Arquivos do Mudi, v. 28, n. 3, p. 82-100, ano 2024
www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/ArqMudi
ARTIGO ORIGINAL
Aceito em: 30/10/2024 Publicado em: 15/12/2024
FLORULA OF THE STREAM CHANNEL CORTADO, UPPER PARANÁ RIVER
FLOODPLAIN, PORTO RICO, PARANÁ, BRAZIL
Abstract
The Upper Paraná River floodplain (PIAP) is located between the states of Mato Grosso do Sul and Paraná,
Brazil. On the left bank of the floodplain lies the Cortado channel, one of the secondary channels of the
Paraná River, in the municipality of Porto Rico, PR (22º47’30’‘S, 53º24’37’'W). The aim of this study was
to inventory the florula of the Cortado channel, based on collections from the Long-Term Ecological
Research program (PELD/CNPq – site 6) and records from the HNUP herbarium (Nupélia/UEM). A total
of 61 families and 166 species were identified. Rubiaceae was the family with the highest species richness
(12 species), followed by Poaceae (10) and Asteraceae (9). The most diverse genera were Ludwigia (family
Onagraceae), with five species, and Polygonum (Polygonaceae), with four, while Guarea macrophylla
Vahl (Meliaceae) had the highest number of collections. Seven species are endemic to Brazil and Mikania
capricorni B.L. Rob (Asteraceae) was identified as a near-threatened species. Regarding growth habits,
most species were herbaceous, totaling 61 taxa. The substrate subject to flooding housed 63 species,
followed by 25 in permanently flooded areas and 22 in dry substrates. These results expand the knowledge
of the local flora, contributing to conservation efforts and the development of management plans, as well
as enabling the monitoring of environmental changes and floristic composition over time.
Keywords: Floristic survey. Herbaria. Riparian vegetation.
FLÓRULA DO CANAL CORTADO, PLANÍCIE DE INUNDAÇÃO DO ALTO
RIO PARANÁ, PORTO RICO, PARANÁ, BRASIL
Natália Alves França
Universidade Estadual de Maringá – UEM
natalvesfranca@gmail.com
Jéssica Magon Garcia
Universidade Estadual de Maringá – UEM
jesinhamagon@gmail.com
Mariza Barion Romagnolo
Universidade Estadual de Maringá – UEM
mbromagnolo@uem.br
Kazue Kawakita
Universidade Estadual de Maringá – UEM
kazue@nupelia.uem.br
Resumo
A planície de inundação do alto rio Paraná (PIAP) está localizada
entre os estados de Mato Grosso do Sul e Paraná, Brasil. Na margem
esquerda da planície está o canal Cortado, um dos canais
secundários do rio Paraná, no município de Porto Rico, PR
(22º47'30''S, 53º24'37''W). O objetivo deste estudo foi inventariar a
flórula do canal Cortado, com base em coletas do programa de
Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD/CNPq – sítio 6) e
registros do herbário HNUP (Nupélia/UEM). Foram identificadas
61 famílias e 166 espécies. Rubiaceae foi a família com maior
riqueza de espécies (12 espécies), seguida de Poaceae (10) e
Asteraceae (9). Os gêneros mais diversos foram Ludwigia (família
Onagraceae), com cinco espécies, e Polygonum (Polygonaceae),
com quatro, enquanto Guarea macrophylla Vahl (Meliaceae)
apresentou o maior número de coletas. Oito espécies são endêmicas
do Brasil e Mikania capricorni B.L. Rob (Asteraceae), espécie
quase ameaçada de extinção, foi registrada. Quanto ao hábito, a
maioria das espécies são herbáceas, totalizando 61 táxons. O
substrato sujeito a alagamento abrigou 63 espécies, seguido de 25
em áreas permanentemente alagadas e 22 em substratos secos. Os
resultados ampliam o conhecimento da flora local, contribuindo
para a conservação e elaboração de planos de manejo, além de
possibilitar o monitoramento de mudanças ambientais e na
composição florística ao longo do tempo.
Palavras-chave: Levantamento florístico. Herbário. Vegetação
ripária.
Flórula do canal cortado, planície de inundação do alto rio paraná, Porto Rico, Paraná, Brasil
Arquivos do Mudi, v. 28, n. 3, p. 82-100, ano 2024 83
1. INTRODUÇÃO
Estudos florísticos e fitossociológicos são fundamentais para entender a estrutura e
dinâmica das formações vegetais, e auxiliam no manejo e na regeneração de comunidades
(CHAVES et al., 2013). A vegetação ripária, que margeia corpos d'água (GARCIA et al., 2011),
é crucial para proteger os recursos hídricos e garantir a manutenção do fluxo gênico entre
populações biológicas (DURIGAN; SILVEIRA, 1999; KUNTSCHIK; EDUARTE; UEHARA,
2010).
As planícies de inundação, exemplos de ambientes com vegetação ripária, são sistemas
ecológicos caracterizados por grande diversidade de ambientes, o que contribui para uma
elevada biodiversidade (JUNK et al., 2014). Os estudos da planície de inundação do alto rio
Paraná (PIAP), localizada entre os estados do Paraná e do Mato Grosso do Sul, vêm sendo
realizados desde meados dos anos 1990, e vários relataram a diversidade biológica da região, o
que resultou em recursos para o manejo e a conservação de uma área tão rica em florestas
ripárias.
Um levantamento fitossociológico (150 parcelas de 150 m² em uma área de 4.950 m²)
realizado no canal Cortado (SOUZA-STEVAUX et al., 1995), remanescente pertencente à
PIAP, registrou 21 famílias e 33 espécies botânicas, com H’ (índice de diversidade de Shannon-
Wiener) igual a 2,51, considerado intermediário para Florestas Estacionais Semideciduais
(GRAY; TEMPONI; DAMASCENO JUNIOR, 2014). Dados relacionados a este levantamento
fitossociológico descrevem a área como uma área de estágio sucessional clímax, no entanto, o
estudo não contemplou espécies herbáceas, epífitas, entre outros hábitos.
Tendo em vista que estudos sobre a composição da vegetação local da PIAP são
essenciais para a ampliação do conhecimento da diversidade vegetal em sistemas de inundação,
justifica-se o levantamento da flórula da área de estudo, o canal Cortado incluindo os demais
hábitos e os ambientes onde ocorrem. Assim, o trabalho teve como objetivo realizar o
levantamento da flórula do canal Cortado, localizado na planície de inundação do alto rio
Paraná, Porto Rico, Paraná, Brasil.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
No presente trabalho foi realizado no Herbário do Nupélia (HNUP) da Universidade
Estadual de Maringá o levantamento da Flórula do Canal Cortado, localizado na Planície de
Inundação do Alto Rio Paraná (PIAP), nos anos em que foram coletadas (desde 1992 a 2002 e
anos de 2012, 2013 e 2021), vinculadas ao programa brasileiro de Pesquisas Ecológicas de
Flórula do canal cortado, planície de inundação do alto rio paraná, Porto Rico, Paraná, Brasil
Arquivos do Mudi, v. 28, n. 3, p. 82-100, ano 2024 84
Longa Duração (PELD/CNPq) – sítio 6. O material botânico encontrado nos acervos foi
identificado com base em outros materiais da PIAP, acervados no HNUP. Foi apresentada a
lista florística das espécies (famílias, gêneros e espécies), endemismo, origem, ameaça de
extinção, hábito e ambientes, de acordo com as informações disponibilizadas online pela Flora
e Funga do Brasil (2024) e nas fichas de identificação de cada espécime.
A planície de inundação do alto rio Paraná (PIAP) (22º38’-22º57’ S e 53º05’-53º36’ O),
entre os estados do Mato Grosso do Sul e do Paraná, Brasil (Figura 1), no trecho denominado
alto rio Paraná, compreende as áreas ripárias do rio Paraná e seus afluentes e ilhas, inseridas na
metade superior da Área de Proteção Ambiental das Ilhas e Várzeas do Rio Paraná (APA-
IVRP), a qual faz parte da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica - MAB/UNESCO
(AGOSTINHO et al., 2004). Na margem esquerda da planície está localizado o Canal Cortado
(22º47’30’’S, 53º24’37’’W), um dos canais secundários do rio Paraná, no município de Porto
Rico, estado do Paraná.
Figura 1 – Mapa da localização do canal Cortado na margem esquerda da planície de inundação
do alto rio Paraná (PIAP), Paraná, Brasil. Créditos da imagem: Jaime Luis Lopes,
Nupélia/UEM.
França et al., 2024
Arquivos do Mudi, v. 28, n. 3, p. 82-100, ano 2024 85
O clima da região é do tipo Cfa (Köppen), com temperatura média máxima anual entre
23,1 e 24ºC e umidade relativa anual entre 65,1 a 70% (NITSCHE et al., 2019). A vegetação
encontra-se inserida no Bioma Mata Atlântica, com remanescentes de Floresta Estacional
Semidecidual (FES) e campos naturais, secos ou brejosos, além de pastagens ativas ou
abandonadas (SOUZA et al., 2009). De acordo com Veloso et al. (2012), a formação FES tem
conceito ecológico estabelecido em função do clima estacional, o qual determina a
semideciduidade das folhas da cobertura vegetal. Cerca de 20 a 50% das espécies são
caducifólias e perdem suas folhas individualmente em estações secas.
Na zona tropical, a FES está associada à região com seca hibernal e intensas chuvas de
verão, enquanto na zona subtropical, predomina o clima sem período seco, com inverno de
temperaturas médias inferiores a 15ºC, que determinam o repouso fisiológico e a queda parcial
da folhagem. No Brasil são delimitadas quatro formações da FES: Aluvial, Terras Baixas,
Montana e Submontana, pois o tipo florestal apresenta-se descontínuo e sempre acentuado entre
climas gerais (IBGE, 1992). Na PIAP ocorrem as formações FES Aluvial e Submontana; na
região do canal Cortado, a vegetação é representada pela FES Aluvial, onde são encontradas
Handroanthus sp., Calophyllum brasiliense Cambess., Tapirira guianensis Aubl., Inga sp.,
Podocarpus sellowii Klotzsch ex Endl., Cedrela liloi C.DC., Guarea guidonia (L.) Sleumer,
entre outros ecótipos (VELOSO et al., 2012).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O presente levantamento da flórula do Canal Cortado, situado na margem esquerda do
rio Paraná, em Porto Rico, Paraná, se baseou em 289 amostras de herbário de 1992 a 2002 e
anos de 2012, 2013 e 2021. Foram registradas 61 famílias botânicas distribuídas em 166
espécies, com duas não identificadas a nível de família. Uma família pertence à divisão das
Briófitas (LI et al., 2024), duas à Pteridophyta (PPG, 2016) e as 58 restantes à Magnoliophyta
(APG IV, 2016). Souza e Monteiro (2005) registraram 60 famílias e 165 espécies em um
levantamento florístico da Mata do Araldo, um remanescente florestal na mesma região,
enquanto Kita e Souza (2003) identificaram 36 famílias e 89 espécies na vegetação da Lagoa
Figueira e seu entorno, também localizado na PIAP. É apresentado, na Tabela 1, a lista florística
da flórula do Canal Cortado.
Tabela 1 – Lista florística (famílias, gêneros e espécies) de plantas vasculares registradas no
Canal Cortado, localizado na Planície de Inundação do Alto Rio Paraná, Porto Rico, Paraná,
Brasil. HAB = hábito (arbo = arbórea; arbu = arbustiva; suba = subarbustiva; trep = trepadeira;
herb = herbácea e bamb = bambu), AME = ameaça de extinção (NE = sem dados suficientes;
Flórula do canal cortado, planície de inundação do alto rio paraná, Porto Rico, Paraná, Brasil
Arquivos do Mudi, v. 28, n. 3, p. 82-100, ano 2024 86
LC = pouco preocupante; NT = quase ameaçada), NE = número de espécimes coletados, AMB
= ambientes (AL = alagado; SJ = sujeito a alagamento; SC = seco não sujeito a alagamento),
SUB = substrato (terrestre, aquática e epífita), e HNUP = registro no Herbário do Nupélia, ✿
= espécies endêmicas; ◼ = espécies exóticas.
FAMÍLIA/Espécie HAB AME NE AMB SUB HNUP
BRIÓFITAS
MARCHANTIOPHYTA
RICCIACEAE
Ricciocarpos sp. herb 1 AL aquática 18481
PTERIDOPHYTA (Pteridófitas)
POLYPODIACEAE
Microgramma
persicariifolia (Schrad.)
C.Presl
herb NE 1 epífita 16110
Microgramma
vacciniifolia (Langsd. &
Fisch.) Copel.
herb NE 6 epífita 16342
PTERIDACEAE
Adiantum latifolium Lam. herb NE 5 SJ terrestre 12369
Pityrogramma
calomelanos (L.) Link
herb NE 1 SJ terrestre 4070
Pityrogramma trifoliata
(L.) R.M.Tryon
herb NE 1 SJ terrestre 4075
Pteris propinqua J.Agardh herb NE 4 AL terrestre 4079
MAGNOLIOPHYTA (Angiospermas)
ACANTHACEAE
Hygrophila guianensis
Nees ex. Benth
herb NE 2 SJ terrestre 12360
Justicia comata (L.) Lam herb NE 1 SJ terrestre 12368
ALISMATACEAE
Sagittaria montevidensis
Cham. & Schltdl.
herb NE 3 AL, SJ aquática 1065
AMARANTHACEAE
Chamissoa altissima
(Jacq.) Kunth
trep LC 1 SJ terrestre 4418
Iresine diffusa Humb. &
Bonpl. ex Willd.
trep NE 1 SJ terrestre 19444
ANNONACEAE
Annona sylvatica A.St.-
Hil. ✿
arbo NE 1 SC terrestre 12358
França et al., 2024
Arquivos do Mudi, v. 28, n. 3, p. 82-100, ano 2024 87
Unonopsis guatterioides
(A.DC.) R.E.Fr.
arbo NE 4 SC terrestre 4364
APOCYNACEAE
Forsteronia pubescens
A.DC.
trep NE 1 SC terrestre 4150
Funastrum clausum
(Jacq.) Schltr.
trep NE 1 SJ terrestre 1192
Metastelma sp. trep 1 SJ 19472
Tabernaemontana
catharinensis A.DC.
arbo 1 SJ terrestre 19448
ASTERACEAE
Ageratum conyzoides L. herb NE 1 SC terrestre 12354
Eclipta prostrata (L.) L. herb NE 3 AL, SJ terrestre 9547
Eupatorium sp. arbu 1 SC terrestre 4141
Melanthera latifolia
(Gardner) Cabrera
herb LC 2 AL terrestre 8982
Mikania capricorni
B.L.Rob.
trep NT 1 SJ terrestre 1252
Pseudogynoxys cabrerae
H.Rob. & Cuatrec.
trep NE 2 SC terrestre 1823
Vernonanthura sp. arbu 1 SC terrestre 9548
Indeterminada herb 1 terrestre 7281
Indeterminada 2 1 12370
BIGNONIACEAE
Indeterminada 2 trep 1 SJ terrestre 19456
BORAGINACEAE
Indeterminada herb 1 SJ terrestre 19447
BROMELIACEAE
Tillandsia recurvata (L.)
L.
herb NE 2 epífita 5467
CACTACEAE
Lepismium lumbricoides
(Lem.) Barthlott
herb NE 1 epífita 2000
CANNABACEAE
Celtis iguanaea (Jacq.)
Sarg.
arbo NE 4 SC terrestre 12351
Trema micrantha (L.)
Blume
arbu NE 2 SJ terrestre 4159
CLEOMACEAE
Flórula do canal cortado, planície de inundação do alto rio paraná, Porto Rico, Paraná, Brasil
Arquivos do Mudi, v. 28, n. 3, p. 82-100, ano 2024 88
Tarenaya hassleriana
(Chodat) Iltis
herb NE 1 AL aquática 4140
Tarenaya sp. herb 1 AL aquática 19438
CLUSIACEAE
Garcinia sp. arbo 1 SC terrestre 19440
COMBRETACEAE
Combretum laxum Jacq. trep NE 1 SJ terrestre 19439
COMMELINACEAE
Callisia monandra (Sw.)
Schult.f.
herb 1 AL terrestre 15899
Commelina diffusa Burm.
F.
1 SJ 19441
Commelina sp. 1 herb 1 SJ terrestre 12292
Commelina sp. 2 herb 1 SJ terrestre 12365
CONVOLVULACEAE
Ipomoea cairica (L.)
Sweet
trep NE 1 SJ terrestre 18359
COSTACEAE
Costus arabicus L. herb NE 1 SJ terrestre 18606
CYPERACEAE
Cyperus aggregatus
(Willd.) Endl.
herb NE 1 SJ terrestre 12350
Cyperus corneliiostenii
Kük.
herb NE 1 SJ terrestre 4255
Cyperus sp. herb 1 SJ terrestre 18373
Eleocharis sp. herb 1 AL terrestre 18376
Scleria gaertneri Raddi herb NE 1 SJ terrestre 15329
Scleria uleana Boeckeler
✿
herb NE 1 SJ terrestre 1301
Scleria sp. 1 herb 1 SJ terrestre 1302
Scleria sp. 2 arbu 1 SJ terrestre 12374
Indeterminada herb 1 terrestre 18377
DILLENIACEAE
França et al., 2024
Arquivos do Mudi, v. 28, n. 3, p. 82-100, ano 2024 89
Davilla rugosa Poir. trep NE 4 SJ terrestre 19437
Doliocarpus dentatus
(Aubl.) Standl.
arbo NE 2 SJ terrestre 12639
ELAEOCARPACEAE
Sloanea garckeana
K.Schum.
arbu LC 1 SJ terrestre 12376
Sloanea guianensis
(Aubl.) Benth.
arbo NE 3 SJ terrestre 19452
Sloanea sp. arbo 1 AL terrestre 19435
ERYTHROXYLACEAE
Erythroxylum anguifugum
Mart. ✿
arbo LC 2 AL terrestre 12379
Erythroxylum buxus Peyr. arbo LC 2 AL terrestre 12379
EUPHORBIACEAE
Croton urucurana Baill. arbo NE 1 AL terrestre 12353
Dalechampia sp. 1 SJ terrestre 7293
Euphorbia hirta L. arbo NE 1 terrestre 7290
FABACEAE
Aeschynomene sp. arbu 1 AL terrestre 4172
Inga vera subsp. affinis
(DC.) T.D.Penn.
arbo NE 1 AL terrestre 4170
Peltophorum dubium
(Spreng.) Taub.
arbo NE 1 SJ terrestre 4171
Senna pendula (Humb.&
Bonpl.ex Willd.)
H.S.Irwin & Barneby
arbu NE 1 SJ terrestre 3389
Zygia cataractae (Kunth)
L.Rico
arbo NE 1 SJ terrestre 2999
HELIOTROPIACEAE
Heliotropium indicum L. herb NE 1 SC terrestre 4139
Heliotropium sp. 1 SJ 19446
HYDROLEACEAE
Hydrolea spinosa L. herb NE 1 SJ terrestre 4397
LAMIACEAE
Aegiphila vitelliniflora
Walp.
herb NE 4 SJ terrestre 4154
Flórula do canal cortado, planície de inundação do alto rio paraná, Porto Rico, Paraná, Brasil
Arquivos do Mudi, v. 28, n. 3, p. 82-100, ano 2024 90
LAURACEAE
Nectandra angustifolia
(Schrad.) Nees & Mart.
arbo LC 3 SC terrestre 12383
Nectandra cissiflora Nees arbo LC 1 SJ terrestre 4181
Nectandra leucantha
Nees & Mart. ✿
arbo LC 1 SJ terrestre 853
Nectandra membranacea
(Sw.) Griseb.
arbo NE 2 SJ terrestre 880
Nectandra sp. arbo 1 terrestre 881
Ocotea diospyrifolia
(Meisn.) Mez
arbo NE 2 SJ terrestre 13759
LYGODIACEAE
Lygodium volubile Sw. trep NE 1 SJ terrestre 4086
LYTHRACEAE
Cuphea melvilla Lindl. herb LC 2 SJ terrestre 12382
Cuphea sp. herb 1 terrestre 18360
Cuphea sp. 2 herb 1 terrestre 18372
LYTHRACEAE
Rotala sp. herb 1 terrestre 18378
MALPIGHIACEAE
Banisteriopsis muricata
(Cav.) Cuatrec.
trep NE 1 SJ terrestre 12059
Hiraea hatschbachii
C.E.Anderson
trep NE 2 SJ terrestre 4284
Mascagnia divaricata
(Kunth) Nied.
trep NE 1 SJ terrestre 4270
Stigmaphyllon bonariense
(Hook. & Arn.)
C.E.Anderson
trep NE 1 SJ terrestre 4473
Indeterminada trep 1 SC terrestre 18368
MALVACEAE
Hibiscus striatus Cav. herb,
arbu
3 AL terrestre 1438
Hibiscus sp. arbu 1 AL terrestre 8966
Sida sp. 1 7343
França et al., 2024
Arquivos do Mudi, v. 28, n. 3, p. 82-100, ano 2024 91
MELASTOMATACEAE
Clidemia hirta (L.) D.Don arbu NE 1 SJ terrestre 1808
MELIACEAE
Guarea macrophylla Vahl arbo NE 10 SJ, SC terrestre 10730
Guarea macrophylla
subsp. spiciflora (A.Juss.)
T.D.Penn.
arbo NE 3 SJ, SC terrestre 4509
Trichilia pallida Sw. arbu NE 2 SC terrestre 16152
MYRTACEAE
Eugenia egensis DC. arbo NE 6 SJ terrestre 10919
Eugenia florida DC. arbo LC 3 SJ, SC terrestre 11957
Eugenia paracatuana
O.Berg
arbu NE 3 SJ terrestre 11954
Psidium guajava L. ◼ arbo NE 1 terrestre 12366
Syzygium cumini (L.)
Skeels ◼
arbo NE 1 terrestre 12364
NYCTAGINACEAE
Pisonia aculeata L. trep NE 1 SC terrestre 4573
ONAGRACEAE
Ludwigia elegans
(Cambess.) H.Hara
arbu,
herb
NE 2 SJ terrestre 15835
Ludwigia lagunae
(Morong) H.Hara
arbu,
suba
NE 3 AL terrestre 12373
Ludwigia leptocarpa
(Nutt.) H.Hara
suba NE 1 AL terrestre 4173
Ludwigia martii (Micheli)
Ramamoorthy
herb NE 2 SJ terrestre 4147
Ludwigia sp. arbu 1 terrestre 18374
PHYTOLACCACEAE
Petiveria alliacea L. ◼ arbu NE 1 SJ 16619
PICRAMNIACEAE
Picramnia sellowii
Planch.
arbo LC 2 terrestre 4176
Flórula do canal cortado, planície de inundação do alto rio paraná, Porto Rico, Paraná, Brasil
Arquivos do Mudi, v. 28, n. 3, p. 82-100, ano 2024 92
PIPERACEAE
Peperomia circinnata
Link
herb NE 1 epífita 1989
Piper tuberculatum Jacq. arbu 3 SJ terrestre 4177
PLANTAGINACEAE
Mecardonia sp. herb 1 terrestre 18361
Stemodia sp. herb 1 SJ terrestre 4149
POACEAE
Acroceras zizanioides
(Kunth) Dandy
herb NE 2 SC terrestre 11271
Cenchrus purpureus
(Schumach.) Morrone ◼
herb NE 1 SC terrestre 1407
Guadua paniculata
Munro
bamb NE 4 SC terrestre 11278
Guadua chacoensis
(Rojas Acosta) Londoño
& P.M.Peterson
bamb NE 1 SJ terrestre 11150
Guadua sp. bamb 1 AL terrestre 18591
Hymenachne
amplexicaulis (Rudge)
Nees
herb NE 1 AL aquática 4167
Ocellochloa stolonifera
(Poir.) Zuloaga &
Morrone
herb NE 1 SJ terrestre 13538
Oplismenus hirtellus (L.)
P.Beauv.
herb NE 2 SJ terrestre 12380
Paspalum repens
P.J.Bergius
herb NE 3 SJ aquática 1514
Rugoloa hylaeica (Mez.)
Zuloaga
herb LC 1 SJ terrestre 13336
Urochloa mutica (Forssk.)
T.Q.Nguyen ◼
herb NE 2 SC terrestre 13536
POLYGONACEAE
Polygonum acuminatum
Kunth
herb NE 1 AL terrestre 886
Polygonum ferrugineum
Wedd.
herb NE 1 AL aquática 817
Polygonum persicaria L.
◼
herb NE 1 SJ aquática 13094
França et al., 2024
Arquivos do Mudi, v. 28, n. 3, p. 82-100, ano 2024 93
Polygonum sp. herb 1 SJ 18375
Triplaris americana L. arbo NE 1 SJ terrestre 16079
PONTEDERIACEAE
Eichhornia azurea (Sw.)
Kunth
herb NE 1 AL aquática 1513
PRIMULACEAE
Clavija nutans (Vell.)
B.Ståhl ✿
arbo NE 2 terrestre 12606
RHAMNACEAE
Colubrina retusa (Pittier)
Cowan
arbo NE 1 terrestre 4166
Gouania sp. trep 1 AL terrestre 19426
RUBIACEAE
Cephalanthus glabratus
(Spreng.) K.Schum.
arbu LC 1 AL terrestre 888
Coussarea contracta
(Walp.) Müll.Arg.
arbu NE 1 terrestre 12544
Coussarea platyphylla
Müll.Arg.
arbo NE 4 AL terrestre 13733
Galianthe brasiliensis
(Spreng.) E.L.Cabral &
Bacigalupo
herb,
arbu
NE 2 SJ terrestre 12363
Palicourea crocea (Sw.)
Roem. & Schult.
arbu NE 3 SJ terrestre 795
Palicourea croceoides
Ham.
arbu NE 1 SC terrestre 832
Palicourea marcgravii
A.St.-Hil.
arbu NE 3 SJ terrestre 12372
Psychotria capillacea
(Müll.Arg.) Standl.
arbu,
herb
NE 8 SJ, SC terrestre 12356
Psychotria carthagenensis
Jacq. ✿
arbu NE 8 SJ, SC terrestre 12357
Psychotria leiocarpa
Cham. & Schltdl.
arbu NE 4 SJ terrestre 831
Rosenbergiodendron
longiflorum (Ruiz & Pav.)
Fagerl.
arbu,
arbo
NE 2 SC terrestre 1511
Staelia thymoides Cham.
& Schltdl.
suba NE 1 terrestre 12569
RUTACEAE
Flórula do canal cortado, planície de inundação do alto rio paraná, Porto Rico, Paraná, Brasil
Arquivos do Mudi, v. 28, n. 3, p. 82-100, ano 2024 94
Citrus sp. arbo 1 SC terrestre 438
Citrus sp. 2 arbo 1 SJ terrestre 12575
Citrus sp. 3 arbo 1 SC terrestre 5180
SALICACEAE
Casearia decandra Jacq. arbo NE 9 SJ terrestre 4185
Casearia gossypiosperma
Briq.
arbo LC 2 SJ terrestre 4202
Casearia lasiophylla
Eichler ✿
arbo LC 1 SJ terrestre 12531
SAPINDACEAE
Allophylus edulis (A.St.-
Hil. et al.) Hieron. ex
Niederl.
arbo NE 1 SC terrestre 687
Paullinia elegans
Cambess.
trep NE 2 SJ terrestre 12362
Sapindus saponaria L. arbo NE 1 SJ terrestre 12676
SAPOTACEAE
Chrysophyllum
gonocarpum (Mart. &
Eichler ex Miq.) Engl.
arbo NE 1 SC terrestre 13711
Chrysophyllum
marginatum (Hook. &
Arn.) Radlk.
arbo NE 1 SJ terrestre 5582
Pouteria torta (Mart.)
Radlk.
arbo LC 1 SJ terrestre 19450
Indeterminada arbo 1 SJ terrestre 4162
SMILACACEAE
Smilax campestris Griseb. trep NE 1 SC terrestre 4161
SOLANACEAE
Physalis angulata L. ◼ herb NE 1 SJ terrestre 920
Solanum bonariense L. trep NE 2 SJ terrestre 1034
Solanum
decompositiflorum
Sendtn. ✿
trep 2 AL terrestre 5140
França et al., 2024
Arquivos do Mudi, v. 28, n. 3, p. 82-100, ano 2024 95
Solanum subumbellatum
Vell. ✿
trep NE 3 AL, SJ terrestre 3409
URTICACEAE
Cecropia pachystachya
Trécul
arbo 1 terrestre 7284
Urera aurantiaca Wedd. arbu 1 SJ terrestre 16481
Urera sp. arbu 1 SJ terrestre 4158
VERBENACEAE
Lippia alba (Mill.)
N.E.Br. ex P.Wilson
suba,
arbu
NE 2 AL, SJ terrestre 4152
VIOLACEAE
Pombalia communis
(A.St.-Hil.) Paula-Souza
arbu NE 2 SC terrestre 12355
VITACEAE
Cissus palmata Poir. trep NE 3 SJ terrestre 4151
Cissus verticillata (L.)
Nicolson & C.E.Jarvis
trep NE 6 SJ terrestre 12766
INDETERMINADAS
Indeterminada 1 1 12643
Indeterminada 2 1 15572
Souza-Stevaux et al. (1995), em um levantamento fitossociológico do canal Cortado, ao
considerar apenas os hábitos arbóreos e arbustivos, registraram 21 famílias e 33 espécies.
Allophylus edulis (A.St.-Hil. et al.) Hieron. ex Niederl. (família Sapindaceae), Cecropia
pachystachya Trécul (Urticaceae), Celtis iguanaea (Cannabaceae), Coussarea platyphylla
Müll.Arg. (Rubiaceae), Eugenia florida DC., Eugenia egensis DC. (Myrtaceae), Guarea
macrophylla Vahl (Meliaceae), Nectandra angustifolia (Schrad.) Nees & Mart., Ocotea
diospyrifolia (Meisn.) Mez (Lauraceae), Peltophorum dubium (Spreng.) Taub. (Fabaceae),
Psychotria carthagenensis Jacq. (Rubiaceae), Sapindus saponaria L. (Sapindaceae), Unonopsis
guatterioides (A.DC.) R.E.Fr. (Annonaceae) e Zygia cataractae (Kunth) L.Rico (Fabaceae) são
comuns no presente estudo. Coussarea platyphylla, Eugenia egensis, Guarea macrophylla,
Nectandra angustifolia, Psychotria carthagenensis e Unonopsis guatterioides são frequentes
coletas no canal, o que sugere que essas espécies vêm se estabelecendo na área de estudo ao
longo do período superior a 20 anos (1995 a 2021).
A família com maior riqueza específica registrada no canal foi Rubiaceae (12 espécies),
seguida por Poaceae (dez) e Asteraceae (nove). Rubiaceae foi registrada como a família mais
Flórula do canal cortado, planície de inundação do alto rio paraná, Porto Rico, Paraná, Brasil
Arquivos do Mudi, v. 28, n. 3, p. 82-100, ano 2024 96
rica no estudo da vegetação da Mata do Araldo (SOUZA; MONTEIRO, 2005), assim como
Slusarski; Souza (2012), em um levantamento ampliado da mesma área. É considerada uma das
famílias mais importantes em florestas ripárias (RODRIGUES; NAVE, 2000) e, ao longo das
áreas levantadas na PIAP, em estudos da vegetação, está entre as famílias de maior riqueza
florística (SOUZA; CISLINSKI; ROMAGNOLO, 1997; SOUZA et al., 2009). Em relação às
demais famílias de maior riqueza específica no canal Cortado, Poaceae e Asteraceae foram
registradas entre as famílias de maior riqueza específica na Lagoa Figueira (KITA; SOUZA,
2003).
Ludwigia (família Onagraceae) e Polygonum (Polygonaceae) foram os gêneros com
maior número de espécies, com cinco e quatro espécies, respectivamente. Os demais gêneros
aqui registrados não apresentam mais de três espécies para cada gênero, fato já verificado para
outras áreas da PIAP segundo Souza e Monteiro (2005) e Slusarski e Souza (2012). Isso é
relevante porque evidencia a distribuição de espécies entre as famílias, ao invés de dominância
de poucas espécies.
Guarea macrophylla Vahl (família Meliaceae) foi a espécie registrada com maior
número de coletas no canal Cortado, com dez registros entre 1992 a 1995 e novamente em 2012.
Segundo Müller; Schmidt (2017), a presença abundante da espécie em florestas ripárias
aumenta a biodiversidade local, estabiliza o solo e apoia as funções do ecossistema,
contribuindo para a restauração de habitats e a resiliência em áreas degradadas.
O hábito de maior prevalência entre as espécies coletadas no canal Cortado é o herbáceo,
com 61 espécies, semelhante aos resultados de Kita e Souza (2003). Nos estudos realizados na
Mata do Araldo (SOUZA; MONTEIRO, 2005, SLUSARSKI; SOUZA, 2012) o hábito
predominante é o arbóreo. Já em um estudo considerando toda a área da planície (SOUZA et
al., 2009), o porte herbáceo é predominante entre os demais hábitos, porém, em áreas com
formações vegetacionais diferentes. Junk e Piedade (1989), ao investigarem a vegetação da
planície de inundação do médio Amazonas, encontraram a predominância do porte herbáceo,
favorecido pelos pulsos de inundação, mantendo as planícies em estágios de sucessão iniciais,
com crescimento e reprodução rápidos e curto ciclo de vida.
A maioria das espécies registradas são terrestres, nove são aquáticas, cinco são epífitas
e sete não apresentaram informações registradas. Com o assoreamento do canal, as espécies
aquáticas, as quais foram coletadas entre 1992 a 1996, podem não ser eventualmente coletadas
novamente, devido à situação atual da área de estudo.
Sete espécies exóticas foram registradas no Canal Cortado, incluindo Psidium guajava
L., Syzygium cumini (L.) Skeels (família Myrtaceae), Petiveria alliacea L. (Phytolaccaceae),
França et al., 2024
Arquivos do Mudi, v. 28, n. 3, p. 82-100, ano 2024 97
Cenchrus purpureus (Schumach.) Morrone, Urochloa mutica (Forssk.) T.Q.Nguyen (Poaceae),
Polygonum persicaria L. (Polygonaceae) e Physalis angulata L. (Solanaceae). Dentre elas, P.
guajava, C. purpureus, U. mutica e P. angulata são classificadas como invasoras (INSTITUTO
HÓRUS, 2024).
As espécies exóticas, quando introduzidas em outros ambientes, livres de inimigos
naturais, se adaptam e passam a reproduzir-se a ponto de ocupar o espaço de espécies nativas,
podendo produzir alterações nos processos ecológicos naturais, e tendem a se tornar dominantes
(CRONK; FULLER, 2014). Portanto, a presença dessas espécies pode representar uma ameaça
à regeneração natural da vegetação do canal Cortado. Apesar de comum em corpos d’água da
PIAP, Urochloa arrecta (Hack. ex T.Durand & Schinz), uma espécie altamente invasora, não
foi observada no canal Cortado (MICHELAN; THOMAZ; BINI, 2013, CARNIATTO et al.,
2013). A presença de espécies invasoras pode estar relacionada a impactos naturais e antrópicos
sofridos pela área (SLUSARSKI; SOUZA, 2012) e é recomendável monitorar essas espécies
para possíveis ações de manejo, dado que o Canal Cortado está inserido em uma unidade de
conservação.
A maioria das espécies registradas não apresentam dados suficientes para a classificação
de ameaça de extinção de acordo com o CNCFlora (2012). Dezessete espécies são classificadas
como pouco preocupantes e apenas uma, Mikania capricorni B.L. Rob (família Asteraceae), é
classificada como quase ameaçada. As sete espécies endêmicas do Brasil registradas reforçam
a importância deste levantamento e da catalogação dessas espécies, bem como da área de estudo
estar inserida numa Unidade de Conservação que promove a conservação dessas populações.
Foram registrados ambientes de solo alagado, solo sujeito a alagamento e solo seco não
sujeito a alagamento, de acordo com as informações das fichas de identificação do material
botânico. Noventa e duas espécies foram coletadas em ambientes sujeitos a alagamento, 31 em
ambientes secos não sujeitos a alagamento e 30 em ambientes secos. A predominância de
espécies coletadas em ambientes sujeitos a alagamento mostra a capacidade de muitas espécies
de tolerar condições sazonais de inundação por adaptações fisiológicas (GARCÍA; JÁUREGUI,
2020).
A variação nos tipos de solo e condições de alagamento reflete a heterogeneidade
ambiental da área de estudo, o que contribui para a diversidade florística e distribuição de
espécies em função das condições de alagamento. Essa diversidade de habitats cria condições
propícias para a presença de diferentes formas de vida vegetal, desde espécies aquáticas até
plantas terrestres que dependem de solos secos e bem drenados.
Flórula do canal cortado, planície de inundação do alto rio paraná, Porto Rico, Paraná, Brasil
Arquivos do Mudi, v. 28, n. 3, p. 82-100, ano 2024 98
O canal Cortado é uma área de ativa dinâmica fluvial que sofreu modificações
morfológicas ao longo do tempo. É classificado como um canal barra-ilha (LELI; STEVAUX;
ASSINE, 2018), resultante da formação de uma barra lateral ao longo da margem da planície
de inundação. Sua evolução passa pelos estágios de canal barra-ilha, ressaco, para finalmente
transformar-se em uma lagoa ou pântano já no interior da planície e sem comunicação com o
canal do rio Paraná. O Cortado manteve conexão direta com o rio Paraná até 2017 até sofrer
um rápido processo de fechamento. Esse processo pode ter sido intensificado pela regulação do
fluxo da barragem de Porto Primavera, que reduziu os pulsos de inundação e o nível
hidrométrico do rio Paraná.
Essa alteração no regime hidrológico parece estar levando o Canal Cortado a uma
situação semelhante à da Lagoa Figueira (KITA et al., 2023), que, após perder sua conexão
direta com o rio, também se tornou isolada. Da mesma forma, o canal Cortado agora está isolado
do canal principal, com seu nível de água permanentemente rebaixado. As mudanças ocorridas
em ambos os locais, mesmo com origens morfológicas distintas, ilustram como as modificações
na dinâmica fluvial podem resultar na perda de conectividade e na transformação de áreas
aquáticas antes integradas ao sistema do rio em ambientes isolados e intransitáveis.
4. CONCLUSÃO
Contrastando os resultados dos estudos realizados anteriormente, o presente trabalho,
traz um maior leque de famílias botânicas e de espécies registradas, ampliando, assim, o
conhecimento da flórula do canal Cortado. Entre as 229 espécies registradas, quatro são
consideradas invasoras, ou seja, a representação das espécies nativas e de ocorrência natural se
mostrou maior e, pelo ponto de vista da conservação da diversidade vegetal local, este fato é
essencial para a preservação da área. Tendo em vista que o canal Cortado vem sofrendo
alterações devido à diminuição dos pulsos de inundação do alto rio Paraná, pretende-se,
futuramente, realizar novos estudos e novas tentativas de expedições à área de estudo e
investigar quais espécies ainda ocorrem no local. Não menos importante, os estudos de
monitoramento da PIAP e do canal Cortado permitem monitorar as mudanças na composição
das espécies ao longo do tempo, o que pode indicar alterações ambientais, como mudanças
climáticas, degradação do habitat ou introdução de espécies invasoras.
AGRADECIMENTOS
Ao Nupélia/UEM e ao Carlos Eduardo Bento Fernandes pelo apoio logístico e ao
CNPq/PELD pelo apoio financeiro.
França et al., 2024
Arquivos do Mudi, v. 28, n. 3, p. 82-100, ano 2024 99
REFERÊNCIAS
AGOSTINHO, A.A.; RODRIGUES, L.; GOMES, L.C.; THOMAZ, S.M.; MIRANDA, L.E.
2004. Structure and functioning of the Paraná River and its floodplain. LTER-site 6
(PELD sítio 6). 275 p.: Il. ISBN 85-7628-010-8, EDUEM, Maringá.
APG - ANGIOSPERM PHYLOGENY GROUP et al. An update of the Angiosperm
Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG IV.
Botanical journal of the Linnean Society, v. 181, n. 1, p. 1-20, 2016.
CHAVES, A. C. G. et al. A importância dos levantamentos florístico e fitossociológico para a
conservação e preservação das florestas. Agropecuária Científica no Semiárido, v. 9, n. 2,
p. 43-48, 2013.
CNCFlora. Lista Vermelha da flora brasileira versão 2012.2 Centro Nacional de
Conservação da Flora. Disponível em http://cncflora.jbrj.gov.br/portal. Acesso em: 23 ago.
2024.
CRONK, Q. CB; FULLER, J. L. Plant invaders: the threat to natural ecosystems. Routledge,
2014.
DURIGAN, G.; SILVEIRA, E.R.da. Recomposição da mata ciliar em domínio de cerrado,
Assis, SP. Scientia Forestalis, v. 56, p. 135-144, 1999.
FLORA E FUNGA DO BRASIL. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em:
http://floradobrasil.jbrj.gov.br/. Acesso em: 24 Ago. 2024.
GARCIA, L.M. et al. Levantamento florístico e fitossociológico de um remanescente de mata
ciliar na região norte do estado do Paraná, Brasil (dados preliminares). V Mostra Interna de
Trabalhos de Iniciação Científica, 2011.
GARCÍA, M.; JÁUREGUI, D. Morphoanatomical characteristics in Riparian vegetation and
its adaptative value. In: River Basin Management-Sustainability Issues and Planning
Strategies. IntechOpen, 2020.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Manual técnico
da vegetação brasileira: Série Manuais Técnicos em Geociências. Rio de Janeiro, IBGE,
1992.
INSTITUTO HÓRUS. Base de Dados Nacional de Espécies Exóticas Invasoras.
Disponível em: https://bd.institutohorus.org.br/. Acesso em: 9 Set. 2024.
JUNK, W. J.; PIEDADE, M. T. F. Species diversity and distribution of herbaceous plants in
the floodplain of the middle Amazon. Internationale Vereinigung für theoretische und
angewandte Limnologie: Verhandlungen, v. 25, n. 3, p. 1862-1865, 1994.
KUNTSCHIK, D. P.; EDUARTE, M.; UEHARA, T. H. K. Matas ciliares. São Paulo: SMA,
2010. 83 p. (Cadernos de Educação Ambiental). ISBN 97885866624797.
Flórula do canal cortado, planície de inundação do alto rio paraná, Porto Rico, Paraná, Brasil
Arquivos do Mudi, v. 28, n. 3, p. 82-100, ano 2024 100
LELI, I. T.; STEVAUX, J. C.; ASSINE, M. L. Genesis and sedimentary record of blind
channel and islands of the anabranching river: An evolution model. Geomorphology, v. 302,
p. 35-45, 2018.
LI, Y. et al. The Bryophyte Phylogeny Group: A revised familial classification system based
on plastid phylogenomic data. Journal of Systematics and Evolution, 2024.
MÜLLER, A.; SCHMITT, J. L. Phenology of Guarea macrophylla Vahl (Meliaceae) in
subtropical riparian forest in southern Brazil. Brazilian Journal of Biology, v. 78, p. 187-
194, 2017.
NITSCHE, P. R. et al. Atlas climático do estado do Paraná. Londrina: Instituto Agronômico
do Paraná, 2019.
PTERIDOPHYTE PHYLOGENY GROUP I. A community‐derived classification for extant
lycophytes and ferns. Journal of systematics and evolution, v. 54, n. 6, p. 563-603, 2016.
SLUSARSKI, S.R., SOUZA, M.C. Inventário florístico ampliado na mata do Araldo, planície
de inundação do alto rio Paraná, Brasil. Revista de estudos ambientais (online), v. 14, n. 1,
p.14-27, 2012.
SOUZA FILHO, E. E.; STEVAUX, J. C. Geologia e geomorfologia do complexo rio Baía,
Curutuba, Ivinheima. In: VAZZOLER, A. E. A. de M.; AGOSTINHO, AA.; HAHN, NS.
(Eds.). A planície de inundação do alto rio Paraná: aspectos físicos, biológicos e
socioeconômicos. Maringá: EDUEM. p. 371-394, 1997.
SOUZA, M. C. et al. Vascular flora of the Upper Paraná River floodplain. Brazilian Journal
of Biology, São Carlos, v. 69, p. 735- 745, 2009.
SOUZA, M. C.; CISLINSKI, J.; ROMAGNOLO, M. B. Levantamento florístico. In:
VAZZOLER, A. E. A. de M.; AGOSTINHO, AA.; HAHN, NS. (Eds.). A planície de
inundação do alto rio Paraná: aspectos físicos, biológicos e socioeconômicos. Maringá:
EDUEM: Nupélia, 1997. cap. II.12, p. 371-394.
SOUZA, M. C.; KAWAKITA, K.; SLUSARSKI, S. R.; PEREIRA, G. F. Vascular flora of
the Upper Paraná River floodplain. Brazilian Journal of Biology, São Carlos, v. 69, p. 735-
745, 2009.
SOUZA, M. C.; MONTEIRO, R. Levantamento florístico em remanescente de floresta
ripária no alto rio Paraná: Mata do Araldo, Porto Rico, Paraná, Brasil. Acta Botanica
Brasilica, v. 27, n. 4, p. 405-414, 2005.
SOUZA-STEVAUX, M. C. et al. Florística e Fitossociologia de um remanescente florestal
às margens do Rio Paraná, município de Porto Rico, PR. In: Congresso Nacional de
Botânica, 1995, Ribeirão Preto, SP. Resumos dos trabalhos apresentados… Ribeirão Preto:
Sociedade Botânica do Brasil, p. 325.
VELOSO, H. P. et al. Manual técnico da vegetação brasileira. Rio de Janeiro: IBGE, 2012.