Arquivos do Mudi, v. 26, n. 2, p. 98-111, 2022
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Aceito em: 07/06/2022Publicado em: 15/08/2022
ARTIGO ORIGINAL
INTERVENÇÕES FISIOTERAPÊUTICAS NOS CUIDADOS PALIATIVOS
EM PACIENTES IDOSOS EM PAÍSES DESENVOLVIDOS
Bruna Rocco Fuso
1
Centro Universitário Ingá
ra16165.17@uninga.edu.br
Lilian Catarim Fabiano
2
Centro Universitário Ingá
lcatarim@hotmail.com
Débora Dei Tos
3
Centro Universitário Ingá
deboradeitos@hotmail.com
Resumo
Cuidados paliativos se baseiam em beneficiar a qualidade de
vida de pacientes com doenças letais, os quais estão passando
por sintomas da doença, assim como ajudar seus familiares.
Essa proposta é empregada de maneiras diferentes por cada
país, sendo mais comum em países de alta renda. O
fisioterapeuta é habilitado, por lei, para fazer parte da equipe
multiprofissional de cuidados paliativos. Aborda-se na
literatura que muitos são os sintomas no estado terminal em
idosos, sendo que os principais se resumem em dor e dispneia.
Apesar da atuação fisioterapêutica poder beneficiar as
consequências das doenças terminais, estudos sobre as
metodologias utilizadas e resultados quantificados são
escassos. O objetivo do estudo é abordar intervenções
fisioterapêuticas nos cuidados paliativos em idosos em estado
terminal em diversos países desenvolvidos. A coleta de dados
para os artigos discutidos foi realizada na base de dados
eletrônica PubMed. O principal intuito terapêutico não é a
reabilitação e sim a amenização do sofrimento do enfermo, no
sentido detornar seu estágio final devida menos difícil. A piora
clínica desse público é esperada, haja vista que as patologias
dos mesmos são incuráveis e progressivas. A ação placebo de
terapias como a eletroestimulação, intensifica a importância da
atuação fisioterapêutica nos cuidados paliativos, visto que o
aspecto afetivo-emocional da dor é facilmente modulado. A
atividade física leve, contento métodos de relaxamento, se
mostrou mais eficaz. As técnicas de terapias manuais se
mostraram benéficas. A atuação fisioterapêutica ainda é
reduzida nessa área, necessitando de maiores espaços.
Palavras-chaves: Estado Terminal; Fisioterapia; Serviços de
Saúde para Idosos.
Fuso, Fabiano e Dei Tos, 2022
PHYSIOTHERAPEUTIC INTERVENTIONS IN PALLIATIVE CARE IN EDERLY PATIENTS IN
DEVELOPED COUNTRIES
Abstract
Palliative care is based on benefiting the quality of life of patients with lethal diseases, who are experiencing symptoms of
the disease, as well as helping their families. This proposal is used in different ways by each country, being more
common in high-income countries. The physical therapist is qualified, by law, to be part of the multiprofessional team of
palliative care. It is discussed in the literature that there are many symptoms in the terminal state in the elderly, the main
ones being pain and dyspnea. Although physiotherapeutic action can benefit the consequences of terminal diseases,
studies on the methodologies used and quantified results are scarce. The aim of the study is to address physiotherapeutic
interventions in palliative care in terminally ill elderly people in several developed countries. The physical therapist is
qualified, by law, to be part of the multiprofessional team of palliative care. It is discussed in the literature that there are
many symptoms in the terminal state in the elderly, the main ones being pain and dyspnea. Although physiotherapeutic
action can benefit the consequences of terminal diseases, studies on the methodologies used and quantified results are
scarce. The aim of the study is to address physiotherapeutic interventions in palliative care in terminally ill elderly people in
several developed countries. Data collection for the articles discussed was performed in PubMed electronic database. The
main therapeutic aim is not rehabilitation, but the alleviation of the patient’s suffering, in the sense of making his final
stage oflife less difficult. The clinical worseningof this public is expected, given that their pathologiesare incurable and
progressive. The placebo action of therapies such as electrostimulation intensifies the importance of physical therapy in
palliative care, since theaffective-emotional aspect of pain is easily modulated. Light physical activity, with relaxation
methods, proved to be more effective. Manual therapy techniques proved to be beneficial. The physiotherapeutic
performance is still reduced in this area, requiring larger spaces
Keywords: Critical Iliness; Physical Therapy Modalities; Health Services for the Aged.
1. INTRODUÇÃO
O envelhecimento da população mundial induziu uma adaptação de todos os países,
causando impactos nos sistemas de saúde. A porcentagem maior de longevos resulta em elevados
índices de disfunções de saúde como, por exemplo, diabetes, acidente vascular encefálico ou
demência senil, com subsequentes maiores gastos e necessidade de tecnologia avançada para
garantir os cuidados desse grupo de pessoas.
Segundo o último Censo Demográfico Brasileiro, em 2010, os indivíduos com idade igual
ou superior a 60 anos estiveram acima dos 20 milhões de pessoas, representando 11% da população
(IBGE, 2010). Estima-se que o Brasil será a sexta maior população de idosos do mundo no ano de
2025, representando em 2050 aproximadamente 19% da população brasileira (IBGE, 2015;
CARVALHO; RODRIGUEZWONG, 2008).
Em um nível global, aproximadamente 57 milhões de indivíduos vieram a óbito, inclusive
em 2008, 33 milhões (58%) dessas perdas tiveram como causa as Doenças Crônicas Não
Transmissíveis (DCNT) como patologias respiratórias, cardiovasculares e cânceres (ALWAN et al.,
2010). Nesse sentido, nota-se a relevância dos cuidados paliativos que se baseiam em beneficiar a
qualidade de vida de pacientes com doenças letais, os quais estão passando por sintomas da doença,
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Intervenções fisioterapêuticas nos cuidados paliativos em pacientes idosos em países desenvolvidos
assim como ajudar seus familiares. Essa proposta é empregada de maneiras diferentes por cada país,
visto que não é presente globalmente, sendo mais comum em países de alta renda (75%) em
detrimento dos países de baixa renda (10%) (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2019). O
acréscimo do fisioterapeuta na Atenção Primária da Saúde (APS) está predito por meio do Núcleo
Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB) como uma das profissões que podem
formar o grupo multidisciplinar de acordo com a delimitação dos gestores municipais e as equipes
de APS (BRASIL, 2021). Aborda-se na literatura que os principais sintomas no estado terminal em
idosos se resumem em dor, dispneia, ansiedade e depressão, contraturas, fraqueza muscular,
alterações no equilíbrio e marcha, diminuição da funcionalidade, fraturas, constipação intestinal,
presença de secreção e úlceras. Isso deve-se ao fato de que a maioria dos enfermos são subordinados
ao leito por tempo prolongado (REIS JÚNIOR; REIS, 2007).
Diante dos sintomas supracitados, o fisioterapeuta é habilitado paraatuarno alívio do quadro
álgico, com os métodos de eletroestimulação, crioterapia e terapia manual, e os sintomas
psicofísicos, principalmente com técnicas de relaxamento. Além da atuação nas disfunções
osteomioarticulares, com atividades de resistência, treinos aeróbicos e nos cuidados com edema ou
linfedema e úlceras, utilizando drenagem linfática manual, dispositivos de compressão e
mobilizações. Somado ao tratamento da função respiratória e melhora da fadiga, como trabalhos
físicos, exercícios de administração respiratória, ventilação, métodos de conservação de energia,
limpeza brônquica e alterações de posicionamento (MARCUCCI, 2005). Nessa linha de pesquisa,
percebe-se que a função da fisioterapia é encarregar-se de acrescentar ao tratamento paliativo. O
intuito se baseia em melhorar ou manter funcionalmente o quadro clínico do paciente por meio de
modalidades que atuam sobre o organismo humano, trabalhando a função de distintas
particularidades do corpo (PAIÃO; DIAS, 2012).
Apesar da atuação fisioterapêutica poder beneficiar consequências das doenças terminais,
estudos sobre as metodologias utilizadas e resultados quantificados são escassos, principalmente no
Brasil. Percebe-se que essa profissão ainda pode alcançar mais espaço dentro da equipe de
multiprofissionais responsáveis pelos cuidados paliativos em idosos, queseencontram em constante
crescimento populacional em proporção semelhanteàs manifestações depatologias que cursam com
o envelhecimento. Diante do exposto e de todos os questionamentos sobre a real efetividade dos
tratamentos relacionados à fisioterapia, o presente estudo objetiva abordar intervenções
fisioterapêuticas nos cuidados paliativos em idosos em estado terminal em diversos países
desenvolvidos.
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Fuso, Fabiano e Dei Tos, 2022
2. MATERIAIS E MÉTODOS
A coleta de dados deste trabalho foi realizada a partir de uma seleção de artigos. A busca foi
realizada utilizando a plataforma PubMed. Os descritores utilizados para pesquisa foram: Critical
Iliness, Physiotherapy e Health Services for the Aged
.
A busca inicial de acordo com os descritores
classificou 161 artigos. Em seguida, após leitura de título e resumo foram obtidos 30 artigos de
acordo com os critérios de inclusão. Aplicado os critérios de exclusão e após a leitura por completo,
10 artigos foram selecionados. Os demais artigos foram coletados por meio de pesquisa manual em
bibliotecas digitais, como Google Acadêmico, PubMed e Scielo e feita a leitura dos artigos na
íntegra.
Figura 1: Fluxograma do processo de seleção dos artigos para a Revisão de Literatura.
Fonte: Autores (2022).
“Critical Iliness"
PubMed"Physiotherapy”
"Health Services for the Aged"
Restritores: Período de 2010 a
2021; Idioma Inglês; Ensaios161Artigos
Clínicos
Incluídos: Tratamentos relacionados à Fisioterapia em
pacientes em Estado Terminal
.
30 artigos Selecionados
E
xcluídos: Estudos em
voluntários com faixa etária média
inferior a 60 anos
10 Artigos
Selecionados para a
Revis
ã
o de
Literatura
Arquivos do Mudi, v. 26, n. 2, p. 98-111, 2022
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Intervenções fisioterapêuticas nos cuidados paliativos em pacientes idosos em países desenvolvidos
3. RESULTADOS
Quadro 1: Apresentação dos artigos selecionados.
Londres, Reino
Unido
Autor/
Ano / País
Objetivo
Metodologia
Resultados
Conclusão
HIGGINSON et
al; 2014
Analisar a eficácia dos
cuidados paliativos
precoces integrados
aos serviços
respiratórios para
pacientes com doença
avançada e falta de ar
refratária
42 pacientes foram analisados ao final
de um tratamento com médico,
enfermeira e fisioterapeuta com
trabalho respiratório por 6 semanas,
podendo ser composto por caminhada,
auxílios domésticos e adaptações,
reforço de autocuidado e orientação
adicionais sobre estimulação e
exercícios, incluindo um Digital
Versatile Disc (DVD ), após análise de
cada caso subjetivamente, compondo o
grupo de intervenção (G1). O grupo
controle, com 40 voluntários que
concluíram a investigação, recebeu
apenas os cuidados habituais paliativos
(G2)
O G1 conquistou em média uma melhora
de 16% para o domínio da falta de ar,
além de melhores resultados para todos os
itens avaliados, com exceção da
ansiedade, em detrimento de G2. O G2
mostrou benefício significativo após 6
semanas apenas para o escore total dos
questionários para Cuidados Paliativos,
Ansiedade e Depressão e AVD’s. Ambos
os braços do estudo referiram resultados
positivos para sobrevivência, mas em
maior grau em G1, exceto os oncológicos.
Não houve diferença para custos formais
entre os braços da pesquisa
A pesquisa contribui
para um suporte de
conduta integrada ao
tratamento da falta de
ar em cuidados
paliativos, o que
melhora o domínio do
paciente sem alterar os
custos gerais. Há a
necessidade de
maiores investigações
(2011)
Trondheim,
Noruega
(2017)
Bydgoszcz,
Polônia
OLDERVOLL
et al;
Verificar se um
programa de exercícios
físicos é capaz de
reduzir a fadiga e
melhorar o
desempenho físico do
paciente com câncer de
pulmão avançado, em
tratamento paliativo
Os resultados foram analisados por meio de
um teste de desempenho físico
individualizado, Questionário sobre Fadiga,
assim como o tempo de sobrevida. Os
tempos médios de sobrevivência para os
voluntários que completaram por total os
tratamentos para G2 foram de 17,1 meses e
para G1 de 16,3 meses. Notou-se uma
melhoria clínica e estatisticamente
significativa no desempenho físico e para
melhora da fadiga para o G1 em
comparação com o G2. Além de que o G1
elevaram seu peso corporal, enquanto
aqueles no G2 perderam peso
O desempenho físico
foi beneficiado
clínica e
estatisticamente de
forma significativa
após 8 semanas de
exercício físico,
indicando que a
atividade física pode
ser uma abordagem
encorajadora para ser
aplicado no futuro
PYSZORA,
Anna et al;
Analisar o efeito de um
programa de
fisioterapia na fadiga
relacionada ao câncer e
outros sintomas em
pacientes com
diagnóstico de câncer
avançado, em cuidados
paliativos
Estudo prospectivo com dois braços,
com 230 pacientes, recebendo
cuidados paliativos, sendo que no
grupo de exercícios (G1), teve duas
sessões de por semana durante um
período de 8 semanas. Os exercícios
foram realizados em grupos de dois a 8
pacientes supervisionados por um
fisioterapeuta. Cada sessão durou 50-60
minutos e incluiu um aquecimento (10-
15 minutos), treinamento em circuito
com seis estações (30 minutos) e
alongamento /relaxamento (10-15
minutos). Já o grupo controle (G2),
obteve somente os cuidados paliativos
habituais
Os participantes (n=58) separados em
dois grupos. Em G1 (n;29) foi
realizado o tratamento adicional em 2
semanas, com 6 sessões de terapia no
total (três por semana). Cada sessão
individual durou 30 min, sendo que o
programa de fisioterapia englobou
exercícios ativos de membros
superiores e inferiores, técnicas
selecionadas de liberação miofascial
(LMF) e técnicas selecionadas de
facilitação neuromuscular
proprioceptiva (FNP). O grupo G2
(n:29) foi destinado ao controle da
pesquisa, recebendo os tratamentos
paralelos habituais
Os resultados foram mensurados por meio
do Inventário Breve de Fadiga e pela Escala
de Avaliação de Sintomas de Edmonton.
Depois de 14 dias de fisioterapia, o grupo
G1 em contraste com o grupo de G2 relatou
uma gravidade reduzida estatisticamente
significativa de fadiga e sonolência, assim
como bem-estar mais elevado, além disso
26 dos 29 pacientes relataram satisfação
com o programa de fisioterapia, enquanto
três não souberam opinar
.
O protocolo
amenizou a gravidade
da fadiga nos
pacientes, elevando o
bem-estar geral dos
voluntários e reduziu
os sintomas de
comorbidade,
especialmente dor, o
que é sugerido pelos
autores a fisioterapia
como essencial
(2015)
Inglaterra,
Escócia, País de
Gales
JOHNSON,
Miriam J. et al;
Analisar a eficácia de 1
e 3 sessões de
treinamento de técnica
respiratória no alívio da
intensidade da falta de
ar em pacientes com
doença pulmonar
maligna, sob cuidados
paliativos e avaliar qual
modo seria mais
benéfico para outros
aspectos da falta de ar,
função, qualidade de
vida
Pacientes com doença pulmonar
maligna terminal, com no mínimo 3
meses de expectativa de vida. Todos
os voluntários receberam treinamento
em quatro técnicas (controle da
respiração, ritmo / prioridade,
relaxamento e controle da ansiedade)
no decorrer de uma sessão de uma
hora, baseados em material escrito e
vídeo complementar e um telefonema
de seu terapeuta uma semana após a
última sessão. Separou-se o grupo de
uma única sessão (n:91) G1, e um
grupo para três sessões (n:39) G2
Os resultados foram mensurados pelos
questionários: Quality of life Chronic
Respiratory; Self-Administered-Survey;
Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão
(EHAD); Escala de desempenho de
Karnofsky; Estado de saúde (EQ-5D e EQ-
escala visual analógica (EQVAS)); Coping
(BriefCOPE); e impressão global de
mudança e utilização de serviços de saúde.
Além de dados demográficos; Big Five
Inventory (BFI) e Mental Toughness
Questionnaire (MTQ). Para avaliar os
custos, os valores foram contabilizados.
Não houve
evidência de que
três sessões
conferiram
benefícios
adicionais em
relação a uma e não
sendo custo efetivo
as três sessões. Uma
única sessão, se
mostrou uma forma
apropriada de
fornecer a terapia
respiratória
Arquivos do Mudi, v. 26, n. 2, p. 98-111, ano 2020
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Fuso, Fabiano e Dei Tos, 2022
(2013)
Nottingham,
Inglaterra
MADDOCKS,
Matthew et al;
Determinar a
aceitabilidade da
Estimulação Elétrica
Neuromuscular do
Quadríceps (EENMQ)
para pacientes com
câncer avançado de
pulmão usado com
quimioterapia paliativa.
Explorar aspectos de
segurança e eficácia
Estudo de dois braços em pacientes,
em cuidados paliativos, sendo que em
G1 sessões adicionais de 30 minutos
de EENMQ, no mínimo três vezes por
semana, foram realizadas, deixando o
G2 para controle de pesquisa. A força
muscular do quadríceps, a massa
magra da coxa e o nível de atividade
física foram avaliados no início e após
três ciclos de quimioterapia
Não houve discrepâncias entre os resultados
dos braços da pesquisa
Não houve diferenças significativas entre os
grupos EENMQ e controle nas alterações
no pico de força do músculo quadríceps,
massa magra da coxa ou aspectos da
atividade física. Apesar da fadiga
geralmente ter aumentado em ambos os
grupos, notou-se uma diferença significativa
na sub escala de exaustão mental
favorecendo o grupo Estimulação Elétrica
Neuromuscular (EENM). Geralmente, a
qualidade de vida piorou no G2 e
permaneceu inalterada no G1. No entanto,
nenhuma das alterações foi estatisticamente
significativa entre os grupos
A EENMQ não se
mostrou aceitável
neste cenário, nem
houve uma sugestão
de benefício. Sendo
assim, percebe-se a
importância de
explorar a terapia
em pacientes com
câncer em outras
situações
(2019)
Nagasaki, Japão
(2010)
Bonn,
Alemanha
NAKANO, Jiro
et al;
Analisar os efeitos da
Neuroestimulação
Elétrica Transcutânea
(TENS) na dor e demais
sintomas físicos,
incluindo dor, fadiga,
vômitos, náuseas,
dispneia, insônia, perda
de apetite e função física
e emocional em
pacientes com câncer
avançado recebendo
cuidados paliativos
24 voluntários recebendo cuidados
paliativos, receberam adicionalmente
para o tratamento da dor,
eletroestimulação em região do dorso
correspondente à C7 a T8. Com o
intuito de obter um efeito de
relaxamento, pares de compressas de
gel foram colocados de modo a
ensanduichar a coluna vertebral. Um
par de eletrodos foi colocado atrás do
maléolo medial, para amenizar a
constipação estimulando o nervo tibial
(na presença de tumor espinhal
metastático na vértebra, os eletrodos
eram anexados longitudinalmente, para
evitar a estimulação direta do tumor)
Os resultados foram avaliados por meio
de dois questionários de dor que
incorporaram uma escala numérica de dor,
sendo um deles para a intensidade da dor
no momento real da avaliação e outro para
a intensidade média da dor durante o dia.
Durante a terapia e após a mesma a dor
também foi mensurada. Quando os
escores de sintomas físicos foram
comparados entre pré e pós-intervenção,
houve redução significativa da dor e perda
de apetite na fase TENS, apesar dos
sintomas não terem se alterados na fase
não-TENS. Para dor e náusea / vômito
houve benefícios. As escalas funcionais
nas funções físicas e emocionais não
foram alteradas nas fases TENS e não-
TENS. Não houve mudanças em dados
sanguíneos após o tratamento
Os resultados
demostraram a ação
benéfica da TENS
não só na dor, mas
também nos sintomas
físicos, quando
inserida em diversas
áreas do corpo, além
de ser um método
seguro. Porém,
nenhuma eficácia foi
manifestada em
termos de fadiga,
dispneia e
constipação
CLEMENS,
Katri E. et al;
Avaliar a frequência e o
efeito da drenagem
linfática manual (DLM)
em pacientes em
cuidados paliativos com
linfedema em um estágio
muito avançado da
doença
90 pacientes em cuidados paliativos,
foram selecionados em hospital, sendo
que antes da fisioterapia, todos os eles
foram medicados com opioides (Etapa
III da OMS) em combinação com
analgésicos e co-analgésicos (Etapa I
da OMS). Depois de amenizar o quadro
álgico ou a dispneia, a DLM foi
colocada em prática, diariamente até a
alta ou enquanto compatível com o
desempenho do voluntário
A dor e dispneia foi medida por meio de
uma escala numérica. A amenização do
linfedema foi avaliada utilizando a Escala
Likert de quatro pontos. O índice da
escala de desempenho de Karnofsky foi
usado para classificar o aspecto funcional
dos pacientes. A diminuição do linfedema
foi registrada como ’pequena’ em 8,9%
dos pacientes como ’moderada’ em 64,4%
e como ’boa’ em 16,7%. O número de
tratamentos foi em média 7,0 + 5,8 e as
administrações individuais perduraram em
média 41,3+ 19,4 min. A DLM foi bem
tolerado em 83 (92,2%) pacientes. Sendo
que 63 dos 67 pacientes revelaram uma
diminuição da intensidade da dor e em 17
de 23 pacientes com dispneia
A maior parte dos
voluntários
demostrou benefício
clínico na
intensidade dos
sintomas
imediatamente após a
DLM. A pesquisa
mostrou que as
condutas
fisioterapêuticas de
DLM podem ajudar a
beneficiar o quadro
álgico da dor e
controle dos sintomas
em pacientes com
linfedema
(2017)
Limerick,
Irlanda
COBBE,
Sinead; REAL,
Shirley;
SLATTERY,
Sinead;
Descrever a avaliação,
objetivos e
intervenções para
pacientes com edema
Foi constatado a presença de linfedema
(29%); edema não linfático (16%), edema
misto (46%) e linforreia (16%). A maioria
tratava-se de pacientes oncológicos, a
duração do tratamento foi de 1-176 dias.
Todos os doentes passaram por no mínimo
uma intervenção, sendo que a maioria
recebeu mais de um tipo. A totalidade foi
orientada sobre seu edema; Os acessórios
compressivos (57,7%) e os curativos
multicamadas (50%) foram os tratamentos
mais utilizados. Drenagem linfática manual
(DLM) e Kinesio-taping foram usados
somente em voluntários com um fator de
linfo edema em seu edema. A frequência
média de condutas foi de 3,5; Os principais
motivos para cessar o tratamento do edema
foram devido à morte e deterioração clínica
PYSZORA, A.;
WÓJCIK, A.;
KRAJNIK, M.;
Relatar como as
terapias de tecidos
moles e Kinesio Taping
podem beneficiar
n: 61, em cuidados paliativos, foram
investigados, em 6 meses, por meio de
prontuários geral e fisioterapêutico,
sobre a presença de edemas e condutas
fisioterapêuticas. Os voluntários foram
analisados pelo serviço especializado
de edema no Milford Care Center,
entre agosto de 2013 e janeiro de 2014.
Os métodos para avaliação dos tipos de
edemas usados encontrados nas fichas
foram: circunferência (78%);
descritores de pele (73%) e função
(72%) por meio da ferramenta de
avaliação funcional Edmonton EFAT-2.
Os objetivos se basearam em
manutenção e melhoria, como: manter
a integridade da pele (54%); amenizar
o volume dos membros (51%); e
beneficiar a QV (48%)
O primeiro caso relatado (C1), o
fisioterapeuta, utilizou a técnica de
inibição neuromuscular integrada, em
trapézio em paciente, de 80 anos e com
O resultado do C1 foi mensurado de acordo
com a percepção de dor, sendo que a
amenização da dor, relatada pelo voluntário,
possibilitou que o paciente aprimorasse as
Referente à alta do
serviço, os itens mais
frequentes foram por
óbito (37%) ou piora
clínica (21%), sendo
que 19% dos
pacientes receberam
alta, visto que o
edema havia se
estabilizado.
Concluiu-se que os
métodos mais
utilizados para
tratamentos dos tipos
de edemas são:
Orientação (100%);
Vestimenta de
compressão (59%) e
bandagens (51%)
A função física e a
independência
devem ser mantidas
o máximo possível
Arquivos do Mudi, v. 26, n. 2, p. 98-111, 2022
103
Intervenções fisioterapêuticas nos cuidados paliativos em pacientes idosos em países desenvolvidos
Bydgoszcz,
Polônia
(2010)
pacientes com câncer
terminar, sob cuidados
paliativos
câncer de pulmão, para alívio da dor
seguida do Kinesio Taping em
Trapézio Fibras Inferiores, em sessões
repetidas a cada 4-5 dias, por 4 meses.
Para o segundo caso (C2) o paciente,
de 62 anos, com diagnóstico de
mieloma múltiplo, possuía como
queixa a constipação e dores
abdominais. Para o tratamento foi
realizado a liberação miofascial, FNP,
massagem abdominal simples,
programa de exercícios e Kinesio
Taping. O terceiro caso (C3), paciente
de 77 anos e diagnóstico de câncer de
mama, com disfunção respiratória,
devido a fraturas patológicas detinha
de edema em membro inferior
esquerdo, assim como dor e aderências
teciduais. O Kinesio Taping foi
realizado em joelho e tornozelo desse
segmento, para amenizar tais itens
suas atividades diárias, seu sofrimento
psíquico, além de resultar em melhora na
relação familiar (paciente faleceu após 4
meses do primeiro atendimento). As
resultâncias para o C2 foram positivas, com
melhora do quadro álgico e constipação
relatadas pelo paciente. O C3 relatou
melhoras no edema e aderência em membro
inferior acometido, assim como elevação da
capacidade funcional do paciente. Os três
casos mostraram que a fisioterapia paliativa
elevou a qualidade de vida dos voluntários
do estudo
nos pacientes com
câncer terminal, para
melhorar a qualidade
de vida dos mesmos
e
reduzir a sobrecarga
de cuidados para os
cuidadores e
familiares
ZIMMER,Investigar se exercícios
Philipp et al; multimodais
neutralizam o
(2017)progresso da
neuropatia periférica
GmbH,induzida por
Alemanha quimioterapia (NPIQ)
e melhora o equilíbrio
e a força em pacientes
com câncer colo retal
metastizado (CCRM),
em um cuidado
paliativo
Estudo Monocêntrico de dois braços,
com os voluntários, n: 30, organizados
em um grupo de intervenção (G1)
participando de um programa de
exercícios, em duas vezes semanais
(treinos de: equilíbrio, coordenação,
aeróbico, força e relaxamento) e um
grupo de controle de lista de espera
(G2), o qual foi passado
recomendações padrão por escrito para
conquistar aptidão física
O Teste de equilíbrio, a hipotética repetição
máxima (h1RM) foi administrada para
averiguar a força muscular dinâmica e a
competência para a resistência foi analisada
pelo teste de caminhada de seis minutos
(TC6). O questionário Gynecologic
Oncology Group Neurotoxicity foi aplicado
para verificar os sintomas. Desse modo, o
resultado da pesquisa, para os 24 voluntários
que findaram o tratamento, mostrou uma
estabilidade para os sintomas neuropáticos
em G1, ao passo que em G2 piorou
significativamente. Além disso, G1
apresentou benefícios na função de força e
equilíbrio, sendo que os autores correlataram
a NPIQ com mudanças no equilíbrio
O estudo mostrou
benefícios que
englobam melhorias
na qualidade vida
dos doentes, sendo
que os programas de
exercícios podem
compor uma opção
de terapia de suporte
esperançosa para
esse grupo de
pessoas pouco
investigado
Fonte: Autores (2022).
4. DISCUSSÃO
De acordo com Tamborelli et al. (2010), o sintoma mais frequente em doenças terminais é a
dor (60% - 75%), a qual tende a se exacerbar em até 80% em enfermos hospitalizados, afetando
extremamente tais pacientes, visto que o quadro álgico os lembram ainda mais de que o óbito está
próximo, compondo uma taxa de 92% para sintoma mais angustiante na opinião dos doentes
terminais geriátricos. Segundo Silva et al (2020), a analgesia é uma prioridade para os pacientes em
estado terminal e, além da dor ser incomoda, quando não contida pode desencadear demais
complicações e desestabilizar o enfermo emocionalmente.
O estudo de Higginson et al. (2014), no Reino Unido, também argumenta que a dor se mostra
prevalente nesse público e que em segundo lugar encontra-se a falta de ar refratária. Para o autor o
tratamento da função respiratória é complexo, visto que as opções de condutas são relativas e os
tratamentos multiprofissionais e não farmacológicos como os dispositivos de rolagem, terapia de
ventilação, controle derespiração e fortalecimento muscularpodem dispor debenefícios. No entanto,
nadoençaavançada,muitos doentes não conseguem comparecer ou sebeneficiarcom os tratamentos,
devido a debilidade associada ao quadro álgico. Diante desse argumento, os autores justificam as
mudanças
secundárias
pequenas
na
função
pulmonar
no
estudo
proposto,
visto
que
uma
totalidade
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dos voluntários se encontravam na fase paliativa de uma doença progressiva, na qual a falta de ar
aumenta sucessivamente até o falecimento.
Nessa linha de objetivos terapêuticos, apesar dos achados de Oldervoll et al. (2011), na
Noruega, mostrar efeitos positivos na amenização da fadiga e diminuição da caquexia após um
programa de exercícios, eles propõem uma discussão e argumentam que a alta desistência dos
voluntários é atribuída ao fato da progressão da doença dificultar a presença nos atendimentos.
Segundo Pyszora et al. (2017) que realizaram uma pesquisa na Polônia, os indivíduos com câncer
avançado tendem a ser resistentes em realizar atividades físicas, argumentando aptidão limitada, dor
e baixa capacidade funcional. O estudo mencionado também discute sobre a anorexia e caquexia nos
doentes terminais que se recusam a participar de trabalho com exercícios e explica a relevância de
selecionar uma conduta composta, além de atividade física, de relaxamento e bem-estar, visando
melhor adesão dos voluntários.
Já o estudo de Johnson et al. (2015), da Inglaterra, conclui uma linha de pensamento distinta
das demais pesquisas no tratamento da dispneia. Seus resultados identificaram melhores resultâncias
em uma únicasessão de tratamento respiratório em detrimento de três sessões. Inclusive, os pacientes
que receberam tal intensidade maior de terapia tiveram piores índices de saúde em geral. Com isso,
os autores explicam que a debilidade do sistema pulmonar de pacientes com doença muito avançada
e progressiva não comporta mais que uma única sessão de terapia respiratória ativa, sendo esse
número o ideal na condição mencionada.
Ester et al. (2021) realizaram uma investigação em pacientes com câncer de pulmão
avançado, no Canadá, com média de 64,4 anos e no mínimo seis meses de sobrevida, que eram
submetidos ao tratamento multimodal de nutrição, atividade física e cuidados paliativos. Observaram
que 12 sessões de treinamento físico presencial, duas vezes por semana, de intensidade leve a
moderada, demostrou reduções significativas em fadiga agudas, cansaço, depressão, dor e elevações
de energia e bem-estar. Os estudiosos debatem a questão da frequência do tratamento, visto que no
estudo realizado, com carga semanal branda, o engajamento dos voluntários foi alto, diferente do
elevado índice de desistências e absenteísmos apresentados nos demais artigos por eles verificados,
com tratamentos superiores a três vezes semanais. Em vista disso, os autores concluem que os
atendimentos com exercícios devem ser realizados de uma a duas vezes por semana.
Apesar do estudo de Maddocks et al. (2013), realizado na Inglaterra, não mostrar resultados
no uso da Estimulação Elétrica Neuromuscular do Quadríceps (EENMQ) p
i
ara elevação da função
física e aumento da massa magra, observou-se uma mínima melhora na exaustão mental e qualidade
de vida do grupo de intervenção em contraste com o grupo controle. Desse modo, a pesquisa revela
uma intolerância dos pacientes em relação a esse tipo de terapia, visto que os pacientes relataram
desconforto. Nota-se a necessidade de maiores estudos com Estimulação Elétrica Neuromuscular
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Intervenções fisioterapêuticas nos cuidados paliativos em pacientes idosos em países desenvolvidos
(EENM) de musculatura acessória da respiração, para um melhor resultado na função respiratória em
pacientes em estado terminal. No estudo dos pesquisadores Sachetti et al. (2017), por exemplo, foi
relatado uma acentuação da espessura do músculo reto abdominal, o qual relaciona-se com a
extensibilidade do diafragma no decorrer da inspiração facilitando o desmame da ventilação
mecânica. Desse modo, foi constatado a manutenção da mobilidade do diafragma quando houve
estimulação da musculatura acessória como reto abdominal e peitoral, melhora da espessura
muscular, amenização no tempo de internação na UTI do grupo intervenção em detrimento ao grupo
placebo.
Nesse sentido o uso da eletroestimulação para analgesia, por meio do Neuroestimulação
Elétrica Transcutânea (TENS), instigado na pesquisa no Japão de Nakano et al. (2019), também não
foi capaz de diminuir sintomas físicos, no câncer avançado, como fadiga, dispneia e constipação e
discute-se a possibilidade de o alívio do quadro álgico ser um efeito placebo, uma vez que a dor está
correlacionada com questões emocionais. Nota-se que o TENS foi melhor tolerado pelos pacientes
terminais em comparação com a EENM. O estudo de Siemens et al. (2020) empregou o uso do TENS
em 20 pacientes, Alemanha, o qual foi bem aceito pelo grupo de intervenção (n:11) e controle (n:09).
Nessa pesquisa, o grupo controle recebeu uma frequência muito baixa e a luz do aparelho também
acendia, para proporcionar um efeito sensitivo e visual semelhante ao grupo de intervenção. Assim
a pesquisa não mostrou diferenças estatisticamente relevantes entre os resultados dos dois grupos,
sendo que 17 dos 20 pacientes relataram uma melhora subjetiva em grau leve e como houve melhoras
nas pontuações avaliadas como habilidade para caminhar, por exemplo, de ambos os grupos, discute-
se a necessidade de um terceiro grupo sem nenhuma intervenção para descartar o efeito placebo,
também discutido pelos pesquisadores supramencionados.
No ensaio na Alemanha de Clemens et al. (2010), predominou-se a discussão sobre os
resultados positivos da drenagem linfática manual (DLM), em amenizar o quadro álgico e a dispneia
em paciente em cuidados paliativos, estando relacionado aos componentes físicos e psicológicos da
terapia. Nesse sentido, argumenta-se sobre a relevância da fisioterapia nesse tipo de enfermidade, em
que todos os cuidados, orientações de modo individual para cada paciente, é interpretado por eles
como um apoio e sensação de serem dignos de um atendimento recoberto de atenção. Isso eleva o
bem-estar dos doentes e potencializa os resultados de todas as intervenções multiprofissionais. Ao
passo que nas análises, na Irlanda, de prontuários de Cobbe, Real e Slattery (2017), ressalta-se as
alterações de pele que o edema proporciona e são indagados a carência de um valor padrão para essa
questão, com subsequente impasse para a pesquisa nesta área pela complexidade de quantificar as
melhoras ou pioras para fins de pesquisa. Com isso os autores salientam a importância dos domínios
físicos presentes nos questionários de qualidade de vida para analisar os impactos das terapias sobre
a função nesta população de enfermos. Diante disso, os prontuários mostraram opções de tratamentos
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que vão além da DLM clássica, como o uso das bandagens, por exemplo, o que pode justificar os
19% de alta por estabilidade. No entanto, como esperado nesse público, muitos pacientes findaram o
tratamento por óbito (37%) ou piora clínica (21%). Tal piora clínica, é interpretada no estudo,
administrado na Polônia, de Pyszora, Wójcik e Krajnik (2010), como normal, haja vista que a
fisioterapia em cuidados paliativos é distinta da reabilitação convencional, uma vez que os pacientes
terminais apresentam patologias progressivas e incuráveis. Dessa maneira, os resultados positivos na
drenagem, aderência tecidual, constipação e quadro álgico com o uso da bandagem funcional e
terapias manuais, referem-se à elevação da qualidade de vida e amenização do encargo da família ou
cuidadores.
Zimmer et al. (2017), em seu estudo na Alemanha, abordam a relevância de realizar o treino
de equilíbrio em pacientes com câncer colo retal metastizado, prevenindo dessa forma as quedas.
Nesse contexto, os pesquisadores alegam ser possível ebenéfico o treino com exercícios em ambiente
paliativo, não incluindo a metástase como contraindicação e os resultados podem ir além dos
sintomas neuropáticos, amenizando a caquexia e beneficiando a coordenação.
Segundo Barbosa (2001), as pesquisas têm mostrado que a incidência de quedas em longevos
é proporcional ao grau de incapacidade funcional. No idoso em estado terminal, portanto, tal
probabilidade é elevada e necessita-se de uma avaliação subjetiva, com subsequente prevenção
terapêutica de tal risco. No entanto, o trabalho de Saotome et al (2018), em Sidney-Austrália, que
avaliou as Atividades de Vida Diárias (AVD’s) e a Qualidade de Vida (QV) de 19 pacientes, com
faixa etária de 63,3 anos para mulheres e 72,9 para homens, que estavam em cuidados paliativos com
fonoaudióloga, fisioterapeuta e enfermeira, em um hospital público. A fisioterapia realizou condutas
de atividade física por 4 semanas, porém, não apresentou resultados significativos para a melhora da
função física, equilíbrio, fatores emocionais e QV. 7 voluntários faleceram após 2 semanas de
terapia, não concluindo o estudo. Os autores esclarecem que a falta de motivação pode ter dificultado
os resultados e que a manutenção funcional dos pacientes é prioridade, mesmo não adquirindo
melhoras do caso clínico.
Na literatura encontrou-se uma carência de artigos com intervenção fisioterapêutica em
ambientes brasileiros, em pacientes com doença terminal, em sua maioria idosa, com média superior
a 60 anos dentre os pesquisados. Logo, um predomínio de ensaios clínicos em países
desenvolvidos, sendo que os estudos alcançados no Brasil se tratavam em sua maioria de revisões ou
com condutas em pacientes adultos, com média entre os voluntários inferior a 60 anos, talvez pela
reduzida expectativa de vida desses doentes. Segundo Nóbrega (2017), a incidência de mortes em
faixa etária igual ou superior a 60 anos em dez anos passou de 57% para 63% de todas os casos
registrados. O fato supramencionado explica a prevalência de mortes em meio à população idosa
brasileira em hospitais (≈67%), em detrimento dos óbitos em domicílio (≈21%). De acordo com o
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Intervenções fisioterapêuticas nos cuidados paliativos em pacientes idosos em países desenvolvidos
autor, entre 2002 e 2013, os óbitos hospitalares na população geral se elevaram em 25%, ao passo
que para os idosos, o índice subiu para 45%.
Países como Alemanha, Reino Unido, Polônia, Japão, Irlanda, Inglaterra e Noruega
demostraram um predomínio na atenção à população idosa em estado terminal, como disponível no
presente estudo. Em vista disso, a fisioterapia ainda pode alcançar maiores funções dentro da equipe
de cuidados paliativos no Brasil. Assim como atuar não somente em hospitais, mas também em
domicílio, como vistos em alguns estudos dos países desenvolvidos, amenizando os pesares dos
pacientes terminais e auxiliando na melhora da qualidade de vida dos mesmos.
5. CONCLUSÃO
É possível compreender diante dos resultados discretos das intervenções fisioterapêuticas em
idosos com doença avançada, recebendo cuidados paliativos, que o principal intuito terapêutico não
éareabilitação esimaamenização do sofrimento do enfermo, no sentido detornar seu último período
de vida menos difícil. Dessa maneira, a piora clínica desse público é esperada, haja vista que as
doenças dos mesmos são incuráveis e progressivas, o que torna os atendimentos complexos e
cautelosos.
A ação placebo de terapias como a eletroestimulação, intensifica a importância da atuação
fisioterapêutica nos cuidados paliativos, visto que o aspecto afetivo-emocional da dor é facilmente
modulado. Sendo assim, a dor e a disfunção respiratória que evolui para a insuficiência respiratória,
causa principal dos óbitos desses doentes, foram os sintomas a serem tratados mais frequentes, sendo
que o câncer foi a doença mais frequente nos pacientes dos estudos analisados. A atividade física
leve, contento métodos de relaxamento, se mostrou mais eficaz nesse tipo de paciente, sendo uma
estratégia para elevar o engajamento dos voluntários das pesquisas, devido sua debilidade e baixa
motivação.
As técnicas de terapias manuais se mostraram eficazes na diminuição dos tipos de edemas,
melhorando o quadro álgico, bem-estar e acentuando a qualidade de vida dos pacientes. Nota-se uma
carência de estudos com intervenções fisioterapêuticas em idosos sob cuidados paliativos no Brasil,
o que revela a baixa atuação dessa profissão na equipe multiprofissional. Sugere-se que os
profissionais da área mencionada necessitam de maiores espaços no país, assim como a necessidade
de uma atenção maior do governo para o crescimento populacional dos idosos e das manifestações
de doenças que cursam com o envelhecimento. Explica-se, portanto, a prevalência de metodologias
para tal público em vários outros países desenvolvidos, os quais se apresentam como mais preparados
para lidar com os pacientes geriátricos em estado terminal.
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Fuso, Fabiano e Dei Tos, 2022
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