O corpo fechado do Direito

  • Maria Angelica dos Santos Universidade Federal de Viçosa
Palavras-chave: Direito; Pacto da Branquitude; Supremo Tribunal Federal

Resumo

Neste texto se defende a tese de que o Direito é um corpo fechado. Para comprovar esta tese serão analisados conceitos desenvolvidos por Pierre Bourdieu para se pensar o Poder Simbólico no campo jurídico e se estabelecerá um diálogo com os saberes ancestrais materializados no Candomblé. Propõe-se, através de uma escrita macumbeira, um esforço para se demonstrar como uma tradição elitista do Direito brasileiro simula uma espécie de pacto para manter fechado este espaço de poder. Com isso, esta tradição pactuada contamina e compromete a indicação e integração de uma jurista negra nos quadros do órgão de cúpula da estrutura do Poder Judiciário brasileiro, o Supremo Tribunal Federal - STF. O objetivo é problematizar como este ritual histórico de fechamento do corpo jurídico pode dificultar ou inviabilizar o ingresso de uma mulher negra num tribunal superior de grande relevância decisória no Brasil e demonstrar a necessidade de se exorcizar o privilégio branco-eurocêntrico, que sustenta o pacto da branquitude jurídica responsável por manter fechado o corpo do Direito e autorizar somente alguns poucos iniciados a dizer o Direito, desde que o façam em conformidade com os valores tradicionais formadores de uma ideologia jurídica insensível à diversidade e incapaz de integrar e se adaptar às complexidades conjunturais do Sul Global e dos corpos contra hegemônicos que o povoam.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Maria Angelica dos Santos, Universidade Federal de Viçosa

Doutora em Direito pela UFMG, Mestra em Direito Público pela PUCMinas, Graduada em Direito pela UFMG, Professora Efetiva de Direito da UFV/Campus Florestal.

Referências

AGUIAR, Andréa. Verbete Illusio In CATANI, Afrânio Mendes; NOGUEIRA, Maria Alice; HEY, Ana Paula e MEDEIROS, Cristina Carta Cardoso (Organizadores). Vocabulário Bourdieu. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.
ALVES JÚNIOR, Luís Carlos Martins. O Supremo Tribunal Federal nas constituições brasileiras. Belo Horizonte: Mandamentos, 2004.
ANZALDÚA, Gloria. La Consciencia de la mestiza/ Rumo a uma nova consciência. Revista de Estudos Feministas. Vol 13, nº 3, Florianópolis Set/out 2005.
BENTO, Cida. O pacto da branquitude. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.
BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Zouk, 2011.
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2015.
BOURDIEU, Pierre. Homo Academicus. Santa Catarina: UFSC, 2013.
BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. São Paulo: Edições 70, 2011.
BOURDIEU, Pierre. Os Herdeiros: os estudantes e a cultura. Santa Catarina: Ufsc, 2018.
BOURDIEU, Pierre. PASSERON, Jean-Claude. A Reprodução: Elementos para uma teoria do sistema de ensino. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em Constituição (planalto.gov.br). Acesso em 29 de abril.
CATANI, Afrânio Mendes; NOGUEIRA, Maria Alice; HEY, Ana Paula e MEDEIROS, Cristina Carta Cardoso (Organizadores). Vocabulário Bourdieu. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.
CENTRO ACADÊMICO XI DE AGOSTO – Faculdade de Direito da USP, disponível no link https://static.poder360.com.br/2023/04/Carta-e-Release-Indicacao-STF-1.pdf )
CORRÊA, Aureanice de Mello. O terreiro de candomblé: uma análise sob a perspectiva da geografia cultural. Textos escolhidos de cultura e arte populares, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, p. 51-62, 2006.
LAHIRE, Bernard. Verbete Campo In CATANI, Afrânio Mendes; NOGUEIRA, Maria Alice; HEY, Ana Paula e MEDEIROS, Cristina Carta Cardoso (Organizadores). Vocabulário Bourdieu. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.
MANDARINO, Ana Cristina de Souza; GOMBERG Estélio. Candomblé, Corpos e Poderes. Perspectivas, São Paulo, v. 43, p. 199-217, jan./jun. 2013.
MEDEIROS, Cristina Carla Cardoso. Verbete Corpo In CATANI, Afrânio Mendes; NOGUEIRA, Maria Alice; HEY, Ana Paula e MEDEIROS, Cristina Carta Cardoso (Organizadores). Vocabulário Bourdieu. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.
MOREIRA, Adilson José. Pensando como um negro: ensaio de hermenêutica jurídica. São Paulo: Editora Contracorrente, 2019.
MONTEIRO, Paula. Verbete Rito In CATANI, Afrânio Mendes; NOGUEIRA, Maria Alice; HEY, Ana Paula e MEDEIROS, Cristina Carta Cardoso (Organizadores). Vocabulário Bourdieu. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.
PINTO, Louis. Verbete Doxa In CATANI, Afrânio Mendes; NOGUEIRA, Maria Alice; HEY, Ana Paula e MEDEIROS, Cristina Carta Cardoso (Organizadores). Vocabulário Bourdieu. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.
SANT’ANNA, Márcia. Escravidão no Brasil: os terreiros de candomblé e a resistência cultural dos povos negros. Revista Oralidad, 2003.
SANTOS, Maria Angélica dos. E eu não sou uma jurista? Reflexões de uma jurista negra sobre direito, ensino jurídico e sistema de justiça. Editora Casa do Direito, 2023.
Publicado
2024-05-31
Como Citar
Santos, M. A. dos. (2024). O corpo fechado do Direito. Revista Espaço Acadêmico, 24(244), 151-162. Recuperado de https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/68310
Seção
Dossiê: Decolonizar a epistemologia: sobre diferenças e afetos