudos
estudo, de acordo com o roteiro GRADE.teve seu nível de evidência reduzido por esses
Todososartigospossuíamlimitaçãodois fatores, respectivamente, por não ter sido
metodológica, pela impossibilidadedeconcluído até o momento de elaboração da RS
cegamento do cirurgião responsável peloe por possuir uma amostra pequena.
Arquivos do Mudi, v. 26, n. 1, p. 190 - 201, ano 2022
196
Utilização de malhas cirúrgicas versus outras técnicas no tratamento de hérnias
Quadro 3. Fatores que diminuem o nível de evidência de um estudo primário, segundo o roteiro GRADE.
Autores/Ano
Limitação
metodológica
Inconsistência
dos
resultados
Evidência
indireta
Imprecisão
Viés de
publicação
Qualidade da
evidência/
sistema
GRADE
Poten et al.
(2017)
Presente
Ausente
Ausente
Ausente
Ausente
Moderada
Prudhomme
et al (2016).
Presente
Ausente
Ausente
Ausente
Ausente
Moderada
Clay et al.
(2017)
Presente
Presente
Ausente
Ausente
Presente
Muito baixa
Nedelcu et
al. (2016)
Presente
Ausente
Ausente
Ausente
Ausente
Moderada
Fonte: Dados de pesquisa, 2021.
para elaborar esse artigo científico, podemos
certificar que dentro da utilização de matérias
um enorme gasto para o sistema público de
saúde. Sendo assim, é importante observar que
Com relação aos estudos utilizadoselas, sintéticas e biológicas são fatores
importante dentro do procedimento cirúrgico
(SIMÕES et al., 2018).
para o fechamento de hérnias na paredeDe acordo com Marques (2005),
abdominal, os achados encontrados são podem-se descrever as próteses como
semelhantes, de forma bastante pronunciada, mecanismo natural ou sintético imposto no
para os possíveis resultados encontrados nesses corpo para compor a necessidade de ser ter
ECR. tecido ou órgão para compor aquela zona.
Partindo para uma análise mais Sendo assim, é importante relacionar a
minuciosa, dentro dos artigos selecionados existência desses materiais como uma possível
neste estudo, observou-se que em sua maioria, solução para um maior êxito dentro dos
o uso de telas sintéticas é visto como deprocedimentos cirúrgicos.
efetivo sucesso final dentro do procedimento
cirúrgico. ( ELIAS, 2009)
Sabendo que o problema das hérnias é
importância para o fechamento das hérnias paraQuando se procura atributos para a
uma menor recidiva do problema atual. composição de uma tela sintética, devemos
Portanto, se faz essencial a utilização de buscar resistência, boa maleabilidade, ser
materiais sintéticos ou biológicos para um quimicamente estável e seguro para o paciente
com relação á infecções, reações inflamatórias
e alérgicas (TOWNSEND et al., 2014). Desta
maneira, observa-se que as telas sintéticas ou
algo bastante atual, podemos observar que telas biológicas são medidas utilizadas para
fornecimento de uma cirurgia de reparação de
hérnia de forma mais eficiente e, portanto, algo
dentro do espectro de intervenção elaboradopara minimizar as possíveis complicações
para esse problema, as telas cirúrgicas, sendo
Arquivos do Mudi, v. 26, n. 1, p. 190 - 201, ano 2022
197
Carvalho et al., 2022
Arquivos do Mudi, v. 26, n. 1, p. 190 - 201, ano 2022
para a condução das cirurgias de correção das
reação de corpo estranho (UTRABO et al.,
2020).
2018). E ao refletir-se sobre o tratamento ouro
oriundas desses procedimentos (TOWNSEND acompanhamento de 1 ano dos pacientes ainda
et al., 2014). é relativamente curto, ou seja, ainda não é
Ao analisar os efeitos relacionados à possível prever com segurança os reais índices
utilização das telas cirúrgicas, se busca ver a e diferenças na recorrência das hérnias nos
questão das aderências intra-abdominais para indivíduos. Contudo, deve-se esperar maior
correlacionar com as possíveis situações taxa de falha no tratamento de hérnias
relacionadas arecidivas, qualidades equalidade recidivadas ou naquelas com sucessivas
para com o pós-operatório (SIMÕES et al., tentativas de reparo, mesmo que nas hérnias
recidivantes sejam usadas técnicas diferentes
das cirurgias anteriores (HAAPANIEMI et al.,
hérnias na parede abdominal, parece que a2001).
colocação de telas para o fechamento do espaço Em outro cenário, um estudo
entre o músculo e a aponeurose após a comparando a utilização da malha de
realização do ato cirúrgico é a alternativa viável polipropileno ao não uso de materiais para
(UTRABO et al., 2020.) reparo de conteúdo herniário durante a
Assim, nota-se o sucesso na utilização herniorrafia, mostrou que o uso da malha
das telas cirúrgicas como forma de intervenção apresenta melhor desempenho, tomando por
dentro da realização das hernioplastia, uma vez base a menor ocorrência de recidivas
que a incidência de hérnias na população em (PRUDHOMME et al., 2016). No entanto,
geral é algo bastante comum na rotina do outros autores consideram que não haja
cirurgião geral. Dado asseverado pelo número diferença no risco de insucesso no reparo das
de 800 mil cirurgias para correção de hérnias hérnias com ou sem fixação do material
inguinais realizadas por ano nos Estados (CLAUS et al., 2019), em concordância com o
Unidos (CUNHA-E-SILVA, 2017). ensaio clínico realizado por Nedelcu et al.
A evolução histórica das telas de (2016), que compararam a utilização de malhas
propileno ajudou no aperfeiçoamento das biológicas a nenhum reforço proteico, obtendo
correções das hérnias abdominais a qual, deu semelhança na eficácia das intervenções
origem a uma intervenção cirúrgica maisdurante o primeiro mês pós-operatório.
efetiva, com menos intercorrências e menosClay et al. (2017), por sua vez, não
percebeu vantagens ou desvantagens no uso de
malha de polipropileno, comparada ao uso de
comparadas malha com fixação não absorvível
e tela com fixação absorvível, no entanto, os
autores também consideraram que o tempo de
Para Potten et al. (2017), não houve enxerto de pele, no tocante às taxas de reparo
diferenças na taxa de recidivas quando com sucesso das hérnias. No entanto, uma
pesquisa, abordando o reparo dehérnia inguinal
por meio da utilização de enxertos, demonstrou
níveis considerados insignificantes de recidiva,
198
Utilização de malhas cirúrgicas versus outras técnicas no tratamento de hérnias
Arquivos do Mudi, v. 26, n. 1, p. 190 - 201, ano 2022
efetivo e traz bons resultados para a realização
Por fim, o estudo teve com limitações
à sua realização a reduzida disponibilidade de
ensaios clínicos randomizados e um intervalo
de tempo de realização de alguns estudos
relativamenteestreitoparaobtençãode
resultados confiáveis. Ademais, o roteiro
GRADE aponta moderado nível de evidência
para os achados sobre o uso de materiais
alternativos às malhas cirúrgicas.
4. CONCLUSÃO
A malha cirúrgica é o material
utilizado no reparo de herniações com mais
evidências de sucesso no tratamento das
mesmas. Dentro do que se trata de malha
cirúrgica, tem-se as sintéticas e biológicas,
porém o uso de malhas sintéticas é visto como
escolha muito eficiente no fechamento das
hérnias para uma menor recidiva.
ou seja, tais materiais podem ser boasOs ensaios clínicos utilizados na
intervenção bastanteutilizado no qual, éseguro,
alternativas para realização de herniorrafias composição desse estudo, em sua maioria,
(LAIZO, 2014). tiveram achados pouco relevantes para compor
Desse modo, é possível observar que, uma preferência pela utilização de malhas
dentro da seleção de artigos abordados nestacirúrgicas, em comparação à utilização de
revisão, a
reincidência
de hérnias se tornaoutrosmateriais,nosprocedimentosde
menor na utilização de um meio. O qual servehernioplastia. Além disso, alguns estudos
para compensar a faltar ou a diminuiçãotiveram um período de acompanhamento dos
daquele tecido retirado no qual, se encontrariapacientes relativamente curto, o que prejudicou
a hérnia.Portanto, pode-se afirmar que ao nível de evidência e, consequentemente, a
utilização de telas cirúrgicas é um meio deconfiança nos achados. Para os autores dessa
revisão, necessidade de mais ensaios com
um espectro temporal amplo, além de estudos
das cirurgias de correção hernial.analisando a eficácia das malhas cirúrgicas
relacionando a cada tipo de hérnia.
REFERÊNCIAS
CLAUS, C. M. P. et al. Orientações da
Sociedade Brasileira de Hérnia (SBH) para o
manejo das hérnias inguinocrurais em adultos.
Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões,
v. 46, n.4, p. 1-20, 2019.
CLAY, L.,et al. Full-thickness skin graft vs.
synthetic mesh in the repair of giant incisional
hernia: a randomized controlled multicenter
study. Department of Clinical Science, v. 22,
n. 2, p. 325-332, 2018.
CORDEIRO, A. M. et al. Revisão sistemática:
uma revisão narrativa. Revista do Colégio
Brasileiro de Cirurgiões, v. 34, p. 428-431,
2007.
CUNHA-E-SILVA, J. A. et al. Herniorrafia
inguinal convencional com tela autofixante
versusvideolaparoscópicatotalmente
extraperitoneal com tela de polipropileno:
resultados no pós-operatório precoce. Revista
do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, v. 44, p.
238-244, 2017.
199
Carvalho et al., 2022
Arquivos do Mudi, v. 26, n. 1, p. 190 - 201, ano 2022
DE-LA-TORRE-UGARTE-GUANILO, M. C.;
TAKAHASHI, R. F.; BERTOLOZZI, M. R.
Revisão sistemática: noções gerais. Revista da
Escola de Enfermagem da USP, v. 45, n. 5, p.
1260-1266, 2011.
GALVÃO, T. F.; PEREIRA, M. G. Avaliação
daqualidadedaevidênciaderevisões
sistemáticas. Epidemiologia e Serviços de
Saúde, v. 24, n. 1, p. 775-778, 2015.
HAAPANIEMI, S. et al. Reoperação após
correção de hérnia inguinal recorrente. Anais
de Cirurgia, v. 234, n. 1, p. 122, 2001.
LAIZO, A. Estudo da incidência de recidivas
de hérnias inguinais quando se usa enxerto
autógeno de saco herniário no tratamento
cirúrgico. 2014. Tese (Doutorado) Curso de
Medicina, Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2014.
MARQUES, R. G. Técnica operatória e
cirurgiaexperimental.RiodeJaneiro:
Guanabara Koogan, 2005.
MOHER, D et al. Principais itens para relatar
Revisões sistemáticas e Meta-análises: a
recomendaçãoprisma.Epidemiologiae
Serviços de Saúde, v. 24, n. 2, p. 335-342,
2015.
MORALES-CONDE, S. et al. Retroprosthetic
Seroma After Laparoscopic Ventral Hernia
Repair Is Related to Mesh Used? Journal of
Laparoendoscopic&AdvancedSurgical
Techniques. Journal of Laparoendoscopic &
Advanced Surgical Techniques, v. 30, n. 3, p.
241-245, 2020.
PONTEN, J.E.H., et al. Mesh Versus Patch
Repair for Epigastric and Umbilical Hernia
(MORPHEUS Trial); One-Year Results of a
Randomized Controlled Trial. World Journal
of Surgery, v. 42, n. 5, p. 1312-1320, 2018.
RONQUI, T. T. et al. Perfil epidemiológico dos
pacientes submetidos à herniorrafia no Hospital
Universitário de Maringá. IX EPCC
EncontroInternacionaldeProdução
Científica UniCesumar, Maringá, n. 9, p. 4-8,
2015.
SABISTON, D. C. Jr. et al. Tratado de
cirurgia: A BaseBiológicadaPráticaCirúrgica
Moderna. 19. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2014.
UTRABO, C.A. L, et al. Dentre as telas
prolene®,ultrapro®ebardaoft®qual
apresenta melhor desempenho no reparo da
parede abdominal?. Arquivos brasileiros de
cirurgia digestiva, São Paulo, v. 34, n. 1, p. 1-
6, 2020.
SIMÕES, M. L. P. B. et al. Aderências em telas
de polipropileno versus telas Sepramesh®:
estudo experimental em ratos. Rev Col Bras
Cir, v. 45, n. 6, p. 1-11.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE HÉRNIA E
PAREDE ABDOMINAL. O que é hérnia da
parede abdominal? Sociedade Brasileira de
Hérnia e Parede Abdominal, Curitiba, 2009.
Disponívelem:
https://sbhernia.org.br/hernia/#causas. Acesso
em: 08 dez. 2021.
TOWNSEND, Courtney M. Sabiston tratado
decirurgia.RiodeJaneiro:Elsevier,
2008.18th ed.
CLAUS, Christiano et al.. Orientações da
Sociedade Brasileira de Hérnia (SBH) para o
manejo das hérnias inguinocrurais em adultos.
Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões,
vol. 46 (4), junho, 2019.
ARAÚJO Ubirajara et al.. Escolha do material
da tela para disposição intraperitoneal na
correção cirúrgica de defeitos herniários da
parede abdominal. ABCD Arq Bras Cir Dig,
vol. 23 (2):118-121, 2010.
ILIAS Elias et al.. O uso de telas resolveu o
problema da recidiva na cirurgia da hérnia
inguinal?.RevistaAssociaçãomedica
brasileira. Vol. 55 (3), julho, 2009.
200
Utilização de malhas cirúrgicas versus outras técnicas no tratamento de hérnias
Arquivos do Mudi, v. 26, n. 1, p. 190 - 201, ano 2022
M
arius
Nedelcu et al.. Multicenter prospective
randomized study comparing the technique of
usingabovinepericardiumbiological
prosthesis reinforcementin parietal
herniorrhaphy (Tutomesh TUTOGEN) with
simple parietal herniorrhaphy, in a potentially
contaminated setting. Wound Repair Regen.
24(2):427-33, março, 2016.
201