Uma Uma geografia histórica mais-que-representacional?
Résumé
A abordagem mais-que-representacional tem se disseminado como um campo sistemático de estudo na geografia britânica, com reverberações intercontinentais que alcançaram a geografia brasileira. Ainda tido como um campo incipiente, o estilo mais-que-representacional é reconhecido por apresentar denso arcabouço teórico e pela grande amplitude de métodos que visam um ponto em comum: transcender as representações esfacelando as abordagens ontológicas de categorias e propondo alternativas às metanarrativas. Recentemente, notou-se em publicações anglófonas tentativas de aplicação de pressupostos mais-que-representacionais como meios de construção de historiografias que embasam estudos da geografia histórica. O objetivo deste trabalho, de viés estritamente epistemológico, é o de avaliar esta tentativa. Para tanto, utilizamos o trabalho de Miller e Prieto (2020) como referência, já que o mesmo se trata de um exemplo recente da aplicação mais-que-representacional na geografia histórica. Não ficamos restritos à análise do trabalho destes autores e lançamos críticas que extrapolam sua abordagem. As críticas englobam questões associadas ao objeto de análise, à escala temporal, ao uso das fontes de pesquisa e chega-se a conclusão que a lógica mais-que-representacional tende a ser subvertida nos estudos de geografia histórica. Apesar dos desafios levantados, o artigo aponta em sua conclusão que a abordagem empírica mais-que-representacional já é desafiadora mesmo em trabalhos que focam em arranjos relacionais hodiernos, o que não deve intimidar os investigadores interessados na área a transcender os limites das tradicionais empreitadas representacionais.