“Esse é o homem, e essa é a mulher”:

gênero, sexualidade e infância em “Flor, flores, ferro retorcido”

Palavras-chave: Corpos lésbicos; política queer; infância.

Resumo

Neste trabalho, utilizamos de epistemologia queer, especialmente as proposições de Paul Preciado em “Quem defende a criança queer?”, para repensar questões referentes ao gênero, à sexualidade e à infância. Para tanto, tomando o conto lésbico “Flor, Flores, Ferro retorcido”, de Natalia Borges Polesso (2019), narrado em 1ª pessoa por uma criança de oito anos de idade que coloca seus pais e vizinhos frente à vossas arrogâncias ao questionar o que é ser uma “machorra” – palavra que ouvira pronunciar durante um almoço para referir-se pejorativamente à  lesbianidade da personagem Florinda e, apoiando-nos nas teorizações de Paul Preciado, envidamos esforços para analisar a criança como um artefato biopolítico de normalização da heterossexualidade, bem como adensar questões próprias do autor quanto à procedência do cuidado proposto às crianças – quem, como e por que as defendem?. No intento de pluralizar as percepções quanto à análise, mobilizamos ponderações de Foucault (1987), Lauretis (1994), Louro (2004), Butler (2020), Polesso (2015; 2020). A partir disso, embora a protagonista ainda não esteja totalmente corrompida pelo sistema repressor de gênero, no conto há uma vigilância para com seu corpo em nome de um pretenso cuidado cis-hetero-cristão que atua nocivamente enquanto regulador de sua sexualidade.

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Biografia do Autor

Marcelo de Jesus de Oliveira, Universidade Estadual de Santa Cruz

Doutorando em Letras: Linguagens e Representações, na linha de pesquisa Literatura e Interfaces, pela Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC (2022-2026); mestre em Letras, na linha de pesquisa Literatura, História e Imaginário, pela Universidade Federal do Tocantins - UFT (2019-2021); e licenciado em Letras Habilitação em Língua Portuguesa e Literaturas da Língua Portuguesa, pela Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão - UEMASUL (2016-2020). Atualmente, é bolsista FAPESB e integrante do Grupo de Pesquisa Literatura, História e Cultura: Encruzilhadas Epistemológicas (GPAFRO/UESC). Tem experiência na área de Letras, com enfâse em literatura e relações étnicas e de gênero e pedagogias desobedientes, onde desenvolve e orienta pesquisas que propunham re/pensar os sujeitos das dissidências, em especial mulheres negras, bichas, transsexuais e/ou travestis e prostitutas.

Alexandre de Oliveira Fernandes, Instituto Federal de Educação da Bahia (IFBA)

Doutor em Ciências da Literatura (UFRJ). Professor de Língua Portuguesa e Literatura do IFBA. Líder do Grupo de Pesquisa em Linguagens, Poder e Contemporaneidade - GELPOC. Professor permanente no Programa de Pós-Graduação em Letras: Linguagens e Representações (PPGL – UESC). 

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Publicado
2023-12-01
Como Citar
Oliveira, M. de J. de, & Fernandes, A. de O. (2023). “Esse é o homem, e essa é a mulher”:. Revista Espaço Acadêmico, 23(242), 79-94. Recuperado de https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/68649
Seção
Dossiê: Decolonizar a epistemologia: para um gozo sem paternidade