MAR É LUGAR DE GENTE GRANDE: (SOBRE)VIVÊNCIAS DE QUEM TEM ASÈ

Resumo

Este artigo explora a Congada como uma prática pedagógica insurgente e decolonial, destacando sua potência como sistema de conhecimento, memória e espiritualidade afro-brasileira. A partir das vivências do Terno de Congada do Penacho em Uberaba (MG) e de reflexões geradas na disciplina Interculturalidade e Educação Popular: Saberes Afro-Ameríndios Decoloniais (UFMT, 2024), os autores — educadores e congadeiros — apresentam a Pedagogia Congadeira, conceito que articula Musicalidade, Oralidade e Ancestralidade. Através de bionarrativas, rodas de conversa e diálogos com autores como Paulo Freire e Gloria Anzaldúa, o texto desafia a colonialidade do saber na educação formal, propondo uma aprendizagem "marejada" (fluida e coletiva), onde o conhecimento emerge do corpo, da dança e dos tambores. As experiências pessoais de Sandy Prata, Joana Eugênia, Lucas Borges e Rafael Honorato ilustram como a Congada, o Candomblé e a Capoeira formam saberes integrados, curativos e políticos. O artigo conclui com chamados à ação: reconhecer mestres tradicionais como intelectuais; criar metodologias avaliativas baseadas em afetos e ancestralidade; e transformar a academia em espaço de escuta ativa aos saberes marginalizados. Como afirma o General Piu, líder do Terno do Penacho: "Na congada, a gente não decora; a gente incorpora". A Congada, assim, não é objeto de estudo, mas sujeito epistêmico que reinventa a educação e a liberdade.

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Biografia do Autor

José Henrique Singolano Néspole, Universidade Federal do Triângulo Mineiro

Professor Adjunto do curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (Lecamp/UFTM). Possui graduação (2002), mestrado (2006) e doutorado (2017) em História pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP-Franca/SP). Coordenador da Escola de Formação Itinerante, grupo voltado para atividades de educação popular e formação de professores. Membro no Núcleo de Estudos Marx e Marxismos (NEMARX/UFTM), grupo de pesquisa interdisciplinar formado por professores e alunos de diversos cursos da UFTM. Suas pesquisas concentram-se nas áreas de História, Política e Educação, com ênfase em História Contemporânea, História do Brasil, História política da classe trabalhadora, Educação popular e Educação do Campo.

Joana Eugênia Gonzaga Souza, UFTM (Universidade Federal do Triângulo Mineiro)

Mestranda em Educação pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Graduada em Artes Visuais pela Universidade de Franca (2021). Pós-graduada em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela FABEMP (2023). Pós-graduada em Neuropsicopedagogia pela Faculdade de São Marcos (2024). Pós-graduanda em Fotografia pela Unyleya. Graduanda em Pedagogia pela Faveni. Experiência na área de Artes, com ênfase em Artes, Servidora pública estadual, atualmente na função de professora de Arte, na Escola Estadual Henrique Krüger. Professora de Arte no Colégio Livre Aprender. Design Gráfico, Arte Finalista e Fotógrafa autodidata.

Admilson Honorato, Terno de Congada Penacho

Admilson Honorato, conhecido como General Piu, iniciou sua trajetória na Congada aos cinco anos, influenciado por sua mãe, Manuelina. Desde cedo demonstrou liderança, tornando-se capitão do Terno de Congada do Penacho aos 13 anos e, posteriormente, Tenente e General, após a perda de seu mestre em 1996. Seu conhecimento nasceu da observação e da tradição oral transmitida pelos mais velhos, consolidando-se como referência cultural em Uberaba e região. Aos 55 anos, celebra o jubileu de sua história levando o Congo a diferentes espaços educativos. Filho de Wilson e Manuelina, aprendeu com os pais a força da fé e da resistência. Casado com Sandra Aparecida, construiu uma família marcada pelo amor, união e continuidade das tradições congadeiras, representada também pelos filhos e netos. Sua vida simboliza o retorno às origens e o compromisso com o ensino, a humildade e a preservação da cultura popular.

Lucas Borges Nascimento, Universidade Federal do Triângulo Mineiro

Mestrando em Educação pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), com ênfase na investigação dos impactos da desinformação no ensino-aprendizagem e no cotidiano das escolas públicas. Possui Pós-graduação em Gestão, Orientação e Supervisão Escolar pela (UniVitória) e graduação em História pela UFTM. Atua como pesquisador no universo das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação na Educação (TDICS), com experiência em análise crítica do conteúdo digital consumido por estudantes. Possui ainda, formação Técnica em Informática, com experiência em atividades ligadas a montagem, manutenção de microcomputadores, design gráfico (criação de logotipos, identidades visuais e sites.

Sandy Cristine Prata, Universidade Federal do Triângulo Mineiro

Profissional de Educação Física graus Licenciatura e Bacharelado na Universidade Federal de Uberlândia-UFU. Mestranda em educação pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro-UFTM. Ex-membro do Grupo de Pesquisa Educação, Sexualidades e Performatividades-GPESP. Membro do Grupo de Ensino e Pesquisa: África e Africanidades -GEPAA. Ex-membro do Grupo de Estudo Raça, Cultura na Educação Física-GERCEF. Treinela de Capoeira Angola no Grupo Galo Cantô de Uberlândia-MG. Professora de Capoeira Angola para crianças e jovens de 7 a 17 anos do projeto Sementes do Amanhã. Mulher preta, criada por 3 mulheres pretas (avó, mãe e irmã). Fundadora do Espaço Ayoluwá em Uberlândia-MG. Interesse por temáticas que discutem a educação, "raça", gênero, Capoeira e afrobetização!

Publicado
2025-12-15
Seção
Dossiê Interculturalidade e Educação Popular: possibilidades didáticas