Dossiê "100 Foucault, o filosofo, seu pensamento e o discurso"
Dossiê: 100 Foucault: o filósofo, seu pensamento e o discurso
Organizadores: Pedro Navarro, Atilio Butturi Junior, Cleudemar Alves Fernandes e Vanice Sargentini
Como parte dos festejos do centenário de nascimento de Michel Foucault, este Dossiê 100 Foucault pretende reunir artigos que tomem o discurso como objeto de investigação, mediante a contribuição desse filósofo francês, a respeito da experiência dos sujeitos com o saber, o poder e a ética.
A premissa que se impõe é a de que, do conjunto de textos desse importante pensador, foi possível extrair algo que pode ser identificado com um método de análise de discursos, conforme já demonstrado por pesquisadores dos Estudos Discursivos foucaultianos, com referência à Arqueologia do Saber (Foucault, 2008). Sobre essa proposição, logo no início de A verdade e as formas jurídicas lemos o seguinte: “Apresentarei hoje uma reflexão metodológica para introduzir esse problema, que sob o título de A verdade e as Formas Jurídicas, pode-lhes parecer um tanto enigmático” (Foucault, 2002).
Foucault segue balizando essa reflexão sobre três pontos essenciais, aos quais chama de “eixos de pesquisa”: o primeiro eixo refere à “pesquisa histórica”, na medida em que interroga a formação de domínios de saber, a partir de práticas sociais. Ele advoga que as práticas sociais podem “engendrar domínios de saber que não somente fazem aparecer novos objetos, novos conceitos, novas técnicas, mas também fazem nascer formas totalmente novas de sujeitos e de sujeitos de conhecimento” (Foucault, 2002, p. 8). O segundo ponto contempla uma referência explícita ao que chama de eixo metodológico, intitulado de “análise de discursos”. Nesse momento, Foucault alude a pesquisas que se voltaram ao caráter linguístico dos fatos de linguagem para mostrar que o discurso, em geral, obedecia a certo número de leis ou regularidades internas, de modo que, para ele, tais fatos de discursos não devem ser tomados somente em seu aspecto linguístico, mas também no que tange aos jogos estratégicos de ação, de reação, de pergunta e de resposta, de dominação, de esquiva e de luta. Deriva dessa posição outro conceito de discurso, visto agora como “conjunto regular de fatos linguísticos em determinado nível, e polêmicos e estratégicos em outro. Essa análise de discurso como jogo estratégico e polêmico é, a meu ver, um segundo eixo de pesquisa” (Foucault, 2002, p. 9). Por fim, o terceiro eixo de sua pesquisa consiste em uma reelaboração da “teoria do sujeito”: “um sujeito que não é dado definitivamente, que não é aquilo a partir do que a verdade se dá na história, mas de um sujeito que se constitui no interior mesmo da história, e que é a cada instante fundado e refundado pela história” (Foucault, 2002, p. 10).
Dispomos, assim, de elementos gerais e definidores que configuram a tese de que o discurso se constitui como uma prática que forma seus objetos, e isso tem implicações para a análise de discursos que realizamos na linha de Estudos Discursivos Foucaultianos. O que é, pois, a prática, senão aquilo que os homens fazem? Foucault é bastante claro quando afirma que a prática discursiva constitui o lugar onde os objetos se formam ou se deformam, onde aparece ou se apaga uma pluralidade emaranhada de objetos de discurso.
Ocorre que a proposta deste Dossiê é oferecer à comunidade acadêmica um conjunto de textos que possa estabelecer uma articulação das formas de produção da verdade, com os jogos de poder e com uma política do cuidado, concebida em termos de uma aposta ética e estética dos sujeitos. Os discursos possuem suas regras, mas também são efeitos de poder, e seus enunciadores podem, de forma agonística, ensaiar movimentos de contraconduta em relação aos dispositivos que ganham forma e são replicados em enunciados que circulam, atualmente, em diferentes materialidades.
O Dossiê será publicado em duas revistas, simultaneamente: a Acta Scientiarum (A1) e a Fórum Linguístico (A2), somando um total de até 22 artigos. As submissões deverão ser feitas na revista Acta, na qual 10 artigos serão publicados, após o processo de avaliação. Os demais artigos avaliados e aceitos, somando até 12, serão encaminhados para publicação na revista Fórum Linguístico. Além dos artigos, podem ser submetidas resenhas e entrevistas.
O prazo para submissão vai de 15 de setembro de 2025 até 10 de fevereiro de 2026. A publicação do Dossiê está prevista para o segundo semestre de 2026, nas Revistas Acta Scientiarum e Fórum Linguístico. No processo de seleção dos textos, terão preferência aqueles escritos em inglês ou que tenham versão em português e inglês.
Atilio Butturi Junior é doutor em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina (2012). Realizou estágio pós-doutoral no IEL/UNICAMP (2014-2015), e estágio pós-doutoral na Faculdade de Filosofia da Ciência da Universidade Nova de Lisboa (2017-2018), com bolsa da CAPES-Brasil. Foi professor visitante da Faculdade de Medicina da USP entre setembro e novembro de 2024. É professor Associado da Universidade Federal de Santa Catarina, líder do Grupo de Estudos no Campo Discursivo (UFSC CNPq) e pesquisador do Instituto de Estudos de Gênero da UFSC. É ainda membro dos grupos de pesquisa “A condição Corporal” (PUC-SP CNPq), “Cartografias do Contemporâneo” (UFU CNPq) e do Laboratório Pós-Humanismo e Humanidades Digitais (UNICAMP). Desde 2015, é editor-chefe da revista Fórum Linguístico e docente do Programa de Pós-Graduação em Linguística da UFSC (que coordenou entre 2018 e 2020), além de ser docente do Programa Interdisciplinar em Ciências Humanas, na área de Gênero e Sexualidadeetambém da UFSC. Atualmente, é bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq e coordenador do projeto É só mais uma crônica, com pesquisa voltada ao dispositivo crônico intra-ativo da aids no Brasil e à construção de uma análise neomaterialista dos discursos. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9985-2259. Email: atilio.butturi@ufsc.br. ID Lattes: http://lattes.cnpq.br/1901170463141361.
Cleudemar Alves Fernandes é professor Titular na Universidade Federal de Uberlândia; atua na graduação em Letras e no Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos; é líder do Laboratório de Estudos Discursivos Foucaultianos nessa universidade (LEDIF/UFU/CNPq). É Doutor em Linguística pela USP (2001), e realizou Pós-doutorado (2011) pela UNESP-CAr, como Pesquisador Sênior do CNPq, sobre o tema “Análise do Discurso e Michel Foucault”, e Pós-Doutorado em História Cultural (2020), na UNICAMP, sobre o tema “Corpo e discurso na história do presente”. É autor dos livros: (Re)Tratos Discursivos do Sem Terra, publicado pela EDUFU, 2007; Discurso e Sujeito em Michel Foucault, Editora Intermeios, 2012. Coautor de Análise do Discurso - reflexões introdutórias, Editora Pontes, 2021; e autor de vários artigos em periódicos nacionais e internacionais e organizador de vários livros sobre Análise do Discurso e Michel Foucault. Tem experiência na área de Linguística, com ênfase em Análise do Discurso, e atua principalmente nos seguintes temas: análise do discurso; Michel Foucault; discurso político; inter-relação discurso, linguística e história; sujeito, identidade e subjetividade; teoria e análise linguística. E-mail: cleudemar@ufu.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2644-4705. ID Lattes: http://lattes.cnpq.br/8303904972387971.
Pedro Navarro possui doutorado em Linguística e Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Araraquara, SP (2004) e pós-doutorado em Estudos da Linguagem, pela Unicamp, Campinas, SP (2011). É professor associado - nível C da Universidade Estadual de Maringá e pesquisador do CNPq. Foi co-fundador e coordenador do GT - Estudos discursivos foucaultianos, na Anpoll, de 2018 a 2023 e líder do GIEF - Grupo interinstitucional de estudos foucaultianos da UEM. É membro dos grupos CIDADI – Círculo de discussões em Análise do Discurso (UFPB CNPq) e Cartografias do Contemporâneo (UFU CNPq). Atua no Programa de pós-graduação em Letras, da UEM, orientando pesquisas sobre discurso, sujeito e poder, a partir de temas como sexualidade, masculinidades, velhice e cuidado de si, incluindo as questões de gêneros sociais, em textos e em imagens que circulam em jornais impressos e eletrônicos, em mídias televisivas, nas redes sociais e em discursos fílmicos. É autor de livros, capítulos e artigos publicados no Brasil, entre os mais recentes está: Respostas a uma questão: como analisar as relações de poder e de resistências em discursos sobre o sujeito idoso? (Ed. Mercado de Letras, 2022), E-mail: navarro.pl@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3267-4985. ID Lattes: https://lattes.cnpq.br/1623525611051521.
Vanice Sargentini é doutora em Linguística e Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1998). Pós-doutorado na Université Paris III - Sorbonne Nouvelle (2008). Professora Titular da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Professora visitante da Université de Toulouse (2012) e da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) (2020 - 2022). É Professora Titular Sênior do Departamento de Letras da UFSCar, onde atua no Programa de Pós-graduação em Linguística e coordena o Laboratório de Estudos do Discurso. É autora de livros, capítulos e artigos publicados no Brasil e no exterior, entre os mais recentes são: Discurso e (Pós) Verdade (Ed. Parábola, 2021), O discurso e as emoções: medo, ódio, vergonha e outros afetos (Parábola 2024). E-mail: vanicesargentini@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7760-3075. ID Lattes: https://lattes.cnpq.br/1406919572611392.