Arquivos do Mudi, v. 27, n. 3, p. 91-102, ano 2023
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ARTIGO ORIGINAL
Aceito em: 19/11/2023 Publicado em: 15/12/2023
PERINATAL PSYCHOLOGY IN THE PREVENTION OF POSTPARTUM
DEPRESSION AND ITS IMPLICATIONS ON THE CHILD'S LIFE
Abstract
The research aims to assess the role of prenatal psychological counseling as a protective factor in preventing
postpartum depression and its impact on healthy mother-child relationships, influencing children's cognitive and
emotional development. The primary objective is to analyze the effectiveness of Psychological Prenatal Care (PPC)
in preventing postpartum depression and how postpartum depression affects the mother-child relationship and infant
development. This research aims to provide a comprehensive understanding of postpartum depression, the role of PPC
in preventing this condition, and the effects of postpartum depression on the mother-child relationship and infant
development. Diagnosing postpartum depression is challenging since many depressive symptoms can manifest during
pregnancy, and postpartum symptoms can be confused with normal maternity adjustments. Treatment involves an
approach that considers various factors and implications for the mother and child, including non-pharmacological
measures and the use of antidepressants. The choice of the most suitable medications and other treatment-related
issues is crucial. The research emphasizes the recommendation to apply Cognitive-Behavioral Therapy (CBT) to
postpartum women as early as possible. These strategies aim not only to prevent postpartum depression but also to
promote maternal well-being and strengthen the mother-child bond.
Keywords: Preventive Interventions; Psychological prenatal care; Cognitive-behavioral therapy; Child
development.
A PSICOLOGIA PERINATAL NA PREVENÇÃO DA DEPRESSÃO PÓS-PARTO E
SUAS IMPLICAÇÕES NA VIDA DA CRIANÇA
Amanda de Amorin Luiz Lopes
1
Silvano Piovan
2
Resumo
A pesquisa propõe avaliar o papel do atendimento psicológico
pré-natal como um fator protetor na prevenção da depressão pós-
parto, bem como seu impacto nas relações saudáveis entre mãe e
bebê, influenciando o desenvolvimento cognitivo e emocional das
crianças. O objetivo principal é analisar a eficácia do Pré-Natal
Psicológico (PNP) na prevenção da depressão s-parto e como a
depressão pós-parto afeta a relação entre mãe e filho, bem como
o desenvolvimento infantil. Essa pesquisa teve como objetivo
fornecer uma visão abrangente sobre a depressão pós-parto, o
papel do PNP na prevenção dessa condição e os efeitos da
depressão pós-parto na relação mãe-filho e no desenvolvimento
infantil. O diagnóstico da depressão pós-parto é desafiador, pois
muitos sintomas depressivos podem se manifestar durante a
gravidez, e os sintomas pós-parto podem ser confundidos com a
adaptação normal à maternidade. O tratamento envolve uma
abordagem que considera diversos fatores e implicações para a
mãe e o filho, incluindo medidas não farmacológicas e uso de
antidepressivos. A escolha dos medicamentos mais adequados e
outras questões relacionadas ao tratamento são cruciais. A
pesquisa enfatiza a recomendação de aplicar a terapia cognitivo-
comportamental (TCC) às puérperas o mais precocemente
possível. Essas estratégias visam não apenas a prevenção da
depressão pós-parto, mas também a promoção do bem-estar
materno e o fortalecimento do vínculo entre mãe e filho.
Palavras-chave:Intervenções Preventivas; Pré-natal psicológico;
Terapia cognitivo comportamental; Desenvolvimento infantil.
1,2
Univel centro universitário
A psicologia perinatal na prevenção da depressão pós-parto e suas implicações na vida da criança
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1. INTRODUÇÃO
O período perinatal refere-se ao período que inclui a gravidez, o parto e o puerpério. A
psicologia perinatal é, portanto, uma área de estudo que busca compreender e trabalhar com
mulheres e suas famílias que passam por essas fases (BRASIL. Ministério da Saúde, 2006). O
pré-natal psicológico (PNP) complementa o pré-natal convencional e visa humanizar ainda
mais o processo gravídico e reduzir as condições adversas que podem advir desse processo que
pretende evitar a depressão pós-parto (Arrais; Mourão; Fragalle, 2014).
A depressão pós-parto é uma condição que afeta 10 a 15% das mulheres após o
parto. Essa fase tem início no primeiro ano após o parto, mais frequentemente entre a quarta e
a oitava semana pós-parto. Em geral, os sintomas depressivos não diferem daqueles de
episódios não relacionados ao parto e incluem instabilidade de humor e preocupação com o
bem-estar da criança, que pode variar em intensidade exagerada a abertamente delirante
(Schmidt; Piccoloto; Müller, 2005).
A preparação física e psicológica para o parto e a maternidade também ocorrem
nesse período, proporcionando às gestantes um ambiente adequado para uma experiência
positiva (Rios e Vieira 2007). A Psicologia Pré-natal é um dos recursos de uma abordagem
diferente dos cursos para gestantes. É um novo conceito de assistência perinatal que visa
humanizar o processo de gestação e parto e construir a relação pais-filhos (Arrais, Cabral e
Martins, 2012).
O profissional de psicologia, especializado nessa área, desempenha um papel
fundamental ao oferecer suporte às gestantes, fornecendo informações para promover uma
sensação de tranquilidade e reduzir os riscos de alterações emocionais significativas. Nesse
contexto, psicólogos com formação específica são os mais indicados para atuar em programas
de psicoprevenção, abordando questões associadas a mudanças emocionais e proporcionando
alívio à ansiedade típica desse período (Bortoletti, 2007).
As mulheres com depressão pós-parto apresentam sintomas como irritabilidade,
ansiedade, dificuldade de concentração e humor deprimido, que afetam os relacionamentos,
principalmente os que ainda estão se formando entre a mãe e o recém-nascido. Embora não haja
regra de que todas as crianças nascidas de mães depressivas sejam deprimidas, elas têm duas a
cinco vezes mais chances de desenvolver problemas emocionais ou comportamentais. A
depressão pós-parto afeta severamente mães e filhos. Carlesso e Souza (2011) encontraram
associações entre depressão materna e problemas de desenvolvimento infantil, incluindo
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problemas comportamentais, distúrbios de saúde física, apegos inseguros e sintomas de
depressão.
O atendimento psicológico pré-natal pode ser um fator protetor na prevenção da
depressão pós-parto e um meio de contribuir para relacionamentos saudáveis entre mãe e bebê,
fatores no desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças. Sendo assim, o propósito deste
estudo foi analisar a eficácia do PNP na prevenção da depressão pós-parto, bem como os
impactos da depressão pós-parto nas relações mãe-filho e no desenvolvimento infantil.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de um estudo exploratório, qualitativo na forma de uma de revisão bibliográfica
narrativa. Essa investigação possibilitará a elucidação e análise do tópico, embasando-se em
fontes acadêmicas previamente publicadas, tais como artigos, livros, dissertações, teses, entre
outras. As obras e periódicos acessíveis em bases de dados representam recursos extensamente
empregados, facultando uma exploração mais profunda do tema (Martins e Pinto, 2012).
Marconi e Lakatos (2017) destacam que esse método proporciona aos pesquisadores uma
interação direta com as publicações referentes ao tema. A proposta dessa abordagem não
consiste em reproduzir o que foi abordado anteriormente, mas sim em oferecer uma
perspectiva crítica inédita sobre o assunto, introduzindo uma nova visão e abordagem ao tema,
contribuindo para o enriquecimento da literatura relacionada ao assunto.
A pesquisa foi conduzida utilizando Google Acadêmico, Google Livros, Bibliotecas,
Catálogos, Editores, Periódicos, Documentos, Artigos, Almanaques CAPES e outras fontes
públicas confiáveis. As leis também podem ser usadas para fazer isso provar direitos a tópicos
específicos, palestras, ao vivo ou outras fontes confiáveis (Souza, Oliveira e Alves, 2021).
A abordagem inicial na formação da amostra foi realizada por meio da análise dos títulos e
resumos, identificando os estudos que atendiam aos objetivos estabelecidos para a pesquisa.
Foram considerados trabalhos publicados em inglês ou português, que tenham sido publicados
entre os anos de 2010 a 2023, com os descritores “psicologia perinatal”, “maternidade”,
“gravidez”, “parentalidade”, “puerpério”, “tratamento”, “pré-natal psicológico”,
“desenvolvimento infantil”, “tratamento farmacológico’, “depressão”, ”terapia cognitivo
comportamental". Selecionando aqueles alinhados aos objetivos do estudo estabelecidos
antecipadamente. Foram excluídos artigos duplicados ou que não atendam aos objetivos do
projeto e artigos que não são acessíveis gratuitamente ou por meio de busca realizada pela
plataforma CAFe dos periódicos CAPES.
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3. DESENVOLVIMENTO
A psicologia perinatal engloba uma área dedicada ao entendimento e à produção de
conhecimento sobre as questões perinatais e parentais. Essa disciplina abrange a compreensão dos
fenômenos psicológicos associados ao processo de nascimento, abordando temas como
planejamento familiar, luto perinatal, gravidez, parto e puerpério. Além disso, inclui técnicas
preventivas para mitigar as principais alterações emocionais típicas desse período, como ansiedade,
estresse e depressão (Schiavo, 2019).
3.1 Depressão pós-parto
A depressão pós-parto é o transtorno de humor mais prevalente associado ao nascimento,
sua recorrência é de 1:3 a 1:4 mulheres se a mãe não for tratada corretamente e está associada a
grave incapacidade para realizar as atividades da vida diária. Acomete cerca de 19,2% das puérperas
nos primeiros três meses pós-parto, com prevalências que variam entre 3% e 30% no primeiro ano.
Em geral, a ocorrência tende a diminuir ou se resolver entre três e seis meses na maioria dos casos.
No entanto, uma proporção maior pode ter um curso crônico (CNS, 2009). Seus efeitos sobre a
relação mãe-filho não distinguem diferenças culturais ou de nível socioeconômico materno, e seu
impacto no desenvolvimento da criança está diretamente relacionado à sua duração e intensidade
(Cavalcante et al., 2017).
A deterioração que pode causar na interação mãe-filho se traduz no estabelecimento de
apegos inseguros e alterações no desenvolvimento psicomotor. Alguns pesquisadores descobriram
que os filhos de mães com depressão pós-parto têm duas vezes mais chances de desenvolver
problemas de comportamento de longo prazo e de serem vítimas de violência doméstica. Da mesma
forma, fazem menos exames de saúde, recebem menos imunizações e apresentam alterações na
rotina da atenção básica (Dennis, 2007).
Além disso, em puérperas, tem sido descrita uma menor percepção de auto eficácia para
manter o aleitamento materno bem-sucedido, manifestada em maiores preocupações com a
alimentação,insegurança e dúvidas sobre a capacidade de alimentar o bebê, menor satisfação ao
amamentar e cessação precoce da amamentação (Guimarães et al. 2017).
3.2 Fatores de risco e fatores de proteção
Entre os fatores de risco mais associados à depressão pós-parto estão história pessoal de
baixa autoestima, depressão prévia e depressão pós-parto, relações conjugais difíceis, redes de apoio
insuficientes e, em particular, ansiedade, transtornos depressivos e de estresse durante a gravidez
(CNS, 2009).
Vários fatores estão associados à depressão pós-parto, incluindo o estado civil, a história
familiar de problemas mentais, a vulnerabilidade genética da mãe, a presença de severa tristeza pós-
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parto, características de personalidade e estilos cognitivos inclinados à negatividade, a experiência
do parto e complicações obstétricas, bem como a depressão em casais. Por fim, as características de
saúde e temperamento do recém-nascido também mostram uma associação, embora mais fraca,
conforme observado por Schmidt, Piccoloto e Müller (2005).
Diversos fatores apresentam uma associação discreta com a depressão pós-parto. Estes
incluem disfunções da tireoide, alterações hormonais, alta hospitalar precoce, parto prematuro,
alimentação artificial do bebê, relacionamento ruim do casal, processos de luto em curso, idade,
etnia, religião e paridade da mãe. Além disso, fatores como habitar em lugares remotos ou rurais,
dificuldades de adaptação à maternidade, histórico de abuso sexual na infância, uso de tabaco e
presença de doença médica na mãe também são mencionados como contribuintes, conforme
indicado por Rojas (2010).
Uma das hipóteses biológicas associadas ao desenvolvimento da depressão pós-parto está
relacionada aos níveis séricos de triptofano que são menores no final da gravidez e no início do
puerpério quando comparados com mulheres não grávidas. Essa elevação causa variações nos
padrões de comportamento habituais das pessoas, incluindo sono, apetite, níveis de energia,
atividade sexual e social, todos comportamentos associados a sintomas depressivos.
Os estressores físicos e psicossociais aumentam a resposta inflamatória, razão pela qual se
postula que esse mecanismo poderia estar na base de todos os fatores de risco tradicionalmente
associados à ocorrência de depressão pós-parto. Os distúrbios do relacionamento ou do sono durante
o puerpério aumentam o risco de desenvolver um distúrbio do humor. Os fatores de risco associados
à depressão pós-parto referem-se a eventos ou situações durante a gravidez e o parto que favorecem
o desenvolvimento de problemas físicos, psicológicos e sociais (Hartmann; Mendoza-Sassi; Cesar,
2017).
Esses fatores de risco incluem gravidez única, conflito conjugal, falta de apoio paterno,
antecedentes familiares de depressão, quadros depressivos e ansiedade durante a gestação, gestação
não planejada, suporte social insuficiente, tensões e acontecimentos adversos na gravidez,
idealização materna e histórico de violência doméstica. Além disso, há a influência de dificuldades
financeiras pós-parto e complicações maternas e obstétricas. A identificação desses fatores pode
contribuir para uma melhor compreensão da doença e a implementação de estratégias de prevenção
e diagnóstico precoce (da Rocha et al., 2017).
Da mesma forma, uma série de fatores de proteção associados à redução do risco de DPP
foram descritos. Entre eles, estilos cognitivos positivos, altos níveis de autoestima materna, bom
relacionamento com o companheiro e participação religiosa, o que ajudaria a enfrentar o estresse
inicial da maternidade. Assim como a percepção materna de apoio nas tarefas domésticas e
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parentais, uma vez que a disponibilidade e o uso do dinheiro das redes sociais de apoio podem
amenizar o desenvolvimento ou gravidade do quadro depressivo (Schwartz, 2002).
Da mesma forma, amamentar o bebê com leite materno tem sido descrito como fator de
proteção, principalmente em es primigestas. Isso induziria alguns benefícios psiconeuroimunes
ao reduzir a atividade inflamatória por atenuar a elevação do cortisol, ACTH, epinefrina e
norepinefrina, e diminuiria a reatividade materna ao estresse, promovendo comportamentos
nutricionais em relação ao bebê. Ao contrário, a interrupção abrupta da amamentação ou sua curta
duração têm sido associadas a uma maior probabilidade de ocorrência de depressão pós-parto
(Hartmann; Mendoza-Sassi; Cesar, 2017).
Essa pesquisa evidencia que o planejamento pré-natal, fundamentado em métodos
psicológicos, independentemente da abordagem adotada, proporciona benefícios. Seja por meio de
referenciais teóricos práticos para psicossomática ou psicoeducação, como é o caso do pré-natal
psicológico, tais abordagens podem contribuir para a ampliação dos fatores de proteção contra a
depressão pós-parto (Arrais et al., 2015; Bortoletti, 2007).
3.3 Diagnóstico
O diagnóstico de depressão pós-parto confere algumas dificuldades, incluindo o fraco
reconhecimento dos transtornos de humor durante a gravidez. Cerca de metade dos sintomas
depressivos diagnosticados no puerpério iniciaram ou continuaram a sua evolução durante a
gravidez, apesar de se saber que o diagnóstico e tratamento corretos antes do parto implicam em
menor probabilidade de desenvolvimento de depressão pós-parto. Por outro lado, os sintomas
depressivos do puerpério podem ser confundidos com a adaptação normal a essa fase da vida (Roveri
et al. 2019).
Durante as primeiras semanas pós-parto, cerca de 80% das mães vivenciam uma condição
denominada disforia / tristeza pós-parto, caracterizada por instabilidade emocional, tristeza, insônia,
choro, fadiga, irritabilidade e ansiedade. Essa condição ocorre entre o terceiro e o décimo dia pós-
parto e tem sido associada às alterações hormonais da fase, portanto, o requer tratamento
farmacológico, mas sim a contenção e apoio da família (Roveri et al. 2019).Se os sintomas se
estendem por mais de duas semanas com diminuição significativa do humor acompanhada de
sintomas vegetativos, emocionais, de pensamento, comportamentais e de ritmo vital, configura-se o
episódio depressivo (Ribeiro; Cieto; Silva, 2022).
A Escala de Depressão de Edimburgo é considerada o melhor instrumento de rastreamento
para avaliar sintomas de humor em puérperas. Seus itens estão agrupados em tristeza e ansiedade,
com alta consistência interna, sensibilidade de 100% e especificidade de 80%. Validada em várias
culturas, atinge maior sensibilidade com um ponto de corte entre 9 e 10 pontos . Com 10 questões
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de auto relato, varia de 0 a 3 pontos, abordando disforia, ansiedade, sentimento de culpa, ideias
suicidas e dificuldades de concentração. Essa escala mede a intensidade sintomática, sendo o método
confiável para avaliação do transtorno do humor no puerpério, utilizando-se, primeiramente, da
escala e, posteriormente, de entrevistas diagnósticas padronizadas para mulheres com pontuações
elevadas (Paulson, 2010).
O melhor momento para aplicar a Escala de Depressão de Edimburgo é às oito semanas pós-
parto, pois coincide com o período de máxima incidência de depressão puerperal e também com a
diminuição dos sintomas atribuíveis a um período adaptativo normal (Beck, 2001). Diante do
exposto, salienta-se que o diagnóstico da depressão pós-parto envolve uma avaliação clínica por
profissionais de saúde mental, como psicólogos, psiquiatras ou médicos de família. A avaliação
inclui uma entrevista detalhada com a mãe para avaliar seus sintomas, história médica e emocional.
Os critérios para o diagnóstico de depressão pós-parto são semelhantes aos critérios para a depressão
maior em outros momentos da vida. Os critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais (DSM-5) podem ser usados como referência para o diagnóstico (Schardosim; Heldt, 2011).
A triagem da depressão pós-parto é rotineiramente realizada durante o pré-natal e no pós-
parto, usando instrumentos de avaliação de depressão, como a Escala de Depressão Pós-Parto de
Edimburgo (EPDS) (Paulson, 2010).Os indícios necessitam perdurar por, no mínimo, duas semanas
para que se configure o diagnóstico de depressão pós-parto, embora a avaliação possa ser conduzida
em qualquer período durante o primeiro ano após o parto. É crucial destacar que somente um
profissional de saúde mental devidamente licenciado está capacitado para efetuar um diagnóstico
preciso de depressão pós-parto e administrar a terapêutica adequada (Ribeiro; Cieto; Silva, 2022).
3.4 Tratamento
O tratamento da depressão pós-parto requer uma abordagem que considere a multiplicidade
de fatores envolvidos na sua ocorrência e manutenção e as implicações que tem para a mãe e o filho.
Diante do diagnóstico, os profissionais de saúde frequentemente se questionam quanto à melhor
abordagem do quadro clínico: qual é o melhor tratamento? As medidas não farmacológicas são tão
eficazes quanto o uso de antidepressivos ?Quais são os medicamentos mais recomendados, entre
outros.
Vários estudos analisaram comparativamente a eficácia de diferentes intervenções
terapêuticas para tratar DPP e concluíram que a terapia farmacológica mostra maior eficácia do que
as intervenções não farmacológicas para reduzir os sintomas depressivos em mulheres no pós-parto
(Araújo; Cerqueira-Santos, 2020).No entanto, o medo de efeitos adversos no bebê desempenha um
papel importante na decisão materna de aceitar e continuar o tratamento. Embora o uso de
medicamentos antidepressivos seja a melhor opção para reverter o quadro clínico, história que
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mostra que as intervenções psicossociais e psicológicas também são uma alternativa, principalmente
se forem iniciadas precocemente (Da-Silva; Vasconcelos; Moura, 2021)
Os antidepressivos desenvolvem seu efeito terapêutico por meio do bloqueio da recaptação
de neurotransmissores como serotonina, dopamina e norepinefrina, entre outros. evidências
suficientes para apoiar o uso de alguns medicamentos antidepressivos para o tratamento de DPP que
são seguros para crianças amamentadas (Maes, 2001). Os antidepressivos de escolha são os
inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS). Os antidepressivos tricíclicos permanecem
em uma segunda linha de tratamento, pois estão mais frequentemente associados á sedação
excessiva e efeitos adversos anticolinérgicos (Mann, 2008).
Entre os ISRSs, a sertralina e a paroxetina devem ser consideradas como a primeira opção
no tratamento do DPP em mulheres que desejam continuar amamentando. Seu uso não oferece riscos
para a lactante, uma vez que não foram detectados níveis sanguíneos significativos dessas drogas.
Outros ISRSs, como fluoxetina e citalopran ,que têm meia-vida mais longa, portanto, alguns estudos
relatam níveis séricos elevados em filhos de mães usuárias, que podem estar associados à presença
de efeitos adversos em crianças, como cólica, diarreia e irritabilidade (Roveri et al. 2019)
Estabelecido o diagnóstico, as indicações do tratamento devem ser claras em relação ao seu
início, dose, efeito terapêutico e efeitos adversos. É importante informar à mãe a existência de um
período de latência no início da resposta farmacológica que varia entre 2 e 4 semanas, durante o qual
ela deve continuar tomando o medicamento, apesar de não observar remissão dos sintomas (Da-
Silva; Vasconcelos; Moura, 2021).
A sertralina e a paroxetina correspondem a ISRSs que estimulam os receptores 5-HT2. Essa
estimulação pode explicar efeitos adversos como ansiedade, insônia, inibição da libido e disfunção
sexual. Por outro lado, a estimulação dos receptores 5-HT3 pode causar náuseas, anorexia, perda de
peso, desconforto abdominal e diarreia. No caso das puérperas, sugere-se iniciar o tratamento com
metade da dose recomendada para diminuir a sensibilidade inicial ao medicamento e a ocorrência
de efeitos colaterais (Roveri et al. 2019)
Em relação à abordagem não farmacológica, as intervenções psicossociais e psicológicas são
uma alternativa complementar ao tratamento farmacológico dos sintomas depressivos, que têm a
vantagem de não gerar medo nas mães por não produzirem efeitos diretos nos filhos. Vários estudos
têm tentado demonstrar a eficácia de diferentes intervenções, aceitando que qualquer intervenção
psicossocial ou psicológica, comparada com o cuidado pós-parto usual, está associada a uma
redução na probabilidade de apresentar sintomas depressivos, medidos de alguma forma, no final
do primeiro ano pós-parto. Destas intervenções, os resultados da terapia de orientação cognitivo-
comportamental são tão bons quanto aqueles alcançados com medicamentos antidepressivos
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(Araújo e Cerqueira-Santos, 2020).
Segundo os autores Sunde e Gonçalves (2022) (apud Powell, Abreu, Oliveira e Sudak,
2008), a estratégia de tratamento da abordagem cognitivo-comportamental da depressão envolve
três fases de trabalho: 1) foco em pensamentos automáticos e protocolos depressivos; 2) foco no
estilo de interação da pessoa com os outros; 3) mudança de comportamento para melhor responder
adequadamente às situações problemáticas. Recomenda-se uma média de 6 a 20 sessões para ajudar
os pacientes a desenvolver um senso de controle pessoal e reduzir os sintomas depressivos.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em resumo, a presente pesquisa destaca a importância crucial da psicologia perinatal no
contexto do cuidado perinatal, enfocando a prevenção da depressão pós-parto e a promoção do
bem-estar integral das mães e bebês. A abordagem multidisciplinar, exemplificada pelo pré-
natal psicológico e pela terapia cognitivo-comportamental durante o pré-natal, reforça a
necessidade de estratégias abrangentes que considerem os aspectos emocionais, cognitivos e
sociais da gestação e do pós-parto. A ênfase na integralidade do cuidado ressalta a importância
contínua de investimentos em políticas públicas e práticas clínicas, visando aprimorar a
qualidade do cuidado perinatal e contribuir para o bem-estar materno e infantil.
Além disso, os resultados desta pesquisa fornecem uma base sólida para a implementação
prática dessas estratégias no campo da saúde materna e infantil. A eficácia do pré-natal
psicológico e da terapia cognitivo-comportamental destaca-se como intervenções valiosas para
prevenir e tratar questões emocionais durante o período perinatal. Profissionais de saúde podem
incorporar essas abordagens em suas práticas diárias, promovendo não apenas a saúde mental
das gestantes, mas também contribuindo para a construção de relacionamentos saudáveis entre
mães e bebês desde os primeiros momentos de vida.
Por fim, esta pesquisa reforça a necessidade de uma abordagem holística no cuidado perinatal,
integrando não apenas aspectos biomédicos, mas também considerações psicológicas e
emocionais. Ao reconhecer a gestação como uma jornada compartilhada entre mães, bebês e
suas redes de apoio, a abordagem preventiva e terapêutica proposta destaca-se como um
caminho promissor para enfrentar os desafios perinatais. O desenvolvimento de políticas
públicas que promovam essa abordagem integrativa e a formação de profissionais de saúde para
sua implementação são passos fundamentais para garantir um cuidado perinatal mais
abrangente e eficaz.
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