O negócio da solidão: sexualidade e práticas organizativas de usuários de aplicativos de relacionamento gay no Brasil

Palavras-chave: solidão; sexualidade; diversidade; práticas organizativas; aplicativos de relacionamento.

Resumo

A solidão tem sido enfatizada em quase todos os cenários do neoliberalismo, o que foi agravado com a pandemia de Covid-19. Nesse texto nos ocupamos de discutir a solidão enquanto negócio, para isso tratando de como os aplicativos de relacionamento voltados para encontros de homens gays, bissexuais e transexuais empregam a tecnologia como mecanismo de mediação de desejos em uma lógica individualista e assentada sobre relações de troca econômica. O texto, que privilegia a análise, tem como pontos de partida as aproximações e cruzamentos entre duas investigações realizadas em Belo Horizonte e Fortaleza com usuários de apps. Os principais resultados ratificam o foco na solidão como ponto de partida e, surpreendentemente, como ponto de chegada em ferramentas que deveriam promover o encontro, o que leva a reflexões mais amplas sobre as combinações entre os aspectos técnico e social da economia de plataforma em um sistema de produção capitalista.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Referências

Ahlm, J. (2017). Respectable promiscuity: digital cruising in an era of queer liberalism. Sexualities, 20(3), 364-379. DOI: https://doi.org/10.1177/1363460716665783

Bratton, B. H. (2016). The stack: on software and sovereignty. Cambridge, MA: MIT press.

Braz, C. A. (2010). À meia-luz – uma etnografia imprópria em clubes de sexo masculinos (Tese de doutorado). Universidade Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo, Brasil.

Bruno, F. (2018). Tecnopolíticas da vigilância: perspectivas da margem. São Paulo, SP: Boitempo.

Bruno, F. G., Bentes, A. C. F., & Faltay, P. (2019). Economia psíquica dos algoritmos e laboratório de plataforma: mercado, ciência e modulação do comportamento. Revista FAMECOS, 26(3), e33095. DOI: https://doi.org/10.15448/1980-3729.2019.3.33095

Butler, J. (2010). Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. São Paulo, SP: Civilização Brasileira.

Castro, C. (2001). Homo solitarius: notas sobre a gênese da solidão moderna. Interseções – Revista de Estudos Interdisciplinares, 3, 79-90.

Chia, R. C. H., & Holt, R. (2009). Strategy without design: the silent efficacy of indirect action. New York, NY: Cambridge University Press.

Fernandes, E. R. (2019). Existe índio gay? A colonização das sexualidades indígenas no Brasil (2a ed). Curitiba, PR: Brazil Publishing.

Filice, E., Raffoul, A., Meyer, S. B., & Neiterman, E. (2019). The influence of Grindr, a geosocial networking application, on body image in gay, bisexual and other men who have sex with men: an exploratory study. Body Image, 31, 59-70. DOI: https://doi.org/10.1016/j.bodyim.2019.08.007

Foucault, M. (1997). História da sexualidade: a vontade de saber. Rio de Janeiro, RJ: Graal.

Foucault, M. (1984). História da sexualidade: o uso dos prazeres. Rio de Janeiro, RJ: Graal.

Geiger, D. (2009). The practice-turn in organization studies: some conceptual and methodological clarifications. In A. G. Scherer, I. M. Kaufmann, & M. Patzer (Eds.). Methoden in der Betriebswirtschaftslehre (p. 187-205). Wiesbaden, HE: Gabler.

Goedel, W. C., & Duncan, D. T. (2015). Geosocial-networking app usage patterns of gay, bisexual, and other men who have sex with men: survey among users of Grindr, a mobile dating app. JMIR Public Health and Surveillance, 1-13. DOI: https://doi.org/10.2196/publichealth.4353

Halston, A., Iwamoto, D., Junker, M., & Chun, H. (2019). Social media and loneliness. International Journal of Psychological Studies, 11(3), 27-38. DOI: https://doi.org/10.5539/ijps.v11n3p27

Hinsch, B. (1993). Passions of the cut sleeve – the male homosexual tradition in China. Oakland, CA: University of California Press.

Hirigoyen, M.-F. (2007). Les nouvelles solitudes. Paris, FR: La Découverte.

Hubbard, T. K. (2003). Homosexuality in Greece and Rome: a sourcebook of basic documents. Oakland, CA: University of California Press.

Illouz, E. (2011). O amor nos tempos do capitalismo. Rio de Janeiro, RJ: Zahar.

Jarzabkowski, P. (2005). Strategy as practice: an activity-based approach. London, UK: Sage.

Lazzarato, M. (2004). From capital-labour to capital-life. Ephemera: Theory & Politics in Organization, 4(3), 187-203.

Leupp, G. P. (1997). Male colors: the construction of homosexuality in Tokugawa Japan. Oakland, CA: University of California Press.

Minois, G. (2013). L’histoire de la solitude et des solitaires. Paris, FR: Fayard.

Miskolci, R. (2017). Desejos digitais: uma análise sociológica por parceiros on-line. São Paulo, SP: Autêntica.

Miskolci, R. (2015). ‘Discreto e fora do meio’ – notas sobre a visibilidade sexual contemporânea. Cadernos Pagu, 44, 61-90.

Miskolci, R. (2014). Negociando visibilidades: segredo e desejo em relações homoeróticas masculinas criadas por mídias digitais. Bagoas – Estudos Gays: Gêneros e Sexualidades, 8(11), 51-78.

Miskolci, R. (2009). O armário ampliado: notas sobre sociabilidade homoerótica na era da Internet. Gênero, 9(2), 171-190. Doi: https://doi.org/10.22409/rg.v9i2.88

Noble, S. U. (2018). Algorithms of oppression: how search engines reinforce racism. New York, NY: NYU press.

Oliveira, M. R. G. (2018). Por que você não me abraça? Reflexões a respeito da invisibilização de travestis e mulheres transexuais no movimento social de negras e negros. Sur, 15(28), 167-179.

O’Neil, C. (2016). Weapons of math destruction. New York, NY: Crown publishers.

Padilha, F. (2015). Isto não é um manual de instruções: notas sobre a construção e consumo de perfis em três redes geossociais voltadas ao público gay. Norus – Novos Rumos Sociológicos, 3(3), 72-104.

Pais, J. M. (2016). Nos rastos da solidão: deambulações sociológicas (3a ed). Berlin, DE: GD Publishing / Edições Machado.

Pelúcio, L. (2019). Amor em tempos de aplicativo: masculinidades heterossexuais e a nova economia do desejo. São Paulo, SP: Annablume.

Rosen, R. (2012). Beaver street: a history of modern pornography. London, AFI: Headpress.

Ryan, P. (2019). Netporn and the amateur turn on OnlyFans. In P. Ryan(Org.), Male sex work in the digital age: curated lives (p. 119-136). London, AFI: Palgrave Macmillan.

Safatle, V., Silva Junior, N., & Dunker, C. (2021). Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico. Belo Horizonte, MG: Autêntica.

Saraiva, L. A. S. (2024). (Inevitável) escassez? Farol – Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, 11(31), 390-398.

Saraiva, L. A. S. (2023). Dinâmicas da vida social organizada de homens gays em aplicativos de relacionamento. Organizações and Sociedade, 30(105), 246-269.

Saraiva, L. A. S. (2020). Isolamento social e solidões na cidade. In L. V. M. Guimarães, T. C. Carreteiro, & J. R. Nasciutti (Orgs.). Janelas da pandemia (p. 427-434). Belo Horizonte, MG: Instituto DH.

Saraiva, L. A. S.; Santos, L. T.; & Pereira, J. R. (2020). Heteronormatividade, masculinidade e preconceito em aplicativos de celular: o caso do Grindr em uma cidade brasileira. Brazilian Business Review, 17, 114-131. DOI: https://doi.org/10.15728/bbr.2020.17.1.6

Saraiva, L. A. S., & Vasconcelos, M. F. F. V. (2022). A economia digitalizada dos corpos em aplicativos de relacionamento gay. Acta Scientiarum. Human and Social Sciences, 44(2), e67004.

Schatzki, T. R. (2006). On organizations as they happen. Organization Studies, 27(12), 1863-1873. DOI: https://doi.org/10.1177/0170840606071942

Sibilia, P. (2016). O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro, RJ: Contraponto.

Siegel, L. Z. (2002). Governing pleasures. Pornography and social change in England, 1815-1914. New Brunswick, CA: Rutgers University Press.

Simmel, G. (1987). A metrópole e a vida mental. In G. Velho (Org.). O fenômeno urbano (p. 10-24). Rio de Janeiro, RJ: Zahar.

Srnicek, N. (2016). Platform capitalism. Cambridge, UK: Polity press.

Strub, W. (2019). Sanitizing the seventies: pornography, home video, and the editing of sexual memory. Feminist Media Histories, 5(2), 19-48. DOI: https://doi.org/10.1525/fmh.2019.5.2.19

Turkle, S. (2011). Alone together: why we expect more from technology and less from each other. New York, NY: Basic Books.

Vaara, E., & Whittington, R. (2012). Strategy-as-practice: taking social practices seriously. The Academy of Management Annals, 6, 285-336. DOI: https://doi.org/10.5465/19416520.2012.672039

Weitzer, R. (2009). Sex for sale: prostitution, pornography, and the sex industry. London, UK: Routledge.

Whittington, R. (1996). Strategy as practice. Long Range Planning, 29(5), 731-735. DOI: https://doi.org/10.1016/0024-6301(96)00068-4

Publicado
2024-12-13
Como Citar
Saraiva, L. A. S., & Vasconcelos, M. F. F. V. (2024). O negócio da solidão: sexualidade e práticas organizativas de usuários de aplicativos de relacionamento gay no Brasil. Acta Scientiarum. Human and Social Sciences, 46(3), e70470. https://doi.org/10.4025/actascihumansoc.v46i3.70470
Seção
Ciências Sociais