SENTIDOS CONSTRUÍDOS SOBRE A INTERNAÇÃO EM COMUNIDADES TERAPÊUTICAS COM PESSOAS EM TRATAMENTO POR USO DE DROGAS

Palavras-chave: Comunidade terapêutica, internação, rede de atenção psicossocial.

Resumo

As comunidades terapêuticas têm sido um dispositivo muito utilizado para o tratamento de pessoas que fazem uso problemático de drogas. Este estudo teve como objetivo compreender os sentidos construídos sobre a internação em comunidades terapêuticas por pessoas que passaram por estas instituições. Estudo qualitativo, descritivo, com referencial teórico construcionista social. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com dez indivíduos que passaram por internações. Com a técnica de análise temática foram construídos três temas: 1) rede de atenção psicossocial e os espaços de reclusão, que aborda as restrições vividas ao longo de todo processo de internação nas CTs, e destaca alguns repertórios utilizados para se referir ao tratamento nesta; 2) a naturalização da reclusão como ideal de cuidado, tema que discute como as CTs e o distanciamento social são construídos como percursos inevitáveis para as pessoas que fazem uso de drogas, naturalizando processos de violações de direitos que ocorrem e as possibilidades de cuidado oferecidas; 3) o que resta depois da reclusão, tema que trata da complexidade relacionada à saída da internação e os desafios ampliados pelo despreparo das instituições e da ausência de uma rede de apoio que auxilie no processo. Apesar das CTs serem descritas como espaço de reclusão e de punição e dos desafios encontrados pelos usuários após a internação, o tratamento é naturalizado como percurso inevitável na vida do usuário de drogas. O uso problemático de álcool e outras drogas é um campo de muita complexidade (social, saúde, cultural e econômico), o foco em modelos de internação longa tem propiciado diferentes formas de exclusão e violações, ao mesmo tempo em que desinvestem em práticas que abranjam a complexidade da questão.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Mariane Capellato Melo, USP-RP
mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.
Clarissa Mendonça Corradi-Webster, Departamento de Psicologia, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto – São Paulo.
professora da Universidade de São Paulo (USP), Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Departamento de Psicologia. É coordenadora do LePsis (Laboratório de Ensino e Pesquisa em Psicopatologia, Drogas e Sociedade). Também é professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia desta mesma unidade.  Realiza pesquisas que se concentram nas temáticas de saúde mental e psicopatologia, com ênfase na área de álcool e outras drogas. Nesta área, vem estudando o uso de drogas por pessoas em tratamento psiquiátrico, o cuidado oferecido a pessoas que fazem uso problemático de drogas e políticas de saúde mental.

Referências

Alves V. S. (2009). Modelos de atenção à saúde de usuários de álcool e outras drogas. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 25(11), 2309-2319. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2009001100002.

Amarante, P. D. C. (2009). Reforma Psiquiátrica e Epistemologia. Caderno Brasileiro de Saúde Mental (CD-ROM), 1(1). Disponível http://incubadora.periodicos.ufsc.br/index.php/cbsm/article/viewFile/998/1107:

Barbiani, R., Junges, J. R., Nora, C. R. D., & Asquidamini, F. ( 2014). A produção científica sobre acesso no âmbito do Sistema Único de Saúde do Brasil: Avanços, limites e desafios. Saúde e Sociedade, 23(3), 855-868. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-

Becker, Howard S. 2008 [1963]. Outsiders. Estudos de sociologia do desvio. Rio de Janeiro: Zahar. 232pp.

Bolonhesi-Ramos, R. C. M. & Boarini, M. L. (2015). Comunidades Terapêuticas: “novas” perspectivas e propostas higienistas. Revista História, Ciência, Saúde- Manguinho, Rio de Janeiro, 22(4). 1231-1248. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-59702015000400005

Braga, V. A. B., Fraga, M. N. O., & Souza, A. M. A. (2006). Reforma psiquiátrica brasileira: Muito a refletir. Acta Paulista de Enfermagem, 19(2), 207-211. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-21002006000200013Braun, V., & Clarke, V. (2006). Using thematic analysis in Psychology. Qualitative Research in Psychology, 3(2), pp. 77-101. http://dx.doi.org/10.1191/1478088706qp063oa.

Conselho Federal de Psicologia. (2011). Relatório da 4º Inspeção Nacional de Direitos Humanos: Locais de internação para usuários de drogas. Brasília, DF: Conselho Federal de Psicologia.

Conselho Federal de Psicologia. (2013). Eixo III: A atuação da (o) psicóloga (o) na política do CAPS. In Referências técnicas para atuação de psicólogas(os) no CAPS - Centro de Atenção Psicossocial (pp. 93-104). Brasília, DF: Conselho Federal de Psicologia.

Confederação Nacional de Comunidades Terapêuticas. (2013). Marco regulatório: Momento histórico para as comunidades terapêuticas. Recuperado de http://www.confenact.org.br/?p=225.

Autor, (ano). Título. Revista

Autor, (ano). Título. Revista.

Couto, A., Lemos, F. & Couto, M. (2013). Biopoder e práticas reguladoras do uso de drogas no Brasil: Algumas análises de projetos de lei. Revista Polis e Psique, 3(2), 132-150.

De Leon, G. (2003). A comunidade terapêutica: Teoria, modelo e método. São Paulo, SP: Loyola.

Fernandes, V. R., & Fuzinatto, A. M. (2012). Drogas: Proibição, criminalização da pobreza e mídia. Anais do Congresso Internacional de Direitos e Contemporaneidade: Mídias e Direitos da Sociedade em Rede, 1, 1-11.

Fiore, M. (2012). O lugar do Estado na questão das drogas: O paradigma proibicionista e as alternativas. Novos Estudos - CEBRAP, (92), 9-21. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-33002012000100002

Fossi, L. B. & Guareschi, N. M. de F. (2015). O modelo de tratamento das Comunidades Terapêuticas: práticas confessionais na conformação. Estudos de Pesquisa em Psicologia, 15(1), p. 94-115.

Gergen, K. J. (2009). O movimento do construcionismo social na psicologia moderna. Revista Internacional Interdisciplinar Inthertesis, 19(2), 299-320.

Gergen, K. J., & Gergen, M. (2010). Construcionismo social: Um convite ao diálogo. Rio de Janeiro, RJ: Instituto Noos.

Horta, R. L. et al. Influência da família no consumo de crack. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Rio de Janeiro, v. 63, n. 2, p.101-112. 2014.

Lei No. 8.142, de 28 de dezembro de 1990. (1990, 31 de dezembro). Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências.

Machado, A. R. & Miranda, P. S. C. (2007) Fragmentos da história da atenção à saúde para usuários de álcool e outras drogas no Brasil: da Justiça à Saúde Pública. Revista História, Ciências, Saúde –Manguinhos, Rio de Janeiro,14(3), 801-821. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-59702007000300007.

Machado, L. V. & Boarini, M. L. (2013). Políticas Sobre Drogas no Brasil: a Estratégia de Redução de Danos. Psicologia: Ciência e Profissão, 33 (3), 580-595. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932013000300006.

Autor, (ano). Título. Revista

Menicucci, T. M. G. (2014). História da reforma sanitária brasileira e do Sistema Único de Saúde: Mudanças, continuidades e a agenda atual. História, Ciências, Saúde - Manguinhos, 21(1), 77-92. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-59702014000100004

Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Coordenação Nacional de DST/AIDS. (2004). A política do Ministério da Saúde para atenção integral a usuários de álcool e outras drogas (2a ed.). Brasília, DF: Ministério da Saúde.

Ministério da Saúde (2007). Mapeamento das instituições governamentais e não-governamentais de atenção as questões relacionadas ao consumo de álcool e outras drogas no Brasil-2006/2007. Disponível em http://www.obid.senad.gov.br/potais/OBID/biblioteca/documentos/Dados_Estatisticos/instituições/327691.pdf

Ministério da Saúde. (2011). Portaria No. 3.088, de 23 de dezembro de 2011. Institui a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Recuperado de http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt3088_23_12_2011_rep.html

Ministério da Saúde. (2012). Portaria No. 131, de 26 de janeiro de 2012. Institui incentivo financeiro de custeio destinado aos Estados, Municípios e ao Distrito Federal para apoio ao custeio de Serviços de Atenção em Regime Residencial, incluídas as Comunidades Terapêuticas, voltados para pessoas com necessidades decorrentes do uso de álcool, crack e outras drogas, no âmbito da Rede de Atenção Psicossocial. Recuperado de http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt0131_26_01_2012.html

Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Saúde (2012). Resolução No 466, de 12 de dezembro de 2012. Recuperado de http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12_12_2012.html

Passos, E. H. & Souza, t. P. (2011). Redução de danos e saúde pública: construções alternativas à política global de “guerra às drogas”. Psicologia & Sociedade; 23 (1), 154-162. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-71822011000100017

Pereira, L. C., Jesus, I. S., Barbuda, A. S., Sena, E. L. S., & Yarid, S. D. (2013). Legalização de drogas sob a ótica da bioética da proteção. Revista Bioética, 21(2), 365-374. Recuperado de http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-80422013000200021&lng=en&tlng=pt. 10.1590/S1983-80422013000200021

Pitta, A. M. F. (2011). Um balanço da Reforma Psiquiátrica Brasileira: Instituições, Atores e Políticas. Revista Ciência & Saúde Coletiva, 16(12), 4579-4589. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232011001300002

Ribeiro, F. M. L. & Minayo, M. C. S. (2015). Religious therapeutic communities in recovering drug users: the case of Manguinhos, State of Rio de Janeiro, Brazil. Interface (Botucatu), 19(54), 515-26. DOI: 10.1590/1807-57622014.0571

Sabino, N. D. M., & Cazenave, S. O. S. (2005). Comunidades terapêuticas como forma de tratamento para a dependência de substâncias psicoativas. Estudos de Psicologia (Campinas), 22(2), 167-174. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2005000200006

Silva, P. F. A., & Baptista, T. W. F. (2014). Os sentidos e disputas na construção da Política Nacional de Promoção da Saúde. Physis: Revista de Saúde Coletiva, 24(2), 441-465. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73312014000200007

Valderrutén, M. C. (2008). Entre “teoterapias” y “laicoterapias”. Comunidades terapéuticas em Colombia y modelos de sujetos sociales. Psicologia & Sociedade, 20(1), 80-90. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-71822008000100009.

Publicado
2018-10-26
Como Citar
Capellato Melo, M., & Corradi-Webster, C. M. (2018). SENTIDOS CONSTRUÍDOS SOBRE A INTERNAÇÃO EM COMUNIDADES TERAPÊUTICAS COM PESSOAS EM TRATAMENTO POR USO DE DROGAS. Psicologia Em Estudo, 23. https://doi.org/10.4025/psicolestud.v23i0.37614
Seção
Artigos originais

 

0.3
2019CiteScore
 
 
7th percentile
Powered by  Scopus

 

 

0.3
2019CiteScore
 
 
7th percentile
Powered by  Scopus