“Como desaparecer com um assassinato”:
Ato I da pandemia e violência contra a mulher
Resumo
Este ensaio pauta a discussão da violência contra a mulher no contexto das justificativas e campanhas ao longo de 2020, em especial, das políticas públicas e contornos sociopolíticos que orientam as estruturas elementares da violência contra a mulher. Entre fontes estão documentos, vídeos, falas institucionais e campanhas de órgãos públicos. Debatemos, portanto, a questão da dualidade entre medidas de isolamento social e violência contra a mulher, em especial, como os contornos argumentativos pandêmicos articulam um sentido que escondem a autoria física do agressor da violência, substituindo-o por uma autoria institucional, no caso, a pandemia. Tal estratégia deve ser combatida, sobretudo porque fragiliza políticas de combate a violência contra mulher. Portanto, significa compreender que o isolamento social intensifica um processo de violência que tem como base as dimensões de gênero e que elencar culpados “invisíveis”, como a pandeia, fortalece a sacralidade de espaços intocáveis às políticas públicas.
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