Dóris, porciúncula de Oxum:

o poder de orixá manifestado na literatura afro-brasileira

  • Oluwa Seyi Salles Bento Universidade de São Paulo
Palavras-chave: “A moça de vestido amarelo”, Conceição Evaristo, relações de poder, sincretismo religioso, religiosidade negra

Resumo

O presente trabalho objetiva analisar a narrativa “A moça de vestido amarelo”, integrante da coletânea de contos Histórias de leves enganos e parecenças ([2016] 2017), de Conceição Evaristo, buscando salientar como a autora questiona e desconstrói princípios das relações de poder religioso e racial. O mecanismo do qual Evaristo parte, que nos parece o projeto estético que ordena a obra, está anunciado no título do livro: o engano ou a parecença. Assim, o sincretismo religioso entre o cristianismo e as religiões afro-brasileiras é interpelado quando são percebidos ruídos de tradução entre tais crenças. O que este artigo pretende ressaltar, na soma, é o vigor e a resiliência da religiosidade negra, suas divindades e seus professantes, frente à sistemática vilanização que os oprime. A fim de comprovar essas noções, partimos das proposições de pesquisadores como Bechara ([1999] 2009), Elbein dos Santos ([1975] 2012), Lima ([2007] 2012) e Machado ([1976] 2013).

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Biografia do Autor

Oluwa Seyi Salles Bento, Universidade de São Paulo

Graduada em Letras pela Universidade de São Paulo (2016) e Mestranda pelo Programa de Pós-graduação em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa na mesma instituição de ensino. Pesquisa as relações entre religiosidade negra e literatura afro-brasileira, estereotipia racial na literatura e autoria negro-feminina. 

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Publicado
2021-01-01
Como Citar
Salles Bento, O. S. (2021). Dóris, porciúncula de Oxum:. Revista Espaço Acadêmico, 20(226), 17-27. Recuperado de https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/53933
Seção
DOSSIÊ - PENSAR NEGRO: Poéticas Ancestrais e Estéticas Contracoloniais