A memória do futuro e a antecipação do passado em Caderno de Um Ausente, de João Anzanello Carrascoza
Resumo
O presente artigo tem por objetivo discutir a memória como projeção para o futuro e não como simples repositório do passado. Deste modo, a memória será estudada como o tempo do devir. A escrita desempenha um papel fundamental nesse processo de preservação e alongamento do presente, que passa a ser narrado como memória para ser lida no futuro. Contribuem para a discussão sobre o tempo e, portanto, sobre a memória, autores como Anne Cauquelin (2008), ao conceituar os ‘incorporais’, e Norbert Elias (1998), que enfatiza a capacidade de síntese do ser humano em apreender o tempo. Após o percurso de revisão bibliográfica, discutiremos o romance Caderno de um ausente, de João Anzanello Carrascoza (2017), como representação da necessidade de construir uma memória para o futuro, para o tempo da ausência. Neste sentido, a narrativa de Carrascoza problematiza a questão do tempo presente, a ausência e o silêncio, que permitem ao narrador-personagem João, um professor universitário com mais de cinquenta anos, agora pai de uma recém-nascida, apreender o presente corroído pelo tempo no momento em que surgem os eventos, o que o leva a uma obsessão por registrar cada movimento como passado, encontrando nas frágeis palavras o único mecanismo para preservar os primeiros anos que testemunha da vida de sua filha. Por fim, tempo e memória serão vistos como ‘incorporais’ que ganham corpo no ato da narrativa, concretizando-se em palavras como representações momentâneas da preservação dos fatos, mas com a capacidade de reduzirem a angústia despertada pela sensação incômoda de ‘não-estar’ que corrói o narrador do romance.
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