Retroflexo: O que pensam usuários e não-usuários dessa variante rótica?
Resumo
Dos muitos ‘erres’ falados no Brasil, destaca-se o retroflexo, típico dos sotaques das regiões do interior de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, entre outros. Estudos como os de Castro (2006, 2012), Brandão (2007), Aguilera e Silva (2011), Silva (2012, 2016), Silva e Aguilera (2014) e Aguilera (1994, 2012) demonstram a distribuição areal dessa variante, que se expande por diversas regiões brasileiras, e discutem a aceitabilidade ou não-aceitabilidade de sua realização pelos próprios usuários ou por falantes de outras variantes. Conhecida popularmente como ‘R caipira’, foi qualificada por muito tempo de forma negativa e tratada como inferior às demais. À vista disso, buscamos apresentar uma análise das crenças e atitudes de falantes usuários e não-usuários do rótico retroflexo a partir de um teste de modelo Verbal Guise (Huygens & Vaughan, 1983; Garret, 2010) aplicado a 20 maranhenses, não falantes do R retroflexo, e 20 paranaenses usuários do R caipira. Anexado ao questionário, on-line, havia dois áudios, um de falar maranhense e outro paranaense, os quais foram utilizados como base para os entrevistados responderem às doze perguntas com escalas de diferenciais semânticos (Gómez Molina, 1998 apud Sancho Pascual, 2013), organizadas com base na Competência pessoal, Integridade pessoal e Relação social (Lambert & Lambert, 1972). Os dados foram analisados com auxílio do programa computacional IBM SPSS Statistics 22, que forneceu as médias referentes aos dados: gerais, de localidade e de categorias. Os resultados obtidos mostraram que os entrevistados apresentam atitudes positivas em relação aos seus próprios falares. Entretanto, os paranaenses se mostraram mais críticos, o que, de certa forma, evidencia mais crenças negativas do que os maranhenses, principalmente em relação ao falar do outro.
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Referências
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