Arquivos do Mudi, v. 28, n. 3, p. 01-20, ano 2024
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ARTIGO ORIGINAL

Aceito em: 11/08/2024 Publicado em: 15/12/2024


PROFILE OF SECONDARY-LEVEL PROFESSIONAL AND TECHNOLOGICAL

EDUCATION IN SERGIPE BETWEEN 2014 AND 2023
Abstract

Vocational and Technological Education is an important tool for training the workforce for the Brazilian
market. However, its impact on individuals' lives cannot be restricted to economic aspects and must be an
emancipatory tool. The objective of this study is to analyze vocational and technological education in the
state of Sergipe based on the main indicators provided by official data collection information related to
education in Brazil. The methodology included the collection and analysis of data from the School Census,
the 2022 Demographic Census, and the Atlas Brasil platform, as well as the use of bibliographic research
according to the principle of narrative literature review. The results demonstrated that, in Sergipe, there
was a significant change in the participation of female individuals throughout the historical series,
demonstrating greater permanence and success of these individuals in the context of vocational and
technological education training paths and the continued difficulty of continuing vocational education
among the black and brown population. It was concluded that it is necessary for professional and
technological education institutions and units in Sergipe to review not only their teaching and learning
process but also their access and retention policies for their target audience in order to reduce the observed
social inequalities.
Keywords: Human Development. Federal Institute of Sergipe. SDG 4.

PERFIL DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA EM SERGIPE
ENTRE OS ANOS DE 2014 E 2023

Rafael Rodrigo Ferreira de Lima
Universidade Federal de Sergipe –
UFS
rafaelarielrodrigo@gmail.com

Patrícia de Oliveira
Instituto Federal Baiano – IF Baiano
patricia.deoliveira@ifbaiano.edu.br

Resumo
A Educação Profissional e Tecnológica é uma importante
ferramenta para a formação de mão-de-obra para o mercado
brasileiro. No entanto, sua atuação na vida dos indivíduos não pode
ser restrita apenas ao caráter econômico e precisa ser uma
ferramenta emancipatória. O objetivo deste trabalho é analisar a
educação profissional e tecnológica no estado de Sergipe a partir
dos principais indicadores fornecidos por informações oficiais de
coleta de dados relativos à educação no Brasil. A metodologia
compreendeu a coleta e análise de dados nas bases do Censo
Escolar, do Censo Demográfico 2022 e da plataforma Atlas Brasil
bem como a utilização da pesquisa bibliográfica de acordo com o
princípio da revisão narrativa da literatura. Os resultados
demonstraram que, em Sergipe, houve uma mudança significativa
na participação dos indivíduos do sexo feminino ao longo da série
histórica, demonstrando maior permanência e sucesso desses
indivíduos no contexto dos percursos formativos da educação
profissional e tecnológica e a manutenção da dificuldade de
continuidade da educação profissional entre a população preta e
parda. Concluiu-se que é necessário que as instituições e unidades
de ensino profissional e tecnológico sergipanas revejam não apenas
seu processo de ensino e aprendizagem como também suas políticas
de acesso e permanência do seu público-alvo de forma a reduzir as
desigualdades sociais observadas.
Palavras-chave: Desenvolvimento Humano. Instituto Federal de
Sergipe. ODS 4.

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1. INTRODUÇÃO

A Educação Profissional e Tecnológica, EPT, tem sido um pilar fundamental para o

desenvolvimento das profissões no território brasileiro (Vieira e Teles, 2023) e é colocada como

“parte de uma educação integral e emancipatória, que rompe com o dualismo e fragmentação

do ser, por meio da tríade: pesquisa, extensão e ensino (Ineia; Ellensohn; Turchetti, 2023, p.10).

Apesar disso, a EPT é, no processo de tentativa de emancipar o indivíduo por meio de

uma educação que possibilite o exercício da cidadania e ferramentas para o mundo do trabalho

que permitam a garantia da qualidade de vida e a dignidade da pessoa humana, vítima dos

processos reformistas e contrarreformistas, por vezes antagônicos, que objetivam apenas a

manutenção da produtividade do sistema capitalista (Oliveira, 2023; Pelissari, 2023). Não está

livre de aberrações como o Bullying (Silva; Espínola; Silva Junior, 2024) ou o preconceito de

classe social (Oliveira, 2023) e precisa, justamente por sua suscetibilidade aos contextos sociais

e suas ligações inatas com o mundo do trabalho, ser analisada não apenas como um corpo

homogêneo, mas ser entendida e compreendida a partir das suas interações com as

comunidades, os governos nacional e subnacionais, o setor produtivo e a academia, enquanto

modificadora de si.

Nos últimos anos a Educação Profissional e Tecnológica passou por significativas

mudanças em sua infraestrutura, na sua dinâmica educacional e no seu embasamento legal que

alteraram como a EPT vinha sendo desenvolvida (Pelissari, 2023). Nesse sentido, é válido

buscar a compreensão de como essa modalidade de ensino tem modificado a estrutura social

dos locais em que as unidades de ensino são instaladas e desenvolvem suas atividades

acadêmicas. Assim, o objetivo deste trabalho é analisar a educação profissional e tecnológica

no estado de Sergipe a partir dos principais indicadores fornecidos por informações oficiais de

coleta de dados relativos à educação no Brasil.


2. MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa de caráter exploratório e quantitativo foi realizada por meio da coleta de

dados secundários na base de dados do Censo Escolar no Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, utilizando o percurso e os filtros descritos na Figura

1.

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Figura 1Fluxograma de pesquisa na plataforma do censo escolar- INEP. Fonte: autores, 2024.

Adicionalmente, as bases do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e da

plataforma Atlas Brasil foram consultadas para a coleta de dados sobre o perfil da população

sergipana e o atraso escolar em Sergipe.

A literatura foi consultada utilizando o princípio da revisão narrativa da literatura, com

prioridade a trabalhos científicos publicados que versem sobre a educação profissional e

tecnológica em Sergipe.


3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A evolução do crescimento das matrículas na educação profissional e tecnológica,

incluindo as modalidades concomitante, subsequente Educação de Jovens e Adultos e Normal,

no Brasil, no contexto das instituições de ensino federais, demonstra um aumento entre 2014 e

2018 e um decréscimo de 34889 matrículas no contexto nacional, 2705 matrículas na realidade

da região Nordeste e de 542 matrículas a menos em Sergipe, entre os anos de 2018 e 2023,

conforme pode ser observado no Gráfico 1.

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Gráfico 1 – Evolução de matrículas da rede profissional técnica de nível médio.
Fonte: Adaptado de INEP, 2024.


Quando se desagrega esse dado por região e por estado verifica-se que a região Nordeste

e o estado de Sergipe apresentaram estabilidade de matrículas ao longo da série histórica. É

válido ressaltar que, em Sergipe, apenas a modalidade Normal, isto é, a modalidade de ensino

que objetiva a formação de profissionais para atuação em estabelecimentos de ensino, não

compõem o quadro de matrículas nesse período, o que contribui para menos matrículas quando

comparado com o país e com a região Nordeste. Em relação a esse cenário, Machado e Ferreira

(2019) demonstraram que a Educação Profissional e Tecnológica ofertada pela rede federal

apresenta-se, historicamente, menor que o quantitativo de matrículas das redes estadual e

privada na série compreendida entre 2007 e 2018 e que correspondem a todo o conjunto de

programas para esse tipo de educação. Para esses autores,


[...] a dinâmica das matrículas da Educação Profissional ao longo do período estudado
e a sua relação com as decisões de políticas públicas implementadas a partir da relação
capital-trabalho, destacamos algumas ações de políticas públicas para EPT
importantes no período, que impactaram diretamente na evolução das matrículas. No
período, são consideradas importantes as ações vinculadas aos seguintes programas:
Brasil Profissionalizado; Profuncionário; Programa Mulheres Mil; Programa
Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec); Programa Nacional de
Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de
Educação de Jovens e Adultos (Proeja); Rede e-Tec Brasil; Rede Certific e, mais
recentemente, MedioTec (Machado; Ferreira, 2019, p. 100).


Lima e Oliveira, 2024

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Dessa forma, é importante observar que a evolução das matrículas para a Educação

Profissional e Tecnológica, entre 2014 e 2023, são reflexos de ações pretéritas que remontam

às ações das gestões Lula entre 2003 e 2010. De acordo com Corrêa Filho, Paixão e Nogueira

(2022), a manutenção de políticas públicas para a EPT no primeiro mandato do governo Lula,

2003 a 2006, e a criação de diversos programas, conforme destacado por Machado e Ferreira

(2019), foram entraves para um projeto robusto e de longo prazo para esse tipo de formação,

embora tais ações serviram para sedimentar e reorganizar a EPT no cenário nacional. Entre

2007 e 2010, o segundo mandato do governo Lula “estabeleceu diretrizes para orientar a

reorganização das instituições federais de educação profissional e tecnológica a fim de atuarem

em formatos integrados e regionais, no âmbito da Rede Federal de Educação Tecnológica

(Corrêa Filho; Paixão; Nogueira, 2022, p. 1012)”. Ainda de acordo com Corrêa Filho, Paixão e

Nogueira (2022), essa reorganização resultou na criação dos Institutos Federais e da Rede

Federal de Educação Profissional e Tecnológica e


A Rede Federal constituiu um marco na diversificação e na interiorização da educação
profissional e tecnológica no país, e os Institutos Federais tornaram-se centros de
desenvolvimento científico, tecnológico, de produções culturais e de cooperativismo.
Atualmente têm uma estrutura educacional verticalizada e ofertam modalidades de
ensino desde o ensino médio integrado até a pós-graduação, em programas lato e
stricto sensu (Corrêa Filho; Paixão; Nogueira, 2022, p.1013).


A interiorização da Rede Federal, conforme pode ser observado no Gráfico 2, ainda está

fortemente centralizada para e por centros urbanos. Nos cenários nacional, regional e estadual

(Sergipe) a Educação Profissional e Tecnológica ainda assume um tom majoritariamente

urbano, tendo a zona rural com pouca adesão.

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Gráfico 2 – Evolução do número de matrículas da rede profissional técnica de nível médio.
Fonte: Adaptado de INEP, 2024.


Isso pode ser, em parte, explicado pela historicidade brasileira e do modo de produção

vigente que desencadeia a falsa ideia de atraso no ambiente rural (Siquelli, 2022). Nessa

perspectiva,


[...] a dualidade campo/cidade é reafirmada na medida em que se concebe ser o mundo
urbano o local por excelência do consumo, da força do capital. Isso reforça a ideia de
que o campo é sempre local de atraso, de dependência do urbano. O fomento para o
sustento dessa ideia tem a ver com o próprio desejo de reafirmação do capitalismo
como sistema econômico a ser assumido e desenvolvido no Brasil do século XX,
vontade política e investimento em instituições que formassem para o trabalho/para a
mão de obra não faltar (Siquelli, 2022, p. 9).


Percebe-se, dessa forma, que a continuidade na perpetuação dos preconceitos relativos

ao meio rural afeta fortemente os processos de transformação social que ocorrem por meio dos

processos formativos da educação profissional e tecnológica, ainda que sua capilaridade por

meio de programa como aqueles nos formatos do Mulheres Mil e o do PRONATEC tentem

reverter tal quadro de preconceitos e estigmatização. Nesse sentido, a ressignificação dos meios

urbano e rural precisa ser uma atividade essencial nos processos formativos e na cultura

popular, principalmente onde as unidades de ensino que prestam serviço de educação

profissional e tecnológica estão, ou serão, instaladas de forma que essas unidades consigam

desempenhar sua função social e econômica de forma adequada e com sucesso.

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Gráfico 3 – Evolução do número de escolas rede profissional técnica de nível médio.
Fonte: Adaptado de INEP, 2024.


Ainda assim, dentro do contexto da expansão e da interiorização da rede profissional e

tecnológica e da dicotomia urbano e rural, observa-se, de acordo com o Gráfico 3, que embora

tenha havido um aumento no número de matrículas a partir de 2011, com uma taxa de

crescimento positiva em 2014, 2015, 2016, 2018 (Corrêa Filho, Paixão, Nogueira, 2022), as

unidades de ensino públicas federais ofertantes de educação profissional de nível médio não

seguiu a mesma evolução apresentando estabilidade no período entre 2014 e 2023. Em Sergipe,

houve o acréscimo de apenas três unidades nesse período, ainda que a população sergipana

tenha aumentado desde o início deste século, conforme pode ser observado no Gráfico 4.

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Gráfico 4 – Evolução da população sergipana entre 2000 e 2022.
Fonte: Adaptado de IBGE, 2022.


Em relação à taxa de aprovação dos discentes na educação profissional e tecnológica de

nível médio, de acordo com o Gráfico 5, o estado de Sergipe apresentou uma taxa de aprovação

dos discentes estável entre 2018 e 2022, contrapondo-se às taxas do período entre 2014 e 2017,

que oscilaram entre os extremos de 69,10% a 81,20%. Ao se comparar com a taxa de aprovação

nacional, o estado de Sergipe está dentro da faixa nacional, demonstrando um aproveitamento

substancial dos processos de ensino-aprendizagem empregados pela instituição responsável

pela educação profissional e tecnológica no estado.



Gráfico 5 – Taxa de Aprovação em Sergipe e no Brasil.
Fonte: Adaptado de INEP, 2024.

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Ao desagregar essa taxa de aprovação por sexo, de acordo com o Gráfico 6, verifica-se,

em Sergipe, que há um melhor rendimento entre os indivíduos do sexo feminino, que

apresentam taxas de aprovação maiores em todo o período analisado. Os indivíduos do sexo

masculino, embora possuam taxas muito próximas daquelas apresentadas pelo sexo feminino,

ainda assim estão abaixo, demonstrando que o acesso à educação profissional e tecnológica

pode representar um reposicionamento de gênero no mercado de trabalho.


Gráfico 6 – Taxa de aprovação, por sexo em Sergipe.
Fonte: Adaptado de INEP, 2024.

Quando se analisa sob o viés da cor/raça, o estado de Sergipe mostra-se com uma

deficiência em fornecer subsídios para a justiça social educacional para os pretos e pardos tendo

em vista que são estes que apresentam taxas de aprovação menores que a de brancos, conforme

o Gráfico 7. Esse cenário demonstra uma fragilidade basilar no acesso e permanência do

discente preto ou pardo no estado sergipano, exigindo ações corretivas e preventivas de forma

que a educação seja de fato transformadora para essa parcela da população.

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Gráfico 7 – Taxa de aprovação, por cor/raça em Sergipe.
Fonte: Adaptado de INEP, 2024.

Se, por um lado, a taxa de aprovação em Sergipe tenha se aproximado da taxa nacional

ao longo da série histórica, como pode ser observado no Gráfico 8, a situação da taxa de

abandono da sala de aula revela que houve reduções significativas em Sergipe entre 2014 e

2022, ficando abaixo da taxa nacional em 2022, ainda que entre 2020 e 2022 eventos adversos

como a pandemia do SARS-CoV-2 e suas mudanças na dinâmica do processo de ensino-

aprendizagem tenham influído nessa dinâmica.


Lima e Oliveira, 2024

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Gráfico 8 – Taxa de abandono em Sergipe e no Brasil.
Fonte: Adaptado de INEP, 2024.


No entanto, a desagregação da taxa de abandono do estado de Sergipe revela que a

dinâmica do abandono, por sexo, Gráfico 9, sofreu uma mudança significativa a partir de 2017

quando os indivíduos do sexo feminino passaram a compor a maioria dos participantes no

movimento do abandono. Observa-se então que os indivíduos do sexo masculino, que até então

abandonavam com maior frequência a formação acadêmica técnica profissional passaram a se

manter no percurso formativo.



Gráfico 9 –Taxa de Abandono, por sexo, em Sergipe.
Fonte: Adaptado de INEP, 2024.


Entretanto, quando a análise é por cor/raça, de acordo com o Gráfico 10, observa-se que

são os pretos e pardos que mais abandonam o percurso formativo em Sergipe, ainda que tenha

ocorrido uma diminuição substancial a partir de 2018, essa parcela da população ainda é a que

mais abandona a educação profissional e tecnológica de nível médio.

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Gráfico 10 – Taxa de Abandono, por cor/raça, em Sergipe.
Fonte: Adaptado de INEP, 2024.


Campos e Santana (2013), ao relacionar as causas provocadoras de evasão no IFS -

Campus Itabaiana entre os anos de 2011 e 2012, evidenciaram que a incompatibilidade de

horário entre o curso e o trabalho, a tentativa de cursar dois cursos simultaneamente,

considerando diferentes níveis de ensino e a inaptidão para a área de formação do curso

escolhido, a dificuldade de deslocamento. Essas autoras, considerando o principal motivo de

evasão escolar no IFS destacam que


[...] o maior índice de evasão escolar está relacionado à necessidade de
conciliar os estudos com o trabalho, obrigando os estudantes a
abandonarem a sala de aula. A necessidade de trabalhar é um fator
externo, difícil de ser resolvido pela escola por pertencer a um contexto
social maior, porém a escola pode criar ações e estratégias e assim
garantir políticas de permanência dos estudantes (Campos; Santana,
2013, p.3269).


De acordo com Souza e Melo (2022) os fatores que provocam a evasão na EPT

compreendem, entre outras, o acesso à instituição, dificuldade de relacionamento do estudante

com servidores e colegas, frustração em relação ao curso, a necessidade de trabalhar, o modelo

de ensino, dificuldades de aprendizagem, repetência, excesso de matérias, nível de exigência

dos docentes, formação precária no ensino fundamental e a condição e os fatores

socioeconômicos.

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No que se refere à taxa de promoção, ou seja, a taxa que revela a progressão dos

discentes para a série seguinte na educação profissional e tecnológica, observa-se, no Gráfico

11, que Sergipe passa, a partir de 2016, o pior ano da série histórica, a percorrer o caminho de

melhoria desse quadro tornando com o desempenho melhor que a taxa nacional.



Gráfico 11 – Taxa de promoção em Sergipe e no Brasil.
Fonte: Adaptado de INEP, 2024.


No entanto, essa melhoria da taxa de promoção não foi, ainda que parcialmente,

homogênea entre os sexos. Como pode ser visto no Gráfico 12, o sexo feminino foi o que mais

conseguiu sucesso nesse indicador, mesmo no pior ano verificado, 2016. E, em 2020, alcançou

o melhor patamar, 93,10%. Isso condiz com o que foi verificado no Gráfico 6, em que o sexo

feminino foi o que conseguiu a maior taxa de aprovação ao longo de toda a série histórica.


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Gráfico 12 – Taxa de promoção, por sexo, em Sergipe.
Fonte: Adaptado de INEP, 2024.


Apesar disso, a desagregação por cor/raça demonstra que os pretos e pardos são os que

mais apresentam déficit na taxa de promoção na educação profissional de nível médio em

Sergipe, Gráfico 13, ainda que tenha havido uma sensível melhora a partir de 2016. Esse cenário

corrobora com as dificuldades apresentadas por essa parcela étnica verificadas nos Gráficos 7

e 10.


Lima e Oliveira, 2024

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Gráfico 13 – Taxa de promoção, por sexo, em Sergipe.
Fonte: Adaptado de INEP, 2024.


E, se por um lado, a taxa de promoção geral para Sergipe e para o Brasil apresentou

melhora, a taxa de distorção idade-série diminuiu para esses dois cenários, conforme o Gráfico

14.



Gráfico 14 – Taxa de distorção idade-série em Sergipe e no Brasil.
Fonte: Adaptado de INEP, 2024.

Na desgragação da taxa de distorção idade-série por sexo, verifica-se que o sexo

masculino sergipano apresenta maior atraso escolar que o sexo feminino e condiz com a análise

precedente, em que o sexo feminino tem demonstrado o alcance maior do sucesso acadêmico.

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Gráfico 15 – Taxa de distorção idade-série, por sexo, em Sergipe.
Fonte: Adaptado de INEP, 2024.


De forma complementar, Gráfico 16, a desagregação por cor/raça demonstra que os

pretos e pardos são os que apresentam a maior taxa de atraso escolar em relação aos

autodeclarados brancos. Revela, dessa maneira, uma lógica perversa que reserva aos pretos e

pardos uma condição de subalternidade em relação aos brancos e que se perpetua por meio da

educação, ainda que ambos ocupem o espaço de trabalho operacional e/ou tático que se reserva

aos cursos técnicos no mercado de trabalho.


A lógica capitalista que permeia a educação formal imprime no processo formativo
dos indivíduos uma fragmentação e uma precarização, que contribui para a
manutenção das relações sociais hegemônicas e que é fruto da divisão social do
trabalho (Silva; Espínola; Silva Júnior, 2024, p.118).


É um cenário acadêmico que institucionaliza a desumanização de estratos sociais

inteiros e, dentro destes, os indivíduos em virtude de sua cor e cujo fundamento ainda se

encontra dentro do processo de ensino-aprendizagem e do acesso à educação. E isso só ocorre

porque, entre outros fatores, a Educação Profissional e Tecnológica “é considerada um capital

que favorece o desenvolvimento profissional, reduzindo o papel da escola à preparação do

indivíduo para o mercado de trabalho (Silva, Espínola; Silva Júnior 2024, p. 120)”.



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Gráfico 16 – Taxa de distorção idade-série, por cor/raça, em Sergipe.
Fonte: Adaptado de INEP, 2024.


Apesar disso, o quadro apresentado no Gráfico 16 possui raízes no ensino fundamental

sergipano. Entre 2014 e 2021, conforme o Gráfico 17, a porcentagem de indivíduos na faixa

etária de 6 a 14 anos que possuíam matrícula no ensino fundamental e que possuíam dois anos

ou mais de atraso escolar na distorção idade-série foi maior entre os pretos e pardos.



Gráfico 17 – Taxa de distorção idade-série no ensino fundamental, por cor/raça, em Sergipe.
Fonte: Adaptado de Atlas Brasil, 2022.

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É evidente, portanto, que esse atraso observado no ensino fundamental resvala também

no ensino médio profissionalizante, provocando não apenas distorções entre a idade do

indivíduo e a série de estudo como também contribuindo para o desestímulo na continuidade

do percurso acadêmico.

Quando se compreende que a população sergipana se percebe como majoritariamente

parda (61,6%) e apenas 25,2% branca, conforme o Censo Demográfico 2022 (IBGE, 2022), é

alarmante que, no contexto geral, a Educação Profissional e Tecnológica ainda não seja comum

para a maioria da população, quando se restringe a análise de acordo com a cor percebida pelos

indivíduos. Além disso, é válido lembrar que o projeto de economia para o Brasil acabará, em

algum momento, esbarrando com os preconceitos sociais nítidos, vividos e vivenciados pelos

pardos e pretos. Isso porque


[...] o atual projeto de formação profissional alinhado ao ideário neoliberal
que se pretende reforçar no Brasil passa pelo rejuvenescimento da Teoria do
Capital Humano (FRIGOTTO, 2011). Tal movimento se dá pela recorrência do
discurso do surgimento de uma sociedade do conhecimento, dentro da qual se busca
qualidade total, entendida como o máximo de produção com o mínimo de
investimento. Logicamente, tal objeto será cumprido a partir de políticas austeras,
que atuam a partir da intensificação da exploração, da difusão de um pensamento
que passa pela formação de subjetividades afinadas com a noção da necessidade
de esforço, mérito e sacrifício num contexto em que o emprego não é mais visto
como um direito, mas sim como uma conquista (Oliveira, 2023, p.47)


Ou seja, o indivíduo é alimentado com ideias e pensamentos que não condizem com a

sua realidade, mas com a realidade imposta pelo mercado e que, desde a sua formação, é

classificado e entendido dentro dos limites da unidade de ensino como um produto primário do

setor produtivo, pois o percurso acadêmico classifica o indivíduo “através de seu histórico

escolar, como inferior, médio ou superior, estabelecendo assim a hierarquia no contexto escolar,

que prediz e legitima a hierarquia social e a manutenção da sociedade de classes (Silva;

Espínola; Silva Júnior, p.118)”.

Em um contexto de empregabilidade e de históricas cisões sociais na população

brasileira, não é aceitável que o preto e o pardo, principalmente no contexto sergipano onde a

população assim se percebe, continue à margem da educação e mais, que todos os discentes da

Educação Profissional e Tecnológica se percebam e se coloquem ora como um conjunto de

utilitários para a produção de bens e ora se coloquem como controladores do status quo de uma

sociedade social e economicamente doente.


Lima e Oliveira, 2024

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4. CONCLUSÃO

A formação profissional e tecnológica no estado de Sergipe, no período entre os anos

de 2014 e 2023, ainda é marcada por uma forte tendência à marginalização dos pretos e dos

pardos em um contexto em que a própria sociedade sergipana se percebe dentro desse espectro

de cores. Isso levanta questões sobre como esses indivíduos são colocados dentro do mercado

de trabalho e em que tipo de trabalho querem esses indivíduos.

Do ponto de vista dos sexos, o feminino tem se sobressaído em relação ao masculino no

que se refere ao sucesso acadêmico, ou seja, a conclusão do percurso formativo. É interessante

e desejável que os indivíduos que se percebem como do sexo feminino estejam alcançando

níveis de formação diversos e aumentando sua participação no ambiente de trabalho e

acadêmico. No entanto, é necessário que as instituições de ensino e suas unidades busquem

compreender o motivo da retração da presença masculina nesses espaços. Associado a isso, a

cor desses indivíduos, masculinos e femininos, suas perspectivas de futuro e seus locais de

vivências precisam sofrer mudanças positivas com a ajuda da educação profissional e

tecnológica que, até esse momento, foi incapaz de reter e levar a esses indivíduos o sucesso

social e econômico em sua integralidade no estado de Sergipe.


REFERÊNCIAS

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www.atlasbrasil.org.br/consulta/planilha. Acesso em: 15 mar. 2024.

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