Consolo escatológico
Cemitérios, morte e porvir em relatos e obituários adventistas durante a Gripe Espanhola (1918-1920)
Resumo
De vocação apocalíptica, o adventismo reúne na crença no retorno de Cristo um arcabouço teológico essencial para fundamentar seus discursos e rituais fúnebres de enfrentamento ao luto e à perda. Durante o período da Gripe Espanhola no Brasil e o decorrente aumento no registro de óbitos, a frequência aos cemitérios tornou-se mais recorrente na rotina de serviços religiosos de diversas denominações. Diante desse contexto, o presente artigo procura entender como a Igreja Adventista do Sétimo Dia articulou seu conjunto de crenças distintivas a respeito da morte e do porvir com o papel dos espaços cemiteriais em um período de crise pandêmica, analisando relatos missionários, notícias e obituários nas edições da Revista Mensal de 1918 a 1920. Na análise documental identificou-se três ênfases nos textos analisados, a saber: os cemitérios como espaços de (1) evangelismo, (2) disputa religiosa e (3) confirmação da doutrina, destacando-se a presença de ritos fúnebres marcados por um tom de consolo escatológico.
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