NECROPOLÍTICA E VIDAS NÃO PASSÍVEIS DE LUTO: A (RE)PRODUÇÃO MIDIÁTICA DO INIMIGO
Resumo
Este artigo visa discutir a produção da personagem ‘envolvido’ pela narrativa midiática e seus efeitos na legitimação da necropolítica brasileira. Para tanto, faz uso das contribuições teóricas de Cecília Coimbra, Achille Mbembe e Judith Butler para analisar as repercussões das fake News nas redes sociais direcionadas ao jovem Marcos Vinícius da Silva, morto na favela da Maré, no Rio de Janeiro, quando ia para a escola. A maneira como esse assassinato foi tratado nas redes sociais oferece elementos para a compreensão da produção e ratificação da personagem ‘envolvido’ na justificação de mortes de pessoas que participaram (ou não) de situações ilícitas, colocando-os como sujeitos matáveis na atual política de gestão da morte. As considerações finais do trabalho assinalam a urgência de uma postura crítica por parte da mídia e um engajamento teórico-prático que desnaturalize a necropolítica e as relações de poder cada vez mais recrudescidas pela atual conjuntura política no Brasil.
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