O bloqueio epistemológico no Brasil

Abrahão de Oliveira Santos; Luiza Rodrigues de Oliveira

Abrahão de Oliveira Santos Universidade Federal Fluminense
Luiza Rodrigues de Oliveira Universidade Federal Fluminense

Palavras-chave: Epistemologia negro-indígena;, Psicologia afropindorâmica;, Psicologia;, Enegrecimento.

Resumo

Fazemos um percurso de formação do pensamento brasileiro para trazer à tona um obstáculo cognitivo-epistemológico. Tal obstáculo, o localizamos na estratégia da mestiçagem, como processo político, lançada pelo antiabolicionista Sílvio Romero e aperfeiçoada com Gilberto Freyre. Situamos a questão epistemológica em suas inscrições raciais, quer dizer, trazendo-a para o campo da luta dos povos negros e indígena contra sua sujeição. No Brasil a mestiçagem e o mulato foram o modo que permitiu a intelectualidade propor o rumo da epistemologia e da subjetivação. Tal procedimento provocou um profundo desconhecimento de si mesmo, ainda hoje presente. Não resta dúvida da necessidade de alteração das linguagens das ciências e de novas epistemologias constituídas a partir da diversidade étnica, racial e cultural do Brasil. Pontuamos considerar a formação de um pensamento fora do campo hegemônico para uma perspectiva social, existencial e espiritual dos povos negros e pindorâmicos e avançar para uma perspectiva pluriepistêmica.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Abrahão de Oliveira Santos, Universidade Federal Fluminense

Psicólogo, professor do Instituto de Psicologia da UFF; coordenador do Kitembo - Laboratório de Estudos da Subjetividade e Cultura Afro-brasileira; coordenador do GT - Psicologia e relações raciais da ANPEPP, 2020; publicou O Enegrecimento da Psicologia: Indicações para a Formação Profissional, Rev. Psic. Ciência e Profissão, 2019; e Saúde mental da população negra: Uma perspectiva não institucional, Rev. da ABPN, 2018.

Luiza Rodrigues de Oliveira, Universidade Federal Fluminense

Psicóloga. Doutora em Educação (USP). Professora do Departamento de Psicologia/UFF e dos Programas de Pós-Graduação em Psicologia e em Ensino de Ciências da Natureza - UFF. Coordenadora do LALIDH - Laboratório de Estudos Interseccionais da Linguagem e do Desenvolvimento Humano.

Referências

BICUDO, V. L. Atitudes Raciais de Pretos e Mulatos em São Paulo. São Paulo, Sociologia e Política, 2010 [1945].
BICUDO, V. L. Atitudes dos alunos dos Grupos Escolares em relação com a cor dos seus colegas. In: BASTIDE, R.; FERNANDES, F. Relações raciais entre negros e brancos em São Paulo. Anhembi/UNESCO, 1955, p. 227 – 310.
CARNEIRO, A. S. A Construção do Outro como Não-Ser como fundamento do Ser. 2005. 339 p. Tese doutorado. FEUSP.
CARVALHO, J. J. As ações afirmativas como resposta ao racismo acadêmico e seu impacto nas ciências sociais brasileiras. Teoria e Pesquisa, 42 e 43, pp. 303-340, 2003.
COSTA, J. F. Ordem médica e norma familiar. Rio de Janeiro: Graal, 1983.
COSTA, J. F. História da psiquiatria no Brasil: um corte ideológico. Rio de Janeiro: Garamond, 2006.
DELEUZE, G. GUATTARI, F. Rostidade. In: Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Ed. 34, vol. 3, p. 31-61, 1996.
DIOP. Ch. A. Origens do antigo Egito. In: MOKHTAR, G. História geral da África II: A África antiga. UNESCO, p. 1-36, 2010
FAUSTINO, D. M. “Por que Fanon? Por que agora?” Frantz Fanon e os fanonismos no Brasil. 2015. 260 f. UFSCar, São Carlos. 2015.
FERNANDES, F. A luta contra o preconceito de cor. In: BASTIDE, R. e FERNANDES, F. Relações raciais entre negros e brancos em São Paulo. São Paulo: Editora Anhembi/UNESCO, 1955, pp. 193-226.
FOUCAULT, M. O que são as luzes. Ditos e escritos II. Rio de Janeiro: Forense Universitária, p. 335-351, 2008.
FREYRE, G. Casa grande e senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. São Paulo: Global, 2015 [1953].
GONZÁLEZ, L. A mulher negra na sociedade brasileira. In: Primavera para as rosas negras. Diáspora Africana, p. 34-53, 2018a.
GONZÁLEZ, L. Racismo e sexismo na cultura brasileira. In: Primavera para as rosas negras. Diáspora Africana, p. 190-214, 2018b.
JACÓ-VILELA, A. M.; LEAL, A. A. F.; PORTUGAL, F. T.; História da Psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: Nau, 2015.
KANT, Emanuel. Resposta à Questão: O que é Esclarecimento? Cognitio: Revista de Filosofia. São Paulo, v. 13, n. 1, p. 145-154, 2012.
LIMA, F. Vidas pretas, processos de subjetivação e sofrimento psíquico: sobre viveres, feminismo, interseccionalidades e mulheres negras. IN: PEREIRA, M. O. e PASSOS, R. G. Luta Antimanicomial e Feminismos: discussões de gênero, raça e classe para a reforma psiquiátrica brasileira. Rio de Janeiro: Autografia, 2017.
MBEMBE, A. Entrevista: As sociedades Contemporâneas sonham com o Apartheid. Revista Mutamba – sociedade, cultura e lazer. Novo Jornal. Janeiro de 2014.
MOORE, C. O marxismo e a questão racial: Karl Marx e Friedrich Engels frente ao racismo e à escravidão. Uberlândia: Nandyala, 2010.
MOURA, C. Sociologia do negro brasileiro. São Paulo: Ática, 1988.
MUNANGA, K. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.
MUNANGA, K. Prefácio. In: MOORE, C. A África que incomoda, sobre a problematização do legado africano no cotidiano brasileiro. Belo Horizonte: Nandyala, 2010.
NABUCO, J. O Abolicionismo. Petrópolis: Vozes, 2012 [1883].
NASCIMENTO, A. O Genocídio do Negro Brasileiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
OBENGA, Th. Egypt: Ancient History of African Philosophy. In: KWASI, W. A Companion to African Philosophy. Massachusetts: Blackwell Publishing, p.31-49, 2004.
OLIVEIRA, E. O. O mulato um obstáculo epistemológico: a partir do livro quase clássico de Carl Degler, uma reflexão sobre os mitos e fatos do sistema brasileiro de relações raciais. Argumento Revista Mensal de Cultura, 1(3), p. 65-78, 1974.
PAIXÃO, T. O. SANTOS, A. O. As Publicações das Revistas de Psicologia: Uma Análise da Abordagem da Questão Negra e do Pensamento Social Brasileiro. In: CONGRESSO DE PESQUISADORES NEGROS, 3, 2017. Anais do III COPENE SUL - Negras e negros no Sul do Brasil Desenvolvimento, Patrimônio e Cultura Afro-brasileira. Florianópolis, 2017, pp. 758-769.
PEREIRA, A. M. Para além do racismo e do antirracismo: A produção de uma Cultura de Consciência Negra na sociedade brasileira. Itajaí: Casa Aberta, 2013.
RAMOS, G. A patologia social do "branco" brasileiro. In: Introdução crítica à sociologia brasileira. Rio de janeiro: UFRJ, pp. 215-240, 1995 [1955].
RODRIGUES, R. N. As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisa Social, 95p, 2011 [1894].
ROMERO, S. Psicologia nacional: prejuízos de educação. Imitação do estrangeiro. In: História da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Imago, tomo 1, pp. 145-212, 2001.
SANTOS, M. Território e sociedade: entrevista com Milton Santos. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2000.
SCHWARCZ, L. M. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870 – 1930. São Paulo: Companhia das Letras; 2016 [1993].
SANTOS, J. R. "O movimento negro e a crise brasileira". Política e Administração, 2 (2): 287-307, 1985.
SANTOS, A. B. Colonização, quilombos: modos e significações. Brasília: INCTI/UnB/CNPq. 2015.
SANTOS, A. O.; OLIVEIRA, L. R. Abordagem CTS diante das interpelações da afrocentricidade: a saúde da população negra. Psicología, Conocimiento y Sociedad - 9(2), 59-76, 2019-2020.
VIANA, O. Raça e assimilação. São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre: Companhia Editora Nacional, 1938.