O pensamento racial de Darcy Ribeiro e a ‘dialética da ninguendade’
Resumo
O artigo propõe examinar o pensamento racial de Darcy Ribeiro como intérprete da brasilidade. Em primeiro lugar, articula o debate entre ele e Gilberto Freyre, apresentando uma análise do prefácio de Darcy à edição espanhola de Casa-grande e senzala, publicada pela Biblioteca Ayacucho, na Venezuela em 1979. Observa-se o humor cáustico do prefaciador em face da “antropologia colonialista” do escritor pernambucano, acentuando as incompatibilidades metodológicas e ideológicas entre ambos. Em seguida, revisita-se O povo brasileiro, obra icônica, para explanar acerca da perspectiva materialista histórica dialética que embasa Darcy na construção da ideia de miscigenação de um ponto de vista oposto a Freyre, em que esta não é sinônimo de harmonia. Ao invés do elogio ao ‘bom colonizador’ e à ordem autoritária, Darcy parte da violência como ‘fato colonial’ que interrompe o curso das matrizes étnicas ‘tupi’, ‘lusa’ e ‘afro’, resultando no completo desamparo do primeiro brasileiro, o ‘brasilíndio’, que, da ‘ninguendade’, renasce dialeticamente como ‘povo novo’, uma civilização única e autônoma: a utopia. Conclui-se pela implausibilidade da negação do racismo para Darcy ou sua adesão ao ‘mito da democracia racial’, em que pese o foco nas desigualdades sociais o afastar da intelectualidade do TEN (Teatro Experimental do Negro), para dar centralidade ao ‘negro multidão’, à classe e à democracia social.
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