O comportamento conjuntural da economia brasileira no quarto trimestre/2010 e no primeiro trimestre/2011 é o objeto de análise desta quadragésima sétima edição do Boletim de Conjuntura Econômica do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá. Os destaques positivos deste período podem ser atribuídos à melhoria da situação fiscal, à maior flexibilidade da política monetária, ao bom desempenho do setor agropecuário e ao crescimento do nível de atividade econômica, enquanto a elevação dos preços internos e o aumento do déficit em transações do balanço de pagamento podem ser considerados como os efeitos colaterais das atuais políticas econômicas mantidas pelo governo.

Na área fiscal, o governo manteve a boa performance da arrecadação federal, cujas receitas no período de janeiro a dezembro/2010 foram 9,6% superiores às do mesmo período do ano passado. Entretanto, o destaque negativo da gestão fiscal ficou por conta do crescimento das despesas públicas que, neste período, acumularam variação de 15,7% em relação ao montante gasto no ano anterior, com expressiva elevação dos gastos de custeio e de capital, que cresceram 35,10% em 2010. Apesar deste desempenho, o resultado nominal apresentou melhora, com redução da Necessidade de Financiamento do Setor Público de 3,34%, em 2009, para 2,56% do Produto Interno Bruto (PIB).

A política monetária durante o ano de 2010 foi marcada por uma maior flexibilidade, o que permitiu que a base monetária expandisse 24,6%, neste ano. Entretanto, no primeiro trimestre/2011, em razão do comportamento dos índices inflacionários, houve maior controle sobre a base monetária, com redução de 13,02% em relação à do último trimestre/2010. O maior destaque da área monetária pode ser atribuído às operações de crédito, que cresceram 20,5% no ano, alcançando a marca de 46,6% do PIB.

A análise do comportamento dos preços internos mostra que todos os índices de preços, acompanhados por este Boletim, apresentaram variações em 2010 superiores ao valor da meta que o governo estabeleceu para a inflação, de 4,5%. Destaque para o Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI), que registrou uma variação de 11,30%. Assim, como todos os índices apresentaram no primeiro trimestre/2011 valores muito elevados para um curto período de tempo, destaque para o Índice de Custo de Vida, calculado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos (ICV/Dieese), que registrou uma variação de 2,62%. Esta situação retrata que será difícil para o governo fazer com que a inflação fique no patamar estabelecido como meta inflacionária para 2011.

Os resultados do balanço de pagamento mostram significativa queda do desempenho da balança comercial brasileira em 2010, que apesar de manter-se superavitária, representou uma variação negativa de 20,04% na comparação com a do ano anterior. Tal desempenho está associado ao elevado crescimento das importações em 2010, que aumentou 42,28%, enquanto as exportações cresceram 31,98%. No ano, o resultado em conta corrente foi deficitário em US$47,3 bilhões, equivalente a 2,28% do PIB, bastante superior ao déficit de US$24,3 bilhões, 1,52% do PIB, em 2009. O resultado negativo da conta corrente é explicado pelo elevado déficit na conta de serviços e rendas. Apesar de tais resultados, a conta capital e financeira encerrou o ano de 2010 com superávit de R$100,1 bilhões, com um aumento de 40,39% em relação à do ano anterior, contribuindo para que as reservas internacionais encerrassem o ano de 2010 com um montante recorde de US$288,6 bilhões.

No setor agropecuário, a conjuntura atual apresenta um cenário favorável. O PIB do setor agropecuário cresceu 6,5% em 2010 e a expectativa é que o valor bruto da produção cresça ainda mais, em razão dos preços permanecerem em elevação nos mercados internos e externos e o setor grãos colher uma safra recorde de 155,6 milhões de toneladas em 2010/2011, volume que representa 4% superior ao produzido na safra anterior.

Quanto ao nível de atividade econômica, cabe ressaltar a expressiva melhora do desempenho dos principais componentes do PIB neste período. Em 2010, verificou-se uma forte recuperação da economia, com uma das menores taxas de desemprego. O PIB apresentou um crescimento de 7,5%, com destaque para a formação bruta de capital fixo, que apresentou expansão de 21,8% em 2010 – maior taxa acumulada em quatro trimestres da série iniciada em 1996.

Como avaliação geral, cabe destacar que a melhoria dos indicadores do nível de atividade econômica acarretou certa pressão inflacionária, que comprometeu o cumprimento da meta inflacionária. A combinação de déficit em transações correntes e déficits nominais, associada à manutenção de taxas de juros elevadas e câmbio valorizado, não constituem em bons fundamentos para a obtenção de taxas de crescimento elevada em boas condições de sustentabilidade econômica.

Publicado: 2013-03-01

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