Psicanálise dá samba?
Resumo
Com o cuidado de se manter devidamente incompleto, o texto diz de uma implicação dos seus autores com as interrogações que os saberes dos territórios brasileiros podem fazer à epistemologia psicanalítica. O samba, à sua forma, faz-se presente em nossa leitura do mundo, em certo letramento de um pretuguês que revela as raízes históricas de questões sociais e subjetivas reatualizadas na contemporaneidade brasileira, sendo escola para efetivar uma escuta sociopolítica do sofrimento do nosso tempo. Partindo dessa ideia e apoiados no pilar subversivo da provisoriedade psicanalítica, apontamos para a fecunda encruzilhada que esse saber pode habitar em solo brasileiro a partir da interpelação que o samba indica quanto às suas heranças coloniais. Esse apontamento busca resguardar o valor crítico de uma psicanálise que se questiona a respeito de seus ideais terapêuticos quando ensimesmados, por acabarem reproduzindo em última instância o racismo epistêmico.
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