O significado das escolas anarquistas para nossos dias

Palavras-chave: Escolarização; movimento operário; educação popular; pensamento coletivo; anarquismo.

Resumo

O processo de escolarização da sociedade brasileira tem se acentuado desde meados do século XX. Existem diversos estudos refletindo este tema. No mais das vezes, objetivam melhorar a escola contemporânea. As críticas, no geral, deixam incólume a escola enquanto tal. Introduzida no Brasil pelos jesuítas no século XVI, a escola foi expandida na Era Vargas (1930-1945) e adensada pelos governos militares a partir de meados da década de 1960. Entretanto, nos inícios do século XX o movimento operário brasileiro realizou diversas experiências com educação popular, instaurando escolas para os filhos dos trabalhadores, chegando a ter realizado duas experiências com universidade popular. Este episódio educacional de nossa vida social merece ser devidamente recuperado. Isto, não a partir da naturalização de nosso universo escolar e de nossos processos educacionais escolarizados. Retomar o tema das escolas anarquistas como me proponho aqui, pressupõe um esforço em afastar valores exógenos às concepções orientadoras dos trabalhadores anarquistas quando inventaram suas escolas. A palavra “escola” é a mesma usada hoje e no período referido. Mas isto não deve ser um estorvo ao conhecimento de experimentos educacionais impermeáveis à lógica binária, punitiva e concentracionária da escola contemporânea. O que foram estas escolas? Como foram possíveis? De que maneira existiram? Quais são suas características pedagógicas? Por que não são amplamente conhecidas e debatidas hoje? Há reflexos das escolas anarquistas em nossos dias? As escolas de hoje possuem pontos em comum com as escolas anarquistas? Estas são as questões orientando as reflexões neste artigo.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Rogério Humberto Zeferino Nascimento, Universidade Federal de Campina Grande

Doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; professor associado da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Campina Grande (PB).

Referências

AZEVEDO, Raquel de. A Resistência Anarquista: uma questão de identidade (1927-1937). São Paulo: Arquivo do Estado, Imprensa Oficial, 2002.
BAKUNIN e outros. Educação libertária. Tradução de José Claudio de Almeida Abreu. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
BANCAL, Jean. Pluralismo e autogestão: os fundamentos. Tradução de Plínio Augusto Coêlho. Brasília: Novos Tempos Editora, 1984.
BARRANCOS, Dora. As “leituras comentadas”: um dispositivo para a formação da consciência contestatória entre 1914-1930. In: Cadernos AEL: anarquismo e anarquistas. Campinas:SP; UNICAMP/IFCH, v. 8/9, 1998. p. 151-161.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Pensar a prática. Escritos de viagem e estudos sobre a educação. São Paulo: Edições Loyola, 1984. (Coleção Educação Popular – 01).
CARVALHO, Florentino de. Da Escravidão à Liberdade: a derrocada burguesa e o advento da igualdade social. [1ª ed. 1927]. 2ª edição. Apresentação e notas de Rogério H. Z. Nascimento. Organização e revisão de Renato Lauris Jr. Seridó; RN: Tumulto, 2015.
CASTRO, Rogério de. Nem prêmio, nem castigo: educação, anarquismo e sindicalismo em São Paulo (1909-1919). Curitiba: Editora Prismas, 2017.
CODELLO, Francisco. “A boa educação”: experiências libertárias e teorias anarquistas na Europa, de Godwin a Neill: volume I. Tradução de Sile Cardoso. São Paulo: Imaginário; Ícone, 2007.
CORRÊA, Guilherme. Educação, comunicação, anarquia: procedências da sociedade de controle no Brasil. São Paulo: Cortez, 2006.
CUBERO, Jaime. Jaime Cubero – seleção de textos e entrevistas. São Paulo; Centro de Cultura Social, 2015.
DIWAN, Petra. Raça pura: uma história da Eugenia no Brasil e no mundo. São Paulo: Editora Contexto, 2007.
EVERETT, Daniel L.. Linguagem: a história da maior invenção da humanidade. Tradução de Maurício Resende. São Paulo: Contexto, 2019.
FAURE, Sebasten. A Colmeia, uma experiência pedagógica. 2ª ed. Tradução Antonio Bernardo Canellas. São Paulo: Biblioteca Terra Livre, 2015.
FELTRIN, Tascieli. Educação Popular no Brasil: forças que concorreram para a emergência da escola nacional. Dissertação (mestrado). Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, 2017.
FERRER Y GUARDIA, Francisco. A Escola Moderna. Tradução Camilo Alvares. São Paulo: Biblioteca Terra Livre, 2014.
FEYERABEND, Paul. Contra o método. Tradução Cezar Augusto Mortari. 3ª ed. São Paulo: Editora UNESP, 2007.
FRYE, Northrop. Código dos códigos: a Bíblia e a literatura. Tradução e notas Flávio Aguiar. São Paulo: Boitempo, 2004.
GODOY, Clayton Peron Franco de (Org.) A Greve Geral de 1917: perspectivas anarquistas. São Paulo: Biblioteca Terra Livre, 2017.
GONÇALVES, Adelaide; SILVA, Jorge E. A bibliografia Libertária: o anarquismo em língua portuguesa. São Paulo: imaginário, 2001.
GOULD, Stephen Jay. A falsa medida do Homem. 2ª ed. Tradução de Valter Lellis Siqueira. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
GRAY, John. Missa negra: religião apocalíptica e o fim das utopias. Tradução de Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Record, 2008.
GUIMARÃES, Luiza Angélica Paschoeto. Pierre-Joseph Proudhon: apropriações e traduções de seu pensamento sobre educação. 1ª ed. Rio de Janeiro: Câmara Brasileira de Jovens Escritores, 2015.
ILLICH, Ivan. Na ilha do alfabeto. In: ______. et al. Educação e Liberdade. Tradução de Nelson Canabarro. São Paulo: Editora Imaginário, 1990. p. 11 – 35.
JEREMIAS, Marcolino (Org.) Três depoimentos libertários: Edgar Rodrigues, Jaime Cubero, Diego Giménez Moreno. Rio de Janeiro: Achiamé, s/d.
JOMINI, Regina Celia Mazoni. Uma educação para a solidariedade: contribuição ao estudo das concepções e realizações educacionais dos anarquistas na República Velha. Campinas: SP; Pontos, 1990.
KASSICK, Clovis N. A ex-cola libertária. Rio de Janeiro: Achiamé, 2004.
KROPOTKIN, Piotr. Ajuda mútua: um fator de evolução. Tradução Waldyr Azevedo Jr. São Sebastião: A Senhora Editora, 2009.
LEUENROTH, Edgard. O movimento operário – A Greve de 1917. São Paulo: CCS-SP, 2016.
LIMA BARRETO, Afonso Henriques de. Recordações do escrivão Isaías Caminha. Prefácio de Francisco de Assis Barbosa. Organização de Francisco de Assis Barbosa com a colaboração de Antônio Houaiss e M. Cavalcanti Proença. São Paulo: Editora Brasiliense, 1956. (Coleção Obras Completas – I).
______. Toda Crônica: Lima Barreto. Volume I (1890-1919). Apres. e notas Beatriz Resende; org. Rachel Valença. Rio de Janeiro: Agir, 2004.
______. Cartas de um matuto e outros causos. Organização de Rogério Nascimento. Campina Grande; PB: Bagagem; EDUFCG, 2016.
LIPIANSKY, Edmond-Marc. A pedagogia libertária. Tradução de Plínio Augusto Coêlho. São Paulo: Nu-Sol; Imaginário; SOMA – Coletivo Anarquista Brancaleone, 1999.
LOPREATO, Christina Roquette. O espírito da revolta: a greve geral anarquista de 1917. São Paulo: Annablume, 2000.
MARTIN, Sebastian S. La Escuela Moderna en Brasil (1909-1919). 1991. Tese (Doutorado) – Departamento de História da Educação e Educação Comparada da Faculdade de Filosofia e Ciências da Educação da Universidade Nacional de Educação à Distância, Madrid, Espanha, 1991.
MORAES, Carmen Sylvia Vidigal (Org.). Educação Libertária no Brasil: Acervo João Penteado: inventário de fontes. São Paulo: Fap-Unifesp: Edusp, 2013.
MOURA, Maria Lacerda de. Lições de pedagogia. São Paulo: Typ. Paulista, 1925. v. 1.
______. “A mulher é uma Degenerada”. [1ª ed. 1924] 4ª edição comentada. São Paulo: Tenda de Livros, 2018a [Série Aquela Mulher].
______. Fascismo, filho dileto da Igreja e do Capital. [1ª ed. 1934]. 2ª edição. São Paulo: Editora Entremares, 2018b.
NASCIMENTO, Rogério H. Z. Florentino de Carvalho, Pensamento Social de um anarquista. Editora: Achiamé, Rio de Janeiro: 2000.
______. Anarquia nas Humanidades: perspectiva negativista no estudo da sociedade. In: Revista Ariús Revista do Centro de Humanidades. Nº 11 – Campina Grande; PB: Universidade Federal de Campina Grande, 2002. p. 72-82.
______. Indisciplina: experimentos libertários e emergência de saberes anarquistas no Brasil. Tese de doutoramento. Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo: São Paulo, 2006a.
______. Florentino de Carvalho, um professor indisciplinado! In: DEMINICIS, Rafael; REIS FILHO, Daniel Aarão (Orgs.). História do Anarquismo no Brasil. v. 1. Niterói; RJ: EdUFF: Rio de Janeiro: MAUAD, 2006b. p. 181-202.
______. Escolas de indisciplina: notas sobre sociabilidades anarquistas no Brasil em inícios do século XX. In: Verve: revista semestral do Nu-Sol, Núcleo de Sociabilidade Libertária do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP. São Paulo: O Programa; v. 14, 2008. p. 106-121.
______. Educação pela indisciplina: concepções e experimentos educacionais anarquistas registrados na imprensa operária em inícios do século XX. In: Anais do II Colóquio Internacional de História: fontes históricas, ensino e história da educação. Universidade Federal de Campina Grande, 2010.
______ (Org.). Educação anarquista – saberes, ideias, concepções. São Paulo: Editora Marginal, 2012a. v. 1.
______. Cartografias intelectuais: políticas do pensamento social. In: VERVE – Revista do Núcleo de Sociabilidades Libertárias do PEPGCS/PUC/São Paulo –, No 22 – Outubro, 2012b. p. 99-116.
______. Educação e desaprendizagem: a pedagogia anarquista de Lima Barreto. In: Anais do II Simpósio de Educação: Cotidiano, História e Políticas. Volta Redonda; RJ: 2016. p. 12 – 29. Disponível em:
______. Pensamento social anarquista: contribuições, características, singularidades. In: Revista Espaço Acadêmico. v. 18 – n. 210, p. 03-36, novembro de 2018. Disponível em: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/issue/view/1550
PARRA, Lúcia Silva. Leituras libertárias: cultura anarquista na São Paulo dos anos 1930. São Paulo: Centro de Cultura Social, 2017.
PASSETTI, Edson. Conversação libertária com Paulo Freire. São Paulo: Imaginário, 1998.
PEY, Maria Oly (Org.). Esboço para uma história da escola no Brasil, algumas reflexões libertárias. Rio de Janeiro: Achiamé, 2000.
PROUDHON, Pierre-Joseph. Proudhon: textos selecionados. Paulo-Edgar A. Resende; Edson Passeti (Orgs.). Tradução Célia Gambini e Eunice Ornelas Setti. São Paulo: Editora Ática, 1986. (Coleção Grandes Cientistas Sociais – 56).
RECLUS, Élisée. O Homem e a Terra: Educação. Tradução Plínio Augusto Coêlho. São Paulo: Expressão & Arte: Editora Imaginário, 2010.
______. Anarquia pela educação. Tradução e organização de Plínio Augusto Coêlho. São Paulo: Hedra, 2011.
RECLUS, Élisée; KROPOTKIN, Piotr. Escritos sobre educação e Geografia. 1ª ed, Tradução Rodrigo Rosa da Silva, Guilherme Amaral, Adriano Skoda. São Paulo: Biblioteca Terra Livre, 2014.
RECLUS, Élisée et al. O futuro de nossas crianças e outros enasios. Organização e tradução Plínio Augusto Coêlho. São Paulo: Intermezzo, 2017.
REIMER, Everett. A escola está morta. Alternativas em educação. Tradução de Tonie Thomson. 2ª ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979.
RODRIGUES, Edgar. Alvorada operária. Os congressos operários no Brasil. Rio de Janeiro: Mundo Livre, 1979.
SAFÓN, Ramón. O racionalismo combatente: Francisco Ferrer y Guardia. Tradução de Plínio Augusto Coêlho. São Paulo: Imaginário; IEL, Instituto de Estudos Libertários; Nu-Sol, Núcleo de Sociabilidade Libertária do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP, 2003.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil – 1870 – 1930. 7ª reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
STIRNER, Max. O falso princípio de nossa educação. Tradução de Plínio Augusto Coêlho. São Paulo: Imaginário, 2001.
______. O único e sua propriedade. Tradução João Barrento. Lisboa: Antígona, 2004.
TOMASSI, Tina. Breviario del pensamento educativo libertario. 2a ed. Cali, Colombia: Associacion Artistica “La Cuchilla”, 1988.
Publicado
2020-03-28
Como Citar
Nascimento, R. H. Z. (2020). O significado das escolas anarquistas para nossos dias. Revista Espaço Acadêmico, 19(221), 103-122. Recuperado de https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/52220