Acolhimento em múltiplas línguas: reflexões sobre o atendimento clínico e psicanalítico a imigrantes
Résumé
Línguas estrangeiras estão presentes em consultórios de psicanálise desde seus primórdios. Diversos acontecimentos históricos, como a Primeira e Segunda Guerra Mundial, forçaram psicanalistas a atender pacientes imigrantes ou até mesmo estabelecer seus consultórios em outros países. No entanto, poucas publicações sobre a temática foram produzidas, ainda que muito possa ser questionado teoricamente acerca de impactos técnicos em realizar atendimentos ou acolher pacientes em idiomas outros que suas línguas maternas. Diante da complexidade do tema e da escassez de pesquisas sobre a prática clínica em língua estrangeira, este estudo tem como objetivo investigar de que forma psicanalistas significam a experiência de atendimento em línguas estrangeiras. Para isso, foram entrevistados cinco psicanalistas clínicos experientes no tratamento nessas condições. A partir da análise do conteúdo destas entrevistas (Bardin, 1977), foram escolhidas três principais temáticas, sendo elas: a possibilidade de se analisar em língua estrangeira; a língua materna; e a dimensão transferencial nesse setting. Como conclusões, foi possível delimitar e discutir sobre algumas possibilidades e impasses para o atendimento clínico em outra língua. Ressalta-se que o crucial para a instauração de um processo analítico é a disponibilidade subjetiva do analista em escutar e acolher o imigrante, sendo que desafios linguísticos, culturais, transferenciais e contratransferenciais farão parte do manejo clínico nessa condição.
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