Estruturas de governança e seus vínculos com a justiça no contexto das organizações cooperativas
Resumo
Objetivo: As organizações cooperativas possuem características singulares em seus processos e estruturas de controle. Dada a natureza dos relacionamentos que as permeiam, a justiça tem se destacado como base dessas relações, haja vista que, as organizações envolvidas buscam justiça ao comparar as recompensas e os custos envolvidos nas interações. O objetivo deste ensaio é apresentar um modelo teórico que possibilite explicar os vínculos entre o pacote de governança (PGov) e a percepção de justiça dos cooperados e como ambos refletem no desempenho relacional das organizações cooperativas.
Método: Este estudo adota o método do ensaio teórico e assume a dimensão epistemológica do estruturalismo, que geralmente busca explorar a estrutura do fenômeno e, por meio de sua essência, determinar seus vínculos e inter-relações determinantes (Triviños, 1997).
Originalidade/Relevância: Apesar dos avanços no entendimento do papel do controle e governança em relações interorganizacionais (Ding, Dekker, & Groot, 2013), ainda são escassos os estudos que consideram a perspectiva da justiça (Dhaundiyal & Coughlan, 2020; Su et al., 2020), e que se esforçam para compreender os impactos desses vínculos no desempenho, sendo esse um diferencial do modelo apresentado no presente ensaio.
Resultados: Esse estudo propõe um modelo de análise dos vínculos entre o PGov, Justiça Organizacional e os seus reflexos no desempenho relacional. Para tanto, fundamentou-se nas estruturas de governança e controle gerencial defendidas por van der Meer-Kooistra e Scapens (2008), na justiça organizacional, delineada em seus três aspectos: justiça distributiva, justiça processual e justiça interacional, abordadas por Luo (2007), bem como, nas noções de desempenho relacional adotadas por Su, Zhang e Guo (2020).
Contribuições teóricas/metodológicas/práticas: A aplicação do modelo pode trazer contribuições práticas, especificamente para a revisão do PGov da cooperativa e as estruturas de governança serem reformuladas (ou não), de modo a reforçar a justiça percebida pelos cooperados. Dessa forma, acredita-se o uso do modelo possibilitará que os canais de justiça ideais possam ser identificados, potencializando o alcance da estrutura de governança e o atingimento dos objetivos das organizações cooperativas.
Downloads
Referências
Bardin, L. (2011). Análise de Conteúdo (1st ed.). São Paulo: Almedina Brasil.
Bialoskorski Neto, S., Barroso, M., & Rezende, A. (2012). Co-operative governance and management control systems: an agency costs theoretical approach. Brazilian Business Review, 9(2), 68–87. https://doi.org/10.15728/bbr.2012.9.2.4
Bies, R. J., & Shapiro, D. L. (1987). Interactional fairness judgments: The influence of causal accounts. Social Justice Research, 1(2), 199–218. https://doi.org/10.1007/BF01048016
Breitenbach, R., Brandão, J. B., & Zorzan, M. (2017). Vantagens e oportunismo no relacionamento entre associados e cooperativa de laticínios. Interações (Campo Grande), 18(2), 45. https://doi.org/10.20435/inter.v18i2.1393
Brown, J. R., Cobb, A. T., & Lusch, R. F. (2006). The roles played by interorganizational contracts and justice in marketing channel relationships. Journal of Business Research, 59(2), 166–175. https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2005.04.004
Coase, R. H. (1937). The Nature of the Firm. Economica, 4(16), 386–405. https://doi.org/10.1111/j.1468-0335.1937.tb00002.x
Colquitt, J. A. (2001). On the dimensionality of organizational justice: A construct validation of a measure. Journal of Applied Psychology, 86(3), 386–400. https://doi.org/10.1037/0021-9010.86.3.386
Cook, M. L. (1995). Agricultural Cooperatives: A Neo-Institutional Approach. American Journal of Agricultural Economics, 77(5), 1153–1159.
Costa, E. G. & Melo, A. A. O. (2017) Governança corporativa: conflitos de agência em cooperativas de crédito mineiras. Gestão & Planejamento, 18(jan./dez.), 386-409.
Cropanzano, R., Prehar, C. A., & Chen, P. Y. (2002). Using social exchange theory to distinguish procedural from interactional justice. Group and Organization Management, 27(3), 324–351. https://doi.org/10.1177/1059601102027003002
Delarmelina, N., & Salles, A. O. T. (2016). Um estudo sobre a comercialização da produção de cooperativas agropecuárias sob a ótica da Teoria dos Custos de Transação. Custos e @gronegócio on Line, 12(4), 34–69.
Dhaundiyal, M., & Coughlan, J. (2020). The impact of alliance justice capability on the performance of strategic alliances in the Indian IT sector: the mediating role of inter-firm commitment. Cogent Business & Management, 7(1), 1–17. https://doi.org/10.1080/23311975.2020.1719587
Ding, R., Dekker, H. C., & Groot, T. (2013). Risk, partner selection and contractual control in interfirm relationships. Management Accounting Research, 24(2), 140–155. https://doi.org/10.1016/j.mar.2013.04.007
Fischer, E., & Qaim, M. (2012). Linking Smallholders to Markets: Determinants and Impacts of Farmer Collective Action in Kenya. World Development, 40(6), 1255–1268. https://doi.org/10.1016/j.worlddev.2011.11.018
Frezatti, F., Rocha, W., Nascimento, A. R., & Junqueira, E. (2016). Controle Gerencial: uma abordagem da contabilidade gerencial no contexto econômico, comportamental e sociológico. São Paulo: Atlas.
Geringer, J. M., & Hebert, L. (1991). Measuring Performance of International Joint Ventures. Journal of International Business Studies, 22(2), 249–263. https://doi.org/10.1057/palgrave.jibs.8490302
Greenberg, J. (1987). A Taxonomy of Organizational Justice Theories. Academy of Management Review, 12(1), 9–22. https://doi.org/10.5465/amr.1987.4306437
Hair Jr., J. F., Black, W. C., Babin, B. J., Anderson, R. E., & Tatham, R. L. (2009). Análise multivariada de dados (6th ed.). Porto Alegre: Bookman.
Hall, M. (2016). Realising the richness of psychology theory in contingency-based management accounting research. Management Accounting Research, 31, 63–74. https://doi.org/10.1016/j.mar.2015.11.002
Kamoche, K., & Cunha, M. P. e. (2001). Minimal Structures: From Jazz Improvisation to Product Innovation. Organization Studies, 22(5), 733–764. https://doi.org/10.1177/0170840601225001
Kim, W. C., & Mauborgne, R. A. (1993). Procedural Justice, Attitudes, and Subsidiary Top Management Compliance With Multinationals’ Corporate Strategic Decisions. Academy of Management Journal, 36(3), 502–526. https://doi.org/10.2307/256590
Konovsky, M. A. (2000). Understanding procedural justice and its impact on business organizations. Journal of Management, 26(3), 489–511. https://doi.org/10.1177/014920630002600306
Krishnan, R., Martin, X., & Noorderhaven, N. G. (2006). When does trust matter to alliance performance? Academy of Management Journal, 49(5), 894–917. https://doi.org/10.5465/AMJ.2006.22798171
Langfield-Smith, K. (2008). The relations between transactional characteristics, trust and risk in the start-up phase of a collaborative alliance. Management Accounting Research, 19(4), 344–364. https://doi.org/10.1016/j.mar.2008.09.001
Lind, E. A., & Tyler, T. R. (1988). The Social Psychology of Procedural Justice. Boston: Springer US.
Liu, Y., Liu, T., & Li, Y. (2014). How to inhibit a partner’s strong and weak forms of opportunism: Impacts of network embeddedness and bilateral TSIs. Industrial Marketing Management, 43(2), 280–292. https://doi.org/10.1016/j.indmarman.2013.08.010
Lopes, A. B. (2017). A Teoria dos Contratos, Governança Corporativa e Contabilidade. In A. B. Lopes & S. Iudícibus (Eds.), Teoria Avançada da Contabilidade (2nd ed., pp. 173–187). São Paulo: Atlas.
Luo, Y. (2007). The independent and interactive roles of procedural, distributive, and interactional justice in strategic alliances. Academy of Management Journal, 50(3), 644–664. https://doi.org/10.5465/AMJ.2007.25526452
Luo, Y., Liu, Y., Yang, Q., Maksimov, V., & Hou, J. (2015). Improving performance and reducing cost in buyer–supplier relationships: The role of justice in curtailing opportunism. Journal of Business Research, 68(3), 607–615. https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2014.08.011
Machinski, P. A., Faria, M. C. de, Moreira, V. R., & Ferraresi, A. A. (2016). Agricultural insurance mechanisms through mutualism: the case of an agricultural cooperative. RAUSP Management Journal, 51(3), 266–275. https://doi.org/10.1016/j.rausp.2016.06.004
Meneghetti, F. K. (2011). O que é um ensaio-teórico?. Revista de Administração Contemporânea, 15(2), 320-332. https://dx.doi.org/10.1590/S1415-65552011000200010
Pivoto, D., Finger, M. I., Waquil, P., & Souza, M. de. (2013). O problema do carona nas cooperativas agropecuárias do Rio Grande do Sul. Revista de Política Agrícola, 22(4), 109–122.
Poppo, L., & Zenger, T. (2002). Do formal contracts and relational governance function as substitutes or complements? Strategic Management Journal, 23(8), 707–725. https://doi.org/10.1002/smj.249
Ring, P. S., & Van De Ven, A. H. (1994). Developmental Processes of Cooperative Interorganizational Relationships. Academy of Management Review, 19(1), 90–118. https://doi.org/10.5465/amr.1994.9410122009
Rodrigues, J. A., Lauermann, G. J., Moreira, V. R., Ferraresi, A. A., & Souza, A. (2018). Estrutura de capital e peculiaridades regionais nas cooperativas agropecuárias do Paraná - Brasil. Revista de Economia e Sociologia Rural, 56(2), 213–224. https://doi.org/10.1590/1234-56781806-94790560202
Roehrich, J. K., Selviaridis, K., Kalra, J., Van der Valk, W., & Fang, F. (2020). Inter-organizational governance: a review, conceptualisation and extension. Production Planning & Control, 31(6), 453–469. https://doi.org/10.1080/09537287.2019.1647364
Rupp, D. E., & Cropanzano, R. (2002). The mediating effects of social exchange relationships in predicting workplace outcomes from multifoci organizational justice. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 89(1), 925–946. https://doi.org/10.1016/S0749-5978(02)00036-5
Schepker, D. J., Oh, W.-Y., Martynov, A., & Poppo, L. (2014). The Many Futures of Contracts: Moving Beyond Structure and Safeguarding to Coordination and Adaptation. Journal of Management, 40(1), 193–225. https://doi.org/10.1177/0149206313491289
Simioni, F. J., Siqueira, E. S., Binotto, E., Spers, E. E., & Araújo, Z. A. S. de. (2009). Lealdade e oportunismo nas cooperativas: desafios e mudanças na gestão. Revista de Economia e Sociologia Rural, 47(3), 739–765. https://doi.org/10.1590/S0103-20032009000300010
Skarlicki, D. P., & Folger, R. (1997). Retaliation in the workplace: The roles of distributive, procedural, and interactional justice. Journal of Applied Psychology, 82(3), 434–443. https://doi.org/10.1037/0021-9010.82.3.434
Su, X., Zhang, H., & Guo, S. (2020). A Model and Complexity Analysis of the Relationship Based on Organizational Justice and Embeddedness Theories. Complexity, 2020, 1–16. https://doi.org/10.1155/2020/6129840
Trada, S., & Goyal, V. (2017). The dual effects of perceived unfairness on opportunism in channel relationships. Industrial Marketing Management, 64, 135–146. https://doi.org/10.1016/j.indmarman.2017.01.008
Triviños, A. N. S. (1997). Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais: a Pesquisa Qualitativa em Educação (Vol. 1). São Paulo: Atlas. https://doi.org/10.33081/formação.v1i20.2335
Tyler, T. R. (1994). Psychological models of the justice motive: Antecedents of distributive and procedural justice. Journal of Personality and Social Psychology, 67(5), 850–863. https://doi.org/10.1037/0022-3514.67.5.850
van der Meer-Kooistra, J., & Scapens, R. W. (2008). The governance of lateral relations between and within organisations. Management Accounting Research, 19(4), 365–384. https://doi.org/10.1016/j.mar.2008.08.001
Walter, J., Lechner, C., & Kellermanns, F. W. (2008). Disentangling alliance management processes: Decision making, politicality, and alliance performance. Journal of Management Studies, 45(3), 530–560. https://doi.org/10.1111/j.1467-6486.2007.00749.x
Wang, A., & Dyball, M. C. (2019). Management controls and their links with fairness and performance in inter‐organisational relationships. Accounting & Finance, 59(3), 1835–1868. https://doi.org/10.1111/acfi.12408
Williamson, O. E. (1975). Markets and hierarchies: analysis and antitrust implications. Nova York: Free Press.
Zylbersztajn, D. (1994). Organização de cooperativas: desafios e tendências. RAUSP Management Journal, 29(3), 23–32.
Zylbersztajn, D. (2002). Quatro estratégias fundamentais para cooperativas agrícolas. XIV Seminário de Política Econômica: Cooperativismo e Agronegócio. Viçosa: UFV.
DECLARAÇÃO DE ORIGINALIDADE E DIREITOS AUTORAIS
Declaro que o presente artigo é original, não tendo sido submetido à publicação em qualquer outro periódico nacional ou internacional, quer seja em parte ou em sua totalidade.
Os direitos autorais pertencem exclusivamente aos autores. Os direitos de licenciamento utilizados pelo periódico é a licença Creative Commons Attribution 3.0 (CC BY 3.0): são permitidos o acompartilhamento (cópia e distribuição do material em qualqer meio ou formato) e adaptação (remix, transformação e criação de material a partir do conteúdo assim licenciado para quaisquer fins, inclusive comerciais.
Recomenda-se a leitura desse link para maiores informações sobre o tema: fornecimento de créditos e referências de forma correta, entre outros detalhes cruciais para uso adequado do material licenciado.