“Como desaparecer com um assassinato”:

Ato I da pandemia e violência contra a mulher

Palavras-chave: Violência contra a mulher, Pandemia, Políticas Públicas

Resumo

Este ensaio pauta a discussão da violência contra a mulher no contexto das justificativas e campanhas ao longo de 2020, em especial, das políticas públicas e contornos sociopolíticos que orientam as estruturas elementares da violência contra a mulher. Entre fontes estão documentos, vídeos, falas institucionais e campanhas de órgãos públicos. Debatemos, portanto, a questão da dualidade entre medidas de isolamento social e violência contra a mulher, em especial, como os contornos argumentativos pandêmicos articulam um sentido que escondem a autoria física do agressor da violência, substituindo-o por uma autoria institucional, no caso, a pandemia. Tal estratégia deve ser combatida, sobretudo porque fragiliza políticas de combate a violência contra mulher. Portanto, significa compreender que o isolamento social intensifica um processo de violência que tem como base as dimensões de gênero e que elencar culpados “invisíveis”, como a pandeia, fortalece a sacralidade de espaços intocáveis às políticas públicas.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Vinícius Ferreira Baptista, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Doutor em Políticas Públicas (UERJ). Professor Adjunto do Departamento de Administração Pública da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Docente dos Programas de Pós-graduação em Desenvolvimento Territorial e Políticas Públicas da UFRRJ e Ciência Política da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).

Referências

ARAÚJO, Maria de Fátima. Gênero e violência contra a mulher: o perigoso jogo de poder e dominação. Psicologia para América Latina, n. 14, p. 0-0, 2008.

ARENDT, Hannah. 1979. The Origins of Totalitarism. 3rd edition. New York: Hancourt, Brace, and Jovanovich.

BAPTISTA, Vinicius Ferreira. Das lógicas em disputa no direito a ter direitos no contexto das medidas protetivas para mulheres cis e trans. Revista Espaço Acadêmico, nº. 223, 2020.
BAPTISTA, Vinicius Ferreira. Violência contra à mulher e perspectivas de ações programáticas: o sentido estrutural da violência direta e indireta. Gênero & Direito, v. 8, n. 3, p. 214-236, 2019.

BANDEIRA, Lourdes Maria. Violência de gênero: a construção de um campo teórico e de investigação. Sociedade & Estado, v. 29, n. 2, p. 449-469, 2014.

BARUFALDI, Laura Augusta et al. Violência de gênero: comparação da mortalidade por agressão em mulheres com e sem notificação prévia de violência. Ciência & Saúde Coletiva, v. 22, n. 9, p. 2929-2938, 2017.

CHANNAPPANAVAR Rudragouda. et al. Sex‐based differences in susceptibility to severe acute respiratory syndrome coronavirus infection. Journal of Immunology, v. 198, n. 10, p. 4046‐4053, 2017.

DELPHY, Christine. Close to Home: A Materialist Analysis of Women’s Oppression. London: Verso, 2016.

EVANS, Megan; LINDAUER, Margo; FARRELL, Maureen. A Pandemic within a Pandemic — Intimate Partner Violence during Covid-19. The New England Journal of Medicine, v. 383, p. 2302-2304.

GARCIA, Leila Posenato. A magnitude invisível da violência contra a mulher. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 25, n. 3, p. 451-454, 2016.

HAN, Byung-Chul. Topologia da violência. Trad. Enio Paulo Giachini. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017.

HAYECK, Cynara Marques. Refletindo sobre a violência. Revista Brasileira de História & Ciências Sociais, v. 1, n. 1, 2009, p. 1-8.

KRUG, Etienne et al. Relatório mundial sobre violência e saúde. Geneva: World Health Organization, 2002.

KUMAR, Anant. COVID-19 and Domestic Violence: A Possible Public Health Crisis. Journal of Health Management, v. 22, n. 2, 192–196, 2020.

LIMA, Larissa Alves de Araújo et al. Marcos e dispositivos legais no combate à violência contra a mulher no Brasil. Revista de Enfermagem Referência, v. 4, n. 11, p. 139-146, dez. 2016.

MINAYO, Maria Cecília de Souza; SOUZA, Edinilsa Ramos de. Violência e saúde como um campo interdisciplinar e de ação coletiva. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 4, n. 3, p. 513-531, 1997.

OKIN, Susan Moller. Justice, Gender, and the Family. Nova York, Basic Books, 1989.

ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DA SAÚDE [OPAS]. Folha informativa – COVID-19 (doença causada pelo novo coronavírus). Brasília: OPAS, 2020.

SAFFIOTI, Heleieth; ALMEIDA, Suely. Violência de gênero: poder e impotência. Rio de Janeiro: Revinter, 1995.

SCHEIDEL, Walter. Violência e história da desigualdade: da Idade da Pedra ao século XXI. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2020

SEGATO, Rita. Las estructuras elementales de la violencia: ensayos sobre gênero entre antropologia, psicoanálisis y derechos humanos. Buenos Aires: Prometeo, 2003.

STEINER, Henry. International Human Rights in Context – Law, Politics and Morals. Second edition. Oxford: Oxford University Press, 2000

TELLES, Lisieux Borba et al. Domestic violence in the COVID-19 pandemic: a forensic psychiatric perspective. Brazilian Journal of Psychiatry, p. 1-2, 2020.

XUE, Jia et al. The Hidden Pandemic of Family Violence During COVID-19: Unsupervised Learning of Tweets. Journal of Medical Internet Research, v. 22, n. 11, p. 1-11, e24361, 2020.

WHITE, Madeline; SATYEN, Lata. Cross-cultural differences in intimate partner violence and depression: A systematic review. Aggression and Violent Behavior, v. 24, 120–130, 2015.

ZHANG, Hongwei. The Influence of the Ongoing COVID-19 Pandemic on Family Violence in China. Journal of Family Violence, p. 1-11, 2020.

ZIZEK, Slavoj. Violência: seis reflexões laterais. Trad. Miguel Serras Pereira. São Paulo; Boitempo, 2014
Publicado
2022-09-15
Como Citar
Baptista, V. F. (2022). “Como desaparecer com um assassinato”: . Revista Espaço Acadêmico, 22(236), 104-118. Recuperado de https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/63353