Modernismo e decolonialismo nas políticas oficiais de preservação do patrimônio cultural brasileiro: narrativas de exclusão e as evidências de contribuições da cultura africana na arquitetura de tradição colonial em São Paulo (séculos XVIII-XIX)
Résumé
O objetivo do artigo é trazer reflexões acerca da influência do pensamento modernista nas políticas públicas e nas práticas de preservação do patrimônio cultural no Brasil a partir de uma reflexão historicizada do SPHAN (Serviço de Patrimônio Histórico e Artistico Nacional), órgão federal criado para esses fins em 1937. Ao mobilizar questões teóricas da epistemologia decolonial e da diáspora africana, busca-se demonstrar a hipótese que tal influência “moderna” pode ter contribuído para uma leitura colonialista que primou pela dissimulação da presença marcante dos modos de fazer africano no patrimônio cultural brasileiro, principalmente na arquitetura de tradição colonial paulista.
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