Arquivos do Mudi, v. 27, n. 1, p. 29-41, ano 2023
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ARTIGO ORIGINAL
Aceito em: 24/01/2023 Publicado em: 15/04/2023
DEVELOPMENTS OF PREMENSTRUAL SYNDROME ON MENTAL HEALTH AND SLEEP: A
SYSTEMATIC REVIEW
Abstract
Premenstrual Syndrome (PMS) is characterized by physical, behavioral, and emotional symptoms that affect women
during the luteal phase of the menstrual cycle. Symptoms vary between individuals, but may include bloating, weight
gain, fatigue, headaches and abdominal pain, mood swings, anxiety, and depression. Additionally, hormonal fluctuations
during the menstrual cycle can affect the quality of sleep, leading to negative effects on individuals' health and well-
being. The objective was to analyze, by means of a Systematic Review, whether aspects such as sleep deprivation, stress,
and anxiety are related to premenstrual syndrome. It was investigated in the Biblioteca Virtual em Saúde (BVS)
databases. The Health Sciences Descriptors that were used were “Premenstrual Syndrome”, “sleep deprivation”,
“anxiety”, “stress” and “menstrual cycle”, which were associated with the boolean operator "AND". The searches resulted
in 369 articles, of which 21 were used for the composition of the study. It was evident that sleep deprivation, stress and
anxiety are related to PMS. In addition, studies were found pointing out that everyday aspects, nutritional conditions and
other neurological disorders (such as depression and binge eating) affect and can be affected by premenstrual syndrome
symptoms. Promising treatments for the symptomatology of PMS were also the focus of several articles found, which
used different therapies. In conclusion, the premenstrual syndrome is associated with several factors, but this theme has
numerous controversies and divergent scientific interests, which impacts the quantity and quality of studies available on
the female reproductive cycle and its developments.
Keywords: Premenstrual syndrome, sleep deprivation, anxiety, stress, menstrual cycle
DESDOBRAMENTOS DA SÍNDROME PRÉ-MENSTRUAL SOBRE A SAÚDE
MENTAL E O SONO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
Isadora Laguila Altoé
Universidade Estadual de Maringá,
Campus Sede
isadoralaltoe@gmail.com
Sônia Trannin de Mello
Universidade Estadual de Maringá,
Campus Sede
stemello@uem.br
Pamella Francisquini Gardin
Universidade Estadual de Maringá,
Campus Sede
ra123723@uem.br
Resumo
A Síndrome Pré-Menstrual (SPM) é caracterizada por sintomas físicos,
comportamentais e emocionais que afetam as mulheres durante a fase lútea
do ciclo menstrual. Os sintomas variam entre as pessoas, mas incluem
inchaço, ganho de peso, fadiga, dores de cabeça e abdominais, alterações de
humor, ansiedade e depressão. Além disso, as oscilações hormonais durante
o ciclo menstrual podem afetar a qualidade do sono, podendo levar a efeitos
negativos na saúde e bem-estar dos indivíduos. O objetivo foi analisar,
mediante Revisão Sistemática, se aspectos como privação de sono, estresse e
ansiedade estão relacionados com a ndrome pré-menstrual. Investigou-se
na base de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Foram utilizados os
Descritores em Ciências da Saúde “Síndrome Pré-menstrual”, “privação de
sono”, “ansiedade”, "estresse" e "ciclo menstrual”, que foram associados ao
operador booleano “AND”. As buscas resultaram em 369 artigos, dos quais
21 foram utilizados para a composição do estudo. Ficou evidente que a
privação de sono, estresse e ansiedade possuem relação com a SPM. Além
disso, encontrou-se estudos ressaltando que aspectos cotidianos, condições
nutricionais e outros transtornos neurológicos (como depressão e compulsão
alimentar) afetam e podem ser afetados pelos sintomas da síndrome pré-
menstrual. Tratamentos promissores para a sintomatologia da SPM também
foram foco de vários artigos encontrados, os quais utilizaram diferentes
terapêuticas. Conclui-se que a síndrome pré-menstrual se associa a diversos
fatores, porém essa temática possui inúmeras controvérsias e interesses
científicos divergentes o que impacta a quantidade e a qualidade de estudos
disponíveis sobre o ciclo reprodutivo feminino e seus desdobramentos.
Palavras-chave: Síndrome pré-menstrual; privação de sono; ansiedade;
estresse; ciclo menstrual.
Desdobramentos da síndrome pré-menstrual sobre a saúde mental e o sono: uma revisão sistemática
Arquivos do Mudi, v. 27, n. 1, p. 29-41, ano 2023
1. INTRODUÇÃO
A síndrome pré-menstrual (SPM) é caracterizada por sintomas físicos, comportamentais e
emocionais, os quais podem progredir de moderados a graves. Têm início na fase lútea do ciclo menstrual
e terminam com a chegada da menstruação (RYU; KIM, 2015). Considerando que a intensidade dos
sintomas e sinais encontrados são muito variáveis entre as pessoas que menstruam, destacam-se: inchaço,
ganho de peso, fadiga, aumento do tamanho e da sensibilidade das mamas, dores de cabeça e abdominais,
alteração do apetite, acne, irritabilidade, mudanças de humor repentina, ansiedade e, a mesmo,
depressão (AMB, 2011).
Nesse contexto, respostas do organismo feminino às alterações nos níveis de estrógeno e
progesterona são, de certa maneira, responsáveis pelos sintomas de tensão pré-menstrual (YONKERS;
SIMONI, 2018).
Outro aspecto relacionado à SPM são alterações nos padrões de sono, as quais são desencadeadas
pelas oscilações hormonais durante o ciclo sexual, ocasionando maiores prejuízos no bem-estar dos
indivíduos (MALVEN; SAWYER, 1966). Perturbações na qualidade do sono causam efeitos negativos
com alterações do equilíbrio interno, diminuição da resposta imune, alterações do humor e dificuldades
de memória. Com isso, os transtornos do sono têm sido tema de muitas pesquisas no Brasil e no mundo,
tendo em vista todas essas repercussões negativas que a sua supressão causa (CELLINI et al., 2020).
É consenso que o estrogênio protege funções cerebrais envolvidas no humor, na cognição e na
qualidade do sono. Também se verificou que fatores externos como a pandemia da COVID-19 interferem
na quantidade e qualidade de sono, haja vista que o isolamento social, com flexibilidade de horários para
o trabalho, contribuiu para mudanças nos horários de dormir e acordar, resultando em alterações negativas
no padrão de sono, em mulheres com idade superior a trinta anos, culminando com alterações do humor,
aumento da ansiedade e risco aumentado para depressão (BELENELLO; BERNARDI; MELLO, 2022).
Como observado, a ansiedade e o estresse são transtornos mentais que podem estar associados à
síndrome pré-menstrual e a eventos externos, tanto como consequência quanto como causa.
Inevitavelmente, tais sintomas afetam a qualidade de vida e o cotidiano de quem enfrenta o ciclo menstrual
(MARVÁN; MOLINA-ABOLNIK, 2012).
Dentro deste cenário, realizou-se uma revisão sistemática com o objetivo de reunir e analisar estudos
sobre as relações entre SPM, privação de sono, ansiedade e estresse.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de uma Revisão Sistemática, pois apresenta-se como uma investigação da literatura que
permite a síntese cautelosa das informações disponíveis sobre um problema específico, neste caso, a
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influência da SPM sobre o sono e suas relações com o estresse e ansiedade, servindo para auxiliar no
desenvolvimento das evidências científicas (GONÇALVES; NASCIMENTO; NASCIMENTO, 2015).
Para o presente estudo, alguns passos foram estabelecidos. Inicialmente, a fim de delimitar o foco
da pesquisa, formulou-se a seguinte questão: há estudos que relacionam a SPM com a privação de sono,
além de ansiedade e estresse na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS)?
Esta base de dados, além de gratuita, é uma das mais completas quando se contempla o campo da
saúde, o que legitima a sua utilização neste artigo. A coleta de dados foi realizada no dia 17 de março de
2022, fazendo uso dos descritores a seguir: PMS e sleep deprivation, PMS e anxiety, PMS e stress,
menstrual cycle e sleep deprivation, todos associados com o operador lógico booleano and.
Como resultado da pesquisa, seis mil trezentos e cinquenta e quatro (6354) artigos foram
encontrados somando-se todos os cruzamentos entre os descritores, sendo assim, foi necessário
estabelecer certos refinamentos: Definiu-se o idioma inglês e restringiu-se a pesquisa aos estudos mais
atuais, entre os anos de 2020 e 2022. Essa etapa resultou em trezentos e sessenta e nove (369) artigos,
sendo 1 achado entre PMS x sleep deprivation; 133 entre PMS x anxiety; 234 entre PMS x stress; 1 entre
menstrual cycle x sleep deprivation.
Em seguida, selecionou-se através dos títulos e resumos, os artigos que abrangiam a temática
proposta. Apesar do uso dos descritores e do operador booleano, ainda foram capturadas produções que
fugiam do tema e trabalhos repetidos entre os cruzamentos, resultando no fim 43 estudos para serem lidos
na íntegra. Em virtude da leitura e avaliação desses artigos, ainda foi necessário eliminar mais 22
pesquisas, as quais destoavam do tema ou não tinham livre acesso, contabilizando 21 artigos selecionados
para a Revisão Sistemática de fato.
3. RESULTADOS
Esse estudo de Revisão Sistemática foi composto por 12 artigos, os quais estão expostos no
Quadro 1.
Quadro 1. Caracterização geral dos vinte e um artigos selecionados.
N
Autor/Ano
Resultado
1
Swift et al.
(2020)
Estudo concluiu que o ciclo estral tem
enorme efeito sobre o sono, alterando
a sua arquitetura, espectros de
potência do sono NREM e REM,
coerência inter-regional e densidade
do fuso do sono, correlações de inter-
regional, frequência e comprimento
do fuso principalmente em fêmeas.
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2
Aolymat,
Khasawneh e Al-
Tamimi (2022)
Mostrou que o sofrimento
psicológico relacionado à pandemia
da COVID-19 e os sintomas
menstruais, pré-menstruais e
geniturinários estão intimamente
relacionados, piorando seus quadros.
3
Korelo et al
(2022)
Os participantes tanto do grupo
placebo quanto do que participou da
auriculoterapia apresentaram queda
de intensidade em sintomas de SPM,
em dores musculoesqueléticas e
ansiedade.
4
Meng et al (2022)
Estudo revelou que a atitude em
relação à menstruação (incômoda e
previsível) pode afetar a resposta do
SNA percebida pelas mulheres, e isso
pode ser um fator de risco da SPM.
Além disso, a reação desequilibrada
do SNA pode resultar em sua
incapacidade de lidar com estímulos
estressantes e experiências
emocionais, outro fator de risco para
a SPM.
5
Noviyanti et al
(2021)
Pesquisa indicou que o valor médio
do hormônio estrogênio foi maior em
meninas que apresentaram SPM em
relação às que não, além do fato que
os níveis de tal hormônio foram mais
altos proporcionalmente à
intensidade dos sintomas.
6
Koohpayeh et al
(2021)
Notou-se ausência de efeitos
significativos quando se trata de
dores pré menstruais e ansiedade.
Porém, contra dores de cabeça, fadiga
e o inchaço decorrentes da PMS, o
uso de tal planta obteve sucesso.
7
Badrasawi et al
(2021)
Revelou que os sintomas
psicológicos e físicos moderados e
graves da SPM foram
significativamente mais prevalentes
entre as mulheres com compulsão
alimentar.
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8
Sadeghi et al
(2021)
Concluiu-se que a suplementação de
PMS50 pode ser eficaz na redução
dos sintomas psicológicos da SPM,
visto que melhorou
significativamente a depressão, raiva,
ansiedade e mudanças de humor, por
exemplo.
9
Hardy e Hunter
(2021)
Verificou-se que a maior gravidade
dos sintomas foi significativamente
associada ao baixo escore de
presenteísmo, intenção de reduzir a
jornada de trabalho e maior ausência
no trabalho. Além disso, algumas
variáveis individuais e relacionadas
com o trabalho foram associadas à
gravidade dos sintomas pré-
menstruais. Por fim, expõe a
importância da conscientização e
aceitação dos sintomas pré-
menstruais e as potenciais
dificuldades que podem causar para
alguns funcionários pelas empresas.
10
Iba et al (2021)
Pesquisa indicou que o EE-IHW, em
contrapartida ao WE-IHW, atenua o
comportamento do tipo ansiedade
induzido pela PWD, aumentando a
sinalização mediada pelo receptor
GABAA via aumentos na subunidade
β2 e BDNF na amígdala.
11
Abbas et al
(2020)
Verificou-se que uma atitude
geralmente negativa no que se refere
ao fenômeno da menstruação,
afetando significativamente a vida
cotidiana das mulheres nesse estudo.
A pesquisa também exibe que
dismenorreia, fadiga, irritabilidade e
ansiedade foram os sintomas mais
comuns de SPM experimentados.
12
Majeed-Saidan et
al (2020)
Revelou-se que uma correlação
positiva entre a SPM e ansiedade,
depressão e estresse. Os escores de
depressão e estresse variam
significativamente entre estudantes
de medicina e estudantes de outros
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cursos.
13
Abootalebi,
Dehghani e
Akbarzadeh
(2020)
Concluiu-se que a intervenção
adequada, com os programas de
treinamento e assistência à saúde
mental, são eficazes entre meninas
com síndrome pré-menstrual. Eles
auxiliam na redução da média de
ansiedade e distúrbios do sono.
14
Zhang et al
(2020)
O estudo expõe o paeonol como um
potencial composto terapêutico para
SPM/TDPM.
15
Tully, Humiston
e Cash (2020)
A pesquisa revelou que a
suplementação de
oxaloacetato/vitamina C durante a
SPM melhorou significativamente os
sintomas emocionais associados.
16
Es-Haghee et al
(2020)
O estudo conclui que a aromaterapia
é uma ferramenta efetiva na
diminuição dos efeitos e sintomas da
SPM.
17
Aperribai e
Alonso-Arbiol
(2020)
Os resultados mostraram que todas as
variáveis de saúde estudadas e as
estratégias de enfrentamento foram
significativamente correlacionadas à
Sintomatologia Negativa da TPM.
18
Isgin-Atici et al
(2020)
O estudo sugeriu que adolescentes
com dieta de alta qualidade podem
apresentar menos sentimentos
depressivos, ansiedade ou alterações
de sono quando comparados àqueles
com dietas de baixa qualidade.
19
Shah, Christian
(2020)
Os sintomas mais comuns observados
foram irritabilidade, dor de cabeça e
sensibilidade nas mamas. O
comprometimento funcional mais
comum foi a eficiência no
trabalho/estudos ou a produtividade.
O uso de álcool e tabaco tiveram
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significativa associação com severa
SPM. O tipo de dieta não apresentou
associação significativa com SPM.
20
Bahrami et al
(2020)
Verificou-se que a vitamina A está
intimamente relacionada à SPM.
Ademais, concluiu-se que os
processos inflamatórios podem
contribuir para a etiologia, sintomas e
gravidade dos distúrbios menstruais.
21
Jafari, Amani e
Tarrahi (2020)
A suplementação de zinco em
mulheres com síndrome pré-
menstrual teve efeitos benéficos nos
sintomas físicos e psicológicos da
SPM, na capacidade antioxidante
total e no fator neurotrófico derivado
do cérebro.
4. DISCUSSÃO
A análise de resultados permitiu constatar a falta de literatura científica, produzida nos últimos 3
anos, acerca do vínculo entre privação de sono e Síndrome Pré-Menstrual (SPM). À vista disso,
encontrou-se um único estudo com o tema próximo do procurado, que diz respeito à relação entre sono e
sintomas pré-menstruais em ratos e não em seres humanos. Talvez fruto da dificuldade em aplicar tais
testes em organismos tão complexos como os seres humanos, pela alta carga de viés nesse tipo de pesquisa
ou, até mesmo, pela falta de interesse em estudar o ciclo reprodutivo feminino. Embora as dificuldades
mencionadas alhures, as buscas demonstram-se promissoras em modelos animais, desse modo, o estudo
de Swift et al (2020),, concluiu que o ciclo estral ¨análogo¨ ao ciclo menstrual de humanos tem enorme
efeito sobre o sono alterando a sua arquitetura, espectros de potência do sono NREM e REM, coerência
inter-regional e densidade do fuso do sono, correlações de inter-regional, frequência e comprimento do
fuso principalmente em fêmeas.
Ao considerar a relação de causa e consequência envolvendo o estresse e os sintomas da SPM, foi
constatado que essa relação é positiva, capaz de afetar significativamente a qualidade de vida das
mulheres. Um dos estudos encontrados revelou que a atitude em relação à menstruação (incômoda e
previsível) pode afetar a resposta do sistema nervoso autônomo (SNA) percebida pelas mulheres, e isso
pode ser um fator de risco da SPM (MENG et al, 2022).
Além disso, a reação desequilibrada entre o processamento neural dos sentimentos e a resposta do
SNA pode resultar na incapacidade do primeiro em lidar com estímulos estressantes e experiências
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emocionais, outro fator de risco para a SPM (KANDEL, 2014).
Analisando o contexto contemporâneo, identificou-se uma pesquisa focada na pandemia causada
pelo SARS-CoV-2, a qual mostrou que o sofrimento psicológico relacionado à pandemia da COVID-19
e os sintomas menstruais, pré-menstruais e geniturinários estão intimamente relacionados, piorando seus
quadros (AOLYMA; KHASAWNEH; AL-TAMIMI, 2022).
Nesse contexto, outro fator preponderante na revisão sistemática em questão foram os transtornos
psicológicos, tais quais a ansiedade e o distúrbio de compulsão alimentar. Segundo Majeed-Saidan et al
(2020), uma correlação positiva entre a SPM e ansiedade, depressão e estresse. Um artigo corrobora
com este fato ao constatar, em um estudo com mulheres durante a pandemia da COVID 19, que 78% das
participantes com distúrbio do sono se encontravam em uma condição média de ansiedade enquanto
estado e traço. Vinte e dois por cento apresentaram alto estado de ansiedade enquanto estado e 11%,
enquanto traço (BELENELLO; BERNARDI; MELLO, 2022). Ademais, foi notado que os escores de
depressão e estresse variam significativamente entre estudantes de medicina e estudantes de outros cursos
(MAJEED-SAIDAN et al, 2020).
Ademais, ao investigar a relação entre SPM e algumas variáveis de saúde mental ansiedade,
depressão e neuroticismo e suas estratégias de enfrentamento, os resultados mostraram que todas as
variáveis de saúde estudadas e as estratégias de enfrentamento foram significativamente correlacionadas
à sintomatologia relatada na fase pré-menstrual (APERRIBAI e ALONSO-ARBIOL, 2020). Durante a
infância a proporção de depressão entre meninos e meninas se mantém a mesma, contudo, após a
puberdade, acomete mais comumente o sexo feminino, haja vista que mulheres enfrentam uma
bipolaridade hormonal, enquanto o organismo masculino produz um único hormônio sexual, a
testosterona (KANDEL, 2014).
Durante a fase folicular do ciclo menstrual o estrogênio predomina. na fase lútea a predominância
é da progesterona. O estrógeno, entre outras funções, atua como um protetor da saúde mental,
contribuindo para que as mulheres fiquem mais ativas e com maior estabilidade de humor. Quando a
produção deste hormônio cai, tem-se maior probabilidade de alterações do humor, aumento da tristeza,
angústia e agressividade, predispondo-as a depressão e outros transtornos como as distimias
(MACHADO, 2022; KANDEL, 2014; BEAR et al, 2008)
Para Badrasawi et al (2021), o qual teve como foco a compulsão alimentar, os sintomas psicológicos
e físicos moderados e graves da SPM foram significativamente mais prevalentes entre as mulheres com
o distúrbio supracitado. Nesta perspectiva, não se pode desconsiderar a relação existente entre o corpo e
a psique, a interação entre a doença física e o estado psicológico, como defendia Jung (2009, p. 194):
“Um funcionamento inadequado da psique pode causar tremendos prejuízos ao corpo, da mesma forma
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que, inversamente, um sofrimento corporal pode afetar a psique; pois a psique e o corpo não estão
separados, mas são animados por uma mesma vida. Assim sendo, é rara a doença corporal que não revele
complicações psíquicas, mesmo quando não seja psiquicamente causada”.
No que tange às alterações fisiológicas que impactam à síndrome pré-menstrual, foram encontrados
dois artigos. Um deles indicou que o valor médio do hormônio estrogênio foi maior em meninas que
apresentaram SPM em relação às que não, além do fato que os níveis de tal hormônio foram mais altos
proporcionalmente à intensidade dos sintomas da síndrome (NOVIYANTI et al, 2021). O outro, verificou
que a vitamina A está intimamente relacionada à SPM e concluiu que os processos inflamatórios podem
contribuir para a etiologia, sintomas e gravidade dos distúrbios menstruais (BAHRAMI et al, 2020).
Outrossim, foi visível que os aspectos nutricionais também se vinculam aos sintomas pré-
menstruais. Sugeriu-se que adolescentes com dieta de alta qualidade podem apresentar menos sentimentos
depressivos, ansiedade ou alterações de sono quando comparados àqueles com dietas de baixa qualidade
(ISGIN-ATICI et al. 2020). Groez (2012) corrobora ao observar que em mulheres existe uma relação
entre o aumento do estresse com o maior consumo de alimentos não nutritivos e dos episódios
compulsivos.
Aspectos do cotidiano são também afetados pela SPM. Verificou-se que a maior gravidade dos
sintomas pré-menstruais (além das variáveis individuais e relacionadas com o trabalho) foi
significativamente associada ao baixo escore de presenteísmo e intenção de reduzir a jornada de trabalho
(HARDY e HUNTER, 2021). Foi encontrado, ainda, que uma atitude negativa no que se refere ao
fenômeno da menstruação, afeta significativamente a vida cotidiana das mulheres (ABBAS et al, 2020).
Por fim, evidenciou-se que o comprometimento funcional mais comum decorrente da menstruação foi a
eficiência no trabalho e estudos. O uso de álcool e tabaco também tiveram significativa associação com a
SPM severa e, neste artigo, o tipo de dieta não apresentou relação significativa (SHAH e CHRISTIAN,
2020).
Um aspecto muito notável, durante a pesquisa para a realização da revisão sistemática, foi a
quantidade de artigos que abordaram possíveis tratamentos para os sintomas relacionados à síndrome pré-
menstrual. Ao todo foram encontrados 9 estudos, os quais utilizaram como terapêutica: auriculoterapia,
fitoterapia, suplementação, aromaterapia, medicamentos e assistência à saúde mental.
Kahneman (2021), chama a atenção sobre o impacto da variabilidade (ruído de sistema) nos
diagnósticos médicos, na ciência forense, no judiciário, etc. No ruído de sistema o instrumento de medida
é uma mente humana e envolve o julgamento de diferentes pessoas sobre o mesmo contexto, culminando
em dispersão do resultado quando se esperaria uma resposta próxima: "para um mesmo paciente,
diferentes médicos oferecem diferentes julgamentos sobre câncer de mama, cardiopatia, depressão, etc.;
sentenças para um mesmo caso apresentam pena de 5 anos para um e liberdade condicional para o outro;
examinadores de digitais divergem quando comparam a impressão encontrada na cena do crime com a de
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um suspeito e um mesmo especialista toma decisões inconsistentes ao examinar a mesma digital em
ocasiões diferentes"
Acrescenta ainda que em discussões públicas sobre o erro humano, o viés rouba a cena, sendo
debatido em milhares de artigos científicos e livros, mas poucos mencionam o ruído, apesar do impacto
negativo e relevante na vida das pessoas. A infinita variedade de formação, personalidade e experiência
que nos torna únicos também nos torna, inevitavelmente, ruidosos. Dentro deste cenário, o autor propõe
que a busca pela redução do ruído deve, necessariamente, iniciar com a higiene da decisão: "assim como
a higiene comum previne contra inimigos não identificados, a higiene da decisão previne ruídos
indesejáveis sem saber quais são."
Com isso, a revisão da literatura demonstra que o assunto está longe de um consenso, com
controvérsias sobre os fatores de risco e de proteção envolvidos, bem como sobre o nível de limitação que
a SPM traz para a vida das mulheres (AMB, 2011). Porém, é um tema de elevada relevância para a
pesquisa médica e para a sociedade como um todo, necessitando mais estudos na área a fim de alcançar
resultados e informações mais concretas e menos ruidosas.
5. CONCLUSÃO
A síndrome pré-menstrual é uma manifestação fisiológica do organismo feminino que impacta as
mais amplas instâncias da vida cotidiana, como trabalho, estudos e vida social. Através da presente
revisão, constatou-se que ela ainda pode ser agravada por diversos fatores, tais como privação de sono,
ansiedade, estresse, hábitos alimentares e alterações hormonais. Além disso, notou-se evolução nas
terapêuticas voltadas à SPM, constando na literatura científica tratamentos convencionais e alternativos
que podem amenizar os sintomas dessa síndrome e proporcionar uma melhor qualidade de vida às pessoas
que menstruam.
Contudo, conclui-se que a temática possui inúmeras controvérsias e interesses científicos díspares.
Desse modo, um impacto na quantidade e qualidade de estudos disponíveis sobre o ciclo reprodutivo
feminino e seus desdobramentos, necessitando de mais incentivos e pesquisas no âmbito científico a
respeito desta temática, a qual é extremamente importante para a saúde pública.
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