Os preconceitos e as diferentes formas de deslegitimações das religiões mediúnicas
as permanências em narrativas jurídicas do oitocentos e do século XXI
Resumo
As religiões que têm a mediunidade como uma de suas principais práticas acabaram por serem denominadas, genericamente, de Espiritismo no século XIX. Estas religiões, que têm uma série de especificidades, foram criminalizadas no Brasil durante a Primeira República. Há registros de processos criminais tanto de espíritas, seguidores da Doutrina organizada por Allan Kardec, quanto de seguidores dos cultos afro-brasileiros. Todos estes se tornaram réus enquadrados no artigo 157 do Código Penal de 1890. Nos debruçaremos em analisar o sobredito dispositivo penal que foi debatido nos anos finais do oitocentos por juízes brasileiros, seja em refutação ou em apoio. A defesa da penalidade ocorreu, sobremaneira, pelo legislador das leis penais do país, João Baptista Pereira, que interpretou a prática do espiritismo(s) como um ‘crime indígena’. O desconhecimento e os diferentes entendimentos sobre as religiões mediúnicas, aliados ao preconceito provocaram e, ainda provocam, uma série de percepções discriminatórias que já colocaram em questão o ordenamento jurídico brasileiro e a liberdade religiosa. Discutiremos estas abordagens tanto a partir do olhar oitocentista, quanto pela análise de uma Ação Cível ocorrida em 2014 no Rio de Janeiro. Nesta ação, os cultos afro-brasileiros foram desrespeitados com a instrumentalização de argumentos semelhantes àqueles que foram utilizados como justificativa para a criminalização do espiritismo nos anos finais do oitocentos.
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Referências
Fontes Primárias
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Fontes disponíveis na Web
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Periódicos
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JORNAL DO COMMERCIO. Rio de Janeiro: 24 de dez. de 1890, p. 2 e p. 4.
JORNAL DO COMMERCIO. Rio de Janeiro: 27 de dez. de 1890, p. 2.
JORNAL DO COMMERCIO. Rio de Janeiro: 30 de dez. de 1890, p. 2 e 3.
Ação Civil
Ação Civil Pública do Poder Judiciário Justiça Federal Seção Judiciária do Rio de Janeiro, 17ª Vara Federal do Rio de Janeiro. Processo nº 0004747-33.2014.4.02.5101 (2014.51.01.004747-2) - Autor: Ministério Público Federal/ Réu: Google Brasil Internet Ltda
Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/diarios/documentos/135520817/processo-n-0004747-3320144025101-da-17a-vara-federal-do-trf-2. Acesso em 19/06/2018.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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