Apresentação
Resumo
Rezar com os pés. Nas palavras de romeiros que palmilham o chão em busca dos espaços sagrados, esta é uma das assertivas mais comuns e contundentes na definição da romaria. Ser romeiro incide em constituir-se enquanto sujeito que busca o sagrado a partir do deslocamento dos espaços, que experimenta a sacralidade em cada passo, que transmuta o corpo em epicentro de sensibilidades sensoriais. O corpo do romeiro emerge como evidência da prática e esta, por sua vez, como testemunha de sonhos e desejos. São vestígios tingidos no espaço e no tempo, que sinalizam para a história dos de baixo, das camadas populares.
Nesta chamada temática da Revista Brasileira de História das Religiões tem como escopo a história das romarias no mundo ibero-americano. Como prática devocional dos de baixo, experiência social das camadas populares, historicamente marginalizadas, as romarias foram, durante muito tempo, vistas como expressões imóveis, uma penumbra de passado superado que insistia em continuar no presente. Uma presença incômoda do outro: o maltrapilho, o pobre, o sujeito tido por uma elite (clerical, política ou intelectual) como desviante, ultrapassado, desvirtuado ou agonizante. Uma experiência de outrora, engessada e incapaz de se reinventar. Um desvio das camadas populares que para o clero necessitavam de reforma litúrgica; para os folcloristas remetiam a um passado anônimo e atemporal; e, para os políticos, exigiam vigilância e controle, enquanto para a esquerda católica demandava-se a conscientização. Entre esses múltiplos sujeitos que teceram uma polifonia discursiva, responsável pela tessitura de um emaranhado de leituras, havia em comum a certeza de que os romeiros, entendidos como “os outros”, existem para serem “corrigidos”. Em outras palavras, os romeiros formariam um grupo social explicitado pelo desvio.
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