EDITORIAL
Abstract
Caríssimos(as) leitores(as).
Dedicamos este número da Revista Geoingá a uma homenagem póstuma ao professor Dr. César Miranda Mendes, vinculado ao Departamento de Geografia (DGE) da Universidade Estadual de Maringá (UEM) desde 1987 e um dos professores que esteve à frente do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PGE) da UEM.
Em 25 de outubro de 2018 completou um ano de falecimento do amigo e colega. Nascido em Palmas, no Sul do Paraná, ele fez a graduação em Geografia na Universidade Federal do Paraná (UFPR), concluída em 1980. Posteriormente, foi para Rio Claro, no interior de São Paulo, para cursar o Mestrado na Universidade Estadual Paulista (Unesp), com dissertação defendida em 1988. O doutorado foi realizado na Universidade de São Paulo (USP), com a orientação da professora Dra. Maria Adélia de Souza, como o leitor poderá conferir nesta publicação, onde ela também escreve. Defendeu a tese em 1992. Ele realizou, ainda, um pós-doutorado junto ao Ippur, no Rio de Janeiro.
César Miranda Mendes dedicou-se academicamente ao campo da Geografia Urbana, especialmente ao tema da verticalização, acerca do qual construiu significativa contribuição para a cidade de Maringá com a sua tese de doutorado: O Edifício no Jardim: um plano destruído. A Verticalização de Maringá, defendida em 1992[1]. A partir desse trabalho concretizou publicações acerca desse tema e afins, na forma de livros e publicações periódicas, inclusive diversas com os seus orientandos junto ao PGE/UEM.
Desenvolveu diversos projetos de pesquisa, coordenou e contribuiu expressivamente para a pós-graduação no âmbito da Universidade Estadual de Maringá. No total, publicou 44 artigos, cinco livros, 14 capítulos de livros, dentre outros. Ademais, orientou vinte dissertações de Mestrado e quatro teses de Doutorado. Os egressos sob sua orientação estão, atualmente, trabalhando em diversas instituições, orientando e contribuindo também para o avanço da pesquisa e da formação acadêmica em Geografia.
Ele foi também responsável pelo cadastramento do Grupo de Estudos Urbanos, junto ao CNPq, ao qual temos uma equipe que dá continuidade. Portanto, expressamos por meio dessa homenagem nosso reconhecimento ao trabalho desenvolvido por esse colega que nos deixou bastante cedo. A homenagem desta publicação da Geoingá foi elaborada com textos de colegas, orientandos e alunos. Contemplam atividades realizadas em conjunto ou pesquisas decorrentes da orientação. A seção da Conversa na sala do café também presta uma homenagem ao referido professor através de diferentes olhares dos amigos, colegas e orientandos. É um momento de recordação e de homenagem ao professor e toda sua contribuição acadêmica, científica e humana.
No primeiro artigo, Souza faz uma homenagem ao seu orientando de doutorado, Cesar Miranda Mendes, retomando um pouco da história acadêmica dele no Doutorado em Geografia Humana na USP, em um momento de grande efervescência epistemológica, marcada pela convivência com o Professor Dr. Milton Santos. Ela elabora, ainda, uma reflexão sobre os avanços da Geografia praticada naquela época de transição epistemológica, até os dias de hoje.
Na sequência, Schmidt apresenta uma proposta para investigação na escala local, com vistas a promover discussões sobre a estrutura intraurbana e a relação de informações coletadas in loco sobre o uso do solo comercial e para serviços. A investigação sobre o uso do solo urbano promove interfaces entre a propriedade individual, o serviço, o comércio e seus fins e o que há de relação na cidade, considerando os fatores da localização, bem como consequências da aglomeração tanto para proprietários, como para consumidores.
Vercezi, no terceiro artigo, analisa e reflete sobre a produção do espaço e a influência política e econômica no contexto da evolução, reordenação e fortalecimento da centralidade no processo que envolve a realidade da cidade de Maringá. Assim, a política vinculada à apropriação do solo urbano maringaense tem fomentado uma reordenação cíclica da ocupação do espaço pela “expulsão” da população de menor poder aquisitivo para áreas mais periféricas, seja do perímetro urbano, seja para os municípios próximos conurbados.
O quarto artigo, de autoria de Endlich, tem como objetivo refletir sobre as atividades de trabalho de campo, especialmente voltadas a questões urbanas. Os trabalhos de campo, de modo geral, apresentam resultados expressivos na formação dos seus participantes, sendo que a significância extrapola conteúdos objetivos, afetando aspectos inesperados, como a sociabilidade do grupo de participantes e aprendizado acerca de diferentes abordagens da Geografia Urbana, além de intercâmbio com equipes de locais visitados.
Na sequência, Moraes Sobrinho discorre acerca das especificidades do setor terciário na Avenida Mandacaru em Maringá-PR. Assim, por meio de levantamento de campo e aplicação de questionários, o autor identificou os tipos de uso do solo e a distribuição espacial dos fenômenos, determinou o início e o fim da delimitação do Subcentro Mandacaru e demonstrou que o setor terciário supre as demandas básicas da população local.
Postali, no artigo seis, buscou realizar uma análise concernente às atividades e dinâmicas que perpassam e definem o circuito inferior da economia na cidade de Maringá (PR) à luz das variáveis que caracterizam o período atual, sendo este, a técnica, a informação, o consumo, a publicidade e as finanças. A pesquisa realizada revelou as localidades, as atividades e os trabalhadores inseridos no subsistema econômico, evidenciando a relevância do circuito para a manutenção e sobrevivência das famílias de baixo poder aquisitivo em Maringá.
O sétimo artigo, de Barbiero, resgata as análises obtidas através de um trabalho de campo realizado na cidade de Londrina (PR) em 2009. Segundo a autora, na edição em homenagem às contribuições deste grande pesquisador, destaca-se a importância de trazer à tona o trabalho que inspirou nossa pesquisa de conclusão de curso por ocasião do bacharelado em Geografia, pois através das impressões do que aconteceu em Londrina, foi possível estudar o fenômeno ocorrido em Maringá, quando da implementação desse mesmo shopping no município.
Na sequência, Tows discorre acerca do processo de verticalização a partir de alguns ensaios sobre a perspectiva teórica desenvolvida por ele e por diversos outros pesquisadores, como o Prof. César. A hipótese que o autor apresenta é a de que a verticalização deve ser compreendida dentro da lógica da reprodução ampliada do capital, pois as estratégias e ações mais recentes sobre a produção desse tipo de empreendimento estão cada vez mais inseridas na lógica da mercantilização-financeirização da cidade.
Por fim, Santos evidencia as particularidades das confluências de áreas urbanas em região de fronteira. As cidades estudadas foram Barracão (PR), Dionísio Cerqueira (SC) e Bernardo de Irigoyen (Argentina), que formam um aglomerado urbano peculiar. A motivação para redigir o texto de homenagem foi decorrente de atividade de campo realizada com o mesmo, na qual foi possível apreender particularidades da área, incluindo o Consórcio Intermunicipal de Fronteira (CIF).
Desejamos que este número da Revista Geoingá, além de realizar a homenagem que pretendemos ao Prof. Dr. César Miranda Mendes, promova inquietações e reflexões acerca do espaço geográfico.
Boa leitura!
Maringá (PR), 16 de dezembro de 2018.
[1] MENDES, César Miranda. O Edifício no Jardim: um Plano Destruído. A Verticalização de Maringá. Tese (Doutorado em Geografia) São Paulo: DG-USP. 1992.