História, mulheres negras e enfermagem brasileira

  • Paulo Fernando de Souza Campos UNISA
Palavras-chave: Interdisciplinaridade. Orientação Profissional. Gênero. Cultura dos Cuidados.

Resumo

O artigo analisa a presença de mulheres pretas e pardas na história da enfermagem brasileira a partir de significados a elas atribuídos nas origens da profissionalização. Trata-se de uma pesquisa histórico-documental fundada no conceito de representação, cujos resultados evocam a presença negra nas artes do cuidar e evidenciam uma memória inglória, imposta por teorias raciais deterministas, como profissão apropriada para mulheres brancas, apagando atuações de mulheres negras na arte e na ciência do cuidado ao branqueá-lo. A análise do discurso consubstancia o permanente debate em torno da formação e orientação profissional, pois a desconstrução de valores e práticas sociais racistas e intolerantes impactam na história da enfermagem não apenas no Brasil, mas no mundo.

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Biografia do Autor

Paulo Fernando de Souza Campos, UNISA

Doutor em História. Professor Adjunto do Programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas da Universidade Santo Amaro - UNISA, São Paulo, Brasil, e-mail: pfcampos@prof.unisa.br. O artigo é resultado da pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Doutorado da Universidade de São Paulo junto ao Departamento de Orientação Profissional da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo - ENO/EE/USP com Bolsa FAPESP/Processo 05/59887-8.

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Publicado
2021-09-01
Como Citar
Campos, P. F. de S. (2021). História, mulheres negras e enfermagem brasileira. Revista Espaço Acadêmico, 21(230), 167-177. Recuperado de https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/58389
Seção
Dossiê - Estudos da branquitude e suas interfaces