Serpentes no imaginário popular no quilombo de Mata Cavalo
Resumo
Dentre as inúmeras imagens que povoam o imaginário humano, a serpente é uma das mais poderosas. Ao compor diferentes narrativas ao redor do mundo, incorpora enredos cosmogônicos, escatológicos, remetem à renovação do tempo e a transformação da vida, bem como pode ser síntese da morte e da demonstração da fragilidade humana. Na perspectiva da imagem serpente, como símbolo multifacetado, ambivalente e plurissemântico, buscamos neste trabalho compreender as diferentes narrativas sobre as serpentes, num complexo de comunidades quilombolas, denominado “Complexo Quilombola de Mata Cavalo” ou “Quilombo de Mata Cavalo”, situada no município de Nossa Senhora do Livramento, Mato Grosso, Brasil. A partir de uma abordagem qualitativa, fundamentando-nos na cartografia do Imaginário (Sato, 2011), nas pesquisas interdisciplinares sobre o imaginário e simbolismo (Durand, 2002); Eliade (1969, 2008), Chevalier e Gheerbrant (2015), dentre outros autores, evidenciaremos neste trabalho como as serpentes adentram o imaginário da comunidade e se deslocam do campo natural para o sobrenatural, que afetam as ações dos narradores e as aproximam de outras perspectivas simbólicas universais. Seja nas práticas dos “benzedeiros” e “benzedeiras”, nas crenças judaico-cristãs disseminadas nas comunidades de Mata Cavalo, na manipulação das partes do animal, na confecção de remédios, adereços, etc., as serpentes continuam sendo síntese de mistérios e histórias, perpassadas por suas características e comportamentos, que as lançam neste campo desfronteirado entre cultura, natureza e sobrenatureza.
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Referências
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