Vínculos sociais, pobreza e reconhecimento: um estudo a partir de entrevistas sobre trajetória de vida no Brasil
Resumo
Esse trabalho parte de um estudo empírico sobre condições de vida de pessoas de baixa renda, inspirado na teoria dos vínculos sociais. O material analisado consiste em entrevistas de trajetórias de vida com pessoas que recebem até um salário-mínimo. Essas entrevistas foram realizadas entre 2015 e 2016, no âmbito da pesquisa Radiografia do Brasil Contemporâneo [IPEA] (2016). Até onde sabemos, trata-se da única base de dados nacional com entrevistas desse tipo. A partir do método da análise de conteúdo, as narrativas foram inspecionadas de modo a identificar quatro tipos de laços sociais: filiação, participação eletiva, participação orgânica e cidadania. A análise do material empírico corrobora a proposta teórica, lançada no artigo, de se tratar a pobreza como um amplo regime de incapacidades. Num nível mais específico, os resultados apontam para uma centralidade ambivalente dos vínculos laborais, que se revelam, a um só tempo, como principal via para a autorrealização e como fonte de instabilidade, ressentimento e insegurança. A acumulação de vínculos sociais fracos gera uma integração social restrita, marcada por déficits de proteção e reconhecimento
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