NECROPOLÍTICA E VIDAS NÃO PASSÍVEIS DE LUTO: A (RE)PRODUÇÃO MIDIÁTICA DO INIMIGO

Palavras-chave: Psicologia social, racismo;, redes sociais.

Resumo

Este artigo visa discutir a produção da personagem ‘envolvido’ pela narrativa midiática e seus efeitos na legitimação da necropolítica brasileira. Para tanto, faz uso das contribuições teóricas de Cecília Coimbra, Achille Mbembe e Judith Butler para analisar as repercussões das fake News nas redes sociais direcionadas ao jovem Marcos Vinícius da Silva, morto na favela da Maré, no Rio de Janeiro, quando ia para a escola. A maneira como esse assassinato foi tratado nas redes sociais oferece elementos para a compreensão da produção e ratificação da personagem ‘envolvido’ na justificação de mortes de pessoas que participaram (ou não) de situações ilícitas, colocando-os como sujeitos matáveis na atual política de gestão da morte. As considerações finais do trabalho assinalam a urgência de uma postura crítica por parte da mídia e um engajamento teórico-prático que desnaturalize a necropolítica e as relações de poder cada vez mais recrudescidas pela atual conjuntura política no Brasil.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Maria da Conceição Gomes da Silva, Universidade Federal do Ceará
Historiadora. Especialista em Psicopedagogia. Especialista em Psicologia Social. Especialista em Gestão Social. Mestranda em Psicologia do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Ceará.
Stephanie Caroline Ferreira de Lima, Universidade Federal do Ceará
Cientista Social. Mestranda em Psicologia do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Ceará.
Aluísio Ferreira de Lima, Universidade Federal do Ceará
Psicólogo com Pós-Doutorado, Doutorado e Mestrado em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP) e Especialista em Saúde Mental pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP). Atualmente é Professor Adjunto I do Setor de Psicologia Social do Curso de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Saúde da Família da Universidade Federal do Ceará (UFC), Campus Avançado de Sobral. Bolsista de produtividade pela FUNCAP, desenvolve pesquisa atualmente com auxílio financeiro da FUNCAP e CNPq. Lider do PARALAXE: Grupo Interdisciplinar de Estudos, Pesquisas e Intervenções em Psicologia Social Crítica - UFC. Membro do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa sobre Identidade Humana do Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia Social da PUCSP NEPIM/PUCSP e do TRANSVERSALIZANDO: Grupo de estudos e pesquisas (UFPA). Coordena o Núcleo Sobral da ABRAPSO e participa como sócio da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO), Sociedade Interamericana de Psicologia (SIP), Associação Brasileira de Psicologia Política e Latin American Studies Association (LASA). No que se refere à trabalhos técnicos realizados, tem atuado como parecerista de periódicos científicos nacionais e agências de fomento à pesquisa. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Social, atuando principalmente nos seguintes temas: psicologia social, identidade pessoal e coletiva, reconhecimento social, psicologia política, teoria crítica, políticas públicas, saúde mental, práxis, epistemologia e história da psicologia. Autor do livro: Metamorfose, Anamorfose e Reconhecimento Perverso: a identidade na perspectiva da Psicologia Social Crítica
João Paulo Pereira Barros, Universidade Federal do Ceará
Psicólogo. Professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFC.

Referências

Agamben, Giorgio. (2015). Meios sem fins. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015.

Agamben, Giorgio. (2004). Estado de exceção. Homo Sacer II, 1. São Paulo: Boitempo.

BBC NEWS BRASIL. (2019). “Ele morreu duas vezes”: a batalha de uma mãe para tirar da internet “fake news” que acusam filho morto de traficante. Por Luiza Franco. Publicado em 11.03.2019. Disponível em: www.terra.com.br/noticias/brasil/ele-morreu-duas-vezes-a-batalha-de-uma-mae-para-tirar-da-internet-fake-news-que-acusam-filho-morto-de-ser-traficante.Acesso em 15.03.2019.

Benjamin, Walter (2012a). A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica. Porto Alegre: Zouk. (Trabalho original publicado em 1936).

Benjamin, Walter. (2012b). Sobre o conceito de história. In, W. BENJAMIN. O Anjo da história. Belo horizonte: Autêntica Editora. p. 7-20.

Benjamin, Walter. (2018). Passagens. Volume II. Belo Horizonte: Editora UFMG. (Originalmente publicado em 1982).

Butler, Judith. (2015). Quadros de Guerra: quando a vida é passível de luto? Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.

Cerqueira, D.; Lima, R. S.;Bueno, S.; Valencia, L. I.; Hanashiro, O.; Machado, P. H. G.; Lima, A. S. (2017). Atlas da violência 2017. Brasília, DF: IPEA.

CESeC. Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes. (2018). Intervenção Federal: Um modelo para não copiar. Relatórios. Universidade Cândido Mendes : RJ 2018 Disponível em: http://www.observatoriodaintervencao.com.br/dados/relatorios1/ Acesso em junho de 2019.

Coimbra, Cecília. (2001). Operação Rio: o mito das classes perigosas: um estudo sobre a violência urbana, a mídia impressa e os discursos de segurança pública. Rio de Janeiro: Oficina do Autor; Niterói: Intertexto, 2001.

COSTA, Sylvio de Sousa Gadelha. Governamentalidade neoliberal, teoria do capital humano e empreendedorismo. Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 34, n. 2, p. 171-186, 2009. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/article

/download/8299/5537. Acesso em e download em 29 de junho de 2019.

Esquerda Diário. (2018).“Grande êxito” é o que diz a polícia sobre operação que matou Marcos Vinicius na Maré. Publicado em 10 jul. 2018. Disponível em: https://www.esquerdadiario.com.br/Grande-exito-e-o-que-diz-a-policia-sobre-operacao-que-matou-Marcos-Vinicius-na-Mare. Acesso em 17 de março de 2019.

Fanon, Frantz. (1968). Os Condenados da terra. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira. S.A.

Foucault, Michel. (2005). Em defesa da sociedade: curso no Collége de France (1975-1976). 4ª reimpressão da 1ª ed. São Paulo: Martins Fonte, 2005.

G1/ GLOBO. (2018a). Adolescente morto na Maré foi atingido por disparo pelas costas, diz laudo. Por: Bette Lucchese e Leslie Leitão. Publicado em: 21 jun. 2018. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/adolescente-morto-na-mare-foi-atingido-por-disparo-pelas-costas-diz-laudo.html. Acesso em: 22 jun. 2018a.

G1/GLOBO. (2018b). Adolescente morto na Maré é enterrado no Cemitério São João Batista em Botafogo. Por Matheus Rodrigues. Publicado em 21.06.2018. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/corpo-do-adolescente-marcus-vinicius-da-silvae-velado-no-palacio-da-cidade.ghtml. Acesso em 15.03.2019

Goffman, Erving. (2012). Os quadros da experiência social: uma perspectiva de análise. Petrópolis: Vozes, 2012.

Hilário, L.C. (2016). Da biopolítica à necropolítica: variações foucaultianas na periferia do capitalismo. Sapere aude: Belo Horizonte, v.7, n.12, p. 194-210, Jan./Jun. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/SapereAude/article/view/P.2177-6342.2016v7n13p194/9735. Acesso em 20 de junho de 2018.

IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). (2018). PNAD Contínua TIC 2016: 94,2% das pessoas que utilizaram a Internet o fizeram para trocar mensagens. 21 fev. 2018. Disponível em: https://bit.ly/2Hy3O66. Acesso em: 19 jun.

Jaeggi, Rahel. (2005). “No Individual Can Resist”: minima moralia as critique of forms of life. Blackwell Publishing: Oxford, v. 12, n. 1, pp. 66-82.

Jaeggi, Rahel. (2015). O que há (se de fato há algo) de errado com o capitalismo? Três vias de crítica do capitalismo. Cadernos de Filosofia Alemã: v. 20, n. 2, pp. 13-36.

Jenkins, Henry. (2009). Cultura da convergência. 7ª reimpressão da 2ª ed. São Paulo: Aleph.

Lima, Aluísio Ferreira de. (2017). As desventuras da democracia no estado de exceção brasileiro. In, Lemos, Flávia Cristina S. et al. (Orgs.). Conversas transversalizantes entre Psicologia Política, Social-Comunitária e Institucional com os campos da educação, saúde e direitos. Volume 7. Curitiba: CRV. pp. 105-114.

Mbembe, Achille. (2017). Políticas da inimizade. Lisboa: Antígona.

Quijano, Aníbal. (2010). Colonialidade do poder e classificação social. In: Epistemologias do Sul. SANTOS, Boaventura de Sousa.; MENESES, Maria Paula (orgs.) São Paulo: Cortez.

Rancière, Jacques. O ódio à democracia. São Paulo: Boitempo, 2014.

Ruiz, Castor. (2019). A Exceção Jurídica na biopolítica moderna. Revista IHU (online). Entrevista por Márcia Junges. São Leopoldo. 2010 p- 28-32 . Disponível em: http://www.ihuonline.unisinos.br/edicao/343. Acesso em 25 de julho de 2019.

Safatle, Vladimir. (2005). Depois da culpabilidade: figuras do supereu na sociedade de consumo. In: Dunker, Christian; Prado, José Luiz Aidar. Žižek crítico: política e psicanálise na era do multiculturalismo. São Paulo: Hacker Editores. p. 119-139.

Sales, Mione Apolinário. (2007). (In)visibilidade perversa: adolescentes infratores como metáfora da violência. São Paulo: Cortez.

UOL. (2018). Justiça determina que facebook remova fake news contra estudante morto da Maré. Por: Marina Lang. Publicado em 29.06.2018. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2018/06/29/justica-determina-que-facebook-apague-fake-news-contra-menino-marcos-vinicius.htm. Acesso e, 17 de março de 2019.

Publicado
2022-05-06
Como Citar
Silva, M. da C. G. da, Lima, S. C. F. de, Lima, A. F. de, & Barros, J. P. P. (2022). NECROPOLÍTICA E VIDAS NÃO PASSÍVEIS DE LUTO: A (RE)PRODUÇÃO MIDIÁTICA DO INIMIGO. Psicologia Em Estudo, 27. https://doi.org/10.4025/psicolestud.v27i0.49027
Seção
Artigos originais

 

0.3
2019CiteScore
 
 
7th percentile
Powered by  Scopus

 

 

0.3
2019CiteScore
 
 
7th percentile
Powered by  Scopus