Mulheres imigrantes na Atenção Básica em Saúde: trajetórias venezuelanas no norte do Rio Grande do Sul
Resumo
O processo migratório da Venezuela para o Brasil traz desafios no âmbito social, econômico e no cuidado em saúde. O gênero feminino, ao participar deste percurso, vivencia maiores exposições a riscos de violências e vulnerabilidades associadas, bem como barreiras a serviços de saúde que garantem os direitos sexuais e reprodutivos. A Saúde da Mulher foi uma das primeiras áreas prioritárias no Sistema Único de Saúde (SUS), com investimentos significativos na Atenção Básica, visando ao cuidado integral e à promoção da saúde das mulheres em todas as fases da vida. Este artigo visa compreender a experiência de migração de mulheres venezuelanas atendidas no território de Estratégia Saúde da Família (ESF) em uma cidade do norte do Rio Grande do Sul. O estudo, conduzido entre março de 2024 e fevereiro de 2025, utilizou uma abordagem de pesquisa-intervenção. Foram aplicados questionários sociodemográficos e realizadas entrevistas semiestruturadas com 10 mulheres imigrantes venezuelanas. A partir da análise de conteúdo, foram elencadas três categorias de análise: ‘O caminhar: a experiência de migração e remigração das mulheres venezuelanas’; As percepções sobre Saúde da Mulher da Venezuela e no Sul do Brasil, e por fim, Menos barreiras, mais conexões: Desafios para melhor acolher. Ademais, abordam-se os meios de intervenção adotados, como a Educação Permanente para trabalhadores da saúde e a Educação Popular em Saúde para as imigrantes. Esse trabalho poderá contribuir no acolhimento de mulheres em condições de refúgio, bem como ampliar discussões para a qualificação do cuidado via educação permanente das equipes e educação popular das mulheres imigrantes.
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