Psicanálise dá samba?

Palavras-chave: mistura; movimento psicanalítico; modernidade colonial; terapêutica; Brasil.

Resumo

Com o cuidado de se manter devidamente incompleto, o texto diz de uma implicação dos seus autores com as interrogações que os saberes dos territórios brasileiros podem fazer à epistemologia psicanalítica. O samba, à sua forma, faz-se presente em nossa leitura do mundo, em certo letramento de um pretuguês que revela as raízes históricas de questões sociais e subjetivas reatualizadas na contemporaneidade brasileira, sendo escola para efetivar uma escuta sociopolítica do sofrimento do nosso tempo. Partindo dessa ideia e apoiados no pilar subversivo da provisoriedade psicanalítica, apontamos para a fecunda encruzilhada que esse saber pode habitar em solo brasileiro a partir da interpelação que o samba indica quanto às suas heranças coloniais. Esse apontamento busca resguardar o valor crítico de uma psicanálise que se questiona a respeito de seus ideais terapêuticos quando ensimesmados, por acabarem reproduzindo em última instância o racismo epistêmico.

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Biografia do Autor

Fernanda Canavêz, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Professora do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Coordenadora do marginália - Laboratório de Psicanálise e Estudos sobre o Contemporâneo.
Raoni Machado Jardim, Universidade de São Paulo

Pós-doutorando em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo (bolsa Fapesp). Membro do Laboratório de Psicanálise, Sociedade e Política (PSOPOL/USP). Membro do coletivo Psicanálise na Rua (DF). 

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Publicado
2024-05-31
Como Citar
Canavêz, F., & Jardim, R. M. (2024). Psicanálise dá samba?. Revista Espaço Acadêmico, 24(244), 130-139. Recuperado de https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/68753
Seção
Dossiê: Decolonizar a epistemologia: sobre diferenças e afetos