
O Boletim de Conjuntura Econômica de número 50, publicado pelo Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá, analisa o comportamento conjuntural da economia brasileira no quarto trimestre/2011, com o fechamento do ano, e no primeiro trimestre/2012, sempre comparando com os mesmos períodos do ano anterior.
No fechamento do ano de 2011, houve melhora nos indicadores das contas públicas. A Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) caiu em proporção do Produto Interno Bruto (PIB), apesar de um ligeiro aumento da Dívida Mobiliária Interna (DMF), também como proporção do PIB. Este resultado foi uma combinação do aumento da arrecadação de tributos federais, elevação do resultado primário, quando comparado com o do ano anterior, e redução da Necessidade de Financiamento do Setor Público (NFSP), apesar do aumento das despesas com juros. No primeiro trimestre/2012, manteve-se a tendência de melhoria nos indicadores do setor público: a arrecadação dos tributos federais cresceu numa proporção superior à das despesas; o resultado primário aumentou; os juros sobre a dívida pública foram menores, em razão da redução da taxa Selic e a NFSP foi menor. Como consequência, tanto a DMF quanto a DLSP diminuíram em proporção do PIB.
Na política monetária, teve continuidade a flexibilização iniciada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em agosto/2011. A taxa Selic foi reduzida em todas as reuniões realizadas no período em análise, passando de 12% ao ano no terceiro trimestre/2011 para 9,75% a.a. ao final do primeiro trimestre/2012. Pesaram nestas decisões, além da inflação sob controle, o cenário internacional de crise e a desaceleração do crescimento da economia brasileira. A oferta de crédito na economia continuou crescendo fortemente, alcançando 49,2% do PIB em março/2012. As modalidades de crédito que mais cresceram foram crédito pessoal, financiamento imobiliário e operações do BNDES. Quanto aos juros finais, ocorreram dois movimentos: no último trimestre/2011 as taxas de juros caíram, acompanhando os cortes na taxa Selic; já no primeiro trimestre/2012, as taxas finais cresceram, apesar da redução da Selic, em parte, devido ao aumento da inadimplência.
O saldo registrado na balança comercial brasileira aumentou 47,9% em 2011, puxado pelo aumento de 26,81% no valor das exportações. Este resultado foi influenciado, principalmente, pelo aumento dos preços das commodities, como alimentos, petróleo, minério de ferro, entre outros. A Ásia foi o principal destino das exportações brasileiras em 2011. Por outro lado, as importações cresceram 24,47%, com destaque para matérias-primas e bens de consumo. O déficit no balanço de pagamentos em conta corrente aumentou 11,19% em relação ao do ano anterior, mas a conta capital mais que compensou este saldo, crescendo 12,19%, com destaque para o Investimento Estrangeiro Direto (IED), o que é um bom indicador para a economia brasileira. As reservas internacionais também cresceram ao longo de 2011, atingindo US$352 bilhões. Por sua vez, a taxa de câmbio apresentou dois movimentos distintos ao longo do ano: apreciação no primeiro trimestre e depreciação no segundo, fechando o ano com uma taxa nominal de R$1,88, ou seja, uma depreciação de 12,6% em relação à do ano anterior. No primeiro trimestre/2012, também houve aumento das exportações e do saldo da balança comercial. Contudo, registrou-se queda nos IEDs e na conta capital, em comparação a igual período do ano anterior, mas ainda suficiente para financiar o déficit em transações correntes. Ao longo do primeiro trimestre/2012 o câmbio manteve-se praticamente estável e as reservas internacionais aumentaram.
Todos os índices de preços analisados apresentaram, em 2011, variação superior à da meta de inflação de 4,5%, com destaque para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice oficial de inflação, que acumulou variação de 6,51% no ano. No caso do IPCA, as maiores elevações de preços ocorreram nos grupos alimentação, habitação e despesas pessoais. Apesar do comportamento da inflação, o Banco Central do Brasil, através do Copom, manteve a política de redução da taxa básica Selic, demonstrando mais preocupação com o desempenho da nossa economia e com a crise na economia mundial. Já no primeiro trimestre/2012, houve uma desaceleração da inflação acumulada nos doze meses anteriores, medida pelo IPCA, que passou de 6,51% em dezembro/2011 para 5,24% em março/2012. Esta desaceleração da inflação, apesar de superior ao centro da meta que é de 4,5%, levou o Copom a manter a redução da taxa Selic, priorizando o crescimento econômico.
No tocante ao setor agropecuário, cabe destacar significativas mudanças tanto em aspectos internos quanto externos. Quanto ao mercado externo, os estoques mundiais de forma geral estiveram em baixa, especialmente o milho. A China passou de sexta para segunda posição em termos de importação de açúcar. A Colômbia teve uma recuperação depois de sofrer com as infestações de seus cafezais e o Brasil aumentou a sua participação nas exportações de cafés especiais. No que tange ao mercado interno, depois de 21 anos a soja perdeu sua hegemonia de produto com o maior valor bruto da produção, sendo suplantada pela cana-de-açúcar. Houve uma expansão da fronteira agrícola, e com isto a região denominada como Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) já representa 10% da soja produzida no Brasil. Quanto à carne bovina, a questão da aftosa ainda esteve presente, destacando a preocupação do governo em controlar o fluxo de animais com o vizinho Paraguai. Enfim, o boom das commodities, vivenciado no setor agrícola, arrefeceu, porém, os baixos estoques mundiais e possíveis frustrações de safras poderão determinar futuras elevações de preço.
No último trimestre/2011 e no primeiro de 2012 confirmou-se a desaceleração do crescimento da economia brasileira, ficando abaixo das expectativas e das estimativas oficiais. Esta desaceleração foi puxada, principalmente, pelo setor industrial que apresentou o menor desempenho. Em 2011 a economia brasileira cresceu 2,7% e a indústria apenas 0,5%. Pelo lado da demanda, destaque para o crescimento do consumo das famílias em 4,1% no ano. Apesar do baixo crescimento econômico, outros indicadores da atividade econômica foram positivos: a taxa de desemprego continuou caindo; o salário-mínimo e o rendimento médio dos trabalhadores aumentaram e as vendas no comércio varejista cresceram. Enfim, a demanda interna foi estimulada pelo crédito e pelas reduções de tributos.