Contribuições da estética marxista e da pedagogia histórico-crítica à seleção de conteúdo do ensino de literatura
Resumo
Este artigo versa sobre o problema de como realizar a seleção de conteúdo escolar para o ensino de literatura, no âmbito do ensino de língua portuguesa da educação básica. Questiona que obras literárias são válidas, segundo quais critérios, e a quais finalidades possíveis, considerando-se, também, que o trabalho educativo pode situar-se em perspectiva de humanização ou de alienação, isto é, atuando contra ou submetendo-se à tendência de discrepância entre multilateralidade do gênero humano e existência individual, conforme demonstra a análise da realidade por meio do método materialista histórico-dialético que subjaz a pesquisa. Adota-se a tese da pedagogia histórico-crítica sobre a centralidade dos clássicos, dado seu valor para o conhecimento da realidade, mas questionando quais elementos estéticos permitem que uma obra seja identificada como tal e, assim, seja privilegiada como conteúdo escolar. A pesquisa chega à conclusão de que é necessário que o professor de literatura tenha uma concepção histórica e crítica da realidade, para que confronte objeto de ensino escolar com a área de conhecimento de referência, a saber, o conhecimento concreto da atividade literária referenciada na presente teoria estética, aliada a um amplo repertório de obras literárias. Conclui-se que, agindo pela socialização desse tipo de conhecimento, o trabalho educativo no ensino de literatura posiciona-se pela superação da alienação não só da consciência dos discentes, mas do próprio trabalho do professor, ao passo que ganha meios para concebê-lo livre e artesanalmente, indo além de apostilas e currículos rígidos que atuam pela cisão entre concepção e execução do trabalho docente.
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