Curandeiros, Fanáticos e Possuídos

gestão do imaginário e governamentalidade biopolítica das populações (Planalto Catarinense - Primeira República, 1892-1905).

Palavras-chave: Fanatismo; Possessão; Imaginário; Governamentalidade

Resumo

No dia 02 de julho de 1902 o jornal franciscano Cruzeiro do Sul publicava a prisão do curandeiro Pedro Barulho, acusado de  envolvimento em práticas de possessão e fanatismo no Planalto Catarinense. Partindo deste episódio  marginal na história da religiosidade local, empreende-se uma arqueogenealogia do fanatismo e da possessão como marcadores políticos da abjeção. Aponta-se, assim, como estes marcadores foram articulados às práticas de curandeirismo e ao ajuntamento de populações consideradas ingovernáveis. Cartografando as relações entre os marcadores e eventos históricos a eles relacionados, pretende-se apontar para o uso anacrônico destes enunciados, responsáveis por orientar sentidos e significados sobre os sujeitos e suas práticas. O artigo demonstra, deste modo, como as estratégias de governamentalidade das populações vinculadas a uma gestão do imaginário religioso, articuladas por instituições e saberes aparentemente contraditórios, como o catolicismo  oficial, a medicina e a razão de Estado, orientaram a organização da ordem republicana no Brasil.  

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Biografia do Autor

Rafael Araldi Vaz, Universidade do Planalto Catarinense (UNIPLAC)

Doutor em História Cultural pelo Programa de Pós-Graduação em História da UFSC. Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Planalto Catarinense (UNIPLAC)

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Publicado
2023-03-13
Como Citar
Vaz, R. A. (2023). Curandeiros, Fanáticos e Possuídos. Revista Brasileira De História Das Religiões, 15(45). https://doi.org/10.4025/rbhranpuh.v15i45.65332