Arquivos do Mudi, v. 27, n. 3, p. 64-75, ano 2023
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ARTIGO ORIGINAL
Aceito em: 10/10/2023 Publicado em: 15/12/2023
TEACHING INTERVENTIONAL STRATEGIES IN THE MANAGEMENT OF CHILDHOOD
OBESITY WITHIN THE SCOPE OF PRIMARY HEALTH CARE
Abstract
Obesity has a chronic, multifactorial nature, with the characteristic of an excessive amount of body adipose tissue is
harmful to health and promotes future risks. In 2020, there was a global prevalence of obesity among children, in which
40 million children and adolescents between 5 and 19 years of age were diagnosed with overweight or obese, thus
configuring an epidemiological scenario in relation to global public health. This study aims to survey primary studies in
the scientific literature on intervention techniques used in the treatment of children with obesity monitored in Primary
Health Care, and to characterize the primary studies collected in the literature. This is an integrative review of the
literature on interventions used in the management of childhood obesity. The search and screening of studies took place
from January 2023 to June 2023. The following databases were accessed via the internet: Medical Literature Analysis
and Retrieval System Online via the National Library of Medicine National Institutes of Health; Web of Science;
Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature; Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences,
and Nursing Database. It is concluded that facilitated access to the scope of Primary Health Care, guidance and teaching
positive techniques to parents, family and friend engagement in physical exercise activities, as well as the proportion of
a non-obesogenic environment in schools and at home are interventional ways of managing obesity in children that have
shown important positive results.
Keywords: Pediatric Obesity. Obesity Management. Child Health. Body Weight Changes. Primary Health Care.
ESTRATÉGIAS INTERVENTIVAS NO MANEJO DA OBESIDADE INFANTIL NO
ÂMBITO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
Stefane Marinho Moreno
1
Luana Soares Souza
2
Francisca Rosana Gonçalves Mota
3
Luana Bezerra
4
Resumo
A obesidade possui caráter crônico multifatorial, tendo como
característica a quantidade em excesso de tecido adiposo corporal sendo
de malefício à saúde e promovendo riscos futuros. Em 2020, verificou-
se uma prevalência global de obesidade no público infantil, onde 40
milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos de idade foram
diagnosticadas com sobrepeso ou obesas, assim, configurando um
cenário epidemiológico em relação à saúde pública mundial. Este estudo
tem como objetivo levantar na literatura científica estudos primários
sobre as técnicas de intervenções utilizadas no tratamento para crianças
com obesidade acompanhadas na Atenção Primária à Saúde, e
caracterizar os estudos primários levantados na literatura. Trata-se de
uma revisão integrativa da literatura sobre as intervenções utilizadas no
manejo da obesidade infantil. A busca e triagem dos estudos ocorreu de
janeiro de 2023 a junho de 2023. Através da internet foram acessadas as
seguintes bases de dados: Medical Literature Analysis and Retrieval
System Online via National Library of Medicine National Institutes of
Health; Web Of Science; Cumulative Index to Nursing and Allied
Health Literature; Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências
da Saúde, e Base de Dados de Enfermagem. Conclui-se que o acesso
facilitado ao âmbito da Atenção Primária à Saúde, as orientações e o
ensinamento de técnicas positivas aos pais, o engajamento familiar e de
amigos em atividades de exercícios físicos, bem como, a proporção de
um ambiente não obesogênico nas escolas e em casa são formas
interventivas de manejo da obesidade em crianças que apresentaram
resultados positivos importantes.
Palavras-chave: Obesidade Pediátrica. Controle da Obesidade. Saúde
da Criança. Alterações do Peso Corporal. Atenção Básica.
Maria Naiara Oliveira da Silva
5
Laisa Maria dos Santos Ribeiro
6
Stéfany Soares Gonçalves
7
Aline Raquel de Sousa Ibiapina
8
1-8
Universidade Estadual do Piauí
Estratégias interventivas no manejo da obesidade infantil no âmbito da atenção primária à saúde
Arquivos do Mudi, v. 27, n. 3, p.64-75, ano 2023
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1. INTRODUÇÃO
A obesidade possui caráter crônico multifatorial, tendo como característica a quantidade
em excesso de tecido adiposo corporal sendo de malefício à saúde e promovendo riscos futuros.
Em 2020, verificou-se uma prevalência global de obesidade no público infantil, onde 40
milhões de indivíduos da população infantojuvenil que possuíam a idade de 5 a 19 anos foram
diagnosticadas com sobrepeso ou obesas, assim, configurando um cenário epidemiológico em
relação à saúde pública mundial (Brasil, 2020).
As faixas etárias entre 2 e 11 anos de idade compõem o grupo de maior prevalência de
obesidade infantil. Além do mais, tal condição está relacionada à saúde debilitada e promoção
de doenças crônicas, a exemplificar, hiperlipidemia, problemas cardiovasculares e diabetes
mellitus tipo II. A quantia exacerbada de tecido adiposo em crianças foi associada ao mau
funcionamento do endotélio e deterioração vascular, ocasionando aterosclerose, hipertensão e
aumento dos níveis lipídicos em paralelo com crianças não obesas (Small et al., 2014).
A realização de intervenções em menores de 12 anos de idade com excesso de peso
configura-se um manejo complexo devido a etiologia e o envolvimento de diversos fatores que
dificultam, como a genética, os efeitos do crescimento, ambiente, hábitos comportamentais,
questões interpessoal, exercícios físicos, alimentação, patologias e a cultura social. Ademais,
crianças obesas apresentam redução no bem-estar mental (déficit de atenção, baixa autoestima,
bullying), físico (doenças renais, pulmonares, endócrinas) e social (estigmas, preconceitos) em
contraste com aquelas com peso ideal (Kennedy et al., 2021; Brasil, 2020).
É recomendado que a Atenção Primária a Saúde (APS) seja o contato inicial da
população com Sistema Único de Saúde (SUS), pois nesse local tem-se a promoção de cuidados
e prevenção em saúde respeitando a singularidade de cada cidadão em todas as fases da vida e
realiza ações voltadas para a comunidade no geral. O acompanhamento de crianças com
obesidade é uma intervenção com indicação para ser realizada nesse âmbito, por possuir uma
equipe multiprofissional necessária para o manejo da condição clínica do público-alvo.
Entretanto, existem algumas lacunas durante o acolhimento entre os provedores, familiares e
clientes obesos que interferem de maneira negativa na gestão da obesidade, como a prescrição
de intervenções inadequadas comprometendo o tratamento e frustrando os envolvidos (Martos
- Moreno et al., 2021; Brasil, 2020).
Considerando as lacunas no conhecimento acerca da temática, o objetivo deste trabalho
é constatar no acervo da literatura científica estudos primários sobre as técnicas de intervenções
Estratégias interventivas no manejo da obesidade infantil no âmbito da atenção primária à saúde
Arquivos do Mudi, v. 27, n. 3, p. 64-75, ano 2023
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utilizadas no tratamento para crianças com obesidade acompanhadas na Atenção Primária à
Saúde, e caracterizá-los.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Os critérios de inclusão adotados incluíram a realização de atividades laborais de
serviços gerais, possuir vínculo de prestação de serviço na instituição, concordar em seguir as
orientações estabelecidas e frequentar de forma assídua a proposta de intervenção.
Revisão integrativa da literatura no que concerne as intervenções utilizadas no manejo
da obesidade infantil. Logo, as etapas seguidas foram: identificação da temática e produção da
pergunta norteadora; constituir os critérios para inclusão e exclusão; especificação dos artigos;
análise dos trabalhos selecionados para compor a amostra; exposição dos resultados e sinopse
dos achados mais relevantes (Mendes; Silveira; Galvão, 2008).
Para conduzir a revisão, adotou-se a pergunta: “Quais intervenções são utilizadas no
tratamento de obesidade em crianças acompanhadas na atenção primária à saúde?”. Para
produzi-la utilizou-se o acrônimo PICo. Sendo, (P- Participantes; I- Interesse; Co- Contexto do
estudo (Schardt et al., 2007), e definiu-se o seguinte arranjo: P crianças com obesidade; I
intervenções; Co tratamento na atenção primária à saúde.
A busca e triagem dos estudos ocorreu de janeiro a junho de 2023. Através da internet
foram acessadas as seguintes bases de dados: Medical Literature Analysis and Retrieval System
Online via National Library of Medicine National Institutes of Health (MEDLINE via
PubMed); Web Of Science (WOS); Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature
(CINAHL); Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), e Base
de Dados de Enfermagem (BDENF) via BVS. Com vista a promover uma ampla busca de
estudos foram realizadas as combinações entre os descritores em cada base de dados usando os
marcadores booleanos AND (entre palavras de acrônimos diferentes) e OR (entre sinônimos).
A seleção dos descritores controlados e dos não controlados utilizados nas estratégias
de buscas, apresentadas no Quadro 1, foi definida com base nos Descritores em Ciências da
Saúde (DeCS) e Medical Subjects Headings (MeSH): Child”, “Child Health”, “Pediatric
Obesity”, “Children Obesity”, “Obesity Management”, “Obesity Control”, “Obesity
Treatment”, “Primary Health Care”, “Exercise”, “Diet, Food, And Nutrition”, “Feeding
Behavior”, “Diet, Healthy”, “Child Nutrition”, “Primary Care”, “weight loss”.
Quadro 1 Combinações dos descritores nas bases de dados. Picos, Piauí, Brasil, 2023.
Moreno et al., 2023
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Bases de Dados
Combinações de Busca
Medline via PubMed
“pediatric obesity” OR “children obesity” AND obesity management” OR “obesity
control” OR “obesity treatment” AND exercise OR feeding behavior” AND
“primary health care”
Web Of Science
(WOS)
AK=((“pediatric obesity” AND “obesity management” OR “obesity control” OR
“obesity treatment” AND exercise OR “feeding behavior” AND “primary health
care”))
LILACS
"child health " OR “pediatric obesity” OR “children obesity” AND “obesity
management” OR “obesity treatment” OR “obesity control” AND “primary care”
CINAHL
(pediatric obesity or child obesity or childhood obesity) AND (obesity treatment
interventions) AND (exercise or physical activity or feeding behavior AND primary
care)
BDENF via BVS
"child health " OR “pediatric obesity” OR children obesity” AND “obesity
management” OR “obesity treatment” OR “obesity control” AND “primary care”
Fonte: Autor, (2023).
A inclusão dos estudos foi: estudos primários que reportem as intervenções para
crianças (7 a 9 anos) com obesidade atendidas na APS, sem limitação temporal, nos idiomas
português, inglês e espanhol, e que forem disponibilizados por completo nas bases de dados.
Foram excluídos: literatura cinzenta, dissertações, teses, editoriais, estudos de protocolo,
diretrizes clínicas, pesquisas nas quais os participantes tivessem mais de 12 anos de idade e
trabalhos que não utilizem intervenções.
Em seguida ocorreu a leitura dos títulos e resumos, a fim de determinar se os estudos
reconhecidos tinham as qualificações para serem inclusos na amostra. Diante das discordâncias,
era solicitado o parecer de um segundo revisor com competências metodológica e clínica.
Tendo por intenção a organização dos artigos, a detecção e posteriormente a exclusão de
estudos duplicados, elegeu-se o software ZOTERO para um melhor gerenciamento dos
resultados.
A somatória das buscas nas bases de dados resultou em 623 produções. Destas o
software utilizado para o gerenciamento identificou 47 duplicatas que foram removidas. A
partir da leitura do título e resumo restou 69 estudos que foram analisados na íntegra. Partido
do feito foram eleitos para constituir a amostra 10 artigos. A triagem dos trabalhos acatou as
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preconizações propostas pelo Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-
Analyses (PRISMA) (Moher et al., 2009) (Figura 1).
Figura 1 Fluxograma da triagem dos estudos. Picos, Piauí, Brasil, 2023.
Para obtenção das informações extraídas dos estudos, os autores utilizaram um
instrumento elaborado por eles compondo-se de informações da autoria; ano de publicação;
base de dados; objetivo, desenho metodológico, intervenções e nível de evidência.
Com relação ao nível de evidência, adotou-se o protocolo dos autores Stetler et al., 1998,
que estratifica os níveis em: nível I ‒ meta-análise de múltiplos estudos controlados; nível II ‒
estudos experimentais individuais (ensaio clínico randomizado); nível III estudos quase-
experimentais (ensaio clínico não randomizado, grupo único pré e pós - teste, séries temporais
ou caso-controle); nível IV estudos não experimentais (pesquisa descritiva, correlacional e
comparativa, pesquisas qualitativas e estudos de caso); nível V dados de avaliação de
Identificação
Registros identificados
(623)
MEDLINE = (348); Web of Science = (39); LILACS = (146); BDENF = (37); CINAHL = (53).
Registros duplicados removidos
(47)
Artigos selecionados para análise de
texto completo
(69)
Exclusão (507)
- Justificativa:
Após leitura de título e resumo (428).
Não responderam à pergunta de
pesquisa (79).
Amostra
(n=10)
Registros selecionados
(576)
Seleção
Elegibilidade
Inclusão
Moreno et al., 2023
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programa e dados obtidos de forma sistemática; nível VI ‒ opiniões de especialistas, relatos de
experiências, consensos, regulamentos e legislações (Stetler et al., 1998).
Os resultados contemplados foram submetidos a análise descritiva, na qual identificou-
se a síntese das evidências acrescidas na revisão, da mesma forma que os dados elucidados
foram descritos. Este estudo não envolve seres humanos, logo não foi submetido à aprovação
do Comite de Ética em Pesquisa. Todavia, os princípios éticos foram preservados, e os direitos
autorais dos autores respeitados, por meio da citação dos mesmos no decorrer do estudo.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Arquitetou-se um quadro (Quadro 2) para o agrupamento dos dados utilizados para a
caracterização dos estudos elegidos para a revisão, constando a autoria, ano, base de dados,
objetivo, desenho metodológico, intervenção e o Nível de Evidência (NE).
A análise descritiva das informações dos estudos evidenciou a prevalência de produções
do ano de 2018, publicados nas bases de dados BDENF. O delineamento metodológico com a
abordagem de coorte foi o de maior recorrência. A metade dos estudos apresentaram IV
qualidade do nível de evidência.
As intervenções realizadas nos estudos foram direcionadas a identificar os desafios
enfrentados pelos responsáveis, crianças e profissionais. Além disso, desenvolveram educação
nutricional, promoção de um ambiente não obesogênico, o incentivo a realização de atividade
físicas, games interativos, mudanças comportamentais, acompanhamento por tempo adequado,
abordagem multiprofissional, intervenções remotas e a participação familiar nos programas de
manejo da obesidade infantil.
Quadro 2 Sinopse dos estudos eleitos. Picos, Piauí, Brasil, 2023.
Autoria
Ano e
Base de
dados
Objetivo
Desenho
metodológico
Intervenções
NE
Turner
et al.,
2012 /
CINAHL
Explorar a visão dos pais e
as experiências da atenção
primária como um ambiente
de tratamento para a
obesidade infantil.
Entrevistas
exploratória com 15
pais de crianças
obesas de 5 a 10 anos.
Identificar
intervenções para os
desafios
mencionados pelos
pais.
IV
Kattelmann
et al.,
2019 /
CINAHL
Relatar os resultados de
atividade física e tempo
sedentário de jovens no
iCook 4-H.
Estudo randomizado
com 155 crianças
com 9 a 10 anos e o
principal preparador
de suas refeições.
Desenvolvimento de
habilidades,
mudança de fatores
ambientais e
aumento das
atividades físicas.
III
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Arquivos do Mudi, v. 27, n. 3, p. 64-75, ano 2023
70
Martos-
Moreno et
al.,
2021 /
MEDLIN
E via
PubMed
Caracterizar as
singularidades do
seguimento, evolução
antropométrica e metabólica
de uma coorte de pacientes
pediátricos com obesidade.
Estudo de coorte
através da taxa de
atrito e evolução
antropométrica e
metabólica de 1300
crianças e
adolescentes com
obesidade.
Gestão
comportamental
ambulatorial por
tempo suficiente
para o
acompanhamento.
IV
Rhee
et al.,
2018 /
MEDLIN
E via
PubMed
Explorar os desafios e
possíveis soluções para a
condução de uma gestão
mais eficaz da obesidade
pediátrica no ambiente da
atenção primária.
Abordagem de
métodos mistos com
quatro grupos focais
com provedores de
uma grande rede
pediátrica.
Abordagem de
equipe com um
gerente de cuidados
com intervenções
eficazes e breves.
IV
Kennedy
et al.,
2021 /
Web Of
Science
Determinar os componentes
que devem ser incluídos em
um PGR familiar na atenção
primária e identificar fatores
percebidos na participação.
Uma coorte com 30
pais e 30 crianças
/adolescente
participaram de 1 de
5 grupos focais.
Educação sobre
alimentação,
envolvimento dos
pais e líderes
eficientes dos
programas.
IV
Small
et al.,
2014 /
Web Of
Science
Determinar a possibilidade e
os resultados de uma
intervenção na atenção
primária em 60 crianças com
sobrepeso /obesidade de 4 a
8 anos.
Uma coorte realizada
através de sessões
interventivas com os
pais na atenção básica
da criança.
Fornecimento de
conhecimentos
educacionais
adequados para os
pais de crianças
obesas.
II
Dias
et al.,
2021 /
LILACS
Avaliar uma estratégia
educativa para crianças em
um programa de
enfrentamento de sobrepeso
e obesidade.
Pesquisa
metodológica, com
abordagem
quantitativa e de corte
transversal com
crianças obesas e/ou
sobrepeso (n=13).
Games interativos
III
Reis
et al.,
2019 /
LILACS
Avaliar as alterações, após
um programa de exercícios
aquáticos em crianças com
sobrepeso ou obesidade.
Ensaio clínico não
randomizado e
controlado, com 33
crianças com
sobrepeso ou
obesidade com idade
entre oito e 11 anos.
Exercícios aquáticos
com duração de 21
semanas, com 3
sessões por semana,
de 60 minutos cada.
III
Paiva
et al.,
2018 /
BDENF
Identificar alterações de
IMC em escolares.
Estudo quantitativo
de campo, em escolas
com amostragem de
104 crianças com
idade entre 6 e 12
anos de idade.
Avaliação das
análises
bioquímicas, dos
dados
antropométricos e
do padrão alimentar
dos escolares.
IV
Moreno et al., 2023
Arquivos do Mudi, v. 27, n. 3, p. 64-75, ano 2023
71
Mariz
et al.,
2018 /
BDENF
Relatar a experiência no
processo de
acompanhamento e
tratamento de crianças com
sobrepeso e obesidade.
Relato de experiência
vivenciada no
acompanhamento e
tratamento de
crianças com
sobrepeso e
obesidade.
Equipe
multiprofissional,
envolvimento
familiar,
acompanhamento
contínuo, realização
de exames e
educação em saúde.
VI
Fonte: Autor (2023).
4. DISCUSSÃO
Através dos estudos encontrados mediante a busca sistematizada na literatura,
averiguou-se que um ponto forte para a maior adesão ao tratamento da obesidade infantil foi a
compreensão de fatores atenuadores e as dificuldades encontradas na vida dos pacientes que
recorrem à Atenção Primária em Saúde (Brasil, 2020).
Estudos apontam que a acessibilidade ao local para a gestão do peso excessivo em
crianças constitui uma variável que está relacionada ao primeiro contato e o prosseguimento do
manejo da obesidade pediátrica, potencializando e prolongando a assistência para a mudança
dessa condição crônica. Para que o distanciamento entre a residência e o ambiente assistencial
seja reduzido, faz-se essencial que o âmbito da atenção primária em localidades próximas
permita o acesso facilitado para pessoas com baixa condição socioeconômica. A
disponibilidade de materiais e recursos remotos para um acolhimento familiar mais flexível,
persuasivo e complementar vem sendo bem aceito e favorecendo resultados positivos no
tratamento do excesso de peso na infância (Kennedy et al., 2021; Turner et al., 2012; Rhee et
al., 2018; Martos-Moreno et al., 2021; Dias et al., 2021).
Os Prestadores de Cuidados Primários (PCP’s) são imprescindíveis para reconhecer e
enfrentar a obesidade pediátrica. Visto que são detentores de grande responsabilidade, é
necessário a oferta de programas educacionais de capacitação para que os profissionais tenham
o desenvolvimento de habilidades no processo de identificação, acolhimento, documentação,
acompanhamento holístico e encaminhamento no público em questão, sendo vital o
fornecimento de ferramentas hábeis para prevenção e gestão do excesso de peso de crianças
durante a infância no âmbito da Atenção Primária (Busch et al., 2018; Rhee et al., 2018).
Os PCP’s, sugerem a implementação de uma abordagem em equipe somando os
benefícios das qualificações de cada membro através da gestão compartilhada, que não se
sentem confiantes de proporcionar tratamentos eficazes por conta própria, pois tal condição
crônica requer atenção para o bem-estar mental, físico e psicológico, de maneira integral,
Estratégias interventivas no manejo da obesidade infantil no âmbito da atenção primária à saúde
Arquivos do Mudi, v. 27, n. 3, p. 64-75, ano 2023
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longitudinal, individual, coletiva e transversal. Além do mais, os pais dos pacientes estimam
uma atuação multidisciplinar dos provedores de cuidados que apresentam maior sensibilidade
e empatia em relação ao manejo do elevado índice de massa corporal (IMC) e que ficam
satisfeitos quando auxiliam-nos com orientações para cuidar do peso de suas crianças
respeitando a realidade socioeconômica de cada família (Turner et al., 2012; Kennedy et al.,
2021; Brasil, 2020).
Estudo randomizado realizado com 30 pais e 30 filhos, na Louisiana, Estados Unidos
da América (EUA), evidenciou que é essencial o apoio e o envolvimento da prole familiar,
colégio, amigos e provedores eficientes do programa de manejo da obesidade infantil para o
êxito na redução de peso e manutenção de hábitos saudáveis. Além do mais, tais atitudes
promovem resultados positivos em relação à saúde mental, como a melhoria da autoestima em
crianças obesas (Small et al., 2014).
Então, evidenciou-se que na atenção primária, também, deve-se realizar intervenções e
orientações voltadas para os pais e/ou cuidadores como as técnicas positivas de paternidade.
Pois eles são responsáveis por incentivar o público-alvo na mudança comportamental, por
exemplo, ofertar alimentos adequados no lugar de comidas ultra processadas e com alto teor
glicogênio, a realização de atividades físicas, como exercícios aquáticos, no intuito de combater
o sedentarismo. Nos resultados destas ações tem-se a redução antropométricas, diminuindo o
risco do desenvolvimento de outras comorbidades paralelas, favorecendo o alcance da vida
adulta com qualidade (Small et al., 2014; Kennedy et al., 2021; Reis et al., 2019; Paiva et al.,
2018).
Em estudo realizado em 5 estados dos EUA, desenvolveu-se um programa denominado
iCook 4-H composto por 228 participantes formado por binômios jovens-adultos. Baseados na
Teoria Cognitiva Social, enfatizaram a prática culinária, a pontualidade das ceias em família,
atividade física e visavam instruir as duplas sobre cozinhar, brincar e comer unidos. Os
resultados das ações propostas na prática de exercícios físicos não surtiram tanto efeito entre
aqueles com 9 e 10 anos de idade devido ao tipo de atividade e sexo das crianças recrutadas.
Sendo assim, concluíram que as intervenções devem ser iniciadas ainda mais cedo e
personalizadas ao público-alvo (Kattelmann et al., 2019).
É imprescindível ter prudência na globalização dos dados, pois estes não representam a
obesidade pediátrica a nível brasileiro. Os desfechos expostos nesta pesquisa integram um
contexto que pode ou não se diversificar de outro, impossibilitando assim generalizar a
temática. Dessa forma, alternativas distintas devem ser levadas em consideração nas
investigações. Os dados identificados conseguirão facilitar a contemplação da qualificação
Moreno et al., 2023
Arquivos do Mudi, v. 27, n. 3, p. 64-75, ano 2023
73
profissional, gestão eficiente e ofícios dos serviços de saúde para melhor prestar cuidados às
crianças obesas de maneira holística.
Faz-se necessário refletir sobre algumas limitações ao interpretar os resultados desta
revisão integrativa. Notou-se tamanha dificuldade na identificação de intervenções realizadas
no controle da obesidade em escolares entre 7 e 9 anos de idade no âmbito da Atenção Primária
em Saúde. Assim, revela-se a necessidade de maiores investimentos neste ramo da pesquisa
para o desenvolvimento de tecnologias e conteúdos favoráveis ao enfrentamento desse
problema de saúde pública mundial que vem permeando ao decorrer das gerações.
5. CONCLUSÃO
Conclui-se que o acesso facilitado aos estabelecimentos que ofertam serviços da APS,
as orientações e o ensinamento de técnicas positivas aos pais, o engajamento familiar e de
amigos em atividades de exercícios físicos como danças, brincadeiras e esportes, bem como, a
proporção de um ambiente não obesogênico nas escolas e em casa são formas interventivas de
manejo da obesidade em crianças que apresentaram resultados positivos importantes.
Entretanto, faz-se necessário, também, a formação e capacitação de uma equipe
multiprofissional que preste assistência humanizada com conhecimentos, habilidades e os
instrumentos necessários para a aplicação de intervenções eficazes na precaução e no controle
do excesso de peso ao público em questão. Assim a conjuntura dessas estratégias corrobora
para o sucesso na prevenção e no tratamento dos casos de obesidade infantil.
Após a aplicação das intervenções descritas, entre os principais desfechos esperados é
possível exemplificá-los em melhora do bem-estar mental, físico e social, através de mudanças
de hábitos como uma maior ingestão de frutas, verduras e água, redução do sedentarismo e mais
práticas de exercícios, sono satisfatório, manutenção ou perda de peso, melhor relação com a
auto imagem, entre outros benefícios. Essas mudanças aprimoram a qualidade de vida da
criança diminuindo a probabilidade do agravo da obesidade infantil e o desenvolvimento de
comorbidades paralelas a esta condição.
REFERÊNCIAS
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Disponível em: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2021/11/1342839/dados_atlas_obesidade-
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sobrepeso e obesidade no âmbito da Atenção Primária à Saúde. Brasília, 2020. 7-23 p.: il.
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Estratégias interventivas no manejo da obesidade infantil no âmbito da atenção primária à saúde
Arquivos do Mudi, v. 27, n. 3, p. 64-75, ano 2023
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