Arquivos do Mudi, v. 27, n. 1, p. 54-63, ano 2023
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ARTIGO ORIGINAL
Aceito em: 26/03/2023 Publicado em: 15/04/2023
QUALITY OF SLEEP AND DEPRESSIVE SYMPTOMS DURING THE PREMENSTRUAL
PERIOD - A BIBLIOGRAPHY REVIEW
Abstract
The present research addresses the aspects of female health in the premenstrual period, seeking to
understand the role of symptoms, physical and psychological, in relation to quality of life and women's
difficulty in controlling their emotions and behaviors in this period. Such a purpose can promote self-
knowledge of the female body and its most diverse phenomena. Therefore, the proposal is based on a
research carried out through a bibliographic survey of an exploratory and quantitative nature. The
review was built taking into account the stages defined by Botelho et al. (2011), in which 459 articles
were initially found and finally, after filtering, 11 articles were used for the preparation of this study.
Articles were listed, based on signs and symptoms of the premenstrual period, and their severity. In this
way, approaching this subject seeks to guarantee the self-knowledge and empowerment of the female
body, so that women know what happens in their own bodies, since menstruation has long been
considered a taboo, a “mysterious” phenomenon and without meaning. explanation.
Keywords: premenstrual tension; syndromes; menstruation
QUALIDADE DE SONO E SINTOMAS DEPRESSIVOS DURANTE O
PERÍODO PRÉ-MENSTRUAL - UMA REVISÃO DA BIBLIOGRAFIA
Giulia Meneses Menon
Universidade Estadual de Maringá,
Campus Sede
giuliammenon@gmail.com
Sônia Trannin de Mello
Universidade Estadual de Maringá,
Campus Sede
stemello@uem.br
Resumo
A presente pesquisa aborda os aspectos da saúde feminina no
período pré-menstrual, buscando entender qual a função dos
sintomas, físicos e psicológico, em relação à qualidade de vida
e a dificuldade da mulher em controlar suas emoções e seus
comportamentos nesse período. Tal propósito pode promover o
autoconhecimento do corpo feminino e seus mais diversos
fenômenos. Para tanto, a proposta tem por referência uma
pesquisa realizada por meio de um levantamento bibliográfico
de caráter exploratório e quantitativo. A revisão foi construída
levando em consideração as etapas definidas por Botelho et al.
(2011), no qual inicialmente encontrou-se 459 artigos e por
final, após filtragem, 11 artigos foram utilizados para a
elaboração deste estudo. Foi relacionado artigos, com base nos
sinais e sintomas do período pré-menstrual, e suas gravidades.
Dessa forma, abordar tal assunto busca garantir o
autoconhecimento e o empoderamento do corpo feminino, para
que as mulheres saibam o que ocorre em seus próprios corpos,
visto que, a menstruação por muito tempo fora considerada um
tabu, um fenômeno “misterioso” e sem explicação.
Palavras-chave: Tensão pré-menstrual; síndromes;
menstruação
Qualidade de sono e sintomas depressivos durante o período pré-menstrual - uma revisão da bibliografia
Arquivos do Mudi, v. 27, n. 1, p. 54-63, ano 2023
1. INTRODUÇÃO
As alterações hormonais decorrentes do ciclo menstrual feminino, além de provocar mudanças
físicas, também causa mudanças comportamentais nas mulheres, como inchaço, cólicas, mastalgia,
cefaleia, fadiga, cólica, dor articular ou muscular, raiva, tristeza, solidão, ansiedade, insônia, hipersonia,
humor depressivo, entre outros. Na fase que antecede a menstruação, denominada de “período pré-
menstrual”, a mulher começa a sentir esses sinais mencionado anteriormente, que englobam tanto
aspectos físicos, como emocionais. Contudo, esses sintomas tendem a desaparecer com o início do
sangramento menstrual, pois os níveis do hormônio progesterona que estava alto, tende a se regular
quando inicia a menstruação. (RUFFATO, 2018).
Conforme os sintomas se apresentam, eles podem variar em relação a duração e intensidade. Ou
seja, quando começam a interferir no cotidiano e nas relações interpessoais da mulher de maneira
prejudicial, passam a caracterizar como Síndrome da Tensão Pré-Menstrual (STPM) - popularmente
conhecida pela sigla TPM. Mas, existem casos mais graves, quando os sintomas se intensificam, perduram
por mais de 7 dias, caracterizam como Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (MENDES; SOUZA, 2017).
Os sinais e sintomas que levam uma mulher a perceber a STPM podem ser influenciados por fatores
sociais e culturais. Mendes e Souza (2017) corroboram ao dizer que “embora as circunstâncias e a
intensidade do impacto sofrido possam diferir entre uma e outra, o fato é que a síndrome acomete
mulheres de todo mundo”. Além disso, cada cultura e modo de organização social se refere à mulher e
aos fenômenos do corpo feminino de forma distinta, o que compromete a maneira pela qual as mulheres
entendem e se relacionam com o próprio corpo. (MENDES; SOUZA, 2017)
Segundo os diagnósticos do American College of Obstetricians and Gynecologists
1
, o diagnóstico
de Síndrome Pré-Menstrual se quando a mulher desenvolve sintomas físicos e emocionais na fase lútea
do período, e pelo menos um desses sintomas deve estar presente nos cinco dias anteriores à menstruação
e por pelo menos três ciclos menstruais consecutivos. Dentre os principais sintomas decorrentes da
síndrome, está a alteração de apetite, mastalgia, cefaleia, fadiga, cólica, dor articular ou muscular.
Emocionalmente, englobam-se crises de raiva, tristeza, solidão, ansiedade, insônia, hipersonia, humor
depressivo, labilidade afetiva acentuada, alterações libidinais, sensação de estar fora de controle, confusão
mental e falta de concentração (VICTOR, 2017).
Assim, conforme os critérios do DSM-V
2
, o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM)
enquadra-se na categoria de Transtornos Depressivos e caracteriza-se pela presença de pelo menos cinco
1
American College of Obstetricians and Gynecologists. Premenstrual syndrome [Internet]. ACOG Pract Bull. 2000
2
DSM - 5. In: MANUAL DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICO DE TRANSTORNOS MENTAIS - DSM - V. 5a edição.
American Psychiatry Association; 2013. p. 948
Menon e Mello, 2023
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dos sintomas físicos e afetivos citados anteriormente. A manifestação de tais sintomas é normal, dias antes
do início do fluxo menstrual, mas devem melhorar dias após o termino da menstruação. Caso perdure
pode ser associado a algum transtorno, ou podem estar relativamente relacionadas as perspectivas do
grupo social, cultural, familiar, crenças, dentre outros fatores na qual a mulher afetada se encontra.
Durante esse período, que engloba todas as fases do período menstrual feminino, é relevante
ressaltar a influência que o sono exerce sobre a qualidade de vida da mulher. Sendo o sono um processo
biológico, Lima e Silva (2018, p.397), esclarecem que “apresenta alternância com períodos de vigília,
modulado por hormônios e funções neuronais que modificam a temperatura corporal, produção de
hormônios e função cardíaca”. Os autores destacam ainda que, as diversas modificações no sono, podem
ter por consequência uma qualidade de vida e malefícios para a saúde dos indivíduos que não
desfrutam de um tempo de sono considerado saudável e de qualidade (LIMA; SILVA; 2018).
Considerando o cenário social atual, permeado por falsas informações que são comumente
disseminadas nas redes sociais e que estão disponíveis à população a qualquer momento, o acesso ao
conhecimento científico pode ser falho e insuficiente. Deste modo, muitas das pessoas que menstruam
desconhecem ou são bombardeadas com informações equivocadas acerca dos sintomas da Tensão Pré-
Menstrual e do Transtorno Disfórico Pré-Menstrual.
Contudo, o objetivo deste estudo foi abordar os aspectos da saúde feminina no período pré-
menstrual, buscando entender como os sintomas pode afetar na qualidade de vida e a dificuldade da
mulher em controlar suas emoções e seus comportamentos nesse período. Buscamos estabelecer uma
relação entre a fase pré-menstrual e a incidência de sintomas depressivos, que podem caracterizar o
Transtorno Disfórico Pré-Menstrual e ir além dos sintomas considerados normais desta fase. Além disso,
buscamos entender como esses sintomas podem afetar a saúde mental da mulher e como falar sobre eles
pode promover o autoconhecimento do corpo feminino e seus mais diversos fenômenos.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Este artigo consiste em uma revisão bibliográfica, de natureza descritiva e exploratória, vinculada
ao projeto intitulado “Prevenção e autocuidado na saúde reprodutiva”. De acordo com Botelho et al.
(2011), a revisão literária é essencial para a concretização do conhecimento científico, pois é deste modo
que surgem novas teorias, além de serem descobertas lacunas, que possibilitam o desenvolvimento de
novos estudos sobre determinado assunto.
A revisão foi construída levando em consideração as etapas definidas por Botelho et al. (2011)
descritas em “O método da revisão integrativa nos estudos organizacionais”, que são respectivamente: 1)
identificação do tema e das palavras-chave, a serem utilizados nas bases indexadoras; 2) utilizar critérios
de inclusão e exclusão, realizado por meio do título, resumo e palavras-chave do artigo. Quando
Qualidade de sono e sintomas depressivos durante o período pré-menstrual - uma revisão da bibliografia
Arquivos do Mudi, v. 27, n. 1, p. 54-63, ano 2023
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necessário, foi realizada a leitura do artigo na íntegra; 3) categorização dos estudos selecionados:
quantidade de sujeitos, métodos de coleta, teorias que embasaram os estudos; 4) análise e interpretação
de dados; e 5) conclusão do conhecimento.
O referencial teórico foi construído a partir de levantamento de artigos na base de dados do Portal
de Periódicos CAPES, com recorte temporal com produção dos últimos 5 anos. Os artigos de revisão, e
outros categorias, usam de fontes informação bibliográfica e eletrônica a fim de se basear cientificamente
o tema (BOTELHO; CUNHA; MACEDO, 2011).
Os artigos para a produção da pesquisa foram selecionados entre os meses de outubro a novembro
de 2021, e foram encontrados 459 artigos. Inicialmente, foram selecionados 15 artigos (Tabela 1), levando
em consideração o título e o resumo destes. No entanto, após realizar a leitura integral dos artigos, 4 deles
foram descartados, que não traziam contribuições para o desenvolvimento do estudo. Portanto, 11
artigos foram utilizados para a elaboração deste estudo (Tabela 2).
Para a pesquisa na base de dados, foram utilizados os seguintes cruzamentos entre os descritores:
insônia x período pré-menstrual; sono x sistema imune; sono x humor; sono x transtorno pré-menstrual,
psicologia x ciclo menstrual; psicologia x tensão pré-menstrual; resposta imune x período menstrual;
corpo feminino x ciclo menstrual; e menstruação x tabu. Ao relacionar as palavras-chave, utilizando o
indicador booleano “and”, não foram encontradas publicações dos últimos 5 anos na busca por “resposta
imune x período menstrual”. Além disso, foram consideradas as línguas espanhola e inglesa na seleção
dos artigos para leitura, da mesma forma que os termos utilizados na busca também foram empregados
nas respectivas línguas.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os artigos analisados revelam que o ciclo menstrual é um período no qual tanto o corpo quanto o
estado psicológico da mulher passam por diversas modificações, pois os picos hormonais durante este
período configuram mudanças no temperamento e no modo de agir. Além disso, deve-se considerar o
ambiente que a mulher está inserida, visto que ela pode estar em um contexto estressor, que contribui
ainda mais para a desestabilização de suas emoções. De acordo com Ruffato et al (2018), sintomas
emocionais do período pré-menstrual estão relacionados à diminuição dos níveis de progesterona, que
deve ocorrer para que a menstruação inicie, consequentemente, o humor feminino também sofre
modificações.
Foram encontrados estudos que relacionam separadamente aspectos do período pré-menstrual com
a qualidade de sono. Desse modo, buscamos promover uma articulação entre os dados que cada um nos
apresenta. Os artigos analisados exprimem que durante esse período, um dos sintomas característicos é a
Menon e Mello, 2023
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insônia, com dificuldade em dormir e, consequentemente, estabelecer um sono de qualidade.
De acordo com os dados encontrados a partir da pesquisa realizado por Senicato et al. (2016) as
mulheres com insônia apresentaram 4,07 de chance de apresentar Transtorno Mental Comum (TMC),
quando comparadas a mulheres que não enfrentavam insônia, evidenciando que problemas na qualidade
e duração do sono podem ser indicativos de algum transtorno mental, haja vista que àquelas que dormiam
seis ou menos horas por dia, apresentaram prevalência de TMC 2,66 vezes mais elevada do que aquelas
que dormiam sete ou mais horas (SENICATO; AZEVEDO; BARROS, 2016).
Lima e Silva (2018) salientam que neuromoduladores como a serotonina e hormônio como a
melatonina, atuam na regulação do sono e dos ritmos circadianos nos seres humanos. A serotonina, além
de regular o sono, também é responsável pela regulação dos níveis de humor, e por isso, com a sua baixa
produção durante o período que antecede a menstruação, pode-se justificar o sono irregular e a
irritabilidade das pessoas que menstruam. De acordo com Senicato et al. (2016) as pessoas do sexo
feminino têm vulnerabilidade a transtornos mentais devido a diversos fatores, e destaca-se as alterações
no sistema endócrino devido ao período pré-menstrual, pós-parto e menopausa.
Conforme apontam Mendes e Souza (2017), nos dias que antecedem à menstruação ocorrem os
sintomas psíquicos e físicos, tornando-se estes ausentes com o início do fluxo menstrual. A forma mais
conhecida de se referir aos sintomas que antecedem à menstruação é o termo TPM, que significa tensão
pré-menstrual ou ainda SPM, que significa síndrome pré-menstrual. Em muitos casos cotidianos, se diz
que a mulher “está” de TPM, quando ela expressa sentimentos de raiva, tristeza, sensibilidade e estresse.
No entanto, a TPM é definida cientificamente de forma mais complexa e vai além do estresse com
situações cotidianas. A SPM apresenta etiologia multifatorial, sendo influenciada por fatores genéticos,
hormonais, familiares, ambientais e socioculturais (VICTOR et al., 2017, p. 5 apud ARRUDA et. al.,
2011).
Conforme a The American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG), os sintomas pré-
menstruais caracterizam a TPM quando ocorrem por pelo menos 3 meses consecutivos e afetam a vida
normal da mulher, devendo estar presentes nos 5 dias anteriores à menstruação. Dentre os sintomas
comuns estão: explosões de raiva, irritabilidade, crises de choro, ansiedade, depressão, confusão,
retraimento social, baixa capacidade de concentração, insônia, sonolência, mudanças no desejo sexual. Já
os sintomas físicos incluem: sede e alterações de apetite (desejos de comida), mastalgia, inchaço e ganho
de peso, dor de cabeça, inchaço das mãos ou pés, fadiga, problemas de pele (acne, oleosidade), sintomas
gastrointestinais e dor abdominal
3
. A TPM é marcada por diferentes sinais e sintomas físicos e psíquicos,
sendo importante que a mulher saiba identificá-los adequadamente para que não se tornem problemas
crônicos.
3
American College of Obstetricians and Gynecologists. Premenstrual syndrome [Internet]. ACOG Pract Bull. 2000
Qualidade de sono e sintomas depressivos durante o período pré-menstrual - uma revisão da bibliografia
Arquivos do Mudi, v. 27, n. 1, p. 54-63, ano 2023
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Na pesquisa realizada por Oliveira (2017) com 160 mulheres em período reprodutivo, pode-se
verificar que dentre as alterações emocionais mais mencionadas pelas mulheres sobre a TPM: (≥ 80%)
disseram que sentiram impaciência e irritabilidade; (73,1%) vontade de chorar; (≥ 60 %) raiva e angústia;
(≥50%) ansiedade, dificuldade de concentração, desânimo e interesse diminuído; (≥ 40%) insônia e
sonolência. Ademais, os sintomas físicos mais mencionados, acima de 80%, referindo mamas
edemaciadas e dolorosas, cólicas, (≥ 50%) cefaleia, inchaço, desejo por alimentos açucarados, (≤ 50%)
mencionaram perda de apetite, diarreia, sede, aumento/diminuição do desejo sexual, constipação e ganho
de peso. Diante do exposto foi verificado que não existe um consenso quanto ao diagnóstico da SPM,
pois muitos dos sintomas são singulares a cada pessoa que os sente, além de não existirem exames que
comprovem a presença ou ausência da síndrome.
Para além da Síndrome Pré-Menstrual, com uma sintomatologia mais complexa e severa, está o
Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM). De acordo com a última versão do DSM, este transtorno
está associado ao controle psíquico e à oscilação intensa de humor, que pode exacerbar e/ou debilitar um
conjunto de sintomas existentes. De acordo com os critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais V (DSM-V), o TDPM ocorre quando a mulher relata a presença, em mais de 6 ciclos
menstruais no último ano, de pelo menos 5 sintomas, sendo um deles necessariamente de origem
emocional (DSM-V, 2014).
De acordo com os dados coletados por Victor et al. (2019) a partir de uma análise com 649 mulheres
estudantes da área da saúde, com idade entre 15 e 24 anos, a TPM e a TDPM influenciaram a qualidade
de vida das estudantes. Das 649 estudantes, 324 (49,9%) tiveram diagnóstico de SPM, sendo 151 em sua
forma simples (23,3%) e 173 em sua forma mais grave, o TDPM (26,6%). No que se refere aos dados
coletados sobre o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual, Victor et al. (2019) observaram que as
problemáticas mais prevalentes são: ansiedade, tensão, irritabilidade e conflitos interpessoais (≥ 60%);
cansaço físico e mental, falta de disposição, além dos sintomas físicos, como sensação de inchaço, dor de
cabeça, articular ou muscular (≥ 50%) e sentimento de depressão, de falta de esperança ou
autodepreciativos (52,93%).
A partir da análise dos dados das pesquisas realizadas por Oliveira (2017) e por Victor et al.
(2019), percebe-se que a SPM e o TDPM possuem uma sintomatologia semelhante, porém, eles se diferem
pela intensidade e pela duração dos sintomas. Tanto os sintomas físicos, como também os emocionais,
podem trazer para a vida da mulher problemas relacionados à sua autoestima e percepção da vida, esses
sintomas podem ser significativos, o bastante para gerar conflitos interpessoais e na rotina. De acordo
com Victor e Barretos (2019), devido as alterações dos sintomas físicos e psíquicos nota-se que um
impacto na relação sócio-ocupacional, familiar e conjugal. No mesmo estudo, foi observado que autores
observaram as respostas mais mencionadas foram: respostas hostis, conflitos e desinteresse nas atividades
Menon e Mello, 2023
Arquivos do Mudi, v. 27, n. 1, p. 54-63, ano 2023
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cotidianas, tiveram relevância de acima de 40%.
Além disso, nota-se que a grande maioria dos sintomas presentes durante o período pré-menstrual
estão referenciados no DSM-V como sendo sintomas característicos da depressão. De acordo com a
ACOG, os sintomas de depressão e ansiedade são muito parecidos com os sintomas emocionais da TPM
e do TDPM, no entanto, mulheres com depressão geralmente vivenciam os sintomas durante todo o mês,
sem necessariamente estar no período menstrual. Os sintomas depressivos estão presentes durante o ciclo
menstrual, no entanto, esses sintomas se tornam um indício de depressão quando não cessam com o fim
da menstruação e se tornam vivências cotidianas (ACOC, 2000).
Devido ao caráter multidimensional na qualidade de vida, bem como a alta prevalência da SPM e
do TDPM e multiplicidade de diagnósticos (VICTOR; BARREIROS; BARROS, 2019), torna-se
necessário entender quais as repercussões que esses fenômenos podem trazer à vida social, singular e
afetiva das pessoas que menstruam. Nota-se que muitos dos assuntos acerca do período menstrual e suas
nuances ainda são considerados tabus, e por isso, têm-se a necessidade de desenvolver meios de apoio
para as pessoas que atravessam esse ciclo todo mês. De acordo com Victor et al. deve-se ressaltar a
necessidade de práticas educativas sobre a síndrome e suas diferentes formas, pois, uma vez essas
mulheres orientadas, estarão mais propensas a buscar ajuda especializada, diminuindo, assim, a incidência
da SPM, bem como sua influência negativa na qualidade de vida.
Diversos fatores determinam o bem-estar e a saúde mental das mulheres ao longo da vida. Desse
modo, o conhecimento acerca desses fatores, pode servir de ferramenta para o autoconhecimento e o
empoderamento feminino. Oliveira (2017) ressalta a importância da qualificação dos profissionais da
saúde para a conscientização das pacientes sobre os sintomas e mudanças comportamentais apresentadas
no período pré-menstrual, estimulando o autoconhecimento e empoderamento, a fim de promover
qualidade de vida. Tanto médicos ginecologistas, como psicólogos, devem se responsabilizar pela saúde
feminina, pelo amparo à mulher em situação vulnerável.
Tabela 1. Relação entre a quantidade de artigos encontrados na Plataforma CAFe (CAPES), produzidos nos últimos 5
anos e a quantidade de artigos selecionados para a elaboração da pesquisa.
Palavras-chave
Nº de artigos selecionados
corpo feminino x ciclo
menstrual
2
insônia x período pré-
menstrual
2
menstruação x tabu
1
Qualidade de sono e sintomas depressivos durante o período pré-menstrual - uma revisão da bibliografia
Arquivos do Mudi, v. 27, n. 1, p. 54-63, ano 2023
60
psicologia x ciclo
menstrual
4
resposta imune x
período menstrual
0
sono x humor
1
sono x sistema imune x
período menstrual
1
sono x transtorno pré-
menstrual
1
tensão pré-menstrual
3
Total geral
15
Os artigos selecionados foram organizados em um quadro (Quadro 1), que apresenta o tulo, os
respectivos autores, o objetivo de cada estudo e os principais resultados encontrados pelo (s) autor (es).
Quadro 1. Relação entre os artigos selecionados, seus autores, o objetivo de cada produção e os resultados obtidos
pelo (s) autor(es)
Título do artigo
Autores
Objetivo
Principais resultados encontrados pelos autores
Estudo comparativo
da qualidade do sono
e insônia entre
mulheres no
climatério e com ciclo
menstrual regular
Souza e Silva
et al.
Analisar a qualidade de sono
de mulheres climatéricas
comparadas à mulheres de
ciclo menstrual regular.
Diferença significativa entre a qualidade do sono e a
gravidade da insônia entre os dois grupos. Mulheres
climatéricas possuem uma pior qualidade do sono e
insônia leve a moderada, em comparação com mulheres
que menstruam regularmente.
Triptofano no Sono:
Uma revisão
sistemática baseada no
método PRISMA
Lima; Da Silva
Identificar a eficácia do uso do
triptofano no sono por meio de
revisão sistemática no modelo
PRISMA.
Suplementação com triptofano foi positiva, sendo
eficaz inclusive no tratamento de distúrbios
relacionados ao sono.
Transtorno mental
comum em mulheres
adultas: identificando
os segmentos mais
vulneráveis
Senicato et al.
Avaliar os fatores
socioeconômicos e
demográficos, os
comportamentos e as
morbidades associados ao
transtorno mental comum em
mulheres adultas.
Mulheres com mais idade, baixa escolaridade, donas de
casa, separadas ou viúvas, que não consumiam
frutas/verduras/legumes diariamente, que dormiam seis
ou menos horas por noite apresentaram doenças
crônicas e quando havia relato de algum tipo de
violência foram mais vulneráveis ao transtorno mental
comum.
Uso da EDAO-R para
caracterizar a
adaptação psicológica
de mulheres atendidas
em uma Unidade
Básica de Saúde
Silva et al.
Apresentar características
sociodemográficas de mulheres
que buscaram o serviço de
Psicologia em uma Unidade
Básica de Saúde (UBS) e
caracterizar a adaptação
psicológica delas, a fim de
As queixas das mulheres entrevistadas estão
relacionadas principalmente com o setor afetivo-
relacional, indicando que as intervenções devem
enfocar esses aspectos e suas implicações em outros
setores da vida da mulher.
Menon e Mello, 2023
Arquivos do Mudi, v. 27, n. 1, p. 54-63, ano 2023
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fornecer subsídios para a
intervenção multidisciplinar.
O ciclo menstrual no
século XXI. Entre o
mercado, a ecologia e
o poder feminino
Felitti
Analisar as concepções
relativas ao gênero, à
sexualidade, à saúde, à
espiritualidade/religiosidade, à
política, ao meio ambiente e ao
empoderamento feminino,
presentes no mercado de
produtos "alternativos" que
atendem e celebram o ciclo
menstrual na Argentina
contemporânea.
É necessário visibilizar a emergência e difusão de
visões que celebram o ciclo menstrual, considerando-o
uma fonte de identidade e empoderamento feminino, e
não um fardo a ser carregado pelas mulheres
O Papel Mediador das
Emoções na Relação
entre Hormônios
Femininos e Escolha
Indulgente
Ruffatto et al.
Entender o efeito hormonal
feminino nas emoções, e estas
nas escolhas por produtos
indulgentes.
As alterações hormonais, ocasionadas pelo ciclo
menstrual feminino, podem influenciar negativamente
as emoções negativas, ou seja, a maior produção
hormonal gerará menos emoções negativas, que por sua
vez favorece a escolha de produtos mais saudáveis.
Qualidade de vida
entre estudantes
universitários com
síndrome pré-
menstrual
Victor et al.
Avaliar a qualidade de vida de
acadêmicas da área da saúde,
portadoras da síndrome pré-
menstrual (SPM).
TPM e TDPM leves são prevalentes entre universitárias
de cursos da área da saúde, e a síndrome pode afetar a
autoavaliação dos estudantes em todos os domínios da
qualidade de vida. Das 642 estudantes entrevistadas,
49,9% apresentaram SPM, sendo 23,3% SPM na forma
leve e 26,6%, transtorno disfórico pré-menstrual
(TDPM).
Alterações
fisiológicas
relacionadas à
síndrome da Tensão
Pré-Menstrual na vida
da mulher
Mendes; Souza
Identificar as possíveis
consequências da síndrome da
tensão pré-menstrual na vida
das mulheres, especificamente,
em mulheres estudantes do
nível superior.
A SPM pode acarretar graves prejuízos no contexto
social (família/trabalho/estudo) e contexto pessoal.
Perfil de mulheres
com Síndrome da
Tensão Pré-Menstrual
na menacme
Oliveira
Conhecer o perfil de mulheres
na menacme com a STPM.
Participaram 160 mulheres. Os autores observaram
sinais e sintomas de STPM em 82,2% delas. As
alterações físicas mais frequentes, foram mamas
edemaciadas e doloridas (85,6%), cólicas (85%) e
cefaleia (63,8%). Em relação às emocionais a
impaciência apresentou uma frequência de 87,5%,
irritabilidade (80%), vontade de chorar (73,1%), raiva
(66,9%) e angústia (62,5%). As alterações
biopsicossociais que modificam o cotidiano das
mulheres na menacme afetam a vida pessoal e social
das mesmas.
Uma rosa no ventre: a
menstruação na poesia
de Maria Teresa Horta
Flores
Analisar a obra de Maria
Teresa Horta à luz da crítica
feminista, tendo como suporte
teórico os conceitos de corpo e
de escrita feminina.
A poetisa estudada inscreve o corpo feminino na sua
obra, ultrapassando práticas históricas de
condicionamento e controle, fazendo da sua poesia o
lugar da diferença.
Prevalência da
síndrome pré-
menstrual em
mulheres em idade
reprodutiva
Lima; Romão;
Gouveia
Verificar a prevalência da SPM
em mulheres em idade
reprodutiva no município de
Parnaíba-PI, bem como traçar o
perfil clínico e
sociodemográfico de mulheres
com síndrome pré-menstrual.
Prevalência de 99,6% para mulheres com a SPM, sendo
a maior parcela desta porcentagem classificada como
SPM severa, além de apresentarem distúrbios físicos e
emocionais decorrentes da SPM. É recomendada a
realização de estudos longitudinais a fim de mapear e
analisar os reais fatores que influenciam no surgimento
e persistência da sintomatologia da SPM, bem como
medidas preventivas de tais consequências.
Qualidade de sono e sintomas depressivos durante o período pré-menstrual - uma revisão da bibliografia
Arquivos do Mudi, v. 27, n. 1, p. 54-63, ano 2023
62
4. CONCLUSÃO
A menstruação, desde muito tempo, fora considerada um tabu, um fenômeno “misterioso” e sem
explicação. No entanto, com o desenvolvimento da Medicina, tornou-se possível explicar e entender a
natureza feminina e os motivos que ocasionam o sangramento mensal. Entende-se, portanto, a importância
da difusão de conhecimentos acerca do modo de funcionamento do corpo feminino e do mecanismo da
menstruação, que influencia diretamente nas emoções e comportamentos da mulher.
Ao longo da vida, conforme o processo de senescência, a mulher fica mais sensível e predisposta
aos sintomas pré-menstruais e da menopausa, considerando a chegada da fase climatérica (SILVA et. al,
2020). Dessa forma, tendo conhecimento acerca das alterações hormonais que ocorrem ao longo da vida
mulher, tanto durante o período menstrual, como também em período gestacional e/ou menopausa, deve-
se buscar garantir o autoconhecimento e o empoderamento do corpo feminino, para que as mulheres
saibam o que ocorre em seus próprios corpos e como lidar com as modificações provenientes das
alterações hormonais. Outra forma de potencializar a natureza feminina e suas complexidades, é conferir
a validação dos sentimentos e emoções que surgem durante o período pré-menstrual, visto que, muitas
vezes esses sintomas são entendidos como algo banal ou “frescura”.
Ademais, as mulheres são atravessadas por inúmeras questões sociais e culturais, que conferem
restrições ao corpo e aos comportamentos da mulher. Desse modo, além de fatores biológicos, as mulheres
são afetadas por diversos aspectos estressantes e desafiadores, que ao estarem associados, podem trazer
consequências à saúde física e psíquica feminina. Portanto, como nos diz Senicato et al. (2018),
“identificar precocemente mulheres com transtorno mental comum, acompanhá-las e tratá-las em seus
mais diversos afetos, contribui para reduzir os impactos na qualidade de vida feminina”.
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