CONSTRUÇÕES NARRATIVAS SOBRE GÊNERO E CULTURA: INTERPRETAÇÕES DAS PRODUÇÕES CINEMATOGRÁFICAS DE MULAN (1998;2020)
Resumo
Os meios de comunicação exercem papel central na construção social do gênero, funcionando como pedagogias culturais que ensinam, de forma explícita ou implícita, normas e expectativas sobre o binarismo masculinidade e feminilidade. Nesse contexto, os filmes de animação, sobretudo os voltados ao público infantil, desempenham influência decisiva na formação de subjetividades. O filme Mulan (Disney, 1998; live-action, 2020) é um exemplo paradigmático dessa dinâmica, ao apresentar uma protagonista que desafia papéis tradicionais de gênero, mas que também se insere em narrativas permeadas por valores patriarcais, culturais e mercadológicos. Este trabalho propõe uma análise crítica de Mulan, considerando representações de gênero e outros marcadores sociais, como idade, classe e cultura. A narrativa de uma jovem que se disfarça de homem para lutar no lugar do pai e pela pátria problematiza a naturalização de papéis de gênero ao demonstrar que atributos como coragem, liderança e inteligência não são exclusivos dos homens. Contudo, a personagem é legitimada dentro de uma estrutura militar e nacionalista, o que limita a potência de sua ruptura. O live-action (2020), ao transformar Mulan em uma heroína predestinada por dons extraordinários, também desloca a crítica social para uma exceção individualizada. A análise interseccional evidencia que a obra articula não apenas questões de gênero, mas também tensões culturais e geopolíticas, ao retratar a China a partir de um olhar ocidental. A recepção global do filme gerou debates sobre representatividade, apropriação cultural e feminismo, revelando que a mídia não é neutra, mas um espaço de disputa simbólica e política. Conclui-se que Mulan representa tanto avanços quanto limitações nas representações de gênero. A obra contribui para questionar normas sociais, mas reforça ideais tradicionais. Assim, sua análise reafirma a importância da crítica midiática e da educação para a mídia como estratégias fundamentais na luta por igualdade de gênero e justiça social.
