Tanto resistência quanto rendição: raça, escravidão e pós-emancipação nas religiões de matriz africana.

  • José Renato de Carvalho Baptista Instituto Nacional de Educação de Surdos
Palavras-chave: Umbanda, Candomblé, Memória, Escravidão, Pós-emancipação

Resumo

Este trabalho pretende apresentar algumas perspectivas sobre certas práticas da umbanda e do candomblé que sugerem formas de memória da escravidão e de como esta é percebida pelos adeptos destas religiões. Nosso pressuposto é de que a memória é socialmente construída e os agentes sociais se apropriam destas construções no sentido de orientar suas ações ou discursos sobre o passado e o presente. Na umbanda, o culto aos “pretos-velhos” propõe uma forma específica de memorizar a escravidão, apontando para as formas de submissão e violência, além das inscrições corporais da escravidão, presentes na possessão pelas entidades denominadas “pretas e pretos-velhos”. No candomblé, temos a escravidão como uma espécie de vácuo ou lacuna histórica, vista como etapa necessária da iniciação. A escravidão é rememorada para ser esquecida, como um estado de privação dos sentidos, que serão retomados com a complementação da iniciação.

 

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Biografia do Autor

José Renato de Carvalho Baptista, Instituto Nacional de Educação de Surdos

Professor do Departamento de Ensino Superior do Instituto Nacional de Educação de Surdos (DESU-INES), Doutor em Antropologia Social pelo Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro, é graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Mestre em Antropologia Social pelo Museu Nacional / Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi professor do Departamento de Antropologia da Universidade Federal Fluminense, da Escola de Ciências Sociais do CPDOC/FGV, da Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, do Instituto de Humanidades da Universidade Cândido Mendes e da Fundação Educacional Unificada Campograndense (FEUC). Sua tese de doutoramento "Sè tou melanje: uma etnografia sobre o universo social do Vodu Haitiano" se increve no âmbito do projeto pesquisa "Moedas, Mercados e Tranacionalização", realizado pelo NuCEC - Núcleo de Pesquisa em Cultura e Economia - PPGAS / Museu Nacional/ UFRJ e envolve uma ampla rede de pesquisadores baseados no Institut Interuniversitaire de Recherche et Developement d`Haïti. Seus principais interesses se concentram na área da antropologia das religiões afro-americanas em perspectiva comparada, notadamente o Haiti e o Brasil e as interfaces do universo das religiões com domínio da antropologia econômica, examinando aspectos variados que passam pela moralidade das trocas, os mercados e o dinheiro. 

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Publicado
2021-10-17
Como Citar
Baptista, J. R. de C. (2021). Tanto resistência quanto rendição: raça, escravidão e pós-emancipação nas religiões de matriz africana. Dialogos, 25(3), 227-248. https://doi.org/10.4025/dialogos.v25i3.60113