Apresentação

Perspectivas históricas e sociais para o ateísmo e o secularismo

Abstract

A atual chamada temática da Revista Brasileira de História das Religiões aborda um tema que ainda carece de uma tradição de pesquisa na historiografia brasileira: o ateísmo. Algumas explicações para isto podem ser elaboradas como hipóteses: o preconceito em torno do assunto, com o consequente receio de analisar um fenômeno ainda visto por muitos como tabu; a ideia de que ateísmo significa apenas uma forma de negação do sobrenatural e, portanto, destituído de conteúdo positivo; a dificuldade de acesso às fontes, especialmente sobre épocas adversas para as pessoas manifestarem uma posição ateísta; o fato do ateísmo por muito tempo ter sido expresso por indivíduos e pequenos grupos, em contraste com o interesse historiográfico do século XX por amplos setores sociais.

No Brasil, as religiões institucionais e as religiosidades individuais e coletivas marcam a história do país. Apenas ao final do século XX o Censo do IBGE começou a registrar o aumento no percentual dos sem-religião, entre os quais se incluem ateístas e agnósticos. Na esfera do social, nas últimas décadas, vive-se um adensamento nas formas de vida urbanas, e por efeito, novas relações sociais pautadas em valores individuais e secularizados. Nesse contexto, a vida conectada à internet amplifica ainda mais fenômenos novos de pertencimentos e vínculos sociais. Uma das consequências é a crescente possibilidade de viver a experiência religiosa como uma escolha pessoal, ou até mesmo optar por não ter uma fé religiosa, vide o ateísmo.