GÊNERO, RAÇA E ‘PROBLEMAS EXTERNALIZANTES’ EM UM SERVIÇO DE SAÚDE MENTAL INFANTIL
Saúde mental infantil
Resumo
Este estudo visa caracterizar o perfil de crianças que apresentaram queixas envolvendo ‘problemas externalizantes’ em um serviço de saúde mental infantil situado em Salvador, Bahia. Com base nas fichas de acompanhamento das 97 crianças que frequentaram o serviço em 2018, as seguintes variáveis foram levantadas: idade, sexo, raça/cor, motivo de procura, arranjo familiar, principal acompanhante, procedência de encaminhamento e queixa escolar. Com as variáveis levantadas, os dados foram organizados em uma planilha e submetidos à análise estatística simples incluindo a identificação de frequências e o cruzamento de algumas variáveis. Os resultados mostram diferenças na proporção de problemas externalizantes vinculadas às variáveis sexo, raça/cor e queixa escolar. A maioria das crianças é negra (71,14%), do sexo masculino (70,10%), com idade entre de 4-9 anos (61,85%). Foram trazidas queixas envolvendo problemas externalizantes para 54,42% dos meninos e 31,03% das meninas e para 56,41% das crianças pretas, 56,67% das crianças pardas e 40% das crianças brancas. Chama a atenção a alta frequência de queixas escolares relacionadas às crianças que apresentaram problemas externalizantes e a maior proporção de queixas escolares entre crianças pretas quando comparadas às crianças pardas e brancas. Os resultados reiteram alguns achados de estudos anteriores, como as diferenças de gênero, e inovam ao trazer algumas relações com raça/cor e queixa escolar. Destaca-se a necessidade de aprofundar este recorte em novos estudos visando o fortalecimento de práticas de saúde não sexistas e antirracistas.
Downloads
Referências
Beltrame, R. L., Gesser, M., & Souza, S. V. de (2019). Diálogos sobre medicalização da infância e educação: uma revisão de literatura. Psicologia em Estudo, 24, e42566. https://doi.org/10.4025/psicolestud.v24i0.42566
Bento, M. A. S. (2002). Branqueamento e branquitude no Brasil. In Carone, I. & Bento, M. A. S. (Orgs.). Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil (pp. 25-58). Petrópolis, RJ: Vozes.
Bolsoni-Silva, A. T., Paiva, M. M. de, & Barbosa, C. G. (2009). Problemas de comportamento de crianças/adolescentes e dificuldades de pais/cuidadores: um estudo de caracterização. Psicologia Clínica, 21(1), 169-184. https://doi.org/10.1590/S0103-56652009000100012
Autor, 2017
Autor, 2020
Butler, J. P. (2017). Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade (R. Aguar, Trad.). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. (Obra original publicada em 1990)
Ceballos, G. Y., Santos, D. N. dos, & Mota, E. L. A. (2016). Atendimento infanto-juvenil em Centros de Atenção Psicossocial de Salvador, Bahia, Brasil. Revista Baiana de Saúde Pública, 40(3), 648-664. https://doi.org/10.22278/2318-2660.2016.v40.n3.a1885
Couto, M. C. V., Duarte, C. S., & Delgado, P. G. G. (2008). A saúde mental infantil na Saúde Pública brasileira: situação atual e desafios. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, 30(4), 384-389.https://doi.org/10.1590/S1516-44462008000400015
Couto, M. C. V., & Delgado, P. G. G. (2015). Crianças e adolescentes na agenda política da saúde mental brasileira: inclusão tardia, desafios atuais. Psicologia clínica, Rio de Janeiro, 27(1), 17-40. https://doi.org/10.1590/0103-56652015000100002
Creswell, J. W. (2010). Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto (3ª ed). Porto Alegre: Artmed.
David, E. de C. (2018). Saúde mental e racismo: a atuação de um Centro de Atenção Psicossocial II Infantojuvenil (Dissertação de mestrado). Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Social, Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, SP, Brasil. Recuperado de https://tede2.pucsp.br/handle/handle/21029
Faria, M. R. (1998). Introdução à psicanálise de crianças: o lugar dos pais. São Paulo: Hacker Editores: Cespuc: FAPESP.
Fernandes, F. B. M. (2019). Dados do IBGE, mandato do vereador Silvio Humberto. GIRA Grupo de Estudos Feministas em Política e Educação. Recuperado de http://generoesexualidade.ffch.ufba.br/dados-do-ibge-mandato-do-vereador-silvio-humberto/
Lins, T., Alvarenga, P., Paixão, C., Almeida, E., & Costa, H. (2012). Problemas externalizantes e agressividade infantil: uma revisão de estudos brasileiros. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 64(3), 59-75.
Muylaert, C. J., Delfini, P. S. de S., & Reis, A. O. A. (2015). Relações de gênero entre familiares cuidadores de crianças e adolescentes de serviços de saúde mental. Physis: Revista de Saúde Coletiva, 25(1), 41-58. https://doi.org/10.1590/S0103-73312015000100004
Nakamura, E., Planche, M., & Ehrenberg, A. (2018). The social aspects in the identification of children’s mental health problems in two health services in Paris, France. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, 22(65), 411-422. https://doi.org/10.1590/1807-57622016.0911
Nogueira, I. B. (2017). Cor e inconsciente. In Kon, N. M., Silva, M. L., & Abud, C. C. (Orgs.). O racismo e o negro no Brasil: questões para a psicanálise (1a ed., pp. 121-126). São Paulo: Perspectiva.
Autor, 2015
Santos, P. L. (2006). Problemas de saúde mental de crianças e adolescentes atendidos em um serviço público de psicologia infantil. Psicologia em Estudo, 11(2), 315-321.
Schucman, L. V. (2018). Famílias inter-raciais: tensões entre cor e amor. Salvador: EDUFBA.
Silva, M. L. (2017). Racismo no Brasil: questões para psicanalistas brasileiros. In Kon, N. M., Silva, M. L., & Abud, C.C. (Orgs.). O racismo e o negro no Brasil: questões para a psicanálise (1a ed., pp. 71-89). São Paulo: Perspectiva.
Silva, N. G., Barros, S., Azevedo, F. C. de, Batista, L. E., & Policarpo, V. C. (2017). O quesito raça/cor nos estudos de caracterização de usuários de Centro de Atenção Psicossocial. Saúde e Sociedade, 26(1), 100-114. https://doi.org/10.1590/s0104-12902017164968
Sousa, N. S. (1983). Tornar-se negro: as vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social. Rio de Janeiro: Edições Graal.
Taño, B. L., & Matsukura, T. S. (2015). Saúde mental infantojuvenil e desafios do campo: reflexões a partir do percurso histórico. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 23(2), 439-447. https://doi.org/10.4322/0104-4931.ctoAR0479
Viégas, L. de S., Freire, K. do E. S., & Bomfim, F. B. (2018). Atendimento a queixa escolar nos serviços públicos de saúde mental da Bahia. Psicologia Escolar e Educacional, 22(1), 133-140. https://doi.org/10.1590/2175-35392018013260
Zanello, V. (2018). Saúde mental, gênero e dispositivos: cultura e processos de subjetivação. Curitiba: Appris.
Zamora, M. H. R. N. (2012). Desigualdade racial, racismo e seus efeitos. Fractal: Revista de Psicologia, 24(3), 563-578. https://doi.org/10.1590/S1984-02922012000300009
Copyright (c) 2024 Psicologia em Estudo

This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.
As opiniões emitidas, são de exclusiva responsabilidade do(s) autor(es). Ao submeterem o manuscrito ao Conselho Editorial de Psicologia em Estudo, o(s) autor(es) assume(m) a responsabilidade de não ter previamente publicado ou submetido o mesmo manuscrito por outro periódico. Em caso de autoria múltipla, o manuscrito deve vir acompanhado de autorização assinada por todos os autores. Artigos aceitos para publicação passam a ser propriedade da revista, podendo ser remixados e reaproveitados conforme prevê a licença Creative Commons CC-BY.
The opinions expressed are the sole responsibility of the author (s). When submitting the manuscript to the Editorial Board of Study Psychology, the author (s) assumes responsibility for not having previously published or submitted the same manuscript by another journal. In case of multiple authorship, the manuscript must be accompanied by an authorization signed by all authors. Articles accepted for publication become the property of the journal, and can be remixed and reused as provided for in theby a license Creative Commons CC-BY.