O SOME-PA E A QUESTÃO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO
Resumo
As décadas de 1970 e 1980, em que pese fazerem parte de um tempo marcado pelo autoritarismo e pela opressão dos mais pobres, foram também, sobretudo a partir do final da década de 1970, tempo de esperança e de conquistas. Nesse sentido, além do arremedo democrático, ampliou-se não só a oferta de ensino na Educação Básica, mas também a discussão sobre formas de atendimento às demandas das camadas populares. Foi nesse contexto que em 1982 nasceu, como misto de improviso, incapacidade e má vontade política, o Sistema de Organização Modular de Ensino do Pará. Esse artigo socializa os resultados de dois estudos complementares sobre esse tema, o estudo do pensamento freireano aplicado à educação do campo e a convivência-trabalho-estudo, ou pesquisa participante, com alunos do campo em assentamentos rurais no Sul do Pará. O encontro da empiria com o estudo teórico evidenciou o desencontro entre os postulados da educação do campo, numa perspectiva freireana, e a política educacional que norteia o SOME, fundados numa orientação asséptica em relação à realidade do povo do campo, especialmente dos alunos atendidos pelo Sistema Modular.
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