VER PARA TEMER
O JUÍZO FINAL COMO ARTEFATO VISUAL DE DISCIPLINA CORPORAL
Resumo
O corpo, na contemporaneidade, permanece marcado por diversos tabus, observáveis inclusive nas práticas escolares, como nas aulas de Educação Física. Esses tabus, compreendidos como proibições de origem sagrada, têm raízes históricas que remontam à Idade Média, período cuja moralidade influenciou profundamente a constituição das mentalidades modernas. Na Baixa Idade Média, a pedagogia do medo foi amplamente utilizada como mecanismo de controle dos corpos, especialmente por meio da ameaça da danação eterna. Este estudo, de natureza bibliográfica, tem como objetivo analisar como os tabus corporais se articulam visualmente com essa pedagogia, compreendendo a pintura como artefato visual que atuava na formação e normatização dos corpos medievais. A análise se fundamenta na obra História do pecado e do medo, de Jean Delumeau, e se insere no campo da História das Mentalidades. A partir da metodologia iconográfica panofskyana, é realizada a análise do afresco Juízo Final, de Giotto di Bondone. Conclui-se que tais representações atuavam como dispositivos pedagógicos, contribuindo para a interiorização de normas sociais e de controle corporal cujos reflexos ainda são identificáveis na sociedade contemporânea.
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