A retórica da sedução e do poder em "O casamento do céu e do inferno" de William Blake

Resumo

O artigo propõe discutir como o escritor e pintor William Blake desenvolveu representações acerca da figura do diabo na obra O casamento do céu e do inferno (1790). Ao se apropriar dos ideais advindos da Revolução Francesa e do Romantismo, que eclodiram no final do século XVIII, o escritor empreendeu críticas contra a monarquia e a Igreja Católica. A caracterização de Satanás como entidade propulsora de liberdade e de realização de desejos posicionará as doutrinas religiosas à margem do discurso demoníaco de poder e de sedução, elaborado por Blake. O autor elegeu as palavras Energia e Razão para ensejar concepções e diálogos intertextuais à luz dos textos bíblicos e de obras da arte literária. Nessa perspectiva, a palavra Energia despertará o anseio pela liberdade, porém aqueles que seguem a Razão estão fadados a uma vida desvinculada de  horizontes. Os questionamentos aos dogmas cristãos, que outrora eram tidos como anátema, são formulados por Blake para estimular a independência de pensamento dos indivíduos. A valorização da liberdade e a produção de ideias revolucionárias em torno da figura satânica são os elementos candentes que configurarão o diabo como símbolo de poder em O casamento do céu e do inferno.