Arquivos do Mudi, v. 26, n. 3, p. 39 -51, 2022
Aceito em: 18/10/2022Publicado em: 15/12/2022
ANALYSIS OF WEIGHT RELEASE AND BALANCE IN INDIVIDUALS AMPUTED IN THE
PROTETIZATION PHASE
Abstract
Individuals who undergo amputation may present several difficulties and limitations in their functionality due
to changes such as body balance deficit and the biomechanics of weight bearing between the non-amputated
limb and the prosthetic limb. The objective of this study was to evaluate the weight bearing in relation to the
time of amputation in individuals with prostheses and the influence on body balance. Six individuals
participated, who were evaluated by a questionnaire addressing the characteristics of amputation, as well as
bilateral weight bearing with the use of two digital scales and specific tests in order to assess balance such as
Romberg, sensitized Romberg and TUG. In the results, several dysfunctions were found in amputees, such as
the presence of phantom pain, greater weight bearing on the intact limb in individuals with shorter amputation
time, with a weak negative correlation (r= -0.37) and changes in body balance. However, according to the
results presented, since the amputee has limitations, the treatment of physiotherapy is of great importance for
the effectiveness in the phases of prosthesis through orientations, strength training, proprioception and balance.
Keywords:
Amputation, Traumatic, Disabled Person, Phantom Limb, Prostheses and Implants.
ARTIGO ORIGINAL
ANÁLISE DA DESCARGA DE PESO E EQUILÍBRIO EM INDIVÍDUOS
AMPUTADOS NA FASE DE PROTETIZAÇÃO
Aline Liberato Dias
UNINGÁ- Centro Universitário Ingá,
Maringá-PR
Amanda Pereira Moura
UNINGÁ- Centro Universitário Ingá,
Maringá-PR
Debora Dei Tos
UNINGÁ- Centro Universitário Ingá,
Maringá-PR
Lilian Catarim Fabiano
UNINGÁ- Centro Universitário Ingá,
Maringá-PR
Resumo
Os indivíduos que sofrem amputação podem apresentar
diversas dificuldades e limitações em sua funcionalidade por
conta de alterações como o déficit de equilíbrio corporal e a
biomecânica da descarga de peso entre o membro não
amputado e o membro protetizado. O objetivo deste estudo foi
avaliar a descarga de peso em relação ao tempo de amputação
nos indivíduos protetizados e a influência no equilíbrio
corporal. Participaram 6 indivíduos, os quais foram avaliados
por um questionário abordando as características daamputação,
como também a descarga de peso bilateral com uso de duas
balanças digitais e testes específicos com intuito de avaliar o
equilíbrio como Romberg, Romberg sensibilizado e TUG. Nos
resultados foram encontradas diversas disfunções nos
amputados, como a presença de dor fantasma, maior descarga
de peso no membro íntegro nos indivíduos com menor tempo
de amputação tendo correlação negativa fraca (r= -0,37) e
alterações no equilíbrio corporal. Contudo, de acordo com os
resultados expostos, visto que o indivíduo amputado apresenta
limitações, o tratamento da fisioterapia é de grande importância
para a eficácia nas fases de protetização através de orientações,
treinamento de força, propriocepção e equilíbrio.
Palavras-chave: Amputação traumática
;
membro fantasma
;
pessoas com deficiência
;
próteses e implantes.
Dias et al., 2022
1. INTRODUÇÃO
Atualmente, pode-se notar que, em nível nacional cerca de 45 mil indivíduos apresentam
alguma deficiência, sendo ela visual, intelectual, auditiva ou física. Dentre essa população, a
deficiência física é considerada a segunda com maior incidência, perdendo em números apenas para
a deficiência intelectual. Sua etiologia advém, na maioria das vezes, de doenças ou eventos
traumáticos, podendo inclusiveocasionaraamputação deum membro (IBGE, 2010; ISAACS-ITUA,
2018; LOURENÇO et al. 2019). Nos membros superiores, a principal causa de amputação é
resultante de traumas. Já as de membros inferiores são as patologias vasculares, que acometem
indivíduos com idades mais avançadas, seguidas pela etiologia traumática, acometendo indivíduos
mais jovens (FONTES, 2019).
Após a amputação de membro inferior, os indivíduos podem encontrar diversas dificuldades
e complicações, pois sofrem uma grande alteração no sistema funcional músculo esquelético. Dentre
elas pode-se citar a dificuldade de locomoção, transferências, trocas posturais, deformidade em
flexão, irregularidade óssea, excesso de pele, cicatrização inadequada e pontos dolorosos, limitando-
os em suas atividades, levando ao sedentarismo e consequentemente à obesidade. Esses fatores
tendem a ocasionar uma baixa autoestima e alterações em sua qualidade de vida, como também a
objeção para aceitação do coto, que altera sua imagem corporal, desenvolvendo medo no indivíduo
amputado e reduzindo ainda mais suas funcionalidades (PASTRE et al. 2005; WESTERKAMP et al.
2019). Outra consequência da amputação é a dor fantasma, sendo definida como uma sensibilidade
dolorosa e presença de dor, ocorrendo no membro que não existe mais, controlada pelo sistema
límbico e tronco encefálico (SARMENTO; LUZ;OLIVEIRA, 2021).
De acordo com Leite et al. (2019), alguns estudos mostram que o indivíduo amputado pode
apresentar alterações posturais, pois o membro amputado não apresenta a mesma funcionalidade
comparado ao membro íntegro, trazendo alteraçõesem suapostura, no plano anterior, lateral esagital.
Sendo assim, assimetrias posturais podem levar a um comprometimento no equilíbrio corporal do
indivíduo e consequentemente alterações na marcha, resultando em limitações nas atividades
independentes destes sujeitos.
Outra alteração presente nos sujeitos com amputação de membro inferior é o equilíbrio
corporal, o qual geralmente encontra-se reduzido, tendo relação com as informações precárias do
sistemasomatossensorial fornecido ao sistemanervoso central. Sendo alterações, como, adiminuição
da força, a coordenação dos músculos e a redução da amplitude de movimento do membro amputado.
Tais fatores afetam de forma negativa a capacidade de manter o equilíbrio de forma positiva
(BARNETT et al. 2013; MILLER et al. 2017).
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Análise da descarga de peso e equilíbrio em indivíduos amputados na fase de protetização
Adicionalmente, as alterações anatômicas ocasionadas após a perda do membro inferior
resultam em alterações biomecânicas, alternando carga/descarga de peso entre o membro não
amputado e o protetizado. Como consequência, pode ser observada a alteração no padrão de
movimento dos indivíduos, principalmente durante a caminhada, sucedendo a uma carga diminuída
no membro protetizado e quando comparado ao membro contralateral. Esse é um fator preocupante,
podendo desencadear dor ou até mesmo degeneração articular, consequente ao aumento da carga no
membro não amputado (AMMA et al. 2021; SCHOELLER et al. 2013).
Com base nas informações expostas, o objetivo do presente estudo é avaliar o equilíbrio
corporal em indivíduos amputados e protetizados e possíveis alterações na descarga de peso da
prótese quando comparado ao membro contralateral, correlacionado ao tempo de protetização.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
O presente estudo foi realizado com pacientes atendidos pela Associação Norte Paranaense de
Reabilitação (ANPR), localizada na cidade de Maringá-PR. É de caráter transversal com
levantamento qualitativo e quantitativo de dados, coletados no período de maio a junho de 2022. Este
estudo foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Uningá, sob o parecer
n°4.792.406.
Foram considerados como critério deinclusão indivíduos com amputação demembro inferior
a nível transtibial ou transfemoral, unilateral, incluindo-se na fase de pós-protetização, tendo idade
mínima de 18 anos e que tenham realizado atendimento fisioterapêutico na ANPR. Como critérios
de exclusão, foram considerados indivíduos que apresentavam qualquer outra deficiência física além
da amputação.
Foram convidados para participarem do estudo de forma voluntária, indivíduos amputados
que frequentam ou frequentaram a ANPR. O estudo foi elucidado aos participantes, para esclarecer
os procedimentos a serem realizados. Após, foi solicitado a assinatura do Termo de Consentimento
Livre Esclarecido (TCLE) e do termo para autorização de imagem pessoal em foto.
Para a realização do presente estudo foi previamente elaborado pelos pesquisadores, um
questionário que abordava a caracterização dos participantes. O mesmo continha dados como idade,
sexo, tempo e nível da amputação, peso, altura, índice de massa corporal (IMC) adaptado para pessoa
com amputação, dores apresentadas, presença de dor fantasma e caracterizações sobre a protetização,
como a frequência de uso da prótese, dificuldade quanto à deambulação e equilíbrio durante o uso da
prótese. O questionário foi apresentado aos participantes para que eles preenchessem o documento.
Adicionalmente, utilizou-se duas balanças digitais (123 Útil
®
) para verificação do IMC e da
descarga de peso dos membros inferiores, sendo posicionadas de forma paralela. O paciente
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permaneceu em posição ortostática com o membro protetizado apoiado em uma balança digital e o
membro íntegro em outra balança digital, verificando a descarga de peso de cada hemicorpo. O
participante foi orientado para que não olhasse para as balanças, a fim de não ter interferência nos
resultados. A análisedos dados foi conduzida por meio do SoftwareSPSS 25.0, mediante abordagem
de estatística descritiva e inferencial. Foi utilizada a frequência e o percentual como medidas
descritivas para as variáveis categóricas e os resultados foram apresentados por meio de gráficos. A
normalidade dos dados foi avaliada por meio do teste Kolmogorov-Smirnov. Foram realizados
procedimentos de bootstrapping (1000 re-amostragens; 95% IC BCa) para se obter uma maior
confiabilidadedosresultados, corrigirdesviosdenormalidadedadistribuição daamostraediferenças
entre os tamanhos dos grupos e, também, para apresentar um intervalo de confiança de 95% para as
diferenças entre as médias (HAUKOOSL; LEWIS, 2005). A correlação de Pearson foi usada para
investigar arelação entre adescargadepeso do membro amputado, membro não-amputado eo tempo
de amputação. Foi adotada a significância de p < 0,05.
Por conseguinte, para verificação do IMC, os participantes foram pesados e conferindo
estatura, posteriormente foi realizado o cálculo de IMC para amputados. O mesmo consiste em
verificar a porcentagem do membro perdido, realizando uma regra de três com o peso atual do
indivíduo, totalizando o peso estimado. Em seguida, realizou-se a divisão do peso estimado com a
altura do amputado ao quadrado, trazendo a conclusão do IMC (Figura 1) (MENDES, 2015).
equilíbrio, com a utilização de uma fita adesiva para demarcação de um espaço, Trena (STANLEY
®
5m) para medir a distância de 3m e uma cadeira de pés fixos. O indivíduo iniciou-se sentado, e após
foi solicitado ao mesmo que levantasse sem apoiar na cadeira e assim, caminhasse por 3 metros e
girasse 180° graus, retornando ao ponto de partida e sentando novamente. O tempo para realização
do teste foi cronometrado no momento em que os pesquisadores deram o comando para o indivíduo
levantar-se da cadeira e finalizado após o mesmo sentar na cadeira novamente. Os resultados são
avaliados de acordo com o tempo utilizado para o percurso. Cronometragem de percurso menor que
10 segundos é considerado normais, não tendo alteração de equilíbrio. Tempo entre 10 a 19 segundos
Figura 1- Cálculo do IMC
Fonte: Autoras (2022)
Posteriormente, realizou-se o teste Time Get Up And Go Test (TUG) para avaliação do
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Análise da descarga de peso e equilíbrio em indivíduos amputados na fase de protetização
é classificado com pouca alteração de equilíbrio e o tempo que excede 20 segundos classificado com
alteração de equilíbrio com alto risco de sofrer queda (SICUPIRA, 2018).
Ademais, também foi realizado o teste de Romberg e Romberg sensibilizado para verificação
do equilíbrio. Primeiramente o indivíduo posicionou-se em ostostatismo com olhos fechados
permanecendo na posição por um minuto, em seguida posicionou-se em ortostatismo com o membro
inferior não amputado à frente, permanecendo na posição por um minuto. Caso o sujeito não
conseguisse permanecer na posição por um minuto foi identificada alteração no equilíbrio (PRIM et
al., 2016). Por fim, toda a coleta de dados foi analisada conforme os resultados contidos em toda
avaliação.
3. RESULTADOS E DISCUSÃO
Participaram do estudo 6 indivíduos, sendo 5 do sexo masculino e 1 do sexo feminino, com
amputação de membro inferior de forma unilateral ou bilateral, todos protetizados. No decorrer da
pesquisa, embora tenha havido acesso a uma grande quantidade de pacientes com amputação, houve
uma limitação no estudo, pois a grande maioria não fazia uso da prótese por não se adaptarem a ela
ou por não estarem na fase de protetização, sendo um dos critérios importantes a utilização da prótese
para participação do presente estudo. Silva et al. (2020), relataram em sua pesquisa que alguns
indivíduos amputados não fazem uso da prótese por conta do peso do dispositivo, como também,
devido ao fato deos indivíduosamputados hámais tempo apresentarem atendência aseacostumarem
com o uso da prótese. Outro fator desfavorável ao uso da prótese é o aumento da temperatura na
região do coto, edemaealterações nadeambulação no momento demobilidadeetransferências (LUZ
et al. 2019). Por conta desses fatores, muitos indivíduos amputados não usam a prótese, aumentando
de certa forma o desuso do dispositivo.
As faixas etárias dos indivíduos participantes deste estudo foram de 18 a 50 anos, com
predomínio de (50%) entre 40 a 50 anos, sendo a maioria residente na cidade de Maringá. Quanto ao
sexo a prevalência foi maior para o sexo masculino (83,3%). A etiologia da amputação de 5 desses
participantes (90%) foi deorigem traumáticapor acidentee1 (10%) por quadro infeccioso decorrente
a um acidente no passado. De acordo com Gebreslassie et al. (2018), a faixa etária com mais
prevalência em caso de amputações é de 16-30 e 46-60 anos, podendo ter alterações com base nas
diferentes causas de amputação. Inclusive indivíduos mais jovens estão mais suscetíveis a fatores
externos ocasionados pela grande prevalência de incidentes (VARMA et al. 2015). Carvalho et al.
(2020) comprovaram que o sexo masculino é mais acometido pela amputação, quando comparado
ao sexo feminino devido ao estilo de vida dos homens, os quais são mais expostos a atividades que
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ocasionam lesões traumáticas facilmente, como também em decorrência de falta de cuidados com a
saúde.
Segundo Portela (2017) existem várias causas que levam a uma amputação, sendo a mais
frequente de etiologia traumática por acidentes decorrentes ao esmagamento, avulsões ou lesões
diretas nos membros. Os acidentes com ocorrência no trânsito por motocicletas são de grande
prevalência na população jovem. Salienta-se que no município de Maringá-PR há um grande número
de acidentes de trânsito, sendo de alta prevalência para os homens jovens com motocicleta por conta
do tráfego intenso de deslocamentos a trabalho e universitário no período diurno (LUZ et al. 2021;
MELLO; MENDONÇA, 2021). Já outra causa da amputação, é decorrente da infecção óssea
conhecida como osteomielite, a qual gera destruição de forma progressiva do osso cortical e cavidade
medular, decorrente de fraturas expostas nas quais podem evoluir para necrose óssea, levando à
amputação de membros acometidos (SANTOS et al. 2021).
Outro fator importante a ser relatado é a mensuração do Índice de Massa Corporal (IMC) em
amputados. Segundo os valores de referência do IMC, três participantes apresentaram obesidade grau
II, tendo resultados > 30; dois indivíduos apresentaram sobrepeso, tendo resultados > 26 e apenas um
participante apresentou peso normal, com valor de 21,7. Gomes et al. (2005) abordaram em seu
estudo sobre a importância do controle de peso em indivíduos amputados, pois se o mesmo estiver
acima do peso pode ocasionar diversas alterações, como diminuição da massa muscular, perda de
densidade óssea, aumento da fadiga em atividades diárias e risco elevado de lesões e infecções,
alterando a utilização da prótese diariamente. Também vale ressaltar que o indivíduo amputado tem
uma nova distribuição corporal pela falta do membro, sendo assim, esses indivíduos devem manter
o peso ideal, ajudando-os no uso dapróteseeem suas atividades devida diária. Paraquehaja controle
de peso desses pacientes, é necessário que os indivíduos mantenham uma alimentação adequada e
realizem exercícios físicos. No entanto, algumas restrições são descritas por conta das limitações
funcionais que os indivíduos apresentam, como dores, medicamentos ingeridos e até falta de
orientação nutricional
,
como também alteração do aspecto psicossocial por não conseguirem realizar
algumas atividades (LOURENÇO, 2017). Sendo assim, indivíduos com deficiência física que
praticam exercícios físicos como o paratletismo são beneficiados quando comparados a indivíduos
não praticantes, tendo melhora em seu estilo de vida, no índice de massa corporal (IMC), na pressão
arterial sistólica, prevenção e controle da diabetes mellitus e diminuição no risco de doenças (DIAZ
et al. 2019).
Outro aspecto muito importante após a amputação são os impactos físicos ocasionados,
expostos no Gráfico 1. No presente estudo pode-se observar um alto índice de dor fantasma relatada
pelos participantes, estando presente em três dos indivíduos (60%), e os demais relataram dor em
membros inferiores e na região do coto. De acordo com Barbin et al. (2016), o membro amputado
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Análise da descarga de peso e equilíbrio em indivíduos amputados na fase de protetização
desencadeia dores de diversas maneiras, podendo ser dores localizadas na região do coto ou
projetadas, como ador fantasma, podendo afetar (50%) dos pacientes, resultando em malefícios como
o aumento nas restrições de atividades, levando ao comprometimento na interação social e
profissional do indivíduo. Segundo Grzebiey et al. (2017), a qualidade de vida dos pacientes que
apresentam dor fantasma é prejudicada, pois na deambulação percorrem distâncias menores do que
os indivíduos que não apresentam esta característica. A dor e sensação fantasma são fatores que
devem ser levados em consideração no momento da reabilitação. Nesse sentido, o fisioterapeuta é
um profissional qualificado que dispõe de diferentes técnicas terapêuticas para beneficiar esse
paciente, como a exemplo a terapia do espelho. Essa técnica tem se mostrado eficaz, promovendo a
reintegração dos sistemas sensoriais e motores, ajudando na restauração da imagem corporal através
da ilusão visual (ZAHEER et al. 2021).
Gráfico 1- Impactos físicos que afetam indivíduos amputados.
Ademais, vale ressaltar que o paciente amputado tende a apresentar assimetria na descarga de
peso do membro íntegro quando comparado ao membro protetizado, sendo considerado outro
impacto físico apresentado por essa população. Em nosso estudo esse dado foi bem evidenciado,
onde 100% dos participantes apresentaram assimetria. A média da porcentagem de descarga de peso
Fonte: Autoras (2022)
20%60%
20%
Dor fantasmaDor em membros inferioresDor em região do coto
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foi de 83,75% no membro íntegro. Já no membro protetizado a média da porcentagem da descarga
de peso foi de 33,33%. Tendo em vista a relação do desequilíbrio na descarga de peso com o tempo
de protetização, observa-se que indivíduos que utilizam a prótese há dois anos apresentaram
desequilíbrio de 24,66% do peso do corpo no membro íntegro e 33,20% no membro protetizado; já
o indivíduo com dez anos de amputação apresentou desequilíbrio de 24,37% no membro intacto e
35,68% no membro amputado. Os indivíduos com menor tempo de amputação, estando eles
amputados há aproximadamente um ano, apresentaram porcentagem de 50,97% de desequilíbrio da
descarga de peso no membro íntegro e 31,12% do peso do corpo no membro amputado. Ao analisar
a correlação entre a descarga de peso do membro amputado, membro não-amputado e o tempo de
amputação (Tabela 1), observou-se a correlação negativa e fraca entre a descarga de peso do membro
amputado e o tempo de amputação (r = -0,37). Quando o resultado é negativo há uma associação
inversa no resultado, ou seja, quanto maior o tempo de amputação, menor será a descarga de peso no
membro amputado. A correlação fraca e positiva entre a descarga de peso do membro não-amputado
e o tempo de amputação (r = 0,15), demonstra que o valor de um resultado está associado ao outro.
Sendo assim, quanto maior o tempo de amputação, maior é a tendência do indivíduo a descarregar o
peso corporal no membro não amputado. No entanto, tais correlações não foram significativas (p >
0,05), podendo relacionar tal fato ao tamanho da amostra que foi pequena.
Variáveis
Tempo de amputação
Tabela 1 - Correlação de Pearson entre a descarga de peso do membro amputado, membro não-amputado e
o tempo de amputação
Membro amputado
-0,37
Membro não-amputado
0,15
Tempo de amputação
-
*Correlação significativa (p < 0,05) – Correlação de Pearson.
Fonte: Autoras (2022)
Em relação aos resultados expostos do tempo de protetização em comparação à descarga de
peso dos membros inferiores, nota-se que os sujeitos amputados há mais de dois anos não apresentam
grandes assimetrias na descarga de peso entre o membro íntegro e o protetizado, mas aqueles com
menos tempo de amputação apresentaram assimetrias maiores. Baraúna et al. (2006) explicam em
seu estudo que quanto maior o tempo da amputação, menores são as porcentagens nos desequilíbrios
da descarga de peso. Esses fatores podem estar relacionados a alterações sofridas por indivíduos
amputados, como a exemplo, a perda da propriocepção da pele, do tecido subcutâneo, das
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Análise da descarga de peso e equilíbrio em indivíduos amputados na fase de protetização
articulações, tendões e dos músculos. Como consequência, pode haver uma sobrecarga no membro
íntegro, aumentando assim a descarga de peso nesse segmento corporal. Gailey et al. (2008)
explicaram em seu trabalho que esse aumento da descarga de peso no membro intacto pode trazer
complicações secundárias, podendo destacar, dentre outras alterações musculoesqueléticas, a
osteoartrite e a osteoartrose, sendo de grande importância a reabilitação precoce a esses indivíduos.
Outro impacto físico que os indivíduos amputados apresentaram neste estudo foi o déficit do
equilíbrio corporal, exposto no gráfico 2, pois nos testes específicos, como o Romberg, Romberg
sensibilizado e TUG alguns participantes apresentaram déficit de equilíbrio em pelo menos um dos
testes realizados. Já outros sujeitos com mais alterações obtiveram resultados positivos em todos os
testes, resultando a falta do equilíbrio. De acordo com Butowicz et al. (2021), após a perda do
membro inferior, ocorrem prejuízos na integração e limitações mecânicas, afetando o controle de
equilíbrio, desencadeando incapacidade na recuperação do centro de massa na base de sustentação.
Da mesma forma, indivíduos amputados apresentam amplo déficit motor, estando entre eles, o baixo
equilíbrio no qual pode desencadear uma marcha assimétrica e risco de quedas, afetando diretamente
sua mobilidade e a capacidade em participar de atividades sociais (CHEE et al. 2022).
Visto que os indivíduos amputados apresentam um comprometimento de sua qualidade de
vida por conta das alterações apresentadas, a fisioterapia tem um papel importante para trazer
melhorias nas disfunções apresentadas por cada amputado. O tratamento fisioterapêutico pode ser
incluído tanto na fase de pré-protetização e protetização quanto na fase de pós-protetização. Klarich
e Brueckner (2014) abordaram em seu estudo sobre a importância da reabilitação pré-protética para
educar o paciente no processo de tratamento até o uso da prótese, enfatizando o posicionamento
Gráfico 2- Alteração de equilíbrio dos participantes
Fonte: Autoras (2022)
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correto do membro, o treino de transferência e mobilidade, a mobilização da cicatriz, o modelamento
do coto eotreino deforça, paraqueo indivíduo consigautilizar suaprótesedamelhorformapossível.
Vale ressaltar também o quão importante é o tratamento fisioterapêutico na fase de
protetização, sendo incluídos exercícios de fortalecimento dos membros, de amplitudes de
movimento e de equilíbrio, como também o treino de marcha, auxiliando e orientando a execução da
mesma. Essas abordagens trazem melhorias na deambulação de forma independente, como também
nas suas atividades de vida diária, consequentemente na qualidade de vida do indivíduo amputado
(ULGER et al. 2018). Na fase de pós-protetização é enfatizado o treino de equilíbrio e propriocepção
para que as funções alcançadas sejam mantidas, como também melhora na independência com a
prótese e no retorno de suas atividades e de lazer, promovendo seu deslocamento com conforto e
segurança de maneira funcional (VIEIRA et al. 2017).
4. CONCLUSÃO
Os indivíduos amputados apresentam mudanças em aspectos físicos e sociais, quetendeao ganho
de peso corporal e consequentemente uma alteração no seu IMC. Adicionalmente, outros fatores
impactam esses indivíduos, podendo destacar a dor fantasma e dor em região do coto, déficits na
descarga de peso do membro amputado e do membro não amputado. Esses fatores trazem prejuízo
ao equilíbrio corporal, influenciando diretamente sua vida social. Sendo assim, a fisioterapia tem um
papel essencial na reabilitação em todas as fases da protetização, possibilitando melhora nas suas
disfunções e na qualidade de vida do paciente.
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